quinta-feira, setembro 21, 2017

IMAGINÁRiO #373

José de Matos-Cruz | 01 Junho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

ASSOMBROS
Após uma sensacional estreia com O Mundo a Seus Pés (1941), para a RKO, Orson Welles (1915-85) reassumiu-se como cineasta, expondo O Quarto Mandamento (1942). Era a transposição duma novela de Booth Tarkington, The Magnificent Ambersons (1918), distinguida com o Prémio Pulitzer e, previamente, filmada como Pampered Youth (1925) pela Vitagraph. Segundo Welles, havia «aspectos edipianos» nesta escolha, pois Tarkington ter-se-ia inspirado em seu pai, para personagem de Eugene Morgan, o inventor de automóveis. Coube a Joseph Cotten, actor do Mercury Theatre na rádio CBS - onde, pela primeira vez, Welles encenou The Magnificent Ambersons em emissão de 1939. E foi através da Mercury que Welles produziu O Quarto Mandamento para a RKO, tendo escrito o argumento em apenas nove dias. A evocação melancólica duma família aristocrática de Indianápolis, Midwest, através de duas gerações e em um quarto de século em viragem. Aí estariam as marcas dramáticas da relação de Welles com a mãe, dominadora e afinal ausente ainda em criança. Com irónico despojamento, o realizador comentou, certa vez, que uma obra artística só se revelaria, «conhecendo o homem por detrás do criador». Ora, se Citizen Kane transfigurava os mistérios da infância, The Magnificent Ambersons assombra as cintilações de um tempo perdido.
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CALENDÁRiO

01-20SET - Em Lisboa, na Calçada dos Cesteiros, Pickpopocket Gallery expõe Connection - Polaroid Art Italy (Sala Branca) e Construction - fotografias de Rita Lino (Sala Preta).

06-18SET2010 - No Centro Cultural de Cascais, Leonor Mendes Ferreira, Helena Meneses, Luísa Seabra, Luísa Salema Garção, Isa, Isabel Magalhães Gonçalves, João Nuno Barbosa, Carmo Franco, Alda Cortez e Helena Gil expõem O Prazer de Pintar.

08SET2011 - Alce Filmes produziu, e estreia Cisne de Teresa Villaverde; com Beatriz Batarda e Israel Pimenta. IMAG.113

16SET-20NOV2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Mundo Paralelo de João Vaz Carvalho.

19OUT-19DEZ2011 - No Teatro da Politécnica, em Lisboa, Artistas Unidos expõe Ainda as Esculturas de Ângelo de Sousa. IMAG.91-349

MEMÓRiA

01JUN1942-2010 - Tom Mankiewicz: Argumentista e realizador do cinema americano, filho de Joseph L. Mankievicz - concebeu o guião de Super-Homem/Superman (1978) e A Mulher Falcão/Ladyhawke (1885), dirigiu Delirious (1991). IMAG.320

ANTIQUÁRiO

1871-1872 - Neste ano económico, o Montepio Oficial tem uma receita de 149:918$648 réis, e a despesa foi de 14:469$782 réis.

JAN-JUN1872 - Neste período, a emigração portuguesa para o Brasil é de 8.261 indivíduos.

AGO1931 - Em França, é editada A História de Babar de Jean de Brunhoff, o primeiro livro de aventuras ilustradas com o elefante mais bem vestido do mundo, e dedicadas ao público infantil.

TRAJECTÓRiA

Elefante Babar Faz 80 Anos

O elefante Babar nasceu em Agosto de 1931, quando Jean de Brunhoff ilustrou o livro A História de Babar, a pedido de seus filhos.
A história do conhecido elefante começa quando Babar foge da floresta, devido a uns caçadores lhe terem morto a mãe. Entretanto, Babar chega a Paris, onde se começa a vestir como um homem. Ao regressar à sua terra natal, é coroado rei dos elefantes.
Jean de Brunhoff, que morreu em 1937, publicou seis histórias de Babar, passando o legado para o seu filho Laurent. Foi também Laurent de Brunhoff que criou a série para a televisão francesa em 1969.
Antes do final de 2011, o Museu de Artes Decorativas de Paris vai inaugurar uma exposição dedicada a Babar. Em breve, irá ser criada uma nova série de desenhos animados focada nesta personagem.
22AGO2011 - Diário de Notícias

INVENTÁRiO

O QUARTO MANDAMENTO
Tragicamente, os laivos pessoais, a partir de Orson Welles, contaminaram O Quarto Mandamento / The Magnificent Ambersons. A tal ponto que, hoje em dia, escapam-nos as virtualidades matriciais. Patenteando, embora, um dos grandes clássicos americanos - cuja genial complexidade equivaleria à perfeição essencial de O Mundo a Seus Pés - todavia, O Quarto Mandamento não corresponde à concepção do autor. Estamos, mesmo, perante uma das mais graves profanações da integridade, no atribulado historial de Hollywood. Tudo aconteceu após a ante-estreia em Pomona, quando Welles já se encontrava no Brasil - a convite do Departamento de Estado, e por intervenção de Nelson Rockefeller - para rodar o documentário It’s All True no Panamá, o qual ficaria incompleto. A má reacção do público levou o presidente da RKO, ante o investimento de um milhão de dólares, a temer um malogro financeiro. Então, e consultados os juristas, George Schafer ordenou a reformulação de O Quarto Mandamento, com os seguintes resultados: mais de quarenta minutos cortados, novos lances impressos e inseridos, outro epílogo menos deprimente... O agente de Welles, Jack Moss procedeu à supervisão, a mando de Charles Koerner da RKO. Robert Wise cumpriu a execução - após contactos por telegrama com Welles, que temperamentalmente não resultaram, tal como uma tentativa para o visitar, devido às restrições em tempo de guerra.
Décadas mais tarde, Welles garantiu a Peter Bogdanovich que, «se não lhe tivessem mexido, Ambersons seria muito melhor que Kane». Algo inestimável pois a RKO, alegando falta de espaço, ordenou entretanto a destruição dos negativos originais. Conta a lenda que Welles terá levado consigo uma cópia, para a América Latina... Já em 2001, Alfonso Arau realizou de novo, para A&E, The Magnificent Ambersons segundo o guião técnico de Welles - a quem Hollywood nunca mais permitiu salvaguardar a versão definitiva das suas fitas. Aliás, O Quarto Mandamento que sobreviveu, foi nomeado para os Oscars do Melhor Filme, Melhor Actriz Secundária (Agnes Moorehead), Melhor Fotografia (Stanley Cortez) e Melhor Decoração de Interiores (Mark-Lee Kirk, cedido pela 20th Century Fox) a Preto-e-Branco. A destacar, também, a expressiva banda sonora por Bernard Herrmann - colaborador de Welles, desde o Mercury Theatre - que não quis o nome no genérico, após a RKO encomendar música adicional a Roy Webb. Enfim, por soberano capricho do destino, o talento excepcional de Orson Welles - que não aparece entre os intérpretes, mas cuja voz predomina como narrador omnisciente - persiste numa sumptuosa arquitectura ficcional e artificiosa, qual imaginário lapidar porém transfigurado, inviolável às vicissitudes ou às fatalidades.

COMENTÁRiO

Connection
Numa reacção ao domínio da tecnologia digital na imagem fotográfica, as fileiras de adeptos da imagem analógica vão engrossando, tal como o sucedido na música com o vinil e o cd, por razões, de resto, análogas. O formato instantâneo Polaroid está seguramente entre os preferidos para quem prefere imagens orgânicas e únicas. E, apesar das fábricas de fotografia instantânea Polaroid terem terminado a sua produção em 2008, os amantes do formato não desistiram de produzir, voltando o mundo às avessas para encontrar filme fora de prazo e, recentemente, utilizando alternativas entretanto surgidas. No contexto deste crescente interesse, a Pickpocket Gallery acolheu nos últimos meses sete exposições de fotografia no popular formato. Nesta oitava exposição, Connection, vinte e três artistas italianos mostram o seu trabalho, numa exposição onde a variedade de técnicas e linguagem encontra uma paixão comum: a da fotografia analógica instantânea.

Costruction
«Na maioria das minhas tardes, a única maneira que tenho de manter a minha armadura é tirando a roupa. Estou de coração partido mas tenho umas mamas perfeitas, não chega? Quando é que a nudez não é despida? Talvez quando o corpo aparece como uma máscara, uma máscara que se recusa a sair, mas que ainda assim vai lentamente mudando de forma, morrendo lentamente. Estou a ver, ou a tentar ver, a série Construction da Rita Lino, mas há algo entre nós, entre o observador que eu anseio ser e a máscara da sua aparência. Acho que devem ser as suas mamas perfeitas. Perdoem a expressão. Elas olham fixamente para o lugar de observador que eu não consigo ocupar, como um par de olhos alienígenas que me proíbem de continuar. Elas congelam-me de alguma maneira, impedindo qualquer pensamento de continuar. São olhos alienígenas que cresceram no peito da artista, de maneira a olhar para as quatro direcções…» (Mike Hoolboom)

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita A Noite das Mulheres Cantoras de Lídia Jorge. IMAG.16-144-187-286-314

Numérica edita em CD, Festival CriaSons por Quarteto Lopes Graça, Opus Ensemble e Duo Contrecello.

Alfabeto edita Uma Proposta Modesta - Um Argumento Contra a Abolição do Cristianismo de Jonathan Swift (1667-1745); tradução de Pedro Ventura.




EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

A PENA DURA EM PEITO MOLE - 8

- Tábua, madeira, pau... Com um pau lhe dou eu nos ossos, a você, e a todos os que se façam finos comigo!
Se bem disse o arrazoado, melhor o fez Cecília Sulpício. Atirou-se ao agente da ordem e a outros que depois apareceram, de tal forma que tiveram de vestir-lhe o colete de forças. Quando já não podia dar uso aos cotovelos, começou a desprender uma roda de pontapés, que até largava fumo.
Era já madrugada quando a mafarrica voltou à liberdade. Silenciosa como um cordeirinho e, estranhamente, cismática.
Continua

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