quinta-feira, março 29, 2018

IMAGINÁRiO #484

José de Matos-Cruz | 24 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PERIGOS
Um casal de campistas introduz-se, inadvertidamente, em centro de pesquisas militares - abandonado, há anos, após o termo da Guerra do Vietname - mergulhando, à luz da lua, no que parece ser uma piscina. Só demasiado tarde se apercebe do perigo: trata-se de um reservatório de piranhas! Uma jovem, incumbida de investigar o paradeiro dos desaparecidos, chega ao local acompanhada por um solitário montanhista. Inspeccionam a zona, esvaziando o enorme tanque, onde encontram os esqueletos das vítimas. Com esse gesto irreflectido, os rios limítrofes são invadidos pelos ferozes peixes, pondo em risco a vida de centenas de veraneantes… Ao assumir como inevitável referência outro assassino subaquático, que o cinema de catástrofe tomou como modelo - Tubarão /Jaws (1975) de Steven Spielberg - e substituindo o tamanho pela quantidade, o ímpeto pelo furor da depredação, Piranha (1978) de Joe Dante estabelece aliás, no início, uma sarcástica homenagem. Prosseguindo em dimensão angustiante, de inevitabilidade que alastra através de atmosfera ora exótica, ora irracional, persiste ainda uma denúncia sobre a intervenção crepuscular da América no Sudoeste Asiático.

MEMÓRiA

1935-24SET2004 - Françoise Quoirez, aliás Françoise Sagan: Escritora francesa - «As pessoas que escrevem livros poucas vezes são intelectuais. Os intelectuais são pessoas que falam sobre os livros que outros escreveram». IMAG.13-63

28SET1924-1996 - Marcello Vincenzo Domenico Mastroianni, aliás Marcello Mastroianni: Actor italiano - «Creio que todos somos um pouco como Dom Quixote: certas ilusões são mais fortes do que a realidade». IMAG.72-254-435

29SET1864-1936 - Miguel de Unamuno y Jugo, aliás Miguel de Unamuno: Escritor e filósofo espanhol - «Para cada alma há uma ideia que lhe corresponde e que é como a sua fórmula; e andam as almas e as ideias procurando-se umas às outras». IMAG.112-226-382

VISTORiA
 
Madre, Llévame a la Cama
Madre, llévame a la cama.
Madre, llévame a la cama,
que no me tengo de pie.
Ven, hijo, Dios te bendiga
y no te dejes caer.
No te vayas de mi lado,
cántame el cantar aquél.
Me lo cantaba mi madre;
de mocita lo olvidé,
cuando te apreté a mis pechos
contigo lo recordé.
¿Qué dice el cantar, mi madre,
qué dice el cantar aquél?
No dice, hijo mío, reza,
reza palabras de miel;
reza palabras de ensueño
que nada dicen sin él.
¿Estás aquí, madre mía?
porque no te logro ver....
Estoy aquí, con tu sueño;
duerme, hijo mío, con fe.
Miguel de Unamuno

CALENDÁRiO

17OUT1924-23SET2013 - António Ramos Rosa: Poeta e desenhador português, distinguido com o Prémio Nacional de Poesia (1971) - «Sem direcção, sem caminho / escrevo esta página que não tem alma dentro. / Se conseguir chegar à substância de um muro / acenderei a lâmpada de pedra na montanha. / E sem apoio penetro nos interstícios fugidios / ou enuncio as simples reiterações da terra, / as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.» (O Horizonte das Palavras/Acordes - 1989, excerto). IMAG.235-317

VISTORiA

Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê…
Miguel de Unamuno
- Portugal - Povo de Suicidas (1908, excerto)

Hesito em acrescentar o nome, o belo, o solene nome de tristeza a este sentimento desconhecido cuja languidez e doçura me consomem. É um sentimento tão profundo, tão egoísta, que quase me envergonho dele, ainda que a tristeza me tenha parecido sempre nobre. Não a conhecia, mas sim o tédio, o arrependimento, por vezes o remorso. Hoje, há qualquer coisa que me envolve como uma seda, enervante e doce, e me separa dos outros. Naquele Verão, eu tinha dezassete anos e era inteiramente feliz. Os «outros» eram o meu pai e Elsa, a sua amante. Antes de mais nada, devo explicar esta situação, que pode parecer falsa. Meu pai tinha quarenta anos, estava viúvo há quinze; era um homem novo, cheio de vitalidade, de possibilidades, e quando saí do colégio, havia dois anos, não tinha podido compreender que ele vivesse com uma mulher. Muito menos que mudasse de mulher de seis em seis meses! Mas em breve, a sua sedução, aquela vida nova e fácil, as minhas próprias tendências, levaram-me a aceitá-lo. Era um homem impulsivo, hábil nos negócios, sempre curioso e depressa desinteressado, e que agradava às mulheres.
Françoise Sagan
- Bonjour Tristesse (1954, excerto)

As Cegonhas

As cegonhas,
trazem o adro,
duas casas, ou três, se forem brancas,
a torre onde pousavam
lentas, eu tinha então
a idade das amoras,
o sol sufocava sobre a boca,
lembras-te? ou o peso doutra boca,
doutra razão, já não sei,
corria à pedrada
os cães de que tinhas medo,
e fugia de ti para afagar
em segredo
o baiozinho que então namorava.
António Ramos Rosa
- Branco No Branco

BREVIÁRiO

Second Sight edita em Blu-ray, Piranha (1978) de Joe Dante; com Bradford Dillman e Heather Menzies. IMAG.304

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Gustav Mahler [1860-1911] 9 por Los Angeles Philharmonic, sob a direcção de Gustavo Dudamel. IMAG. 208-224-237-281-323-374

Dom Quixote edita Kalevala de Elias Lönnrot (1802-1884); tradução de Merja de Mattos-Parreira e Ana Isabel Soares, introdução de Seppo Knuuttila, ilustrações de Rogério Ribeiro. IMAG.192-366

Harmonia Mundi edita em CD, Carl Maria von Weber [1786-1826]: Sonatas For Piano & Violin: Piano Quartet por Isabelle Faust, Alexander Melnikov, Boris Faust e Wolfgang Emanuel Schmidt. IMAG.85

Quetzal edita E os Hipopótamos Cozeram Nos Seus Tanques de William S. Burroughs (1914-1997) & Jack Kerouac (1922-1969); tradução de Telma Costa. IMAG.85-126-141-212-217-247-338-362-404-469

VGM edita em CD, sob chancela Ricercar, Love, Revelry and the Dance In Mediaeval Music por Millenarium.

Relógio D’Água edita Laços de Família de Clarice Lispector (1920-1977). IMAG.158-301-375-399-458

ANTIQUÁRiO

JUN1935 - O Secretariado da Propaganda Nacional/SPN convida, para assistirem às Festas de Lisboa, vários autores espanhóis, franceses e alemães, levando-os de seguida numa excursão de visita a monumentos e pontos pitorescos do Norte e Centro. Entre outros, Jacques Maritain, Luigi Pirandello, Maurice Maeterlink, François Mauriac, Jules Romain, Georges Duhamel, Miguel de Unamuno, Fernández Flores, Gabriela Mistral e Ribeiro Couto, que publicaram artigos e reportagens nos jornais internacionais, sendo ainda rodada a reportagem Visita de Escritores Estrangeiros a Portugal, em que figura ainda António Ferro durante um passeio fluvial no Tejo.

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 6

Com tal pretexto, insistiu Salomão, entre insultos e disparates:
- E o que sabes tu que eu nem imagino, pois, vivendo solteiro, a manténs debaixo da tua telha, e a comprometes, dando-lhe alcova a poucos passos do quarto em que dormes?
A história rocambolesca estava a modos de continuar, deslizando qual folhetim esticado de um pasquim, naquelas temporadas em que não há notícias que se realizem durante os próximos dias.
Continua

quarta-feira, março 28, 2018

IMAGINÁRiO #483

José de Matos-Cruz | 16 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

REVELAÇÕES
Concretizando, numa edição em quadradinhos, o modelo e a motivação artística de cumplicidades e correlações que se foram estabelecendo, ao longo dos anos finais do Século XX, a revista trimestral Mondo Naif descobriu ou confirmou uma novíssima e virtual geração de criadores italianos. Com propostas e sensibilidades várias, a partir desse cruzamento fascinante, latente, entre a realidade e a fantasia. Propostas várias, envolventes ou mágicas, porque também assim se configura a existência onírica ou a experiência da vida, para todos - adolescentes e adultos, autores e leitores. Em destaque ao nosso olhar, privilegiou-se Il Segreto (1998) - uma banda curta de Francesco Satta & Sara Colaone, dando expressão exemplar ao universo revelador, virtual, que simboliza Mondo Naif. Um escritor inquieto, Satta desvenda as emoções de infância. Uma ilustradora aliciante, Colaone atribui-lhes expressão gráfica. A relação entre Satta & Colaone prossegiu, entretanto, com Pranzo di Famiglia (2003) ou Monsieur B./Monsieur Bordigon (2007), continuando a testemunhar as principais qualidades e características das personalidades, dos eventos em que evoluem os actuais fumetti italianos. Tão próximos e, lamentavelmente, inacessíveis ao público português…

CALENDÁRiO

27JUN1934-09SET2013 - Alberto Bevilacqua: Ficcionista e poeta, jornalista e cineasta italiano, distinguido com o prémio Strega (1968), realizador de A Califa / La Califfa (1970) - «Os editores acreditam cegamente, com um apriorismo simplista, que a poesia é um tabu para as livrarias… E, o pior é que os livreiros pensam a mesma coisa».

20SET-03NOV2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Butterfly Moment de Elizabeth Almeida.

27SET-24NOV2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe A Vida a Cores de Alexandra Guedes Vaz.

25OUT-10NOV2013 - Na Amadora, decorre 24º Festival Internacional de Banda Desenhada - Amadora Bd 2013.

MEMÓRiA

24JUN1654-17SET1734 - Thomas Fuller: Religioso e historiador britânico - «A cultura serviu-se, principalmente, dos livros que fizeram os editores ter prejuízo».

1902-17SET1994 - Karl Raimund Popper, aliás Karl Popper: Escritor e filósofo britânico, de origem austríaca - «Temos, pois, de proclamar, em nome da tolerância, o direito de não sermos tolerantes com os intolerantes. Temos de proclamar que qualquer movimento que promova a intolerância se coloca fora da lei, e temos de considerar criminoso todo e qualquer incitamento à intolerância e à perseguição, como consideramos criminoso o incitamento ao homicídio, ao rapto, ou ao restabelecimento do tráfico de escravos» (A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos). IMAG.192-380

18SET1914-2009 - Jack Cardiff: Cineasta britânico e director de fotografia - «prestou uma contribuição única a alguns dos melhores filmes de todos os tempos» (Amanda Nevill) - distinguido pela Academia de Hollywood com um Óscar Honorário ao «mestre da luz e da cor» (2001). IMAG.247

19SET1624 - Nascido em 1564, morre Manoel do Valle de Moura, doutor na Faculdade de Teologia pela Universidade de Évora, e cânones pela Universidade de Coimbra. Foi inquisidor em Évora e, depois de ter cegado, elaborou ainda algumas obras relevantes, ornadas pelas suas opiniões e conhecimentos de uma vasta memória. Outros historiadores contestam esta data referenciada por Francisco da Fonseca, em Evora Gloriosa (1728), optando Diôgo Barbosa Machado por 18MAI1650, na Bibliotheca Lusitana (1752).

1886-22SET1914 - Henri Alban Fournier, aliás Alain-Fournier: Escritor francês, autor de Le Grand Meaulnes (1913) - «A felicidade assemelha-se ao azul do céu, que todos vemos e admiramos, mas que ninguém pode alcançar nem tocar».

28SET1924-1989 - António Maria de Matos, aliás Tony de Matos: Cantor e actor português - «Ficará para sempre recordado como o cantor romântico que, com a sua característica voz, moldada num timbre único e inimitável, tão bem soube exaltar o amor». http://www.museudofado.pt/

COMENTÁRiO

Karl Popper
A definição do método científico de Popper difere da versão baconiana de empirismo pela sua ênfase na eliminação, em vez da ênfase na verificação. No entanto, eles têm em comum um determinado ponto: quer nós verifiquemos ou refutemos, de qualquer forma fazemo-lo com a ajuda de duas ferramentas, e apenas de duas: a lógica e a confrontação com os factos. As teorias são julgadas por dois juízes: consistência lógica e conformidade com os factos. A diferença entre os dois modelos situa-se apenas em saber se os factos condenam os pecadores ou canonizam os santos. Para o jovem Popper, havia alguns pecadores apropriadamente certificados, mas nunca santos definitivamente canonizados.
Ernest Gellner
- Relativism and the Social Sciences

PARLATÓRiO

Há tantas coisas boas nos piores de entre nós, e tantas coisas más nos melhores de entre nós, que é muito difícil dizer quais de nós deveriam reformar os outros.
Alain-Fournier
A poesia é o registo muito rápido de momentos chave da nossa existência… Quero dizer, é pura, absoluta, não há tempo para que possa ser contaminada, seja pelo que for. Nem sequer com todas as nossas dúvidas…
Alberto Bevilacqua


ANUÁRiO

1834 - Em Portugal, existem 402 casas de corporações religiosas do sexo masculino, cujos bens de raiz - bem como das casas religiosas do sexo feminino - rendem anualmente 357.398$545 réis, as quais são extintas ou secularizadas por Decreto de 28 de Maio deste ano, sendo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Joaquim António d’Aguiar. 
 
OBSERVATÓRiO

Butterfly Chronicles
SET2013 - Conhecido pela sua personagem e alter-ego Menino Triste, João Mascarenhas inicia um novo projecto editorial intitulado Butterfly Chronicles. Terá periodicidade bimestral e estão previstas, no total, dez crónicas, que serão publicadas durante 2013 e o ano seguinte, em três línguas diferentes: português, inglês e japonês.
A acção de Butterfly Chronicles passa-se num universo alternativo, em que a investigação científica no domínio da robótica e da inteligência artificial estão prestes a entrar numa nova era, e irão alterar o modo como seres humanos e máquinas coexistem. É no seio deste novo mundo tecnológico que surge Hanako, uma jovem com um poder muito especial e cuja personalidade se começa a desenhar nesta primeira crónica.
Butterfly Chronicles é uma banda desenhada de inspiração mangà, estilo que tem conquistado grande popularidade, sobretudo graças aos leitores de e-books e tablets de sete polegadas, que se adequam perfeitamente a este formato de banda desenhada.
Como um dos objectivos do autor é mergulhar por completo nesta cultura da bd japonesa, seja no universo e no estilo do desenho, seja nas formas de divulgação, o livro foi pensado, desde o início, como uma edição exclusiva para e-book. Neste momento, estão disponíveis versões em PDF de alta resolução e em MOBI (o formato do Kindle da Amazon).
A Qual Albatroz aprimorou a experiência de leitura para aparelhos Kindle, fazendo uso das novas potencialidades específicas para livros de banda desenhada, que só este formato oferece. Um Kindle permite alternar entre a leitura por prancha ou por vinhetas. Em aparelhos de tinta electrónica, a última opção torna a leitura muito mais confortável.
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BREVIÁRiO

Relógio D’Água edita Entre os Actos de Virginia Woolf (1882-1941); tradução de Miguel Serras Pereira. IMAG.51-99-220-315-316-328-356-439

Caminho edita Eça de Queiroz [1845-1900] Entre os Seus - Cartas Íntimas de Maria d’Eça de Queiroz e António d’Eça de Queiroz.
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Decca edita em CD, Viva [Giuseppe] Verdi [1813-1901]: Ouvertures & Preludes por Filarmónica della Scalla, sob a direcção de Riccardo Chailly.
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EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 5

Atarantada, Clotilde Mercez olhava a todos, sem atinar. Na inércia de Simplício Thiago, não se conteve Mathias Embirra para Salomão Emérito:
- És tu o homem que induziste esta mulher ao crime!
Continua

terça-feira, março 27, 2018

IMAGINÁRiO #482

José de Matos-Cruz | 08 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

VIRTUALIDADES
Como em todas as formas de recriação, existe no cinema um grau de simbolismo mais ou menos acentuado, que impregna o imaginário ou se repercute nos contornos fictícios da expressividade. Através de uma carreira escassa, mas tão sugestiva, Jerzy Skolimowski tem desenvolvido essa tendência perturbante e mágica: sensações nascidas do surpreendente efeito que extrai de técnicas ou materiais fílmicos de aparente simplicidade, aliás planeados e exibidos meticulosamente, através de envolvimento enigmático sobre uma realidade que, de modo obsidiante, se desprende trágica e ferida de inevitabilidade… Da Polónia original, à carreira internacional, Skolimowski sublima uma inerência fantástica e poética, rondando por vezes o onírico, que vincula, visual ou alegoricamente, à natureza da sua criatividade e testemunho - a partir de um quotidiano cuja transparência trivial é, sistematicamente, dilacerada por conflitos e adversidades individuais, ou dilemas de opressão e de resgate, sob uma conjuntura - social, política, ideal, ontológica - eminente, mas desafiada.

MEMÓRiA

18MAR1634-1693 - Marie-Madeleine Pioche de La Vergne, aliás Madame de La Fayette: Escritora francesa, autora de A Princesa de Clèves (1678) - «Só o ciúme me faz saber se estou apaixonada». IMAG.42

10SET1914-2005 - Robert Earl Wise, aliás Robert Wise: Realizador e produtor americano de cinema - «Um dos elementos mais importantes para quem faz filmes é conhecer o tema, a matéria do argumento, conhecer a verdade e a realidade em abordagem». IMAG.34-55-111-139-268-272-281-373-415-443

1682-12SET1764 - Jean-Philippe Rameau: Organista e compositor francês - «Dia a dia adquiro mais gosto, mas não tenho mais génio. A imaginação está gasta na minha velha cabeça, e não se é sábio quando se quer trabalhar, nesta idade, em artes que são inteiramente imaginação». IMAG.340-382-388

1750-12SET1784 - Manuel Blasco de Nebra: Compositor e organista espanhol, de cuja obra restam 26 sonatas e seis pastorelas rústicas para cravo e piano forte - «A sua música aponta o caminho do futuro» (Jorge Calado). IMAG.324

13SET1874-1951 - Arnold Franz Walter Schönberg, alias Arnold Schoenberg: Compositor austríaco, criador do dodecafonismo - «A expressão música atonal parece-me infeliz - é como considerar que voar é a arte de não cair, ou que nadar é a arte de não se afogar… / A minha obra deveria ser julgada pelo modo como entra nos ouvidos e na cabeça de quem a escuta, e não como a descrevem os olhos dos que fazem a sua leitura… / Nunca me senti capaz de exprimir os meus sentimentos ou emoções por palavras. Não sei, aliás, se foi por esse motivo que tive de o fazer através da música ou da pintura». IMAG.213-270-330

13SET1924-2009 - Maurice-Alexis Jarre, aliás Maurice Jarre: Compositor francês - «Os compositores de cinema ficam, frequentemente, à sombra dos realizadores e dos intérpretes; porém, a sua música para filmes faz parte inesquecível da história de sétima arte» (Dieter Kosslick). IMAG.243-320

1905-14SET1964 - Vasily Semyonovich Grossman, aliás Vassili Grossman: Escritor e jornalista soviético - «Aquilo que é humano no homem vai ao encontro do seu destino, e em cada época o destino é peculiar, é distinto do que foi para a época precedente» (A Madona Sistina). IMAG.408

15SET1254-29JAN1324 - Marco Polo: Mercador e explorador veneziano - «…Como águias muito grandes. Contam que são tão fortes que levantam ao ar um elefante, deixando-o cair de tão alto que rebenta, quando chega ao solo... Os habitantes da ilha chamam-lhes ruth e não lhes dão outro nome» (Milione - As Viagens de Marco Polo). IMAG.73-105-140

15SET1894-1979 - Jean Renoir: Cineasta, encenador, actor e escritor francês - «Um cineasta faz, apenas, um filme durante toda a sua vida… Depois, redu-lo a pedaços e volta a realizá-lo, uma e outra vez». IMAG.52-109-358

CALENDÁRiO

13SET-24NOV2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Manta - Retrato(s) de Família. IMAG.172-193-195-224-280-292-312-413

ANUÁRiO

4 aC-65 - Lucius Annaeus Seneca, aliás Séneca: Advogado e escritor romano - «Quanto da tua existência não foi logrado pelo sofrimento, sem necessidade, por tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu? Não há ninguém que queira dividir a sua riqueza, mas a vida distribui-se entre muitos! Alguns são rigorosos na preservação do seu património, mas desperdiçam tempo, a única coisa que justificaria a avareza». IMAG.115-321

GALERiA

Três Mantas e Uma Carneiro de Moura

Uma família de artistas plásticos – Abel Manta (Gouveia, 1888-Lisboa, 1982) João Abel Manta (Lisboa, 1928), Isabel Manta (Lisboa, 1952) e Clementina Carneiro de Moura (Lisboa, 1898-Lisboa, 1992) – está reunida em exposição, um evento cuja singularidade advém da amostragem em simultâneo dos trabalhos de três gerações de Mantas.

Abel Manta: curso de pintura pela Escola de Belas-Artes de Lisboa. Parte para Paris em 1919 onde, em 1922, frequenta o Curso de gravura da Casa Schumberger. Regressa a Portugal em 1925, leccionando no Ensino Secundário. Casa-se em 1927 com a pintora Clementina Carneiro de Moura, de quem tem o único filho, João Abel, que lhe daria a única neta, Isabel Manta.
João Abel Manta: arquitecto e urbanista desde 1951, assinou vários projectos de integração das artes plásticas na arquitectura em inúmeros edifícios e espaços públicos: painéis murais, azulejos, tapeçarias, pavimentos. Como artista gráfico, dedicou-se à ilustração de livros, cartazes, design gráfico, filatelia, numismática, cartoon. Colaborou como director artístico numa dúzia de peças teatrais montadas em Portugal.
Isabel Manta: licenciada em arquitectura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1976; mestrado em História da Arte, Universidade Lusíada, Lisboa, 1996 a 2000; docência no Ensino Secundário.
Clementina Carneiro de Moura: curso de pintura pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, 1920, onde foi colega de Sarah Afonso e aluna de Columbano Bordalo Pinheiro.

VISTORiA

Faz o Gran-Khan cunhar moedas da seguinte forma: pegam na casca das árvores, geralmente das amoreiras e fazem uma pasta, como a do papiro, de cor muito escura, quase preta. Estes papéis ou tiras são cortados de vários tamanhos; aos mais pequenos, dá-se o valor de metade de um soldo; outros, maiores, valem um soldo, outros, meio ducado de Veneza. Todos estes papéis e cartões têm o selo do Gran-Khan. Ninguém pode rejeitar esta moeda, sob pena de ser condenado à morte.
Milione
- As Viagens de Marco Pólo (excerto)

Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – pergunta Kublai Khan.
A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco –, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, reflectindo. Depois acrescenta:
Por que falar em pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
Sem pedras, o arco não existe.
Italo Calvino
- As Cidades Invisíveis (1972, excerto)

Foi na Alemanha, particularmente aqui em Berlim, que os nossos soldados realmente começaram a perguntar-se por que nos atacaram os alemães tão repentinamente. Por que precisavam os alemães dessa guerra terrível e injusta? Milhões dos nossos homens viram agora as ricas propriedades do leste da Prússia, agricultura altamente organizada, as coberturas de cimento para os animais, salas espaçosas, tapetes, armários cheios de roupa…
Vassili Grossman
- Um Escritor Na Guerra (excerto)

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita A Princesa de Clèves de Madame de La Fayette (1634-1693); tradução de Pedro Tamen.

Harmonia Mundi edita em CD, Johannes Brahms [1833-1897]: Quintetos, Op. 34 e 115 por Tokyo String Quartet, com o pianista Jon Nakamatsu e o clarinetista Jon Manasse. IMAG.82-171-193-199-256-286-303-324-393-417

A Esfera dos Livros edita Segredos da Maçonaria Portuguesa de António José Vilela.

Artificial Eye edita em DVD e em Blu-ray, Adolescente Perversa / Deep End (1970) de Jerzy Skolimowski; com Jane Asher e John Moulder Brown.

segunda-feira, março 26, 2018

IMAGINÁRiO #481

José de Matos-Cruz | 1 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

NAVEGAÇÕES
Além de todas as telenovelas, bastante música, raros filmes e alguma literatura, quase nenhuma arte genuína nos chega, actualmente, do Brasil. Sobretudo, em quadradinhos - tendo-se perdido uma tradição que, ao longo de várias gerações, fascinou tantos jovens nos dois lados do Atlântico. Graças a um imaginário popular, exótico, empolgante ou humorístico, expresso na língua partilhada. A mesma que também nos revelou ou manteve a par com o melhor de outras bandas desenhadas, logo americana ou japonesa. Aliás, aquele país irmão foi, ainda, destino de lendários autores nossos, como Jayme Cortez… Neste milénio, o intercâmbio restabeleceu-se com Lailson de Holanda Cavalcanti - cujo sucesso se firmou com Pindorama (2001), uma tira irreverente, que evoca as comuns glórias históricas para tratar uma actualidade sociopolítica. Pindorama é o Brasil primitivo, terra de índios e palmeiras - onde chegou Vasco Cuínas del Mangue, herói e náufrago que acompanhava o descobridor Pedro Álvares Cabral. Já em 2006, Lailson de Holanda Cavalcanti lançou Lusíadas 2500 - versão fantástica sobre Os Lusíadas por Luís Vaz de Camões, transpondo a saga dos navegadores portugueses para um horizonte futurista e virtual.

CALENDÁRiO

1939-30AGO2013 - Seamus Justin Heaney, aliás Seamus Heaney: Poeta e ficcionista irlandês, distinguido com o Prémio Nobel em 1995 - «Há no poeta um discurso contaminado por algum cosmopolitismo, pela diversidade que define e condiciona o tempo enquanto espaço de acção, espaço que chama a si essa mesma acção, esse narrar poético intelectual mas afectivo» (Sylvia Beirute).

1919-02SET2013 - Frederik George Pohl Jr, aliás Frederik Pohl: Escritor e editor americano, mestre de ficção científica, autor de Gladiador da Lei (1955) - «O que distingue os homens não é o modo como ganham a vida, mas a maneira como perdem tempo».

03SET2013 - Em Lisboa, Hill´s Art expõe Blue Planet - Fotografia e Assemblage de Dário Vidal. IMAG.388-431-451-454

MEMÓRiA

04SET1824-1896 - Anton Bruckner: Compositor austríaco - «…Ficou na história da música como um sinfonia de excelência. O conjunto de nove sinfonias, número vivo desde o ciclo de Beethoven, alcançou um estatuto de grande erudição devido às dimensões e sonoridades monumentais» (Rui Pereira). IMAG.104-233-323-404-437-440

1899-04SET1974 - Marcel-Augustin Ferréol, aliás Marcel Achard: Comediógrafo e argumentista francês - «A mulher raras vezes entende que, amá-la eternamente, não significa amá-la sem interrupção durante tanto tempo».

10SET1924-2011 - Luiz Francisco Rebello: Dramaturgo português, crítico, ensaísta e investigador teatral, Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (1973-2003) - «Foi toda a vida um homem de convicções e um lutador pelas causas em que acreditava» (Rui Vieira Nery). IMAG.19-68-157-169-388-437

VISTORiA

A Árvore dos Desejos

Recordei-a como a árvore dos desejos que morreu
E vi-a subir, inteira, até ao céu,
Deixando um rasto de tudo o que se cravara

Por cada carência, uma e outra vez, na têmpera
Da sua casca e sâmago: moeda, alfinete e prego
Desfraldaram dela como uma cauda de cometa

Recém-cunhada e dissolvida. Tive uma visão
De uma ramada aérea atravessando húmidas nuvens,
De rostos erguidos, onde a árvore estivera.
Seamus Heaney
(Tradução de Rui Carvalho Homem)

VISTORiA

Rui - …Eu tinha a noção exacta do perigo que se aproximava. E sentia-o avançar, avançar cada vez mais. E não fiz nada para o evitar. Nem sequer fui capaz de puxar a tempo o sinal de alarme… Pelo contrário: fechei os olhos e deixei-me caminhar para ele… agarrado a uma esperança absurda de que talvez houvesse ainda uma solução, uma forma de tudo se harmonizar…
Luiz Francisco Rebello
- Alguém Terá de Morrer
(1956 - excerto)
TRAJECTÓRiA

MAFALDA, A CONTESTATÁRIA

Fenómeno de popularidade, Mafalda foi criada em 1964, por Quino (aliás, Joaquin Salvador Lavado) em quadradinhos. Até 1973, tornou-se ponto alto numa carreira celebrada com a exposição Quino, 50 Anos no Palácio do Gelo, em Buenos Aires. Entretanto, a irreverente e precoce miudinha - protótipo de uma geração contestatária - cedo atravessou as fronteiras da sociedade argentina, com uma acutilância que ultrapassaria os próprios Peanuts de Charles Monröe Schulz. Levada ao cinema em animação por Carlos Márquez em 1981, Mafalda apresenta-se rodeada pelos amigos ou no convívio familiar, preparando-se para a escola primária. Intervêm todos os elementos que a tornaram famosa: filosofia do humor, mordacidade e propensão para analisar, argutamente, situações domésticas ou problemas ao mais alto nível. Aparentemente, o universo vivencial de Mafalda corresponde ao de qualquer outro agregado humano. Segundo Quino - cujos progenitores emigraram da Andaluzia em 1919, e naturalizado espanhol em 1990 - quando os pais não sabem explicar melhor, há sempre uma cegonha a justificar tudo, na história de Mafalda. Se ela tivesse nascido numa época anterior e menos complicada, desenvolver-se-ia de uma forma diferente. Poderia ter brincado com bonecas, atormentado rapazes e outras coisas no género. Mas é uma criança do seu tempo. Não pode evitar perguntas, escutar, ver e falar sobre todos os assuntos. Mafalda e os amigos - Manolito, Miguelito, Felipe e Susana - consagraram-se em jornais e revistas de trinta países e em oito idiomas, além de milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. 
 
ANUÁRiO

354-430 - Aurélio Agostinho, dito de Hipona, aliás Santo Agostinho: Escritor, filósofo, teólogo e bispo latino - «O dom da palavra foi concedido aos homens não para que eles se enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem os seus pensamentos e comunicassem entre si». IMAG. 19-34-116-227-282

PARLATÓRiO

Sermões

De onde veio a morte?
Vamos investigar a origem da morte. O pai da morte é o pecado. Se nunca houvesse pecado, ninguém morreria. O primeiro homem recebeu a lei de Deus, isto é, um preceito de Deus, com a condição de que, se o observasse, viveria e, se o violasse, morreria. Não crendo que morreria, fez o que o faria morrer; e verificou a verdade do que dissera quem lhe dera a lei. Desde então, a morte. Desde então, ainda, a segunda morte, após a primeira; isto é, após a morte temporal, a eterna morte. Sujeito a essa condição de morte, a essas leis do inferno, nasce todo homem; mas, por causa desse mesmo homem, Deus fez-se homem, para que não perecesse o homem. Não veio, pois, ligado às leis da morte, e por isso diz o Salmo: «Livre, entre os mortos».
Concebeu-o, sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-o à luz, Virgem permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa, comungava connosco no castigo, mas não na culpa. O castigo da culpa é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio pecar; comungando connosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia, após esta vida. Foi assim crucificado, para mostrar na cruz o fim do nosso homem velho; e ressuscitou, para mostrar, em sua vida, como é a nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: «Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação».
Santo Agostinho
- Sobre a Ressurreição de Cristo Segundo São Marcos

ANTIQUÁRiO

29SET1964 - Concebida e desenhada pelo artista argentino Joaquín Salvador Lavado, aliás Quino, Mafalda aparece em quadradinhos, na revista semanal Primera Plana. IMAG.11-58-267-289

BREVIÁRiO

Gradiva edita Outras Terras No Universo - Uma História da Descoberta de Novos Planetas de Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato.

Andante edita em CD, sob chancela Hyperion, Benjamin Britten [1913-1976]: Cello Symphony, Cello Sonata e Cello Suites pelo violoncelista Alban Gerhardt e Osborne, com BBC Scottish Symphony Orchestra, sob a direcção de Andrew Manze. IMAG.71-298-443-473

Guimarães edita Breviário do Brasil de Agustina Bessa-Luís; organização de Manuel Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira. IMAG.11-33-83-92-209-216-223-239-243-341

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 4

Até que Salomão, esvaída a lábia, se atenuou. Ia ficando à rasca. Logo, para escapar, tinha que espicaçar.
Então escolheu, em mal menor, a solícita Clotilde:
- Matar-te-ei por me atraiçoares, ingrata! lançou feroz, a fulminar.
Continua