PRONTUÁRiO
SUPERAÇÃO
Dois
ingleses - potenciais adversários entre si, e profundamente
divididos em origens e crenças - disputam, em Paris, os Jogos
Olímpicos de 1924, conquistando para o seu país duas medalhas de
ouro, em provas de atletismo. Quem são, o que os motiva, como
chegaram ao topo do desporto amador, quais as suas angústias e
ambições, de que amigos e afectos forjam as respectivas
experiências - eis o que ilustra Momentos
de Glória / Chariots of Fire
(1981), com base nos feitos e vivências reais de Harold Abrahams, um
judeu estudante em Cambridge, e de Eric Lidell, filho de um
milionário escocês nascido no Oriente… O que mais impressiona,
neste primeiro filme de vulto assinado por Hugh Hudson, é a
fidelidade na reconstituição de uma época - do estrito testemunho
ambiental, à definição de um conflito centrado sobre os valores
humanos. Além do rigor,
quase maníaco, do circunstancial e do institucional, paira a
virtualidade de um enquadramento histórico - através do qual se
detectam, afinal, os sinais e vectores da transitoriedade.
CALENDÁRiO
19ABR-07JUL2013
- Em Lisboa, Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão expõe
Obra Perdida de
Emmerico Nunes (1888-1968), sendo comissários Isabel Lopes Cardoso e
José Pedro Cavalheiro.
29MAI-27JUL2013
- No Teatro da Politécnica, em Lisboa, Artistas Unidos expõe Meu
Corpo Vegetal de Alberto
Carneiro. IMAG.21-241-299
1921-06JUN2013
- Esther Williams: Actriz e nadadora americana, a sereia
de Hollywood - «Molhada, ela
é uma estrela… Mas, seca, nem pensar!» (Fanny Brice).
07JUN-01SET2013
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe, com
Fundação John Kobal, Made In
Hollywood - Fotografias da Fundação John Kobal.
MEMÓRiA
19MAI1924-1978
- Vasco Morgado: Empresário teatral e actor do cinema português -
«…Era um homem charmoso, um galã... Uma pessoa adorável,
criou-se entre nós uma amizade que durou até ao fim da vida. A
morte do Vasco pode ser a primeira que me marcou» (Ana Zanatti).
IMAG.151-203-363
1920-19MAI1984
- Jacinto do Prado Coelho: Escritor português, investigador, crítico
literário, professor universitário - «Ler colectivamente (em
diálogo com a obra literária, em diálogo de leitor com outros
leitores) é, com efeito, além de prazer estético, um modo
apaixonante de conhecimento… Não há, suponho, disciplina mais
formativa que a do ensino da literatura. Saber idiomático,
experiência prática e vital, sensibilidade, gosto, capacidade de
ver, fantasia, espírito crítico - a tudo isto faz apelo a obra
literária, tudo isto o seu estudo mobiliza… A literatura não se
faz para ensinar: é a reflexão sobre a literatura que nos ensina»
(Como Ensinar Literatura
- Ao Contrário de Penélope -
1976). IMAG.187-352
1910-23MAI1934
- Bonnie Parker: Criminosa americana - «Vocês leram a história de
Jesse James / E como ele viveu e morreu / Se ainda tiverem
curiosidade / Não percam a saga de Bonnie e Clyde». IMAG.212-293
1909-23MAI1934
- Clyde Barrow: Criminoso americano - «Esta é Miss
Bonnie Parker. Eu chamo-me Clyde Barrow… Estamos aqui para fazer o
nosso trabalho - somos assaltantes de bancos!». IMAG.212-293
1909-30MAI1994
- Juan Carlos Onetti: Ficcionista uruguaio, distinguido com o Prémio
Cervantes (1960) - «Alguém inventou para mim o termo e o destino de
escritor comprometido. Estou inocente. O único compromisso que
aceito é a persistência em escrever bem e melhor, e de tratar com
sinceridade a vida que me coube conhecer e as pessoas condenadas a
converter-se em personagens dos meus livros». IMAG.229-263
COMENTÁRiO
A
primeira reacção de Fernando Pessoa em face do mundo, incluindo o
eu que reflecte, é um sentimento de estranheza, um arrepio de
espanto. Pessoa nega-se, com todas as forças do seu espírito, a
aceitar um mundo tal como as suas percepções lho transmitem: é
absurdo, não pode ser. Tomado da angústia de intuir o mistério,
interroga para satisfazer de certeza uma razão exigente. Toda a sua
obra exprime a interrogação ou as respostas possíveis para essa
interrogação, ou a melancolia de saber que não há resposta.
Jacinto
do Prado Coelho
-
Diversidade e Unidade Em
Fernando Pessoa (1951)
VISTORiA
A
chuva deixara os boulevards
quase vazios, e só restava gente agrupada no café envidraçado
onde, havia meses, não a deixavam entrar.
Sonia,
de pé no vestíbulo da casa vazia, viu que a chuva passava,
fatigada, a manso chuvisco, viu-a cessar enquanto aumentava o frio do
vento, e pensou que aquilo era sinal de boa sorte. Um pouco mais
longe, do outro lado do amplo passeio, as luzes da cidade começavam
a acender-se. A noite tinha início, e, respirando o aroma tristonho
de seu casaco molhado, Sonia pensou que também a esperança tinha
início. Sorriu, sem realmente acreditar, como uma menina a quem
contaram uma história já ouvida e inverosímil.
Apalpou
novamente a crespa peruca loira e com grande cuidado – tinha as
unhas muito compridas – foi esticando as meias ensopadas presas
pelas ligas.
Sentiu
fome de novo, e lembrou-se que tinha uma sanduíche de presunto no
bolso. Mas não podia estragar o desenho da boca que fizera com
bâton,
e com tanto cuidado. Também se lembrou que, até o fim do mês,
estava em ordem com a polícia e obrigou-se a caminhar,
aproximando-se da beira das calçadas para sorrir para os carros,
rebolar e parar, fingindo procurar alguma coisa na bolsa enorme. Mas
nada, ninguém, e ela sem dinheiro para tentar a sorte em bares onde
ainda a deixavam entrar.
Era
noite e, depois, madrugada no bairro sujo da grande cidade. E Sonia,
já sem fome, quase sem esperança, continuava a caminhar sobre a dor
dos sapatos de salto agulha.
Juan
Carlos Onetti
-
Amanhã Será Um Outro Dia
(excerto)
TRAJECTÓRiA
VASCO
MORGADO
Vasco
Manuel Veiga Morgado, nasceu a 19 de Maio de 1924, na Charneca da
Caparica, e faleceu a 22 de Novembro de 1978, em Lisboa. Desde muito
cedo, dedicou-se ao mundo do espectáculo, sendo responsável por
mais de mil produções (segundo registos históricos) dos mais
variados tipos - filmes, operetas, dramas, comédias, revistas e
muitas outras. O nome de Vasco Morgado aparece pela primeira vez no
mundo do show-business,
logo após ter conseguido ganhar algum dinheiro na pesquisa do
volfrâmio. Com esse capital e com um sonho, constituiu a sua
primeira empresa - a Cineditora - que produziu Ladrão,
Precisa-se!… (1946) e
Heróis do Mar
(1949). A fraca prestação destes filmes quase levou à falência da
Cineditora. Não se deixando abater pelos obstáculos, Vasco Morgado
apareceu - como actor - em filmes como Capas
Negras (1947). Insatisfeito,
logo de seguida produziu, no Teatro Apolo, a comédia Enquanto
Houver Santo António. Mas a
sua ambição não parava aqui. Sem olhar para trás, virou-se para o
Teatro Avenida, produzindo a comédia Está
Lá Fora o Inspector, com
João Villaret como cabeça de cartaz. A partir daqui, lançou-se na
aventura daquele foi apelidado o
seu teatro - o Monumental -
estreando, a 8 de Novembro de 1951, a opereta As
Três Valsas, um dos muitos
espectáculos com a sua vedeta de cartaz, e sua mulher, a actriz
Laura Alves - também mãe do seu filho. Vasco Morgado Jr, seguiu as
pegadas do pai - tornando-se, igualmente, empresário de teatro.
PARLATÓRiO
A
natureza recriada à nossa imagem e semelhança: nós dentro dela e
ela polarizadora dos nossos sentimentos estéticos.
Uma
nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo
plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso
mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos,
através duma memória que tem a idade do homem.
Alberto
Carneiro
BREVIÁRiO
20th
Century-Fox edita em Blu-ray, Momentos
de Glória / Chariots of Fire
(1981) de Hugh Hudson; com Ben Cross e Ian Charleson. IMAG.37
RELATÓRiO
Mostra
de obras-primas da fotografia de Hollywood, desde os tempos do cinema
mudo até ao final do studio
system, seleccionadas do
arquivo da Fundação John Kobal, em Londres. Inclui noventa
originais vintage,
dos mais importantes fotógrafos que trabalharam em Hollywood, entre
1920 e 1960. Estas fotos ajudaram a criar as estrelas que habitavam
aquele lugar mágico de pessoas supostamente perfeitas e também a
sustentar as suas carreiras, de filme para filme, gerando, assim, o
star sistem.
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