quarta-feira, fevereiro 28, 2018

IMAGINÁRiO #466

José de Matos-Cruz | 08 Maio 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

MARLENE
«Uma legião de admiradores, sobretudo os mais fanáticos, consideram-na a sublimação da beleza, ou um símbolo sexual por excelência. Em minha opinião - e falo apenas como profissional, olhando-a através da câmara - ela é a própria sedução.» Atribuídas a Lee Garmes, tais palavras mantêm todo o fascínio e toda a sugestão que consagraram Marlene Dietrich, como diva do cinema e mito de Hollywood. Famoso pelo brilhantismo cénico, capaz de irradiar a sua beleza perversa, em cenas tensas na penumbra, Garmes incutia, aliás, uma indubitável competência técnica e estilística no seu firme comentário. De facto, ele fotografou a extraordinária vedeta, com notória rendição, designadamente em Marrocos (1930) e O Expresso de Xangai (1932) - obras maiores da formidável carreira americana de Marlene, nascida Marie Magdelene Dietrich Von Losch em Berlin-Schöneberg, em 1901, e falecida em Paris, em 1992. IMAG.254-352-369-375

CALENDÁRiO

1920-MAI2013 - Júlio Roberto: Filósofo português, poeta e ecologista, fundador / editor do ITAU - «Transformámos tudo, progredimos, inventámos, criámos coisas que tu nem imaginas. Olha, substituímos o vento e o sol por uma coisa que se chama energia nuclear.» (Poema Ecológico - excerto).

1916-22MAI2013 - Henri Dutilleux: Compositor francês - «Um dos raros cuja música integrou o repertório habitual dos programas em salas de concerto ainda em vida» (Laurent Petitgirard). IMAG.349-421

03MAI1934-23MAI2013- Giuseppe Mustacchi, aliás Georges Moustaki: Compositor e cantor francês, nascido no Egipto - «Possuía uma doçura infinita e um enorme talento. Era como todos os poetas, alguém diferente, porque acaba por ser sempre essa diferença que conduz ao talento» (Juliette Gréco).

27MAI2013 - O escritor moçambicano Mia Couto é distinguido com o Prémio Camões, pela «sua inovação estilística e pela profunda humanidade com que tem sabido inovar e enriquecer a língua portuguesa» (José Carlos Vasconcelos). IMAG.54-147

30MAI2013 - Leopardo Filmes estreia Fragmentos de Uma Organização Participativa de Filipa Reis e João Miller Guerra. IMAG.430

MEMÓRiA

MAI1924-2009 - Irisalva Moita: Arqueóloga portuguesa, historiadora, museóloga, olissipógrafa, membro da Academia Nacional de Belas Artes, pioneira de escavações em contexto urbano, realizadas no Teatro Romano de Lisboa, Hospital Real de Todos-os-Santos ou Necrópole Romana na Praça da Figueira. IMAG.256

10MAI1884-1941 - Raul Proença: Escritor e jornalista português - «Queremos fazer a revolução que pregamos à luz do dia, por processos enérgicos, mas pacíficos, em que toda a consciência nacional colabore, e não admitimos nela os criminais-natos que buscam nos movimentos revolucionários uma derivante aos seus instintos antisociais e a satisfação das suas perversas tendências destruidoras... Acusamos os potentados da finança, os últimos dos pervertidos morais (exploradores, especuladores, açambarcadores, falsificadores, inimigos do Povo, criminosos sacrílegos) que vivem de sugar todo o sangue da nação pelas ventosas da sua ambição desmedida. Acusamo-nos a nós próprios por só agora termos tido este grito, por só agora jogarmos a bem da nação o nosso próprio destino» (1921). IMAG.323-342-393

1943-10MAI1984 - Joaquim Agostinho: Ciclista português - «Se tivesse nascido em França, tinha ganho mais que um Tour. Era um diamante em bruto. Não teve oportunidades de ter escola. O que aprendeu foi na estrada e sofreu várias quedas por falhas técnicas» (Alves Barbosa). IMAG.413

11MAI1904-1989 - Salvador Dali: Pintor espanhol, nascido na Catalunha - «Não pinto retratos que se pareçam com os modelos, antes na perspectiva de que tais pessoas venham a parecer-se com os seus retratos». IMAG. 6-38-70-234-288-463

INVENTÁRiO

MARLENE DIETRICH - O PECADO E A SEDUÇÃO

Com o toque ambíguo de Frank Borzage, o elã sensual de Marlene Dietrich inebria em Desejo (1936). Aos 35 anos, já a actriz germânica cintilava, então, nos dois lados do Atlântico, com uma insinuante maturidade. Filha de um oficial que combateu na Guerra Franco-Prussiana, nascera Marie Magdelene Dietrich Von Losch em Dezembro de 1901, tendo revelado precoces talentos musicais e dramáticos.
Depois de estudar com o lendário Max Reinhardt, a estreia fílmica de Marlene Dietrich decorreu em 1922, mas só Josef Von Sternberg lhe inflamaria o sortilégio artístico, como O Anjo Azul (1930). Rumo à eternidade, Hollywood foi um destino incontornável para ambos. Entretanto, Marlene casara com Rudolf Sieber em 1924 - um vínculo conservado até à sua morte, em 1976, apesar de várias separações.
Algumas roturas caprichosas foram motivadas por romances com colegas. Em Marrocos, ela expõe-se entre Gary Cooper e Adolphe Menjou, numa aventura da Legião Estrangeira ambientada por um exótico Norte de África. A Fatalidade (1931 - Von Sternberg) adensou-se durante a I Guerra Mundial, com Marlene na pele duma audaciosa espia, inspirada em Mata-Hari, até à perdição nos braços de Victor McLaglen.
Cary Grant foi o astro escolhido para emparceirar com Marlene, no papel de A Vénus Loira (1932 - Von Sternberg) - dividida entre a salvação do marido enfermo, e a utopia de um resgate como antiga cantora de cabaré. Esta perturbadora tragédia familiar contrasta-se com um regresso à paisagem romântica e trepidante, que O Expresso de Xangai atravessa, desta vez com Clive Brook como amante em perigo de vida.
Em seguida, Von Sternberg reconstituiu a Rússia faustosa e turbulenta de Catarina, A Imperatriz Vermelha (1934) - que se debate entre os compromissos políticos e conjugais, até enfrentar o sacrifício individual sob um desígnio colectivo. Porém, Marlene trocará John Lodge pelo Desejo dum reencontro com Cooper; em causa, os dilemas de uma aristocrata europeia, que se envolve no furto de jóias...
Dirigida por Borzage, Marlene explora outras facetas de um talento cínico mas irresistível, que Von Sternberg nela virtualizara, ao personificar a mulher em conflito - pelas margens do pecado ou da sobrevivência, entre o resgate e a expiação. Aceitando-se como um ícone sexual, Marlene achava a profissão de actriz aborrecida, repetitiva, embora fosse a mais bem paga nos seus longos tempos de glória.
Pela auréola de escândalo, Marlene comprazia-se em chocar a conservadora moral ianque, declarando: «Na Alemanha, fazemos amor com quem achamos atraente - não interessa se é homem ou mulher». Segundo a sua única filha, Maria Riva, «a minha mãe está convencida de que inventou a paixão - e a verdade é que toda a gente acredita nela». Marlene Dietrich faleceu em Paris, cidadã americana, em Maio de 1992.

BREVIÁRiO

Eureka edita em Blu-ray, O Anjo Azul / Der Blaue Engel (1930) de Josef Von Sternberg; com Marlene Dietrich e Emil Jannings.IMAG.254-281-375

Deutsche Grammophon edita em CD, Henri Dutilleux [1916-2013]: Correspondences por Orchestre Philharmonique de Radio France, sob a direcção de Esa-Pekka Salonen. IMAG.349-421

Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio - História de Espaço Urbano; coordenação de Miguel Figueira de Faria.

PARLATÓRiO

Pelo que se refere à liberdade económica, sabem já há muito todos os meus leitores da Seara Nova ser minha opinião que o soi-disant liberalismo económico nada tem que ver com a liberdade intelectual e política, pois que se não funda em razões de direito, no respeito da pessoa humana, mas numa pura concepção económica ou em interesses egoístas de classe. Pode-se ser partidário da liberdade económica (por exemplo, a Associação Comercial de Lisboa) sem se comungar o liberalismo político, como se pode ser partidário do liberalismo político sem partilhar o liberalismo económico. São dois conceitos que estiveram logicamente ligados, numa das fases dialécticas da Revolução, mas que o não estão logicamente. Há, pois, que dissociá-los.
Raul Proença

Andei pelo mundo, cantei em todos os palcos, grandes e pequenos. Vivi coisas mágicas. Aprendi que, aquilo que acreditamos ter apreendido, é apenas uma pequena parte do que falta descobrir.
Georges Moustaki

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

COMO GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS - 11

Para o Carlos “Zíngaro”

Até que um vulto reapareceu na ombreira antes transposta por Cândido. Durante alguns instantes, ficou a ganhar forma perceptível ao espanto de Benedita. Seria uma mistura híbrida, entre a decadência agastada do marido e a vivacidade do estrangeiro hóspede. Incrédula, desgraçada, Benedita sentiu desentranhar-se, fora de si, aquele logro maternal em que, para sempre, resplandecia o anelo profanado por Aquiles Roubeta.
- Demónio, o que me queres, e em que me tentas?! gritou ela, a estrebuchar numa agonia que a precipitava ao pior dos pesadelos.
Então, beijou-a uma língua de lume, com ardor corpóreo e tropical.
Continua

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