PRONTUÁRiO
FANTASIAS
No
ano 40000, o presidente da Terra, Dyanthus incumbe a astronavegadora
Barbarella - que ia em férias para Nova Capri Venus - de uma missão
grave e secreta: recuperar o cientista Durand-Durand - inventor do
Raio Positrónico, capaz de anular toda a matéria viva - o qual
desapareceu no sistema Tan-Ceti. Só ela poderá preservar a harmonia
das estrelas e a segurança do planeta-mãe, onde não há exército
e vigora o amor... Assim relatam as crónicas de Barbarella
(1968) - um filme franco-italiano realizado por Roger Vadim, e com
elenco internacional: Jane Fonda como protagonista, John Philip Law
encarna Pygar, um anjo cego. Sete argumentistas ocuparam-se da
transposição, entre eles Vadim e Jean-Claude Forest, o inspirado
criador original. Nesta visão sofisticada do fantástico, pelo
sortilégio de uma heroína audaciosa, sem inibições, em seu
impacte futurista, o cinema estiliza uma noção feérica do
imaginário, que Forest entendia como «ensaio compensatório» para
a sua profissão de ilustrador. Nascida em 1962, na bd, cedo
Barbarella
se converteu em fenómeno de culto - onírico, erótico e
efabulatório. Exaltada pelos signos mediáticos, ícone publicitário
e alvo de censura, estudada nas universidades, Barbarella
transfiguraria os símbolos do desejo e da beleza, reincididos pelo
grotesco e pela crueldade. Segundo Forest, «o que me interessa é
ser, sempre, meu contemporâneo. Barbarella partiu de um fantasma, de
uma mulher que eu esperava descobrir um dia, na minha juventude, e
que acabei por encontrar».
CALENDÁRiO
1942-07MAR2013
- Dieter Herman, aliás Didier Comès: Artista belga de banda
desenhada, ligado ao valão e ao francês, autor de Silence
/ Silêncio (1979) - «Sou um
bastardo de duas culturas».
05ABR-29MAI2013
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe
Colagens e Pinturas Recentes
de Christian Bonnefoi.
VISTORiA

que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky sobre ele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?
Charles
Bukowski
INVENTÁRiO
RIBEIRINHO
A
primeira participação de Francisco Ribeiro/Ribeirinho (1911-1984)
no cinema consumou-se apenas pela voz, referenciado na versão
portuguesa de Son Excellence
Antonin/O Grande Nicolau
(1935) de Charles-Félix Tavano, ao lado de Vasco Santana ou Hortense
Luz. Nesses primórdios do fonocinema, entre nós, a dobragem logrou,
porém, uma vivência precária, controversa, sendo afinal proibida.
Entretanto, Ribeirinho realizava vários filmes de âmbito restrito
– sobretudo, relacionados com o seu trabalho enquanto director do
Teatro do Povo, cujos actores envolveu – cabendo destacar A
Costureirinha da Sé, O
Pardal de São Bento, Cruz à Porta e
Todos Iguais (1938)
em 9,5 mm, ou O Miúdo do
Terço (1941) em 16 mm,
indicado na revista Animatógrafo
como «o primeiro filme sonoro em formato reduzido por amadores em
Portugal». Por essa altura, destacara-se já no elenco de duas
longas metragens – A
Revolução de Maio (1937)
como Jerónimo Barata, Feitiço
do Império (1940) como Chico
do Austin – dirigidas por António Lopes Ribeiro, com quem (e Vasco
Santana) escreveu os diálogos de O
Pai Tirano (1941),
cabendo-lhe protagonizar Francisco Mega. O seu irmão e também
produtor confiou-lhe, então, a realização de O
Pátio das Cantigas (1941),
para o qual foi ainda co-argumentista e deu vida ao irresistível
Rufino Fino Filho. Como profissional, Ribeirinho apenas voltou a
realizar As Rodas de Lisboa
(1951) com Lopes Ribeiro – documentário sobre a Companhia de
Carris de Ferro de Lisboa/CCFL e a comemoração do cinquentenário
da electrificação dos transportes urbanos na capital, patrocinado
pela Câmara Municipal. Por essa altura, consumara já outros dos
mais relevantes desempenhos em longa metragem – Fortunato em A
Menina da Rádio (1944) de
Arthur Duarte, Jerónimo em A
Vizinha do Lado (1945) de
Lopes Ribeiro – nos quais sobressai uma composição histriónica.
Logrou versatilidade no Ricardo de Três
Espelhos/Trés Espejos (1947)
de Ladislao Vajda, co-produção luso-espanhola de incidências
criminais; tendo deixado outros apontamentos cómicos, ao lado de
António Silva, como Rival em Um
Drama de Amor – Sempre ao Pé (1948),
curta experimental
atribuída a Lopes Ribeiro. O fenómeno da comédia reincidiu em O
Grande Elias (1950) de Arthur
Duarte, ao protagonizar um dissipado Miguel. Em 1954, Ribeirinho
escreveu (com Vasco e Henrique Santana) o argumento de O
Costa d’África (João
Mendes), sendo ainda responsável pela supervisão e intérprete de
Roberto. Cinco anos mais tarde, personificou Ernesto Ledesma em O
Primo Basílio de Lopes
Ribeiro. Ambos se reuniram, enfim, para o documentário Gil
Vicente e o Seu Teatro (1966),
de que Ribeirinho foi director artístico. Ribeirinho deu ainda a sua
notável prestação ao crepúsculo da comédia, como Liberato em
Aqui Há Fantasmas (1963)
de Pedro Martins, que também concebeu com Henrique Santana; e como
Orlando em O Diabo Desceu à
Vila (1979) de Teixeira da
Fonseca. Em 1983, Ribeirinho interveio na série televisiva Fim
de Século de Herlander
Peyroteo; culminar de uma colaboração para o pequeno ecrã, em que
se destacam a tradução de O
Urso (1958 - Artur Ramos) de
Anton Tchékhov, e de Noite de
Reis (1963 - Fernando Frazão)
de William Shakespeare, que também encenou; e a autoria de Comédia
das Verdades e das Mentiras (1963
- Fernando Frazão) com Costa Ferreira, e Uma
Bomba Chamada Etelvina (1988
- Victor Manuel) com Henrique Santana, em apresentação póstuma. Em
1987, Lauro António distinguiu Ribeirinho
na série televisiva Paródia,
a Comédia à Portuguesa.
MEMÓRiA
05MAR1794-1872
- Jacques Babinet: Físico e astrónomo francês, inventor de uma
máquina pneumática, memorialista em Annales
de Physique et de Chimie (1824-1841)
e Comptes Rendus de l'Académie
des Sciences (1837-1865).
IMAG.391
1913-05MAR1984
- Tito Gobbi: Barítono italiano - entre as principais personagens
contam-se Conde Almaviva, Figaro, Macbeth, Posa, Gianni Schicchi,
Germont, Nabucco - ou Baron Scarpia na produção (1964) de Franco
Zeffirelli sobre a ópera Tosca
de Giacomo Puccini, em Covent Garden, com Maria Calas na
protagonista. IMAG.331-440
1920-09MAR1994
- Charles Bukowski: Ficcionista e poeta americano, nascido na
Alemanha - «O amor é uma espécie de preconceito. Amamos o que nos
é preciso, amamos o que nos faz sentir bem, amamos o que é
conveniente. Como podemos dizer que amamos uma pessoa, quando há dez
mil outras no mundo que amaríamos mais, se as conhecêssemos? Porém,
nós nunca as conheceremos». IMAG.287-350
COMENTÁRiO
DIDIER
COMÈS
Os
rastos e os rostos da banda desenhada franco belga atingem uma
fascinante, insólita identidade no talento de Didier Comès
(1942-2013), com Silêncio,
A Doninha,
A Árvore-Coração,
A Casa Onde as Árvores Sonham
ou Íris
- em estilizado preto-e-branco, revelando uma recorrência estranha,
sobre os múltiplos mistérios da concepção, o fantástico enigma
do relacionamento, os signos e os poderes em que se ritualiza um
contraste de vivências - quanto aos seres, às situações, às
épocas e aos lugares. Afinal, um universo mágico, onírico,
simbólico, cuja latente mas poética virtualidade, em quadradinhos,
funde as referências artísticas e criativas, com o sortilégio da
leitura, explicitamente conotada aos privilégios da visão. «As
pessoas têm medo daquilo que não compreendem… A intolerância de
alguns não deve fazer esquecer a generosidade de outros. Além
disso, o tempo não tem sentimentos…» Argumentista / ilustrador,
Comès logra uma conversão entre os dilemas e as expectativas da
aventura humana - pela psicologia das personagens ou nos prodígios
da natureza.
BREVIÁRiO
Paramount
edita em Blu-ray, Barbarella
(1968) de Roger Vadim; com
Jane Fonda e John Philip Law. IMAG.40-173-184-198-411
Relógio
D’Água edita Oficiais e
Cavalheiros de Evelyn Waugh
(1903-1966); tradução de José Miguel Silva. IMAG.180-395-396-440
Andante
edita em CD, sob chancela Naive, Sergei
Rachmaninov [1873-1943]:
Sonatas Para Piano 1 e 2 por
Nikolai Lugansky. IMAG.412
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