PRONTUÁRiO
VERTIGENS
Algures,
na noite dos tempos, uma memória que remonta à lendária Idade
Média: Uther - monarca dos Celtas, graças aos prodígios e símbolo
de Poder que lhe confere Excalibur, a espada maravilhosa recebida da
Dama do Lago, devido à interferência do druida Merlin - deixa-se
vencer pelo desejo de posse da mulher de um inimigo, prejudicando
assim os anseios de unidade, agravado pela ameaça de constantes
invasões. Prestes a morrer, Uther crava Excalibur num rochedo, de
onde só poderá ser arrancada, segundo Merlin, por aquele que «deve
ser rei». Muitos anos depois, Arthur - nascido dos amores de Uther
por Igrayne - recupera a espada, que faz dele um soberano. Agindo com
coragem e sensatez, Arthur impõe a paz e cria a comunidade dos
cavaleiros da Távola Redonda. Todavia, um dos seus pares, o corajoso
Lancelot apaixona-se pela rainha Guenevere, e essa relação faz
estalar de novo a discórdia e a violência, instigadas pela
feiticeira Morgana, meia-irmã de Arthur. Só a coragem e o heróico
sacrifício dos guerreiros da Távola Redonda podem exorcizar a
maldição, e restabelecer a harmonia, pela demanda do Santo Graal…
Em
Excalibur
(1980), a partir de La
Mort d’Arthur
de Thomas Malory, John Boorman culminou um projecto antigo, de levar
ao ecrã as sagas e proezas de uma época historicamente
indeterminável, e que se liga às origens brumosas do ideal de
bravura e honra da cavalaria. Obra de pleno fascínio, visual e
sonoro, Excalibur
anuncia, ainda, o limiar da Idade do Homem, sucedendo ao domínio das
forças obscuras ou sobrenaturais.
MEMÓRiA
23ABR1564-1616
- William Shakespeare: Dramaturgo e poeta inglês - «Algum
desgosto prova muito amor, mas muito desgosto revela demasiada falta
de espírito» (Romeu
e Julieta).
IMAG.26-79-131-141-146-164-179-202-232-239-322-326-342-366-377-387-404-410-415-443-457
25ABR1854-1912
- Jules Henri Poincaré: Filósofo, matemático e físico francês -
«Duvidar de tudo, ou em tudo acreditar, são duas soluções
igualmente cómodas, que nos dispensam, ambas, de reflectir».
IMAG.126-379
25ABR1874-1937
- Guglielmo Marconi: Físico italiano, inventor da telegrafia sem
fios - «Só progredimos, quando estamos cientes de que poderemos ir
muito mais além». IMAG.139
1880-25ABR1944
- George Herriman: Artista norte-americano de banda desenhada,
ilustrador e caricaturista, autor de Krazy
Kat (1913-1944) - «A mais
engraçada e fantástica e estimulante obra de arte produzida na
América hoje» (Gilbert Seldes - 1924). IMAG.124-309
28ABR1874-1936
- Karl Kraus: Dramaturgo, poeta e ensaísta austríaco - «O segredo
do demagogo é fazer-se passar por tão estúpido quanto a sua
plateia, para que as pessoas imaginem ser tão espertas quanto ele
próprio».
28ABR1914-2011
- Michel Mohrt: Romancista francês, ensaísta e editor, especialista
em literaturas anglo-saxónicas (1986) - «Devemos fazer coisas
loucas com a máxima prudência». IMAG.371
29ABR1884-1960
- Jaime Cortesão: Escritor e historiador português - «Ao dealbar
do Século XII, o povo ocupou toda a costa e criou o género de vida
nacional, a Nação organizou-se em função marítima e, por esse
esforço de massas, Portugal começou a viver de vida própria».
IMAG.285-302-333-342-448
30ABR1914-2008
- Dorival Caymmi: Cantor, compositor, poeta e pintor brasileiro - «Se
eu pensar em música brasileira, eu vou sempre pensar em Dorival
Caymmi. Ele é uma pessoa incrivelmente sensível, uma criação
incrível. Isso sem falar no pintor, porque o Dorival também é um
grande pintor» (Tom Jobim). IMAG.211
30ABR1944-2010
- Jill Claybourgh: Actriz americana de teatro e cinema - «As
personagens que interpreto melhor, no ecrã, são as que, em termos
emocionais, estão a desfazer-se a olhos vistos».IMAG.331

VISTORiA
Salanio:
Podeis crer-me, senhor: se eu
tivesse tanta carga no mar, a maior parte das minhas afeições
navegaria com as minhas esperanças. A toda a hora arrancaria
folhinhas de erva, para ver de onde sopra o vento; debruçado nos
mapas, procuraria sempre portos, embarcadoiros, rotas, sendo certo
que me deixaria louco, tudo o que me tornasse apreensivo pela sorte
do meu carregamento.
William
Shakespeare
-
O Mercador de Veneza -
Acto I (1596-1597, excerto)
Cartas
à Mocidade

Eu
sei que à tua beira se abrem os caminhos fáceis e sedutores. Se és
ambicioso, podes ganhar glória, dinheiro e poderio, com pequeno
custo. Escritor, basta-te lisonjear o mau gosto do público e as suas
piores inclinações. Político, enfileiras nos partidos e dobras-te
às imposições das clientelas. Jornalista, serves as oligarquias do
dinheiro e as paixões populares. Profissional, abres balcão e fazes
da tua profissão apenas um negócio. És, enfim, um habilidoso
animado pela cupidez: oprimes os fracos, abusas da ignorância,
aproveitas as condescendências da moral comum, exploras a miséria,
a estupidez ou os vícios humanos, e depressa chegarás aos fastígios
ilusórios que não alcançam os que trabalham com esforço rude e
com desejo de Justiça.
Jaime
Cortesão
-
Seara Nova
- Nº 3 (1921, excerto)
Acalanto

A manhã já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném
Lá no céu
Deixam de cantar
Os anjinhos
Foram se deitar
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar
«Boi, boi, boi,
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta»
Dorival
Caymmi
COMENTÁRiO
As
Óperas de Paula Rego
A
dimensão pluridisciplinar da ópera é, na essência, conjugadora de
formas e recursos expressivos que enriquecem o modo como se contam
histórias.
A
selecção destas histórias por Paula Rego, para figurarem nas suas
obras, foi realizada em total coerência com a pesquisa pictórica
que a artista vinha desenvolvendo: o drama das relações humanas,
sem artifícios nem heróis.
São
elas The Girl of the Golden
West (obra destruída num
incêndio), e La Bohème,
ambas de Giacomo Puccini; Aida,
Rigoletto,
Falstaff,
La Traviatta,
de Giuseppe Verdi; Fausto
de Charles Gounod; Carmen
de Georges Bizet, e Jenufa,
de Leoš Janácek. As obras criadas pela artista a partir destas
óperas são o depósito residual de muitas das histórias que aí se
contam; são comédias e tragédias, em que os humanos interagem com
animais, em enredos complexificados e justapostos.
Com
As Óperas
ficaram estabelecidos novos princípios actuantes introduzidos na
linguagem visual de Paula Rego, que multiplicam as personagens e
repetem elementos formais, explorados numa unidade temática e estilo
inconfundível.
Esta
nova forma de comunicar visualmente as suas histórias e
imagiconografia
(termo criado por Victor Willing) ganhará um novo fôlego nas
pinturas realizadas durante os anos de 1984 e 1985 e, em particular,
nas suas séries Vivian Girls
e Dentro e Fora do Mar
que recuperam e intensificam a cor enquanto elemento estruturante da
composição, aumentam a escala dos personagens e conferem à pintura
força e gestualidade até antes não atingidas.
Catarina
Alfaro
O
Campeão do Mundo Ocidental
de J.M. Synge
Sempre
gostei das peças em que se abre uma porta.
Aqui, quem entra pouco, depois de se levantar o pano, é mesmo
inesperado. Atrapalhado, tímido, receoso, inseguro, olhando para
todos os lados, aquele rapaz roto e sujo traz consigo mentiras,
fantasias, histórias que vai inventando à nossa frente. Não é
isso a vida…?
Jorge
Silva Melo
CALENDÁRiO
16MAI2013
- Teatro Nacional de D. Maria II estreia na Sala Garrett, com
Artistas Unidos, O Campeão do
Mundo Ocidental de J.M.
Synge; com Elmano Sancho e Maria João Pinho, sendo encenador Jorge
Silva Melo.
1921-16MAI2013
- Fred Funcken: Argumentista e ilustrador belga, autor de banda
desenhada, colaborador dos jornais Spirou
e Tintin
e especialista em uniformologia, tendo assinado Harald,
o Vicking ou Jack
Diamond.
17MAI-29SET2013
- Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe As
Óperas e a Colecção Casa das Histórias de
Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro.
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BREVIÁRiO
Warner
edita em Blu-ray, Excalibur
(1980) de John Boorman; com
Nigel Terry e Helen Mirren.
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