PRONTUÁRiO
VIRTUALIDADES
A
partir de meados dos anos ’90 do Século XX, processou-se em
Portugal uma lenta, discreta mas muito significativa revolução
editorial, traduzida no acesso e divulgação de nóveis autores
através de publicações próprias, com uma marca específica quanto
aos destinatários. Esta alternativa à mais ampla expressão
tradicional e comercial resultou, sobretudo, de um decisivo
contributo dos certames - com destaque para o AmadoraBD - em
patrocínio e dinamização, aliada a uma mutação na gloriosa
experiência dos fanzines, entre os quais cabe destacar o lendário e
electrónico Cyber
Extractus,
graças ao estímulo criativo e cultural de J.
Mascarenhas.
Noutros tempos e em mais amplas latitudes, este nosso prestigiado
artista incentiva o projecto BDLP
- nascido no Festival Luanda Cartoon 2010, aliando o Grupo
Extractus
(Portugal) ao Estúdio
Olindomar
(Angola) - considerando que «a riqueza, as diversidades nacionais e
a sua presença nos quatro cantos do mundo, fazem da Língua
Portuguesa um órgão vivo e simultaneamente universal»… De
Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal vêm Andreia
Rechena, Altino Chindele, Rita Vilela, Wander Antunes, Paulo
Monteiro, Tiago Abrantes, Olimpio e Lindomar Sousa, Inês Freitas e
Miguel Mendes, Zorito Chiwaga, Cristina Sá, Sai Rodrigues - os
talentos cujas imagens e palavras tornam já BDLP
# 2 (2012)
uma aposta ganha e uma proposta sempre virtual.
ANTIQUÁRiO
27JAN1654
- No Brasil, a vanguarda do Exército português em Pernambuco
incumbe ao famoso herói João Fernandes Vieira e, em nome de El-Rei
D. João IV, toma posse da praça do Recife e das fortalezas que
ainda estavam em poder dos Holandeses.
MEMÓRiA
24JAN1804-1855
- Delphine-Gay de Girardin, aliás Visconde Charles Delaunay:
Escritora francesa - «Viver o agora, como se o ontem não tivesse
existido, nem houvesse o amanhã!»
25JAN1874-1965
- William Somerset Maugham: Escritor inglês - «Nunca pretendi ser
algo mais do que um contador de histórias. Divirto-me a fazê-lo, e
escrevi muitas. Só lamento que seja uma actividade que mereça pouca
consideração» (Creatures of
Circumstance - 1947).
IMAG.73-180
1843-28JAN1924
- Joaquim Teófilo Braga: Escritor português, poeta, filósofo,
segundo Presidente da República (1915) - «Um dos fins da Arte
moderna é a representação da vida dos povos e dos aspectos da
natureza dos países longínquos, e também a evocação das idades
passadas, vencendo por este exotismo
o apagamento das impressões de tudo quanto nos cerca; assim se
inicia a fase estética construtiva» (Viriato
- 1904).
IMAG.214-263-270-293-407
1913-29JAN1964
- Alan Walbridge Ladd, aliás Alan Ladd: Actor americano de cinema,
rádio e teatro - «Nenhum artista é suficientemente grande para
representar convenientemente uma cena de baixa qualidade».
1502-30JAN1574
- Damião de Goes: «Um
símbolo eloquente do Portugal de Ourique e das Sete Partidas, e o
discípulo português das litterae
humanitores
mais cosmopolita e plurivocamente empático na complexa mundivivência
do Renascimento»
(Amadeu
Torres).
IMAG.99-115-357
30JAN1824-1890
- João de Andrade Corvo: «Uma das figuras mais brilhantes da nossa
sociedade política, científica e literária, porque pelo seu
esplêndido talento, pelos seus variados conhecimentos, pelos seus
diversos trabalhos, podia ser considerado, e era, um génio» (Diário
de Notícias - 16FEV1890).
IMAG.215-263
1879-31JAN1974
- Samuel Goldwyn: Produtor norte-americano, co-fundador da Paramount
(1913) e criador da Goldwyn (1918) - «Um contrato verbal não vale o
papel em que é escrito» (1937).
CALENDÁRiO
23FEV-26MAI2013
- Em Lisboa, Pavilhão dos Descobrimentos expõe Fotógrafos
[da Exposição] do
Mundo Português - com 119
imagens de nove autores, dos espólios do Arquivo Fotográfico da
Câmara Municipal de Lisboa e da Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian.
VISTORiA
Os
Iudeus são um povo sem terra e senhorios, cidades e vilas, e em toda
parte onde vivem são peregrinos, sem poder nem autoridade para
executar suas vontades contra as injurias e males que lhes fazem,
enquanto que os muçulmanos tem reinos e grandes senhorios e podem
vingar-se dos cristãos que habitam suas terras. Essa foi a
causa porque D.Manuel deixou sair os árabes de Portugal com
seus filhos e bens, e não aos judeus. Aos judeus se podia fazer todo
o mal possível.
Muitos
dos iudeus naturaes do Regno & dos que entraram de Castella
tomaram ha aguoa do baptismo, & hos que se nam quiseram converter
começaram logo a negoçiar has cousas que lhe convinham
pera sua embarcaçam, no qual tem elRei, per causas que ho a isso
moveram, ordenou que em hum dia çerto lhes tomassem a estes hos
filhos & filhas de idade de xiiij 14
annos pera baixo & se destribuissem pelas villas & lugares do
regno, onde à sua propria custa mãdava que hos criassem &
doctrinassem na fé do nosso salvador Iesu Christo. & isto
concluiu elRei com seu cõselho estado em Estremoz, & dalli se
veo a Evora no comêço da quaresma do anno de M.ccccxcvij 1497
onde declarou que no dia assinado fôsse dia de Pascoela.
&
porque nos do conselho nam houve tanto segrêdo que se nam soubesse
ho que açerqua disto estava ordenado & ho dia em que havia de
ser, foi neçessario mandar elrei que esta execuçam se fezesse
loguo per todo ho Regno antes que pe modos & meos que estes
Iudeus, poderiam ter mandassem escondidamente hos filhos fora delle,
a qual obra nam tam sómente foi de gram terror, mesturado com muitas
lagrimas, dor & tristeza ahos Iudeus, mas ainda de muito espanto
& admiraçam, ahos christãos, porque ninhua creatura do de
padecer, nem sofrer apartar de sim forçadamente seus filhos, &
nos alheos por natural comunicaçam sente quasi ho mesmo
prinçipelmete has raçionaes, porque com estas comunicou natureza
hos effectos de sua lei, mais liberalmente do que ho fêz com has
brutas irracionaes.
Ha
qual lei forçou muitos dos christãos velhos moverense tanto a
piedade & misericordia dos bramidos, choros & plantos que
faziam hos paes & mais a tuem forçadamente tomavam hos filhos,
que elles mesmo hos escondiam em suas casas por lhos nam virem
arrebatar dentremãos, & lhos salvarão cõ saberem que nisso
faziam contra ha lei & prematua de seu Rei & Senhor
ahos mesmos iudeus fêz usar tanta crueza esta lei natural, que
muitos delles mattaram hos filhos, afogando hos & lançando hos
em poços & rios & per outros modos, querendo antes vellos
acabar desta maneira, q nam apartaloos de sim, sem sperança de hos
nunqua mais verem, & pella mesma razão muitos delles se mattavam
a sim mesmos.
Emquanto
se estas execuções fazião, nam deixava elrei de cuidar no q
convinha à saúde das almas desta gente, pelo que, movido de
piedade, dissimulava cõ elles, sem lhes mandar dar embarcaçam, &
de três portos de seu Regno que lhe pera isto tinha assinados, lhes
vedou hos dous & mandou que todos se viessem embarcar a Lisboa,
dandolhes hos estaos pera se nelles agasalharem, onde se
ajuntaram mais de vinte mil almas, & com estas delõguas se lhes
passou ho tempo que lhe elRei limitou pera sua saída, pelo que
ficavam todos captivos. Hos quaes, vendosse em estado tam misero,
cometeram muitos delles por partido a elrei que lhes tornassem
seus filhos & lhes prometessem que em vintannos se nam tirasse
sobrelles devassa & que se fariam Christãos, ho que lhes
elRei conçedeo, cõ outros muitos privilegios que lhes deu; &
ahos que nã quiseram ser Christãos mandou loguo dar embarcaçãm,
quitando-lhes ho captiveiro em que encoreram & se
passaram todos a terra de mouros.
Hora
he que se poderá reputar a descuido nam dizermos que causa houve
elrei mãdar tomar hos filhos dos Iudeos & nam hos dos mouros,
pois assi hus quomo hos outros se sahiam do regno por não quererem
receber ha aguoa do Baptismo & crer ho que crê ha Egreja
Catholica Christam. Ha causa foi porque de tomarem hos filhos ahos
Iudeus se nã podia recreçer ninhum damno ahos Christãos que andam
espalhados pelo mundo, no qual hos Iudeos por seus pecados, nam tém
regnos nem senhorios, cidades ne villas, mas antes e toda parte õde
vive sam peregrinos tributários, sem terem poder, nem
authoridade pera executar suas vontades contra has injúrias &
males que lhes fazem. Mas ahos mouros, per nossos peccados &
castigo, permitte Deos terem occupada ha mór parte de Asia &
Africa & boa de Europa onde tem Imperios, Regnos &
grandes senhorios, nos quaes vivem muitos christãos debaixo de seus
tributos, allém de muitos que tem captivos, & a todos estes fôra
mui perjudiçial tomaremse hos filhos dos mouros, porque ahos
que se este agravo fezera, he claro que se nam houveram desquecer de
pedir vingança dos Christãos q habitavam nas terras dos outros
mouros, depois que se lá acharão & sobretudo dos Portugueses de
que particularmente nesta parte se podiam queixar. E esta foi ha
causa porque hos deixaram sair do Regno com seus filhos &
ahos Iudeus nam, ahos quaes todos Deos, per sua misericordia,
permitta conhçere ho caminho da verdade, pera se nella salvare.
Damião
de Goes
-
Cronica do Felicissimo Rei D.
Manuel
-
Capítulo XX, Parte I (1566, excerto)
Acalentar
Meninos
Embala,
preta, embala
Menino do teu senhor;
Canta-lhe bem amoroso,
Anima-lo com amor.
Menino do teu senhor;
Canta-lhe bem amoroso,
Anima-lo com amor.
Embala, preta, embala,
Como o fez San José,
Que os anjos cantarão:
Pater nostre domine.
San José, a trabalhar,
Embalava com seu pé:
«Calai-vos, Jesus Menino,
Nascido em Nazaré»,
Meu San José, acudi
Dai-me da vossa graça,
Com que enxugue ao meu menino
Suas lágrimas de prata.
Embala, preta, embala,
Como a Virgem faria,
Que os anjos cantarão:
«Gratia Plena Ave-Maria».
Cantigas cantou a Virgem
Quando
embalou Jesus:
«Calai-vos, meu bento filho,
Que haveis de morrer na cruz.
«Calai-vos, meu bento filho,
Que haveis de morrer na cruz.
Nossa Senhora, acudi,
Dai-me o vosso tesouro,
Com que cale o meu menino
Que chora lágrimas de ouro.
Teófilo
Braga
BREVIÁRiO
Harmonia
Mundi edita em CD, Alban Berg
[1885-1935],
[Ludwig van] Beethoven
[1770-1827]: Violin Concertos
pela violinista Isabelle
Faust, com Orquestra Mozart, sob a direcção de Claudio Abbado.
IMAG.134-163-202-204-210-228-229-236-237-239-255-268-285-298-303-323-360-375-384-409-430-431-432-436-442-445
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