quinta-feira, fevereiro 01, 2018

IMAGINÁRiO #452

José de Matos-Cruz | 24 Janeiro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

VIRTUALIDADES
A partir de meados dos anos ’90 do Século XX, processou-se em Portugal uma lenta, discreta mas muito significativa revolução editorial, traduzida no acesso e divulgação de nóveis autores através de publicações próprias, com uma marca específica quanto aos destinatários. Esta alternativa à mais ampla expressão tradicional e comercial resultou, sobretudo, de um decisivo contributo dos certames - com destaque para o AmadoraBD - em patrocínio e dinamização, aliada a uma mutação na gloriosa experiência dos fanzines, entre os quais cabe destacar o lendário e electrónico Cyber Extractus, graças ao estímulo criativo e cultural de J. Mascarenhas. Noutros tempos e em mais amplas latitudes, este nosso prestigiado artista incentiva o projecto BDLP - nascido no Festival Luanda Cartoon 2010, aliando o Grupo Extractus (Portugal) ao Estúdio Olindomar (Angola) - considerando que «a riqueza, as diversidades nacionais e a sua presença nos quatro cantos do mundo, fazem da Língua Portuguesa um órgão vivo e simultaneamente universal»… De Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal vêm Andreia Rechena, Altino Chindele, Rita Vilela, Wander Antunes, Paulo Monteiro, Tiago Abrantes, Olimpio e Lindomar Sousa, Inês Freitas e Miguel Mendes, Zorito Chiwaga, Cristina Sá, Sai Rodrigues - os talentos cujas imagens e palavras tornam já BDLP # 2 (2012) uma aposta ganha e uma proposta sempre virtual.

ANTIQUÁRiO

27JAN1654 - No Brasil, a vanguarda do Exército português em Pernambuco incumbe ao famoso herói João Fernandes Vieira e, em nome de El-Rei D. João IV, toma posse da praça do Recife e das fortalezas que ainda estavam em poder dos Holandeses.

MEMÓRiA

24JAN1804-1855 - Delphine-Gay de Girardin, aliás Visconde Charles Delaunay: Escritora francesa - «Viver o agora, como se o ontem não tivesse existido, nem houvesse o amanhã!»

25JAN1874-1965 - William Somerset Maugham: Escritor inglês - «Nunca pretendi ser algo mais do que um contador de histórias. Divirto-me a fazê-lo, e escrevi muitas. Só lamento que seja uma actividade que mereça pouca consideração» (Creatures of Circumstance - 1947). IMAG.73-180

1843-28JAN1924 - Joaquim Teófilo Braga: Escritor português, poeta, filósofo, segundo Presidente da República (1915) - «Um dos fins da Arte moderna é a representação da vida dos povos e dos aspectos da natureza dos países longínquos, e também a evocação das idades passadas, vencendo por este exotismo o apagamento das impressões de tudo quanto nos cerca; assim se inicia a fase estética construtiva» (Viriato - 1904). IMAG.214-263-270-293-407

1913-29JAN1964 - Alan Walbridge Ladd, aliás Alan Ladd: Actor americano de cinema, rádio e teatro - «Nenhum artista é suficientemente grande para representar convenientemente uma cena de baixa qualidade».
1502-30JAN1574 - Damião de Goes: «Um símbolo eloquente do Portugal de Ourique e das Sete Partidas, e o discípulo português das litterae humanitores mais cosmopolita e plurivocamente empático na complexa mundivivência do Renascimento» (Amadeu Torres). IMAG.99-115-357

30JAN1824-1890 - João de Andrade Corvo: «Uma das figuras mais brilhantes da nossa sociedade política, científica e literária, porque pelo seu esplêndido talento, pelos seus variados conhecimentos, pelos seus diversos trabalhos, podia ser considerado, e era, um génio» (Diário de Notícias - 16FEV1890). IMAG.215-263

1879-31JAN1974 - Samuel Goldwyn: Produtor norte-americano, co-fundador da Paramount (1913) e criador da Goldwyn (1918) - «Um contrato verbal não vale o papel em que é escrito» (1937).
 
CALENDÁRiO

23FEV-26MAI2013 - Em Lisboa, Pavilhão dos Descobrimentos expõe Fotógrafos [da Exposição] do Mundo Português - com 119 imagens de nove autores, dos espólios do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa e da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

VISTORiA

Os Iudeus são um povo sem terra e senhorios, cidades e vilas, e em toda parte onde vivem são peregrinos, sem poder nem autoridade para executar suas vontades contra as injurias e males que lhes fazem, enquanto que os muçulmanos tem reinos e grandes senhorios e podem vingar-se dos cristãos que habitam  suas terras. Essa foi a causa porque D.Manuel deixou sair os árabes  de Portugal com seus filhos e bens, e não aos judeus. Aos judeus se podia fazer todo o mal possível.
Muitos dos iudeus naturaes do Regno & dos que entraram de Castella  tomaram ha aguoa do baptismo, & hos que se nam quiseram converter começaram  logo a negoçiar has cousas que lhe  convinham pera sua embarcaçam, no qual tem elRei, per causas que ho a isso moveram, ordenou que em hum dia çerto lhes tomassem a estes hos filhos & filhas de idade de  xiiij 14 annos pera baixo & se destribuissem pelas villas & lugares do regno, onde à sua propria custa mãdava que hos criassem & doctrinassem na fé do nosso salvador Iesu Christo. & isto concluiu elRei com seu cõselho estado em Estremoz, & dalli se veo a Evora no comêço da quaresma do anno de M.ccccxcvij 1497 onde declarou que no dia assinado fôsse dia de Pascoela.
& porque nos do conselho nam houve tanto segrêdo que se nam soubesse ho que açerqua disto estava ordenado & ho dia em que havia de ser, foi neçessario  mandar elrei que esta execuçam se fezesse loguo per todo ho Regno antes que pe modos & meos que estes Iudeus, poderiam ter mandassem escondidamente hos filhos fora delle, a qual obra nam tam sómente foi de gram terror, mesturado com muitas lagrimas, dor & tristeza ahos Iudeus, mas ainda de muito espanto & admiraçam, ahos christãos, porque ninhua creatura do de padecer, nem sofrer apartar de sim forçadamente seus filhos, & nos alheos por natural comunicaçam sente quasi ho mesmo prinçipelmete has raçionaes, porque com estas comunicou natureza hos effectos de sua lei, mais liberalmente do que ho fêz com has brutas irracionaes.
Ha qual lei forçou muitos dos christãos velhos moverense tanto a piedade & misericordia dos bramidos, choros & plantos que faziam hos paes & mais a tuem forçadamente tomavam hos filhos, que elles mesmo hos  escondiam em suas casas por lhos nam virem arrebatar dentremãos, & lhos salvarão cõ saberem que nisso faziam contra ha lei & prematua de seu Rei & Senhor  ahos mesmos iudeus fêz usar tanta crueza esta  lei natural, que muitos delles mattaram hos filhos, afogando hos & lançando hos em poços & rios & per outros modos, querendo antes vellos  acabar desta maneira, q nam apartaloos de sim, sem sperança de hos nunqua mais verem, & pella mesma razão muitos delles se mattavam a sim mesmos.
Emquanto se estas execuções fazião, nam deixava elrei de cuidar no q convinha à saúde das almas desta gente, pelo que, movido de piedade, dissimulava cõ elles, sem lhes mandar dar embarcaçam, & de três portos de seu Regno que lhe pera isto tinha assinados, lhes vedou hos dous & mandou que todos se viessem embarcar a Lisboa, dandolhes hos estaos  pera se nelles agasalharem, onde se ajuntaram mais de vinte mil almas, & com estas delõguas se lhes passou ho tempo que lhe elRei limitou pera sua saída, pelo que ficavam todos captivos. Hos quaes, vendosse em estado tam misero, cometeram muitos delles por partido a elrei  que lhes tornassem  seus filhos & lhes prometessem que em vintannos se nam tirasse sobrelles  devassa & que se fariam Christãos, ho que lhes elRei conçedeo, cõ outros muitos privilegios que lhes deu; & ahos que nã quiseram ser Christãos mandou loguo dar embarcaçãm, quitando-lhes  ho captiveiro em que encoreram  & se passaram todos a terra de mouros.
Hora he que se poderá reputar a descuido nam dizermos que causa houve elrei mãdar tomar hos filhos dos Iudeos & nam hos dos mouros, pois assi hus quomo hos outros se sahiam do regno por não quererem receber ha aguoa do Baptismo & crer ho que crê ha Egreja Catholica Christam. Ha causa foi porque de tomarem hos filhos ahos Iudeus se nã podia recreçer ninhum damno ahos Christãos que andam espalhados pelo mundo, no qual hos Iudeos por seus pecados, nam tém regnos nem senhorios, cidades ne villas, mas antes e toda parte õde vive sam peregrinos  tributários, sem terem poder, nem authoridade pera executar suas vontades contra has injúrias & males que lhes fazem. Mas ahos mouros, per nossos peccados & castigo, permitte Deos terem occupada ha mór parte de Asia & Africa & boa de Europa  onde tem Imperios, Regnos & grandes senhorios, nos quaes vivem muitos christãos debaixo de seus tributos, allém de muitos que tem captivos, & a todos estes fôra mui perjudiçial  tomaremse hos filhos dos mouros, porque ahos que se este agravo fezera, he claro que se nam houveram desquecer de pedir vingança dos Christãos q habitavam nas terras dos outros mouros, depois que se lá acharão & sobretudo dos Portugueses de que particularmente nesta parte se podiam queixar. E esta foi ha causa porque  hos deixaram sair do Regno com seus filhos & ahos Iudeus nam, ahos quaes todos Deos, per sua misericordia, permitta conhçere ho caminho da verdade, pera se nella salvare.
Damião de Goes
- Cronica do Felicissimo Rei D. Manuel 
- Capítulo XX, Parte I (1566, excerto)

Acalentar Meninos

Embala, preta, embala
Menino do teu senhor;
Canta-lhe bem amoroso,
Anima-lo com amor.

Embala, preta, embala,
Como o fez San José,
Que os anjos cantarão:
Pater nostre domine.

San José, a trabalhar,
Embalava com seu pé:
«Calai-vos, Jesus Menino,
Nascido em Nazaré»,

Meu San José, acudi
Dai-me da vossa graça,
Com que enxugue ao meu menino
Suas lágrimas de prata.

Embala, preta, embala,
Como a Virgem faria,
Que os anjos cantarão:
«Gratia Plena Ave-Maria».

Cantigas cantou a Virgem
Quando embalou Jesus:
«Calai-vos, meu bento filho,
Que haveis de morrer na cruz.

Nossa Senhora, acudi,
Dai-me o vosso tesouro,
Com que cale o meu menino
Que chora lágrimas de ouro.
Teófilo Braga

BREVIÁRiO

Harmonia Mundi edita em CD, Alban Berg [1885-1935], [Ludwig van] Beethoven [1770-1827]: Violin Concertos pela violinista Isabelle Faust, com Orquestra Mozart, sob a direcção de Claudio Abbado.
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