PRONTUÁRiO
COMÉDIAS
Uma
breve reflexão pelo género mais popular do cinema nacional,
considerando a sua época áurea, permitirá concluir que O
Pai Tirano (1941),
de António Lopes Ribeiro, é a comédia mais perfeita realizada
entre nós. Único exemplo associável, O
Pátio das Cantigas –
também por ele produzido/supervisionado, e dirigido pelo irmão,
Francisco Ribeiro / Ribeirinho – tem já derivações ao carácter
central… Embora ambos congreguem o mais típico, o que melhor
resiste à passagem dos anos; com um fundamento, à partida, bem
despretensioso – sugerido na publicidade do primeiro: «fazer rir».
Para Lopes Ribeiro, era o sonho de levar por diante uma produção
contínua, aproveitando os naturais efeitos da guerra – em
indústria e expansão – sobre o cinema internacional: dar uma
oportunidade à nossa modesta expressão, servindo e apelando para os
gostos do público, através de obras cómicas ou dramáticas. O
Pai Tirano –
que custou oitocentos e cinquenta contos – correspondeu, aliás,
quer às expectativas, quer aos encómios da crítica, pelo
profissionalismo de autores, executantes e intérpretes: entre o
início da rodagem e a estreia decorreu o tempo récorde de setenta e
cinco dias, facto ainda evocado com nostalgia.
CALENDÁRiO
14MAR-11MAI2013
- Em Lisboa, Auditório Fotográfico Municipal expõe Imagem
Entre Imagens, sendo
comissários José Luís Neto e Sofia Castro.
1929-28MAR2013
- Manuel García Ferré: Artista gráfico, autor de cinema de
animação e de banda desenhada, nascido em Espanha e radicado na
Argentina, criador de Hijitus
e do pinguim Petete -
«As crianças são, na sua essência, boas, travessas, divertidas,
só que os adultos tentam orientá-las com os seus métodos. Julgamos
que são mais inteligentes, porque lhes damos mais informação, mas
isso não significa que estejam maduras» (2012).
1935-29MAR2013
- João José André Baptista, aliás José Baptista, aliás Jobat:
Ilustrador, artista gráfico e ceramista português, criador de banda
desenhada - autor de Ulisses
(1956) ou O Voto de Afonso
Domingues (1958).
05ABR-23JUN2013
- Em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe Clarice
Lispector [1920-1977] -
A Hora da Estrela; integra a
programação do Ano do Brasil em Portugal, sendo comissários Júlia
Peregrino e Ferreira Gullar. IMAG.158-301-375-399
11ABR-26MAI2013
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta
Private Lives 2013 -
exposição de fotografia de Binelde Hyrcan, Délio Jasse, Kiluanji
Kia Henda, Sérgio Afonso, Yonamine (Angola), Filipe Branquinho,
Mário Macilau, Mauro Pinto, Mónica de Miranda (Moçambique), René
Tavares (São Tomé e Príncipe) e João Serra (Portugal).
MEMÓRiA
08MAR1714-1788
- Carl Philipp Emanuel Bach: Compositor alemão de inspiração
clássica e erudita, filho de Johann Sebastian Bach - «Como um
músico criativo, permaneceu muito longe de seu pai» (Robert
Schumann). IMAG.306
100
aC-15MAR44 aC - Gaius Julius Caesar, aliás Júlio César: Patrício,
líder militar e político romano - «Há, nos confins da Ibéria, um
povo que não se governa nem deixa governar». IMAG.199-282-399-453
ANUÁRiO
1864
- Neste ano, entraram no Porto 1.013 embarcações, contendo 93,446
metros cúbicos de arqueação.
ANTIQUÁRiO
12MAR1514
- Chega a Roma a Grande Embaixada de El-Rei D. Manuel I de Portugal
ao Papa Leão X, liderada por Tristão da Cunha, em que se exibem
tecidos raros e jóias opulentas, e animais exóticos como leopardos,
um elefante branco que foi mascote do Sumo Pontífice, e um
rinoceronte pintado por Albrecht Dürer.
COMENTÁRiO
O
PAI TIRANO
Um
dos grandes trunfos de O Pai
Tirano (1941), de António
Lopes Ribeiro, é partir de argumento original – onde convivem a
sátira de costumes e a sugestão burlesca, com elementos de farsa. O
diálogo saboroso (de Lopes Ribeiro, Vasco Santana e Francisco
Ribeiro / Ribeirinho) contrasta com os gagues visuais; uma ágil
planificação sublinha a eficácia dos trocadilhos, e a
representação projecta a carga característica / tipificadora de
situações e personagens. Rivalidade e culto, a historieta vive
da reacção entre fitas / palco, das consequências entre furiosos
dramáticos e cinéfilos, tudo rematado com o convencional conflito
amoroso.
Uma
repartição própria dos grandes tipos teatrais (galã, ingénua,
cínico, mordomo), por Mega e seu grupo Os Grandelinhas, entra em
colisão com a vida profissional – quer nas emoções e reacções
psicológicas, quer nas falas que debitam ao atender os clientes,
quando se aproxima uma estreia; a este aspecto tácito e conservador
opõem-se Tatão e as caixeirinhas da Perfumaria da Moda – que
alimentam devaneios e frustrações, segundo as fantasias e mitos de
Hollywood… O Pai Tirano (ou
O Último dos Almeidas) –
eis, também, título de uma obra em ensaios – cuja reconstituição,
por Luís de Pina, a Cinemateca Portuguesa divulgou.
O
motivo central – a peça dentro do filme – interfere no próprio
evoluir da acção e seus reflexos caprichosos. Entre o que não se
vê e o que se imagina – todo um envolvimento rodeado de
artifícios, dissimulação e subterfúgios; entre o verosímil e o
que, oculto, se insinua. O mais fabuloso gague – que pertence à
galeria dos maiores efeitos cénicos, na história do cinema –
reside na hilariante, e contundente!, cena da badalada da uma hora…
O Pai Tirano é,
pois, um filme de novelo: tudo se vai desenvolvendo – desenrolando,
a partir de pontas soltas; mas possuindo, em projecção global, uma
extrema coerência e vitalidade interior.
Socialmente,
foca-se a solidariedade dum estrato desprotegido e solitário – tão
saliente na dramaturgia do cinema português, como na própria
pequena burguesia. Sobretudo, gente oriunda quando jovem da
província, entregue à subsistência na capital… Enfim, raro se
reuniu tão excepcional naipe de actores, entre protagonistas e
secundários. Da encantadora Leonor Maia à irresistível Teresa
Gomes, do prodigioso Vasco Santana ao desconcertante Barroso Lopes,
todos vão bem – o que é mais significativo quando se trata, na
maioria, de artistas de teatro; e, em grande parte, colocados perante
a contingência de comporem uma dupla caracterização, pela
caricatura como amadores.
BREVIÁRiO
ZON
Lusomundo edita em DVD, O Pai
Tirano (1941) de António
Lopes Ribeiro (1908-1995); com Vasco Santana e Francisco Ribeiro /
Ribeirinho.
IMAG.1-27-31-48-74-76-94-115-130-131-164-166-175-189-210-221-224-227-229-256-297-307-317-328-335-339-345-347-355-412-436-457
Sextante
Editora lança No Palco da
Memória de Cármen Dolores.
IMAG.158-162-287
Quetzal
edita A Sorte de Jim de
Kingsley Amis (1922-1995); tradução de Salvato Telles de Menezes.
IMAG.180
Relógio
D’Água edita Novelas
Eróticas de Manuel Teixeira
Gomes (1860-1941).IMAG.276-343
Harmonia
Mundi edita em CD, Ludwig van Beethoven
[1770-1827]: Motu Perpetuo
pelo pianista Javier
Perianes.
IMAG.134-163-202-204-210-228-229-236-237-239-255-268-285-298-303-323-360-375-384-409-430-431-432-436-442-445-452
VISTORiA
A
embaixada portuguesa chegou à vista da esplêndida Roma. Na Porta
del Populo formou-se o préstito.
Abriam
a marcha trezentas azémolas cobertas de ricos reposteiros de seda
lavrada e matizada, guiadas por trezentos azeméis que vestiam as
mais soberbas galas. Em seguida iam os criados dos cardeais romanos e
dos nossos embaixadores, os muitos portugueses, os parentes dos
embaixadores, vestindo todos a maior riqueza, ostentando telas e
brocados, chapéus bordados, cadeias de pedras preciosas engastadas
em oiro, os cavalos ricamente arreiados. Depois uma companhia de
besteiros a cavalo, os oficiais da casa do Papa, duas guardas de
honra, uma de archeiros suíços e outra de soldados gregos montando
em bons cavalos ricamente ajaezados, os músicos da embaixada
portuguesa, os trombeteiros e charameleiros dos guardas nobres do
pontífice. Depois o magnífico elefante de Ceilão, acobertado com
guarnições de ouro maciço; levava o cofre que encerrava o
pontifical oferecido por El-Rei D. Manuel ao Papa.
Obedecia
o elefante à voz do seu cornaca, um naire do malabar, que ia montado
nele e cujos excêntricos e riquíssimos trajos, da mesma forma que a
sua fisionomia e as suas maneiras causavam estranheza. Em seguida um
cavalo da Pérsia, montado por um caçador de Ormuz, e levando
deitada na garupa, uma pantera perfeitamente domesticada e ensinada.
Vinha
enfim o corpo da embaixada portuguesa, os três embaixadores Tristão
da Cunha, Diogo Pacheco e João de Faria.
Ao
aparecer na varanda o pontífice, o naire fez apresentar ao colosso
um grande vaso cheio de água cheirosa e o elefante mergulhou nele a
tromba e rociou por três vezes primeiro o pontífice, depois o povo.
Marquez
de Resende
-
Embaixada de El-Rei D. Manuel
ao Papa Leão X
O
Panorama - Jornal Literário e Instructivo
- Vol XI - Rio de Janeiro - JAN/DEZ1854 (excertos)
OBSERVATÓRiO
No
Palco da Memória
Carmen
Dolores, uma das mais prestigiadas actrizes portuguesas, está agora
No Palco da Memória.
As estreias, as interpretações no teatro, cinema e televisão, e as
amizades com actores e escritores conhecidos do grande público, são
alguns dos temas-chave deste livro, ilustrado com fotografias do
arquivo pessoal da autora.
«Nunca
pensei escrever um segundo livro de memórias, embora o primeiro
tivesse como título Retrato
Inacabado (1984). No entanto,
o tempo foi passando e comecei a anotar numa espécie de diário o
que me ia acontecendo, o que ia observando, o que me despertava mais
interesse… E assim surgiu este No
Palco da Memória, para que
fique um registo daquela que ainda sou, uma referência aos trabalhos
em que fui participando, e até um recordar do que se escreveu a meu
respeito.»
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