sexta-feira, fevereiro 16, 2018

IMAGINÁRiO #458

José de Matos-Cruz | 08 Março 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

COMÉDIAS
Uma breve reflexão pelo género mais popular do cinema nacional, considerando a sua época áurea, permitirá concluir que O Pai Tirano (1941), de António Lopes Ribeiro, é a comédia mais perfeita realizada entre nós. Único exemplo associável, O Pátio das Cantigas – também por ele produzido/supervisionado, e dirigido pelo irmão, Francisco Ribeiro / Ribeirinho – tem já derivações ao carácter central… Embora ambos congreguem o mais típico, o que melhor resiste à passagem dos anos; com um fundamento, à partida, bem despretensioso – sugerido na publicidade do primeiro: «fazer rir». Para Lopes Ribeiro, era o sonho de levar por diante uma produção contínua, aproveitando os naturais efeitos da guerra – em indústria e expansão – sobre o cinema internacional: dar uma oportunidade à nossa modesta expressão, servindo e apelando para os gostos do público, através de obras cómicas ou dramáticas. O Pai Tirano – que custou oitocentos e cinquenta contos – correspondeu, aliás, quer às expectativas, quer aos encómios da crítica, pelo profissionalismo de autores, executantes e intérpretes: entre o início da rodagem e a estreia decorreu o tempo récorde de setenta e cinco dias, facto ainda evocado com nostalgia.

CALENDÁRiO

14MAR-11MAI2013 - Em Lisboa, Auditório Fotográfico Municipal expõe Imagem Entre Imagens, sendo comissários José Luís Neto e Sofia Castro.

1929-28MAR2013 - Manuel García Ferré: Artista gráfico, autor de cinema de animação e de banda desenhada, nascido em Espanha e radicado na Argentina, criador de Hijitus e do pinguim Petete - «As crianças são, na sua essência, boas, travessas, divertidas, só que os adultos tentam orientá-las com os seus métodos. Julgamos que são mais inteligentes, porque lhes damos mais informação, mas isso não significa que estejam maduras» (2012).

1935-29MAR2013 - João José André Baptista, aliás José Baptista, aliás Jobat: Ilustrador, artista gráfico e ceramista português, criador de banda desenhada - autor de Ulisses (1956) ou O Voto de Afonso Domingues (1958).

05ABR-23JUN2013 - Em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe Clarice Lispector [1920-1977] - A Hora da Estrela; integra a programação do Ano do Brasil em Portugal, sendo comissários Júlia Peregrino e Ferreira Gullar. IMAG.158-301-375-399

11ABR-26MAI2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Private Lives 2013 - exposição de fotografia de Binelde Hyrcan, Délio Jasse, Kiluanji Kia Henda, Sérgio Afonso, Yonamine (Angola), Filipe Branquinho, Mário Macilau, Mauro Pinto, Mónica de Miranda (Moçambique), René Tavares (São Tomé e Príncipe) e João Serra (Portugal).

MEMÓRiA

08MAR1714-1788 - Carl Philipp Emanuel Bach: Compositor alemão de inspiração clássica e erudita, filho de Johann Sebastian Bach - «Como um músico criativo, permaneceu muito longe de seu pai» (Robert Schumann). IMAG.306

100 aC-15MAR44 aC - Gaius Julius Caesar, aliás Júlio César: Patrício, líder militar e político romano - «Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem deixa governar». IMAG.199-282-399-453

ANUÁRiO

1864 - Neste ano, entraram no Porto 1.013 embarcações, contendo 93,446 metros cúbicos de arqueação.

ANTIQUÁRiO

12MAR1514 - Chega a Roma a Grande Embaixada de El-Rei D. Manuel I de Portugal ao Papa Leão X, liderada por Tristão da Cunha, em que se exibem tecidos raros e jóias opulentas, e animais exóticos como leopardos, um elefante branco que foi mascote do Sumo Pontífice, e um rinoceronte pintado por Albrecht Dürer.

COMENTÁRiO

O PAI TIRANO

Um dos grandes trunfos de O Pai Tirano (1941), de António Lopes Ribeiro, é partir de argumento original – onde convivem a sátira de costumes e a sugestão burlesca, com elementos de farsa. O diálogo saboroso (de Lopes Ribeiro, Vasco Santana e Francisco Ribeiro / Ribeirinho) contrasta com os gagues visuais; uma ágil planificação sublinha a eficácia dos trocadilhos, e a representação projecta a carga característica / tipificadora de situações e personagens. Rivalidade e culto, a historieta vive da reacção entre fitas / palco, das consequências entre furiosos dramáticos e cinéfilos, tudo rematado com o convencional conflito amoroso.
Uma repartição própria dos grandes tipos teatrais (galã, ingénua, cínico, mordomo), por Mega e seu grupo Os Grandelinhas, entra em colisão com a vida profissional – quer nas emoções e reacções psicológicas, quer nas falas que debitam ao atender os clientes, quando se aproxima uma estreia; a este aspecto tácito e conservador opõem-se Tatão e as caixeirinhas da Perfumaria da Moda – que alimentam devaneios e frustrações, segundo as fantasias e mitos de Hollywood… O Pai Tirano (ou O Último dos Almeidas) – eis, também, título de uma obra em ensaios – cuja reconstituição, por Luís de Pina, a Cinemateca Portuguesa divulgou.
O motivo central – a peça dentro do filme – interfere no próprio evoluir da acção e seus reflexos caprichosos. Entre o que não se vê e o que se imagina – todo um envolvimento rodeado de artifícios, dissimulação e subterfúgios; entre o verosímil e o que, oculto, se insinua. O mais fabuloso gague – que pertence à galeria dos maiores efeitos cénicos, na história do cinema – reside na hilariante, e contundente!, cena da badalada da uma hora… O Pai Tirano é, pois, um filme de novelo: tudo se vai desenvolvendo – desenrolando, a partir de pontas soltas; mas possuindo, em projecção global, uma extrema coerência e vitalidade interior.
Socialmente, foca-se a solidariedade dum estrato desprotegido e solitário – tão saliente na dramaturgia do cinema português, como na própria pequena burguesia. Sobretudo, gente oriunda quando jovem da província, entregue à subsistência na capital… Enfim, raro se reuniu tão excepcional naipe de actores, entre protagonistas e secundários. Da encantadora Leonor Maia à irresistível Teresa Gomes, do prodigioso Vasco Santana ao desconcertante Barroso Lopes, todos vão bem – o que é mais significativo quando se trata, na maioria, de artistas de teatro; e, em grande parte, colocados perante a contingência de comporem uma dupla caracterização, pela caricatura como amadores.

BREVIÁRiO

ZON Lusomundo edita em DVD, O Pai Tirano (1941) de António Lopes Ribeiro (1908-1995); com Vasco Santana e Francisco Ribeiro / Ribeirinho.
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Sextante Editora lança No Palco da Memória de Cármen Dolores. IMAG.158-162-287

Quetzal edita A Sorte de Jim de Kingsley Amis (1922-1995); tradução de Salvato Telles de Menezes. IMAG.180

Relógio D’Água edita Novelas Eróticas de Manuel Teixeira Gomes (1860-1941).IMAG.276-343

Harmonia Mundi edita em CD, Ludwig van Beethoven [1770-1827]: Motu Perpetuo pelo pianista Javier Perianes.
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VISTORiA

A embaixada portuguesa chegou à vista da esplêndida Roma. Na Porta del Populo formou-se o préstito.
Abriam a marcha trezentas azémolas cobertas de ricos reposteiros de seda lavrada e matizada, guiadas por trezentos azeméis que vestiam as mais soberbas galas. Em seguida iam os criados dos cardeais romanos e dos nossos embaixadores, os muitos portugueses, os parentes dos embaixadores, vestindo todos a maior riqueza, ostentando telas e brocados, chapéus bordados, cadeias de pedras preciosas engastadas em oiro, os cavalos ricamente arreiados. Depois uma companhia de besteiros a cavalo, os oficiais da casa do Papa, duas guardas de honra, uma de archeiros suíços e outra de soldados gregos montando em bons cavalos ricamente ajaezados, os músicos da embaixada portuguesa, os trombeteiros e charameleiros dos guardas nobres do pontífice. Depois o magnífico elefante de Ceilão, acobertado com guarnições de ouro maciço; levava o cofre que encerrava o pontifical oferecido por El-Rei D. Manuel ao Papa.
Obedecia o elefante à voz do seu cornaca, um naire do malabar, que ia montado nele e cujos excêntricos e riquíssimos trajos, da mesma forma que a sua fisionomia e as suas maneiras causavam estranheza. Em seguida um cavalo da Pérsia, montado por um caçador de Ormuz, e levando deitada na garupa, uma pantera perfeitamente domesticada e ensinada.
Vinha enfim o corpo da embaixada portuguesa, os três embaixadores Tristão da Cunha, Diogo Pacheco e João de Faria.
Ao aparecer na varanda o pontífice, o naire fez apresentar ao colosso um grande vaso cheio de água cheirosa e o elefante mergulhou nele a tromba e rociou por três vezes primeiro o pontífice, depois o povo.
Marquez de Resende
- Embaixada de El-Rei D. Manuel ao Papa Leão X
O Panorama - Jornal Literário e Instructivo - Vol XI - Rio de Janeiro - JAN/DEZ1854 (excertos) 
 
OBSERVATÓRiO

No Palco da Memória

Carmen Dolores, uma das mais prestigiadas actrizes portuguesas, está agora No Palco da Memória. As estreias, as interpretações no teatro, cinema e televisão, e as amizades com actores e escritores conhecidos do grande público, são alguns dos temas-chave deste livro, ilustrado com fotografias do arquivo pessoal da autora.
«Nunca pensei escrever um segundo livro de memórias, embora o primeiro tivesse como título Retrato Inacabado (1984). No entanto, o tempo foi passando e comecei a anotar numa espécie de diário o que me ia acontecendo, o que ia observando, o que me despertava mais interesse… E assim surgiu este No Palco da Memória, para que fique um registo daquela que ainda sou, uma referência aos trabalhos em que fui participando, e até um recordar do que se escreveu a meu respeito.»
 

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