PRONTUÁRiO
PRODÍGIOS
«Corto
Maltese
não nasceu de um dia para o outro, é fruto de uma laboração de
muitos anos. Ele encerra em si um pouco de todos os homens que
encontrei pelo mundo, onde se apercebe, mais ou menos viva, a busca
de liberdade.» Assim nos revelava Hugo Pratt (1927-1995), em
entrevista de 1974, sobre o seu herói primordial - cujas origens
remontam a 1967, durante A
Balada do Mar Salgado.
Obra-prima da banda desenhada europeia - referenciada pela literatura
romântica de R.L. Stevenson, J. London ou M. Conrad, na qual se
expande e aprofunda um volúvel fulgor épico - a divulgação de
Corto
Maltese continua,
sob chancela Asa, com As
Helvéticas (1987),
cuja acção decorre na Suiça por 1924. Corto acompanha um velho
amigo, o professor Jeremiah Steiner, que se dirigiria ao Congresso de
Alquimistas em Sion… O mágico e o onírico fundem-se na realidade
imaginada, e os heróis transferem-se para o universo fantástico em
contexto e abordagem. Diálogos subliminares, discursos
subentendidos, pontuam uma descrição sobre as histórias e as
lendas, as memórias e os mitos, conjugando a abordagem cultural com
a narrativa esotérica. Além desta ampla dimensão, adversa mas
idealista, sobressai o domínio estético e alusivo - na exploração
de um envolvimento subtil, estilizado pelos prodígios e desafios da
natureza. Assim evolui, também, a dimensão intemporal, mística e
trágica do ser humano.
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CALENDÁRiO
1917-28FEV2013
- Armando Trovaioli: Maestro e pianista italiano, compositor
cinematográfico - para filmes de realizadores como Vittorio De Sica
e Ettore Scola.
1938-02MAR2013
- Eduardo Nery: Artista plástico e fotógrafo português, ligado à
op art
- «Uma utilização de formas geométricas conhecidas, no caso dele
geralmente quadriláteros, e que, pela intervenção de cores muito
contrastantes, provocam um movimento virtual» (Rui Mário
Gonçalves). IMAG.405-435
05-23MAR2013
- Em Lisboa, Casa-Museu - Fundação Medeiros e Almeida apresenta
Danças Com a Lua,
exposição de pintura, escultura e instalação de Dário Vidal.
IMAG.388-431-451
1922-08MAR2013
- Damiano Damiani: Cineasta italiano, realizador de Dupla
Suspeita / L’Avvertimento
(1980) e da série televisiva
O Polvo /La Piovra (1984).
BREVIÁRiO
Ahab
edita Os Cães de Tessalónica
de Kjell Askildsen; tradução
de Mário Semião.
VISTORiA
Five
O’clock Tear
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p’ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
Emanuel
Félix
-
A Palavra O Açoite
(1977)
PARLATÓRiO

Mas
a pobreza espiritual é tanta que até se sente a falta de quem se
dedique a escrever argumentos, seja para o filme amador, seja para o
profissional.
Têm-se
organizado diversas agremiações e blocos de amadores de cinema, mas
a sua actividade morre imediatamente porque as folhas do bloco
acabam-se depressa. Os organizadores não têm competência para
orientar associações de tal natureza.
No
princípio, tudo corre às mil maravilhas e tudo se faz com boa
vontade. Realizam-se as primeiras filmagens; com o argumento e a
planificação em meio, há vontade de trabalhar, de fazer qualquer
coisa de útil; mas, de repente, vem a discórdia e tudo se acaba.
Não se passou de um ligeiro sonho, de um fogo de vista rudimentar.
E
tudo isto porque há falta de organização, método, capacidade, e
pelo tema de sempre: todos mandam e todos desobedecem.
Ribeirinho
(1938)
MEMÓRiA
1911-07FEV1984
- Francisco Ribeiro / Ribeirinho: Actor, cineasta e encenador
português - Além de uma prestigiada carreira em palco, e com
significativa intervenção na área do cinema de amadores, teve uma
escassa obra como realizador de filmes em funções profissionais.
Assinou, porém, e interpretou uma das mais populares comédias
nacionais (O Pátio das
Cantigas - 1941), e assumiu
outras tarefas autorais em várias das longas metragens que, como
actor, testemunham um talento propício à (re)criação de figuras
características, várias delas estilizadas à sua imagem e
privilegiadas pelo sucesso carismático que irradiava.
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1910-07FEV1994
- Jorge Brum do Canto: Actor e cineasta português - «O mundo é tão
grande, e a vida tão pequenina. Desperdiçamos uma data de anos,
atingimos a maturidade, e a decadência! Só este reconhecimento me
amargura, hoje...».
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1799-09FEV1874
- Sophie Feodorovna Rostopchine, Condessa de Ségur: Escritora russa
de literatura infantil, autora da trilogia que inclui Os
Desastres de Sofia, As
Meninas Exemplares e Férias
- «Deus protege os fracos,
de modo a dar-lhes tempo para se arrependerem».
12FEV1704-1772
- Charles Pinot Duclos: Escritor e historiador francês - «A
arrogância do coração é um atributo dos homens de bem; a
arrogância de modos é um atributo dos imbecis». IMAG.364
1896-12FEV1954
- Denis Abramovich Kaufman, aliás Dziga Vertov: Cineasta russo - «Eu
sou um cine-olho. Eu sou um construtor. Eu coloquei-te num espaço
extraordinário que não existia até este momento. Nesse espaço há
doze paredes que eu registei em diversas partes do mundo. Justapondo
a visão dessas paredes e alguns detalhes, consegui dispô-las numa
ordem que te agrada e edifiquei, da forma adequada, sobre os
intervalos, uma cine-frase que é, justamente, esse espaço» (A
Revolução dos Kinoks -
1923, excerto). IMAG.250-269-270-435
26AGO1914-12FEV1984
- Julio Cortázar: Escritor argentino - «Creio que, desde muito
pequeno, o meu destino e a minha sina eram não aceitar as coisas
como adquiridas… A mim, não me bastava que me dissessem que isto
era uma mesa, ou que a palavra mãe
era a palavra
mãe, e fim de conversa».
IMAG.205-298-330
13FEV1754-1838
- Charles Talleyrand-Périgord: Político e diplomata francês - «Sim
e não são as palavras mais fáceis de serem pronunciadas e, também,
as que exigem uma maior reflexão».
1936-14FEV2004
- Emanuel Félix: Poeta e crítico literário, natural dos Açores -
«…É, na verdade, o poeta da perfeição. Cada poema contem uma
ideia singular que se estruturaliza e levanta como obra independente
e rara, deixando apenas a mão desenluvada que se une ao poema
seguinte e que transforma as parcelas num todo indestrutível. Cada
poema possui a sábia contenção das palavras, o mesmo rigor
matemático das ciências concretas» (Álamo de Oliveira).
15FEV1564-1642
- Galileu Galilei: Filósofo, físico, matemático e astrónomo
italiano - «A filosofia está
escrita nesse grandioso livro que se mantém continuamente aberto
perante os nossos olhos (quero dizer, o Universo), mas não se pode
entendê-lo se primeiramente não se cuida de entender a língua e
conhecer os caracteres em que está escrito. Está escrito em
linguagem matemática, e os caracteres são triângulos, círculos e
outras figuras geométricas, sem as quais é impossível entender
humanamente alguma palavra; sem estes meios, é dar volta em vão num
obscuro labirinto» (O
Ensaiador, IV).
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TRAJECTÓRiA
Julio
Cortázar - Mais Europeu dos Escritores de Nacionalidade Argentina
Nasce
na Embaixada da Argentina em Bruxelas e aos quatro anos vai para o
seu país. Criado por três mulheres, a mãe, tia e a avó, garante
que a sua infância não foi muito feliz e considera que foi dominada
por um nevoeiro de duendes e elfos que lhe deram uma noção de tempo
e espaço diferente da dos amigos. A razão estava também na sua
pouca saúde e, enquanto acamado, pelas leituras que fazia a conselho
da mãe.
Nasce
a 26 de Agosto de 1914 e morre a 12 de Fevereiro de 1984, em Paris.
Se não se pode retirar-lhe a nacionalidade argentina, também não
se pode dizer que não seja o mais europeu dos escritores do seu
país. A atestar essa identificação está a homenagem feita estátua
numa das principais avenidas de Bruxelas, onde se informa: «Aqui
nasceu Julio Cortázar».
Licenciado
em Letras em 1935, frequentou aulas de boxe e publica o seu primeiro
livro de poesia em 1938. 250 foi o número de exemplares de
Presencia,
sob o pseudónimo de Julio Denis. Deu aulas em várias cidades e foi
professor de Literatura na Universidade de Cuyo. Quando Perón foi
eleito presidente, renuncia ao cargo, procura outro emprego e começa
a fazer traduções.
Aos
37 anos, em protesto contra a ditadura, viaja para Paris, onde decide
por ficar para sempre. Casa com Aurora Bernárdez, uma tradutora
argentina, e a tradução da obra completa de Edgar Allan Poe
alimenta-os durante bastante tempo. Em 1963, conhece Cuba e nasce-lhe
o fascínio pela política. Em 1963, lança Rayuela
e a partir desse momento a sua vida fica para a história.
Em
1983, volta pela última vez à Argentina, já em democracia.
11JUL2010
- Diário de Notícias
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