quarta-feira, janeiro 31, 2018

IMAGINÁRiO #451

José de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

REINCIDÊNCIAS
As Aventuras de Blake e Mortimer principiaram em 1946, com O Segredo do Espadão, logo patenteando a arte monumental de Edgar Pierre Jacobs (1904-1987). Em causa, a dualidade do Bem - simbolizada na instituição militar (o bravo Capitão Francis Blake, responsável pelo MI5, serviço de contra-espionagem britânico) e no poder da ciência (o Professor Philip Mortimer, um especialista em Física e Aeronáutica, com gosto pelos fenómenos bizarros); contra a perversão do Mal - concentrada num arqui-inimigo (o sinistro e volúvel Coronel Olrik), ou outros eventuais adversários (Satô, Labrousse, Ahmed Rassim Bey). Um presente de ameaças, cumplicidades e perigos - virtualizado entre o passado e o fantástico, o futuro e a arqueologia - de Londres ao Cairo, de Paris a Tóquio, da Pré-História à Atlântida… Bob de Moor, Jean Van Hamme e Ted Benoît asseguraram uma continuidade, como Yves Sente & André Juillard - que em O Juramento dos Cinco Lords, sugestivamente imaginado entre A Marca Amarela e O Caso do Colar, sempre sob chancela das Edições Asa, aliam ainda reflexos de uma adolescência idealista, sagrada sobre a aura mítica e política de Lawrence da Arábia. Hábeis a lidar com os mistérios e desafios que se repercutem entre o céu e a terra, o Capitão Blake e o Professor Mortimer voltam aos cenários e às tradições de Inglaterra, e acabam, afinal, por protagonizar a sua intermitente coexistência, no universo contemporâneo da banda desenhada.
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CALENDÁRiO

18JAN-07ABR2013 - Em Lisboa, Centro de Arte Moderna/CAM da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta, em organização com Fundação Cupertino de Miranda, A Imagem Que de Ti Compus - Homenagem a Júlio - exposição de desenho e pintura de Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983). IMAG.74

14FEV-06MAR2013 - Galeria de Arte do Casino Estoril expõe Cerâmicas 2013. E Não Só! de Dário Vidal. IMAG.388-431

REPORTÓRiO

As Pinturas do meu Irmão Júlio

Filme produzido e realizado por Manoel de Oliveira, em 1965. A nostalgia de um poeta - José Régio - ausente da terra natal, Vila do Conde, anima as imagens duma memória: as pinturas de seu irmão - Júlio Maria dos Reis Pereira, também poeta Saul Dias - albergadas na velha casa onde nasceram. Assim desfilam em longa panorâmica, como na imaginação - sendo José Régio autor dos poemas e participante.

Cerâmicas 2013

Dário Vidal apresenta oito dezenas de obras, das quais alguns painéis de grandes dimensões, várias composições em que acasala azulejos portugueses do Século XII com azulejos actuais, pequenas esculturas e instalações de feição minimalista, produtos de uma exuberante imaginação criadora, muito trabalho e uma permanente investigação.
N. Lima de Carvalho

VISTORiA

Ecce Homo

Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.

Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.

Pois Deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,

Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.
José Carlos Ary dos Santos

TRAJECTÓRiA

Edvard Munch - Um Símbolo da Cultura Norueguesa

Como o dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1926) ou o compositor Edvard Grieg (1843-1907), o pintor Edvard Munch (1863-1944) é um dos grandes símbolos culturais da Noruega. Simbolista e um dos precursores do expressionismo (de que O Grito é uma das obras de referência), Munch viveu mais do que os outros grandes ícones o despertar do seu país como nação independente (o que aconteceu em 1905, num referendo que colocou um ponto final ao domínio sueco).
02MAI2012 - Diário de Notícias

COMENTÁRiO

O Grito - Apenas Arte

Nunca nenhum quadro foi dissecado, tão comentado. Nos últimos cem anos, multiplicaram-se as teorias sobre a origem deste Grito tão singular. Houve quem mencionasse a hipótese de um súbito ataque de pânico transportado pelo artista para a sua tela. Falou-se em ansiedade, em neurose. E como as teorias não pagam imposto, houve inclusivamente quem arriscasse que tudo se terá devido às frequentes libações alcoólicas de Edvard Munch. O segredo, afinal, é bem mais simples: apenas arte. Da melhor de sempre.
11JUL2009 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1737-16JAN1794 - Edward Gibbon: Historiador inglês - «Todo o homem recebe duas espécies de educação: a que lhe é ministrada pelos outros, e, muito mais importante, a que ele proporciona a si mesmo».

1937-18JAN1984 - José Carlos Ary dos Santos: Poeta e declamador português - «Poeta é certo mas de cetineta / fulgurante de mais para alguns olhos / bom artesão na arte da proveta / narciso de lombardas e repolhos.» (Auto-Retrato - excerto). IMAG.157-276

20JAN1924-2010 - Yvonne Loriod: Pianista francesa, compositora e professora, mulher e intérprete de Olivier Messiaen - «Para mim, ele foi uma autêntica explosão, entrando em choque com todos os meus preconceitos». IMAG.304

1668-23JAN1744 - Giovanni Battista Vico, aliás Gianbattista Vico: Filósofo italiano - «No início, a natureza dos povos é cruel, depois torna-se severa, em seguida, benevolente, mais tarde, delicada e, finalmente, corrupta».

1863-23JAN1944 - Edvard Munch: Artista plástico norueguês, autor de O Grito (1893) - «O espectador deve consciencializar-se do que a pintura tem de sagrado e, portanto, ter diante dela a cabeça descoberta, como quando está numa igreja». IMAG.446

ANTIQUÁRiO

02MAI2012 - Em Nova Iorque, uma das quatro versões do quadro O Grito, pintada por Edvard Munch em 1895, é adquirida num leilão da Sotheby’s por 119,92 milhões de dólares, tornando-se a obra artística mais cara adquirida por este meio, e cujo valor prévio era estimado em 80 milhões.

ANUÁRiO

1914-2008 - Edward D. Cartier, aliás Edd Cartier: Artista plástico, assistente de Norman Rockwell, desenhador de capas para imaginários de Robert A. Heinlein e Isaac Asimov, ou das aventuras de The Shadow / O Sombra por Walter B. Gibson - «Quando comecei a ilustrar obras de ficção científica, tudo me parecia demasiado estranho. Aconselharam-me a seguir o estilo dos autores primordiais, e só depois logrei a minha própria técnica». IMAG.231-243

BREVIÁRiO

Quarto de Jade edita O Amor Perfeito - Poema Para Descobrir e Construir de Maria João Worm. IMAG.289-301-325-359-386-409-416-430-444

Cavalo de Ferro edita Arde o Musgo Cinzento de Thor Vilhjálmsson (1925-2011); tradução de Carlos Aboim de Brito.

Gradiva edita O Número de Ouro de Mario Livio; tradução de João Nuno Torres.

INVENTÁRiO

O Amor Perfeito

A nova edição do Quarto de Jade resulta de uma vontade de dar a descobrir, a adultos e crianças, a construção da passagem de um livro a um objecto tridimensional. Um Amor Perfeito plantado a quatro mãos, ou as que se juntando queiram acompanhar este processo de transformação.
Quatro cubos, para montar e colar, numa base que, através de um movimento rítmico, permitirão a leitura de três imagens diferentes que ilustram um pequeno poema. Como partilha desta metamorfose, no verso da capa, poderá ficar o registo assinado, pelos autores, que assim podem guardar uma memória cúmplice e partilhada. No que esperamos ser uma possível iniciação à descoberta da poesia.
Esta edição foi impressa em cartolina de 190 gramas, com plastificação mate e contem as devidas instruções para uma montagem simples e adequada. Também está disponível uma versão em inglês.

VISTORiA

Observamos que todas as nações, tanto as bárbaras como as humanas, embora tão distantes entre si no espaço e no tempo, conservam estes três costumes humanos: todas têm alguma religião, todas contraem casamentos solenes, e todas enterram os seus mortos.
Gianbattista Vico
- A Nova Ciência

terça-feira, janeiro 30, 2018

IMAGINÁRiO #450

José de Matos-Cruz | 08 Janeiro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PESSOA(S)
«Fernando Pessoa pensou cada um de nós antes de termos nascido. Essa é, de facto, a razão pela qual aqui estamos a escrever poemas, a congeminar programas filosóficos ou a fazer banda desenhada» - assim prenuncia Jesús Aguado uma rara experiência de inquietude e deslumbramento. Primeiro estranha-se, depois entranha-se… Tal como o poeta e seus heterónimos, que nos (a)colhem em Pessoa & Cia - novela gráfica de Laura Pérez Vernetti, com edição sob chancela Asa. Para abordar e vivenciar «a grande criatividade e imaginação da obra deste escritor», segundo a inspirada autora, a estrutura é, em si mesma, aliciante e virtual: a partir de Biografias, com um Retrato (a preto e branco) do escritor e seus heterónimos, seguem-se (a cores) Pessoa… - com versões livres de O Livro do Desassossego (O Escritório Amplo, A Minha Família, A Estupidez) de Bernardo Soares; …& Cia - com ilustrações adaptadas sobre Odes de Ricardo Reis (Lídia), e Poemas Inconjuntos (Trânsitos), O Pastor Amoroso (Amar É Pensar) de Alberto Caeiro, além do poema Nuvens de Álvaro de Campos. Um complexo desafio, temático e introspectivo, consumando - pelas visões estéticas e estilísticas - um fascínio pessoal e literário.
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CALENDÁRiO

25JAN-27OUT2013 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Cartazes da Propaganda Chinesa. A Arte ao Serviço da Política, sendo comissários Jacques Pimpaneau e Sylvie Pimpaneau.

1932-04FEV2013 - Donaldson Toussaint L'Ouverture Byrd II, aliás Donald Byrd: Músico americano, trompetista de jazz - «A sua influência fez-se sentir ao longo de muitos anos, tendo sido recriado, via sampler, nas décadas de 1990 e 2000, por projectos de hip-hop…» (Público).

1942-10FEV2013 - Eugenio Trias: Escritor e filósofo espanhol, distinguido com o Prémio Internacional Friedrich Nitzsche (1995), autor de El Canto de las Sirenas (2007) - «O pensador em espanhol mais importante desde Ortega y Gasset» (El Mundo).

15FEV-31MAR2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Memória, Memórias - retrospectiva de pintura de António Carmo.

27MAR-27MAI2013 - Na FNAC Chiado, Artistas Unidos apresenta Ao Longo dos Anos - exposição de fotografia de Jorge Gonçalves.

ANUÁRiO

1864 - Neste ano, a safra no distrito de Coimbra em produção de azeite é de 3.128 pipas ou 81.328 almudes, os quais se venderam a 3$000 réis, perfazendo 243:984$000 réis.

1864 - Neste ano, o vinho despachado na Alfândega do Porto, para exportação, monta a 35.619 pipas, 14 almudes e 5 canadas.

1864 - Neste ano, o Monte-Pio das Alfandegas do Reino tem de receita 7.065$270 réis, entre jóias, contribuições, rendimentos, prémios e juros. 

SUMÁRiO

António Carmo

Natural de Lisboa (Madragoa, 1949), estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde completou o curso de pintura. Com obra vasta, exibida em muitos países, tem créditos firmados no panorama cultural português e está representado em colecções nacionais e estrangeiras da maior relevância.
Desde 1968 que expõe a sua arte, caracterizada pela exuberância cromática com que presta homenagem a vultos maiores da Cultura, especialmente da Música (antigo elemento do Grupo de Bailados Verde Gaio) e da Pintura, mas evocando igualmente a alegria de viver e o universo intrínseco a uma visão poética da existência humana, objecto de vibrante celebração em cor, forma e expressividade visual.


MEMÓRiA

13JAN1924-2011 - Roland Petit: Bailarino e coreógrafo francês, fundador do Ballet des Champs Elysées - «De cada vez que ele volta, é o regresso do filho pródigo» (Brigitte Lefèvre - Ópera de Paris). IMAG.286-364

1896-14JAN1984 - Maurice Bellonte: «Herói legendário da aviação mundial» (Diário de Notícias - 1965), efectuou a primeira ligação aérea entre França e os EUA, em SET1930, com Dieudonné Costes, num aparelho Breguet XIX.

1862-15JAN1924 - Peter Newll: Autor de O Livro Inclinado (1910) - pertencente a um núcleo de obras que «criou na fronteira imprecisa entre a ilustração e a banda desenhada, onde as preocupações formais com o próprio objecto-livro são um elemento recorrente» (Sara Figueiredo Costa). IMAG.233-361

BREVÁRiO

Sextante edita As Minhas Lembranças Observam-me, seguido de Primeiros Poemas de Tomas Tranströmer; tradução de Ana Diniz, posfácio de Pedro Mexia. IMAG.379-445

Trem Azul edita em CD, Classic [Tony] Bennett - The Jazz Sides.

Bertrand edita Cama de Gato de Kurt Vonnegut (1922-2007); tradução de Rosa Amorim. IMAG.146

Deutsche Grammophon edita em CD, Twilight of the Gods de Richard Wagner (1813-1883), por Bryan Terfel e Deborah Voight, com Metropolitan Opera Orchestra and Chorus, sob a direcção de James Levine. IMAG.14-68-78-86-104-111-147-212-215-285-330-390-393-406

INVENTÁRiO

Cartazes da Propaganda Chinesa - A Arte ao Serviço da Política

O Museu do Oriente apresenta uma mostra de cerca de 100 cartazes de propaganda chinesa, produzidos entre 1959 e 1981 e que constituem um documento histórico do período que vai do Grande Salto em Frente e da criação das Comunas Populares ao fim da Revolução Cultural.
Nos 100 cartazes em exposição, seleccionados de um total de 200 que integram a Colecção Kwok On da Fundação Oriente, estão bem ilustrados os temas mais correntemente abordados à época, como a glorificação do presidente Mao e dos heróis comunistas, a prosperidade da economia, a luta contra o imperialismo, a felicidade do povo e o poder do exército.
Com tiragens que chegavam a atingir as dezenas de milhares de exemplares, estes cartazes, cujo objectivo era o de mostrar ao povo o caminho a seguir, viam-se em todo o lado e faziam parte do quotidiano dos chineses. Na sua maioria, anteviam o futuro radioso da China comunista com o super-herói Mao a conduzir o país à felicidade e à glória. São também um espelho do design da época, apresentando alguns deles um interesse estético que a função de propaganda política não pode, naturalmente, ofuscar.
A exposição, comissariada por Jacques Pimpaneau e Sylvie Pimpaneau, está organizada em nove núcleos, o primeiro dos quais integrando cartazes alusivos ao novo ano chinês e a heróis de contos e óperas clássicas populares que fazem parte do património local. Os grandes heróis da revolução comunista chinesa, sobretudo Mao Zedong e Zhou Enlai, mas também heróis estrangeiros como Lenine e o médico canadiano Norman Béthune que, na Guerra Civil de Espanha, tratou os feridos do lado republicano e que, na Guerra Sino-Japonesa combateu ao lado do Exército de Mao, estão representados nos cartazes seleccionados para o segundo núcleo. No núcleo seguinte, figuram alguns cartazes de propaganda das políticas do Partido Comunista da China, ocupando o quarto núcleo uma série de cartazes alusivos às classes sociais consideradas fundamentais para a criação da nova China: operários, camponeses e soldados.
As minorias étnicas do interior da China, num apelo à fraternidade entre os povos, também não foram esquecidas pela propaganda e ocupam aqui o quinto núcleo, sendo o sector seguinte ocupado por cartazes em que figuram todos aqueles que se transformaram em heróis e que são modelos a seguir pelas populações.
Os cartazes do sétimo núcleo tinham como finalidade explicar e promover as lutas revolucionárias levadas a cabo no exterior da China. Segue-se um conjunto de cartazes cujos autores se deixaram influenciar pelas pinturas feitas por camponeses e pelas xilogravuras tradicionais.
Brinquedos e jogos que também tiveram o seu papel na propaganda política ocupam o último núcleo da exposição.

VISTORiA

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.
Fernando Pessoa
 

segunda-feira, janeiro 29, 2018

IMAGINÁRiO #449

José de Matos-Cruz | 01 Janeiro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ARTIFÍCIOS
Que as artes podem coincidir, prova-o seguramente uma história em quadradinhos, anónima e de origem italiana, lançada por meados dos anos ’70 do Século XX, na qual intervêm Alfred Hitchcock, Marilyn Monroe e Clark Gable - a partir de uma evocação da malograda vedeta de Hollywood, tragicamente desaparecida em 1962. Marilyn aparece-nos, resolvendo uma tentativa de crime na pessoa de Gable, seu companheiro em filme de «Mister Hitchock». Tudo se passa nos bastidores, em acção algo nostálgica mas apaixonante, ao estilo dos romancistas policiais, na América (impossível não recordar Raymond Chandler). Então, Marilyn (1926-1962) e Gable (1901-1960) já não pertenciam a este mundo - ao contrário de Hitchcock (1899-1980). Talvez por isso, a sua intervenção é ambígua e sob nome falso e falacioso - aliás, características que agradavam particularmente ao mestre do suspense. Ao convergirem, a realidade e a fantasia perpetuam, sobretudo, estes heróis sedutores duma aventura apócrifa, envolvendo a morte como uma ameaça fantasmagórica. Trata-se de uma banda desenhada com bom recorte estético e perfeita recriação no ambiente do cinema: técnicos atentos, vedetas caprichosas, os projectores, as câmaras, a tensão de rodagem e um realizador em apuros...

CALENDÁRiO

12JAN-09MAR2013 - Em Lisboa, Galeria 111 expõe Atirar a Albarda ao Ar de Júlio Pomar. IMAG.19-312

1932-15JAN2013 - Nagisa Oshima: Argumentista e realizador nipónico - «O meu ódio ao cinema japonês inclui-o absolutamente todo». IMAG.223

1935-21JAN2013 - Michael Winner: Cineasta inglês, produtor e realizador de O Justiceiro da Noite / Death Wish (1974) - «Foi o primeiro filme na história do cinema em que um herói mata outros concidadãos». IMAG.86

01FEV-31MAR2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Exit. - exposição de pintura de Francisco Solana.

VISTORiA

Canção de El-Rei D. Dinis

Maria: anda o gadinho a trabalhar
Em plena florescência,
É um zumbido de ouro
No pasto em flor da abelha,
E temos o Inverno até lá Março.

Um lindo Sol doente,
Como um poeta lírico,
Abre ao Inverno a Primavera:
E, ao néctar da abelha
Que é cor na corola
E música sutil do pólen,
Apetece cantar com Dom Dinis:
«Ai, flores, ai, flores do verde ramo».

El-rei Dinis esteve no Castelo
Onde eu existo a uma distância pouca,
Troveiro como um choupo à beira-rio
Ó Maria,
Apetece cantar com Dom Dinis:
«Ai, flores, ai, flores do verde pinho»,

Com ritmo que leva olhos e tudo,
Filhas de lavradores
Começam a cavar o chão pousio:
Margaridas e crucíferas,
Lírios brancos e roxos,
Maria, há muitas flores para as abelhas.

A terra é graciosa,
Cá mesmo na prisão, descalço e nu,
Na derrota dos anos.
Cantar velho, Maria,
Com tanta flor de hastes erectas
Toucando o verde prado?
Afonso Duarte

INVENTÁRiO

FLASH GORDON

Uma misteriosa ameaça, vinda do espaço, põe em risco a Terra, com uma série de perversas calamidades. Apenas o professor Hans Zarkov, um cientista irradiado, se apercebe dum perigo dirigido de algures, que deverá culminar com um choque da Lua no nosso planeta. Decidido a salvar a Humanidade, Zarkov embarca num foguetão com o famoso atleta Flash Gordon e a bela hospedeira Dale Arden, após uma aterragem forçada destes junto ao seu laboratório, devido a um choque de meteoritos. Através dum vórtice cósmico, os três precários companheiros chegam a Mongo, um mundo dominado pelo imperador Ming, que se diverte com os cataclismos provocados na Terra.
A saga de Flash Gordon principiou na banda desenhada em 1934, graças ao talento excepcional de Alex Raymond. Convertendo-se num clássico da aventura ilustrada de ficção científica, foi - ainda nos anos ’30 - por três vezes levada ao cinema. Em 1980, o loiro paladino ianque regressou, mediatizado por toda a sofisticação de efeitos especiais - transfigurando o já exótico e multicor fascínio da decoração, sendo a música dos Queen um outro elemento electrizante. Todavia, o romanesco épico e peripatético de Flash Gordon é simplificado pela realização de Mike Hodges, e enfatizado no desempenho por Sam J. Jones. Al Williamson assinou a versão do filme em quadradinhos.

BREVIÁRiO

20th Century-Fox edita em Blu-ray, Forever Marilyn - antologia sobre Marilyn Monroe, incluindo Os Homens Preferem as Loiras / Gentlemen Prefer Blondes (1953 - Howard Hawks), Rio Sem Regresso / The River Of No Return (1954 - Otto Preminger), Parada de Estrelas / There’s No Business Like Show Business (1954 - Walter Lang), Como Se Conquista Um Milionário / How to Marry a Millionaire (1955 - Jean Negulesco), O Pecado Mora ao Lado / The Seven Year Itch (1955 - Billy Wilder), Quanto Mais Quente Melhor / Some Like It Hot (1959 - Billy Wilder) e Os Inadaptados / The Misfits (1961 - John Huston). IMAG.70-85-114-189-360-381-386-438

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]: Concertos Para Piano Nº 27 e Nº 20 por Maria João Pires com Orchestra Mozart, sob a direcção de Claudio Abbado. IMAG.36-55-68-90-102-106-118-172-186-205-216-217-220-227-277-284-285-290-317-321-342-349-375-406-431

Porto Editora lança Os Ciganos de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Pedro Sousa Tavares. IMAG.2-18-112-168-213-249-268-302-390

COMENTÁRiO

Hoje em dia, eu só me interesso pelas formas que o amor pode assumir na vida das pessoas, que apenas podem ser salvas por esse mesmo amor.
Nagisa Oshima

INVENTÁRiO

Exit. - Francisco Solana
Francisco Solana viajou para ter perto de si o que o obceca, mas essencialmente para acentuar a sua tendência lírica, convicto de que o verdadeiro tom da arte tem de nos transportar para uma zona de poesia. A beleza está necessariamente velada e, como acontece com os quadros de Francisco Solana, alude tanto ao conhecido como ao misterioso, à estranheza no seio do familiar, ao desejo de que exista alguma coisa mágica no mundo.
Fernando Castro Flórez
- La Navegación Visual de Francisco Solana

MEMÓRiA

01JAN1884-1958 - Afonso Duarte: Poeta português - «E cá mesmo no extremo ocidental / duma Europa em farrapos, eu / quero ser europeu, quero ser europeu / num canto qualquer de Portugal». IMAG.188-251

ANTIQUÁRiO

07JAN1934 - Sob chancela do King Features Syndicate, é lançado em quadradinhos Flash Gordon por Alex Raymond. IMAG.66-221-234-310

ANUÁRiO

84aC-54aC - Gaius Valerius Catulos, aliás Catulo: Poeta romano - «Odeio e amo. Talvez me perguntes por quê? Não sei mas sinto que é assim, e sofro». IMAG.443

VISTORiA

Dá-me mil beijos, e mais cem
e novamente mil e mais cem,
e depois mais mil, e mais cem.
Catulo

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

COMO GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS - 8

A Cândido, nada lhe escapava. Com um sopro, apagou as velas.
Pronto, não lhe faltariam as forças, quando o punho armado desabasse sobre o infeliz mancebo, inesperado e encharcado pela tempestade, que horas antes ali chegara a cavalo. Com um estranho sotaque. Em busca de refúgio para a noite, acabaria por encontrar num sarcasmo funesto o eterno descanso que se reserva às vítimas anónimas de um acaso providencial.
Continua

quinta-feira, janeiro 25, 2018

IMAGINÁRiO #448

José de Matos-Cruz | 24 Dezembro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PATIFARIAS
Um milhão de dólares - correspondentes à reserva de ouro do Banco Central do Novo México - eis um desafio irresistível para os terríveis Irmãos Dalton, mesmo que em transporte à guarda da Cavalaria dos Estados Unidos, acompanhados por um certo herói solitário. E, quando Joe, Jack, William e Averell se evadem da Penitenciária de Rio Rancho, logo na primeira noite, revolvem-se os dramas e as farsas da história - em prol do western, a partir dos mitos e das lendas… Ao expandirem em banda desenhada, pelo signo da escola franco-belga, um universo cáustico e crítico, entre a realidade e o imaginário, tendo o cowboy que dispara mais rápido do que a sua própria sombra como protagonista, As Aventuras de Lucky Luke Segundo Morris persistem pelo fiel labor dos artistas que assumiram a continuidade da saga, em homenagem ao talento exuberante e sarcástico de Morris - aliás, Maurice de Bevère (1923-2001) - desde 1948. Agora, Daniel Pennac e Tonino Benacquista apresentam Todos Por Conta Própria (2012) - sob chancela das Edições Asa - graças ao grafismo estilizado e coerente de Achdé. Entre a nostalgia e a cumplicidade, para gáudio de todos os leitores, clássicos e virtuais, destacam-se ainda as intervenções irresistíveis de Jolly Jumper - que, às vezes, até perde uma ferradura, ao descer as escadas!
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CALENDÁRiO

17JAN-04ABR2013 - Em Lisboa, BES Arte & Finança expõe O Rio É Uma Festa de José Medeiros; acervo do Instituto Moreira Salles, sendo curadores Sérgio Burgi e Elise Jasmin.

31JAN-02MAR2013 - Em Lisboa / Alfama, Perve Galeria expõe Seres Grotescos - 40 Anos de Pintura e Desenho de Carlos “Zíngaro”, sendo curador Carlos Cabral Nunes. IMAG.247-416-430

31JAN-14ABR2013 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Graça Morais - Os Desastres da Guerra, sendo comissário João Pinharanda. IMAG.65-68-139-305-318

02FEV-22JUN2013 - Em Lisboa, no Museu Nacional de Etnologia, Diniz Conefrey lecciona A América Antiga - Introdução à História das Culturas Ameríndias, curso com os módulos 1 - América do Norte e Mesoamérica, 2 - América Central e América do Sul.IMAG.289-301-325-332-377-395-430

MEMÓRiA

24DEZ1913-1967 - Adolph Frederick Reinhardt, aliás Ad Reinhardt: Pintor norte-americano, abstracto e conceptual, entre a vanguarda e o modernismo - «A arte é demasiado séria para ser tomada muito a sério».

26DEZ1893-1976 - Mao Tsé-Tung: Líder político e revolucionário chinês - «A revolução não é o convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado. Não pode ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda, tão afável e cortês, comedida e generosa. A revolução é uma insurreição, um acto de violência, pelo qual uma classe derruba a outra». IMAG.78-189-219

27DEZ1923-2009 - António Augusto Lagoa Henriques: Escultor português, poeta e professor - «É preciso dizer que a própria pintura pré-histórica é um Diário Gráfico. O suporte do desenho ou da pintura, de sinais, pois nessa altura ainda não se tinha inventado um alfabeto, nem tão pouco a imprensa, constituindo uma necessidade de registar, de aprisionar, aquilo que nos acontece e que nós consideramos mais importante e mais representativo». IMAG.236-239-261

30DEZ1883-1936 - Leonardo Coimbra: Filósofo, pedagogo e político português - «Meu pai! Como sinto viva e presente aquela noite que juntos dormimos num quarto de hotel da pequena cidade provinciana! Era uma dessas noites de abandono em que me sentia perdido no frio e na escuridão. Meu pai apareceu inesperadamente e saímos juntos. Que intimidade, que confôrto, que protecção amiga! Deitado no braço paterno eu senti a amizade perfeita, a tranquilidade plena, o enternecimento da felicidade» (A Alegria, a Dor e a Graça - 1920). IMAG.224-252-392

INVENTÁRiO

IRON MAN
O Homem de Ferro / Iron Man apareceu em Março de 1963, nas Tales of Suspense, por Stan Lee & Don Heck, pelos Marvel Comics. É um produto da guerra no Sudoeste Asiático, ocultando / protegendo - sob uma couraça indestrutível - o empresário / industrial Anthony Stark, que caíra prisioneiro dos vietnamitas. Graças ao Professor Yinsen - um companheiro de cárcere, que acaba por morrer - Stark construiu o prodigioso artefacto, com versátil armamento e jactos voadores, convertendo-se em contundente paladino, membro fundador dos formidáveis Vingadores / The Avengers. Além dos criadores, Jack Kirby, Steve Ditko e George Tuska tiveram uma intervenção significativa, quanto às origens e evolução do veterano Homem de Ferro. 
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VISTORiA

Ao tentar a palavra que há-de achar o caminho de vossas almas é-me levado o pensamento para recordações da minha aldeia. Ela mora encostada a uma montanha, onde costumo ir despedir-me do Sol poente. Ali, no templo do silêncio, aprendi a falar. Na hora dos humildes, quando o vento do crepúsculo leva de planta a planta o frémito do mistério, tenho sentido a eloquência do Silêncio e o valor das lágrimas. Frente a frente o Marão, doirado ainda, ergue o espinhaço gigante, a fronte concentrada e áspera. Em baixo, a aldeia formosa estende-se pela fecundidade da planície. O fumo dos lares sobe, santificando o trabalho, levando na ascensão a mais pura de todas as orações - o agradecimento do ingénuo camponês à divindade oculta.
Leonardo Coimbra
- Cartas, Conferências, Discursos, Entrevistas e Bibliografia Geral

ANUÁRiO

23-79 - Gaius Plinius Secundus, aliás Plínio, o Velho: Naturalista romano - «O homem é o único animal que não aprende nada sem ser ensinado: não sabe falar, nem caminhar, nem comer, enfim, não sabe fazer nada no estado natural, a não ser chorar». IMAG.209

1863 - Neste ano, a extracção do minério de cobre na Mina de São Domingos, no concelho de Mértola, distrito de Beja, é de 107.580 toneladas inglesas.

1883-1947 - Pierre Lecomte du Nouy: Biofísico e filósofo francês - «Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual» (O Homem e o Seu Destino).

1913-2010 - Maria da Saudade Cortesão: Poetisa e tradutora, filha de Jaime Cortesão, casada com Murilo Mendes, distinguida com o Prémio Pen 2009 - «Dentro das persianas encostadas / o sol vagueia pelo chão. / Até o linho se agarra à pele. / O rumor da água nos regos / insinua-se na sesta // alisa o ardor do ar.» (A Sesta). IMAG.333

1933-2009 - Sheldon Dorf: Artista e coleccionador americano de banda desenhada - «Era entusiasta e empreendedor, tendo-se dedicado inteiramente à divulgação artística e editorial dos quadradinhos, sabendo estimular tanto admiradores como profissionais. O Comic-Con deve-lhe tudo» (Mark Evanier). IMAG.277
 
COMENTÁRiO

Graça Morais - Os Desastres da Guerra

O trabalho de Graça Morais trata do Tempo e do Lugar. Ela construiu a sua imagem investigando memórias e transformando realidades: a do Portugal rural que mudava e perdia o seu tempo e o seu lugar no Mundo. As duas séries que agora se apresentam, embora encadeando-se nalguns outros momentos anteriores, surgem claramente como sobressalto cívico. Graça Morais reage, já não apenas a um presente que perde o seu passado mas a um presente que perde também o seu futuro. As longas e intensas cenas rurais de Graça Morais olhavam um mundo que lentamente se desagregava, eram uma ação de conservação, uma homenagem. Agora são uma denúncia, um alerta. O tempo, aqui, é imediato e o espaço também – e ambos desabam vertiginosos sobre nós.
João Pinharanda
(excerto)
José Medeiros - O Rio É Uma Festa

Nascido em 1921 em Teresina, no Nordeste, e falecido em 1990, José Medeiros - um dos grandes nomes da fotografia brasileira - tornou-se célebre ao lançar um olhar sensível e crítico sobre a sociedade brasileira do seu tempo, através da fotografia documental e do fotojornalismo.
A mostra O Rio É Uma Festa integra a programação do Ano do Brasil em Portugal, e foi organizada pelo Instituto Moreira Salles - a partir do acervo fotográfico de José Medeiros, composto por mais de 16 mil negativos hoje preservados pelo IMS.
Ao longo da sua carreira, José Medeiros foi retratando tanto as camadas mais carentes e oprimidas da sociedade brasileira do pós-guerra - pobres, negros, populações indígenas, trabalhadores - como também as elites, nas suas paisagens urbanas, praias, palacetes e festas.
Esta exposição privilegia a celebração e o registo do Rio de Janeiro na sua faceta glamorosa, durante os anos dourados de 1940 e 1950.

BREVIÁRiO

Contraponto edita Fun Home - Uma Tragicomédia Familiar de Alison Bechdel; tradução de Duarte Sousa Tavares.

ANTIQUÁRiO

31DEZ1863 - Nesta data, o distrito administrativo do Funchal, Madeira, conta com 111.764 pessoas. O distrito administrativo de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, conta com 73.341 pessoas.