terça-feira, janeiro 23, 2018

IMAGINÁRiO #446

José de Matos-Cruz | 08 Dezembro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CONVULSÕES
À época, as ocorrências da guerra colonial não tiveram, na arte portuguesa de narração por imagens, uma expressiva incidência directa, ao contrário do que sucedera noutros períodos marcados pelas circunstâncias sociais, políticas e militares. Por dois motivos principais: a influência da censura e o testemunho sucedâneo da televisão. Por outro lado, desde meados dos anos ’60, a guerra colonial reflectiu-se na área representada da nossa cinematografia, com destaque para longas metragens. Quanto à banda desenhada, referenciaram-se - sobretudo - incidências laterais, em que estão em causa os conflitos individuais, repercutidos pelo envolvimento familiar e comunitário, através das convencionais implicações dramáticas. Agora, Cinzas da Revolta - por Miguel Peres (argumento) e Jhion / João Amaral (ilustração), sob chancela Asa - propõe uma abordagem ficcional, a partir de 1961, de contornos «rocambolescos, que nos abrem perspectivas imaginárias sobre a guerra colonial angolana». Eis uma obra intensa, de trágicas implicações humanas e civilizacionais, em que releva o tratamento gráfico, com significativa dimensão cromática e estilizada.
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CALENDÁRiO

1939-19DEZ2012 - Keiji Makazawa: Argumentista e ilustrador japonês, criador da série Hadashi no Gen (1973), mangà autobiográfica sobre a deflagração da bomba atómica em Hiroxima, de que foi sobrevivente.

1924-23DEZ2012 - Lêdo Ivo: Ficcionista, poeta e jornalista brasileiro - «A maioria dos biógrafos empenha-se em explicar a obra a partir da vida, quando o correcto é exactamente o contrário: trata-se de explicar a vida a partir da obra».

1936-24DEZ2012 - Richard Rodney Bennett: Compositor inglês, autor da banda sonora de Quatro Casamentos e Um Funeral / Four Weddings and a Funeral (1994) - «O que é que significa compreender uma certa coisa? Sinceramente, por mais que me esforce, e tenho mesmo tentado em vários aspectos, é algo que não consigo perceber».

1929-26DEZ2012 - Gerald Alexander Abrahams, aliás Gerry Anderson: Autor e produtor britânico, criador das séries televisivas Thunderbirds (1965-1966) com marionetas, e Espaço 1999 / Space: 1999 (1975-1977) protagonizada por Martin Landau. IMAG.8-49

MEMÓRiA

08DEZ1913-1966 - Delmore Schwartz: Escritor americano - «Como tudo poderia ter parecido diferente se tivesse conseguido ver estas vidas a partir de dentro, a olhar para fora.» (Nos Sonhos Começam As Responsabilidades).

08DEZ1943-1971 - Jim Morrison: Cantor, compositor e poeta americano, vocalista de The Doors - «Há coisas que sabemos. E há outras coisas que ignoramos. Entre elas, existem as portas… A única obscenidade que conheço é a violência». IMAG.202-329

1500-09DEZ1573 - André de Rezende: Intelectual, teólogo, compositor, arqueólogo, investigador, humanista, professor, especialista da Grécia e da Roma Antiga, Mestre de El-Rei D. Duarte I, autor de Encomium Urbis et Academiae Lovaniensis. IMAG.265-266

10DEZ1923-2011 - Jorge Semprún: Escritor e político espanhol - «As vítimas são aqueles que sofrem a repressão com passividade». IMAG.15-362

12DEZ1863-1944 - Edvard Munch: Artista plástico norueguês, precursor do expressionismo - «Não mais pintarei interiores com homens e ler e mulheres a tecer. Vou pintar a vida de pessoas que respiram, sentem, sofrem e amam».

13DEZ1923-06FEV2012 - Antoni Tàpies: Pintor espanhol, natural da Catalunha - «Na sua pintura, o gesto liberta-se quer da forma naturalista, quer da escrita verbal. Cada conjunto de gestos transforma-se num signo. Às vezes, imprime a sua mão na tela como se estivesse a repetir um gesto primordial» (João Pinharanda). IMAG.356-395

NOTICIÁRiO

Obra Inédita de Munch, Achada Num Museu de Bremen

Uma obra até agora desconhecida do pintor expressionista norueguês Edvard Munch (1863-1944) foi descoberta no Museu Kunsthalle, em Bremen, na Alemanha, oculta por baixo de um outro trabalho do autor. A tela, que mostra uma jovem nua perseguida por três cabeças masculinas, foi pela primeira vez apresentada ao público sexta-feira.
«Uma descoberta sensacional», classificou Wulff Herzogenrath, director do Kunsthalle, explicando que a pintura foi achada recentemente debaixo do quadro A Mãe Morta, durante trabalhos de restauração. Após diversas análises de carácter técnico, chegou-se à conclusão de que esta realmente é uma obra de Munch. Os primeiros testes com raios X permitiram detectar «uma composição no estilo de Edvard Munch», explicaram fontes do museu no momento em que divulgaram a descoberta.
A descoberta acontece num momento em que O Grito e A Madonna, duas das mais célebres obras de Munch, permanecem desaparecidas desde o seu furto em Agosto do ano passado, num museu de Oslo, na Noruega. As duas telas estão actualmente avaliadas em cerca de 80 milhões de euros.
06JUN2005 - Diário de Notícias

PARLATÓRiO

Dentro de pouco tempo, não vai haver ninguém para dizer: «eu vi», como o Pintor Goya assinou em certas pinturas ou gravuras. Esta memória torna-se história, e não há mal em que assim se mantenha. Não podemos fundar nenhum projecto europeu sem a memória do passado e do que se deve evitar. É preciso apresentar algo mais positivo à juventude. Não apenas a memória, mas o futuro… Eis o dilema.
Jorge Semprún

A primeira vez que descobri a morte… Eu, os meus pais e os meus avós, íamos de automóvel no meio do deserto, ao amanhecer. Um camião carregado de índios tinha chocado com outra viatura, e havia gente espalhada por toda a auto-estrada, sangrando. Eu era apenas um miúdo, e fui obrigado a ficar dentro do automóvel, enquanto os meus pais foram ver o que se passava. Não consegui ver nada - para mim, era apenas tinta vermelha esquisita, e pessoas deitadas no chão. Mas sentia que alguma coisa se tinha passado, porque conseguia perceber a vibração à minha volta. Então, de repente, apercebi-me de que ninguém sabia mais do que eu sobre o que tinha acontecido. Esta foi a primeira vez que senti medo... E penso que, nessa altura, as almas daqueles índios mortos - talvez de um ou dois deles - andavam a correr e aos pulos, vieram parar à minha alma. E eu, apenas como uma esponja, ali sentado a absorvê-las.
Jim Morrison

BREVIÁRiO

Guerra e Paz edita Nos Sonhos Começam as Responsabilidades e Outras Histórias de Delmore Schwartz (1913-1966); tradução de Maria Dulce Guimarães da Costa e Vasco Teles de Menezes.

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Serguei Sergueievitch Prokofiev [1891-1953], [Franz] Liszt [1811-1886], [Camille] Saint-Saëns [1835-1921] pelo pianista Behzod Abduraimov. 
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EMI edita em CD, sob chancela Capitol, That’s Why God Made the Radio por The Beach Boys. IMAG.184-403

Relógio D’Água edita O Príncipe e o Pobre de Mark Twain (1835-1910); tradução de Domingos Monteiro. IMAG.60-193-248-271-345-436

VISTORiA

Advertência a um Gavião

O gavião sobrevoa
a plantação de tomate.
Meu irmão gavião,
eu não aceito a morte.
Na partilha do mundo
não estarei ao teu lado.
Jamais admitirei
a usurpação do dia.
Só sei enfileirar-me
no cortejo da vida.
Meu caminho me leva
a floresta onde fluem
as fontes escondidas.
Mesmo longe adivinho
uma árvore que tenha
frescor de fruto ou ninho.
Gavião! Gavião!
embaixador do não,
o céu não pode ser
sepultura de pássaros.
Lêdo Ivo

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

COMO GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS - 7
Benedita Roubeta espicaçava, na sua natureza bruta e suplicante:
- Com o que lhe tirarmos, ainda nos dá para ir ver o nosso filho, ao Brasil… Depois de tanto tempo, ralam-me as saudades! Coitadinho do Aquiles, como é que ele estará?
Rossas era um gelo. Cândido untou a angústia de monstruoso crime, graças àquele desígnio maior dum reencontro familiar. Reteve Benedita, num gesto de determinação. Que ficasse ali no escano, junto à lareira.
Continua

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