PRONTUÁRiO
REGRESSÕES
Se
o futuro é um destino admirável, na expectativa de viagens no
tempo, a probabilidade das incursões no passado reveste-se,
aparentemente, de insuspeitáveis aliciantes - malgrado o preceito
convencional, entre os potenciais exploradores, de não se provocar
qualquer feito que possa afectar a posteridade, de uma forma
irreversível... Eis os fundamentos e desígnios da saga Regresso
ao Futuro /Back To the Future (1985-1989-1990),
realizada numa trepidante trilogia por Robert Zemeckis. Refugiado
trinta anos atrás, em virtude de uma ameaça vital, o protagonista
concretizaria, na aventura inaugural, o excepcional privilégio de
relacionar-se com os pais auspiciosos, numa altura em que encetam o
ritual de namoro. Apesar do seu escrúpulo em não alterar o devir
histórico, e pesem embora as significativas correcções que virão
a reflectir-se, não nos escapa a insolência com que Marty McFly
constata
o comportamento dos (que serão seus) progenitores, em contraste com
os conselhos que depois puderam dar-lhe!
MEMÓRiA
01DEZ1923-2001
- Maurice de Bevère, aliás Morris: Autor belga de quadradinhos,
criador de Lucky Luke
- «Um herói que atrai sucessivas gerações... Parece incrível! É
esse o privilégio da banda desenhada, sobretudo de carácter
popular: o interesse continua, para sempre»».
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106
aC-07DEZ43 aC - Cícero, aliás Marcus Tullius Cicero: Filósofo,
escritor e orador romano - «O que mais nos ajuda a conservar e
manter a nossa força é o facto de sermos amados; e o que se lhe
opõe mais é o facto de termos medo. O medo é mau guarda da nossa
longevidade; a benevolência, pelo contrário, é fiel e dura até à
eternidade (Dos Termos
Extremos ao Bem e do Mal).
1940-04DEZ1993
- Frank Zappa: Compositor e guitarrista americano - «As coisas
funcionam assim: escolhe-se uma melodia, seja ela qual for, Beethoven
ou música havaiana, tocamo-la à guitarra, adicionamos o baixo e a
bateria, e as pessoas dirão que é rock´n
roll». IMAG.303
06DEZ1933-2010
- Henryk Górecki: Compositor polaco, distinguido com a Ordem da
Águia Branca - «Aos jovens criadores: se conseguirem viver sem
escrever música durante dois ou três dias, então aproveitem - é
melhor passarem o vosso tempo com uma rapariga ou uma cerveja».
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CALENDÁRiO
1926-11DEZ2012
- Galina Vishnevskaya: Soprano russa, casada com o maestro e
violoncelista Mstilav Rostropovitch, estrela da ópera da União
Soviética, e exilada em 1974 - «O seu legado artístico e pessoal
vai durar infinitamente mais do que tudo o que lhe perturbou a
existência» (The Telegraph).
28FEV1923-24DEZ2012
- Charles Durning: Actor americano de cinema, teatro e televisão -
«Começar a dançar, foi muito fácil para mim… Iniciar-me na
representação, tornou-se muito difícil».
1935-29DEZ2012
- Paulo Rocha: Cineasta português - «Ele abriu as portas, o olhar,
o modo como nos olhamos e registamos em imagens em movimento, o que
somos, o que sonhamos ser, e o que queremos ser. Ficamos seguramente
mais pobres, menos iluminados, com menos luz à nossa volta» (Maria
João Seixas). IMAG.4-31-87-180
19FEV-30ABR2013
- Nos Cursos Livres da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, organizados pelo Departamento de
Ciências da Comunicação, Maria do Carmo Piçarra lecciona Noite
Portuguesa - A Propaganda No Cinema do Estado Novo.
Contacto: nflv@fcsh.unl.pt
INVENTÁRiO
REGRESSO
AO FUTURO - TRILOGIA
Em
Regresso ao Futuro (1985)
de Robert Zemeckis, a insólita cumplicidade entre pais e filho - que
se estabelece com o público - era um dos mais insinuantes atractivos
no argumento de Bob Gale & Zemeckis, tendo estimulado o retomar
da saga - através do tempo e da projecção fílmica... Investindo
em ambos, Zemeckis - o mais hábil dos realizadores patronizados
por Steven Spielberg - lançou-se, uma vez concluído Quem
Tramou Rober Rabbit (1988),
na produção sucessiva das Partes
II (1989) e III
(1990), sempre em aliança essencial com Gale.
Personagem
mobilizadora, transferencial de tais prodígios, o cientista Doc
Emmet Brown volta ao presente de 1985 - com o seu espantoso carro
DeLorean, capaz de bater todas as barreiras em máxima aceleração -
para alertar Marty de que um filho corre perigo, no Século XXI.
Voando para lá, no sensacional veículo - entretanto aperfeiçoado
por Doc,
em devoção aos desafios tecnológicos.
Ainda
na Parte II,
os desvios ao efeito cronológico levam Doc
e Marty a recuarem de 2015 a outro 1985 e a 1955 - revelando que, se
tais viagens não influem na idade física dos incursionistas,
suscitam porém tantos entes
temporais quantas as
exposições a uma mesma realidade. Tudo se complica pois, nesta
lógica fabulosa que - afinal - se transcende sempre em risco de
perturbações evolutivas, por um apelo a alcances cada vez mais
remotos...
É
assim que, em Parte III,
o Marty da II
procura, prisioneiro em 1955, o Doc
da Parte I,
para que este lhe dê meios - a fim de o libertar a ele próprio, Doc
da Parte II,
acidentalmente projectado e circunscrito em 1885! Sempre graças ao
DeLorean, e tendo como referência espacial a praça pública de Hill
Valley, em cujo torreão sobranceará um grande relógio - que,
funcionando ou não, é mesmo decisivo para tais deslocações.
Com
a indumentária e um irreverente nome de Clint
Eastwood, Marty sagra a
memória e os mitos do cinema - mas competirá a Doc
decidir um destino pessoal: fiel à estima e solidariedade entre
ambos, acaba por afirmar-se - afectivamente - junto da mulher amada,
e que lhe dará filhos. Sagrando ainda o extraordinário ensejo de um
reencontro - para além dos limites virtuais, constantes porém num
epílogo linear, ao irradiar as coordenadas da aventura humana!
OS
VERDES ANOS - UMA GERAÇÃO NA FATALIDADE
Genuíno
testemunho, em que convergiriam as expectativas do cinema
novo, Os
Verdes Anos (1963) revelou
gente jovem, aliás «sem passado e sem responsabilidades na produção
nacional, e que tem uma visão universal, que lhe advém do longo
contacto com os estúdios parisienses». O realizador Paulo Rocha
diplomara-se pelo IDHEC, em França, tal como o produtor António da
Cunha Telles. Nuno Bragança adaptou o argumento de Rocha, elaborando
os diálogos. A psicologia das personagens insinua-se no elo realista
dos seus conflitos e tensões, reflectindo a crise social através da
singularidade poética. Isabel Ruth e Rui Gomes são os nóveis
protagonistas duma época virtual, em suas referências
testemunhadoras. Inquietação, sensibilidade pairam neste retrato de
geração - entre a alienação e a rebeldia. É a idade duma
inocência perdida, pervertida nos paradoxos do tempo e do
envolvimento. Aos dilemas convencionais, como o desenraizamento ou a
inadaptação, corresponde uma obsessão funesta, precipitando a
catástrofe. Amor, ciúme, virilidade, frustração. Uma síntese
radical
- ética e estética. A música de Carlos Paredes constitui um
sugestivo elemento dramático. As filmagens decorreram em interiores
e locais autênticos. Luc Mirot desvenda uma outra
Lisboa - segundo Rocha, fixando «bocados da Avenida dos Estados
Unidos, as colinas cobertas de oliveiras que dominam a zona nova e o
rio, os descampados à volta da cidade universitária». De resto,
tudo está patente: gente humilde, destino fatal… Com orçamento de
900 contos, Os Verdes Anos
estreou no São Luiz e Alvalade, em Novembro de 1963. Símbolo de
denúncia, sinal de diferença, foi distinguido com a Vela de
Prata/Opera Prima em Locarno (1964), a Cabeza de Palenque em Acapulco
e uma Menção Honrosa em Valladolid (1965).
ANUÁRiO
1863
- Neste ano, o produto dos telegramas nos Telégrafos de Lisboa foi
de 46:509$620 réis.
BREVIÁRiO
Universal
edita em Blu-ray, Regresso ao
Futuro /Back To the Future Trilogy (1985-1989-1990)
de Robert Zemeckis; com Michael J. Fox e Christopher Lloyd.
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Quetzal
edita Odes de
Píndaro (518 aC-438 aC); tradução de António de Castro Caeiro.
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Universal
edita em CD, sob chancela Decca, Agostino Steffani
[1654-1728]:
Mission por Cecilia Bartoli e
Philippe Jarousski, com I Barocchisti, sob a direcção de Diego
Fasolis.
Relógio
D’Água edita 50 Poemas de
Tomas Tranströmer; tradução de Alexandre Pastor. IMAG.379
Bizâncio
edita Os Cinemas de Lisboa -
Um Fenómeno Urbano do Século XX de
Margarida Acciaiuoli.
EXTRAORDINÁRiO
OS
SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico
COMO
GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS -
6
Um
olhar paralisado firmou a cumplicidade entre o casal de velhos.
Ambos
esbracejavam, parvos, na eminência da tragédia, sob o naufrágio da
santidade. Eram carrascos de uma oportunidade rara e desvairada,
naquela estalagem erma, desolada, do Minho bravio, em que se cruzava,
sem destino, o paradoxo de quatro caminhos. Até que tudo parecia ter
um fim.
– Continua
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