sábado, setembro 30, 2017

IMAGINÁRiO #379

José de Matos-Cruz | 16 Julho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

INTERVENÇÃO
Em 1977, realizava-se em Duisburg, próximo de Dusseldorff, mais uma edição do Festival de Cinema dedicado à produção alemã do ano anterior. Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) estava representado com Satansbraten e Chinesiches Roulette, além de participar como protagonista e co-argumentista, com o realizador Daniel Schmid, no polémico Schatten der Angel. Contando com a intervenção de artistas prestigiados como Alexander Kluge, um dos signatários do Manifesto de Oberhausen - onde se expunham os desígnios de uma nova linguagem fílmica, pretexto da jovem geração de cineastas germânicos - a expectativa criada em volta da chegada de Fassbinder permitiu constatar, na sua pátria e em época determinante, uma evidência quanto à reputação deste controverso autor, tido normalmente no estrangeiro como o mais talentoso, entre os confrades… Amado ou odiado, Fassbinder não deixaria ninguém indiferente, tendo proclamado uma das suas finalidades obsessivas: «Agir fortemente sobre os sentimentos das pessoas».

CALENDÁRiO

29SET2011 - Alambique estreia Voodoo de Sandro Aguilar; com Albano Jerónimo e Isabel Abreu. IMAG.249

1955-05OUT2011- Steven Paul Jobs, aliás Steve Jobs: Inventor americano, empresário informático e co-fundador da Apple (1976) - «Vemos televisão, para desligar o cérebro. Trabalhamos no computador, para termos o cérebro ligado». IMAG.80-87-200

05OUT2011 - Tomas Tranströmer é distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, porque «através das suas imagens densas e translúcidas proporciona-nos um novo acesso à realidade».

05OUT2011 - Midas Filmes produziu, e estreia Sangue do Meu Sangue de João Canijo; com Rita Blanco e Fernando Luís. IMAG.1-13-63-220-299

06OUT2011-10JAN2012 - Museu Nacional de Etnologia apresenta Religiosidade Em Vidro - Exposição de Ícones Romenos.

14OUT-13NOV2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, com ArteIlimitada - Escola de Artes Visuais, a exposição Colectiva ArteIlimitada 2011.

19OUT-19NOV2011 - No Teatro da Politécnica, Artistas Unidos apresenta Não Se Brinca Com o Amor de Alfred de Musset (1810-1857); com Catarina Wallenstein e Elmano Sancho.

BREVIÁRiO

Fnac/Avalon edita em CD, As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant (1972) de Rainer Werner Fassbinder; com Margit Carstensen e Hanna Schygulla. IMAG.149

VISTORiA

Permanência

Não peçam aos poetas um caminho. O poeta
não sabe nada de geografia celestial.
Anda aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço.
Os relógios e as fronteiras não têm
tradução na sua língua. Falta-lhe
o amor da convenção em que nas outras
as palavras fingem de certezas.

O poeta lê apenas os sinais
da terra. Seus passos cobrem
apenas distâncias de amor e
de presença. Sabe
apenas inúteis palavras de consolo
e mágoa pelo inútil. Conhece
apenas do tempo o já perdido; do amor
a câmara escura sem revelações; do espaço
o silêncio de um vôo pairando
em toda a parte.

Cego entre as veredas obscuras é ninguém e nada sabe
- morto redivivo.
Tudo é simples para quem
adia sempre o momento
de olhar de frente a ameaça
de quanto não tem resposta.

Tudo é nada para quem
descreu de si e do mundo
e de olhos cegos vai dizendo:
Não há o que não entendo.
Adolfo Casais Monteiro

TRAJECTÓRiA

Alexandre Dumas - O Mestre do Romance Histórico Francês

Nascido em 1802 em Villers-Cotterêts, na Picardia, Dumas Davy de la Pailleterie, mais conhecido pelo pseudónimo literário de Alexandre Dumas, era filho de um general de Napoleão e da filha de um estalajadeiro. Leitor voraz desde pequeno, começou a escrever para revistas e a assinar peças de teatro quando trabalhava em Paris, já após a restauração da monarquia. O sucesso da sua segunda peça, Christine (1830), permitiu-lhe dedicar-se apenas à escrita. Entre as suas obras, traduzidas para quase 100 línguas, contam-se Os Três Mosqueteiros (1844), O Conde de Monte Cristo (1845-46), A Rainha Margot (1845), O Colar da Rainha (1849-50), O Cavaleiro da Mansão Vermelha (1845) ou A Tulipa Negra (1850). Também escreveu livros de viagens, de história e um dicionário de cozinha. Morreu em Puys, em 1870. O seu filho, Alexandre Dumas, Filho, foi também escritor e dramaturgo. Em 2002, os restos mortais do pai de D'Artagnan entraram no Panteão, em Paris.
22FEV2010 - Diário de Notícias

Roald Amundsen

Nasceu em Borge, perto de Oslo, a 16 de Julho de 1872, numa família de armadores noruegueses. Não surpreende, por isso, que a paixão pelo mar cedo lhe tenha marcado a vida, apesar dos esforços da sua mãe que quer afastar da empresa da família o seu quarto filho. É assim que o orienta para o estudo da medicina, pedindo-lhe que não a abandone pelo mar; promessa que o jovem quebra após a morte da mãe. Foi ele quem chefiou a primeira expedição à Antárctida para atingir o Pólo Sul (1910-1912), e foi também o primeiro europeu a fazer com sucesso a travessia da Passagem Noroeste (1903-1906). A morte surpreendeu, aos 56 anos, este explorador norueguês que partira em auxílio de um explorador italiano (Nobile): o seu avião despenhou-se três horas após ter levantado voo.
17AGO2009 - Diário de Notícias

PARLATÓRiO

Com o Capitão Nemo e seus convidados, explorei as profundidades do oceano, nesse precursor do submarino, o Nautilus. Com Fileas Fogg fiz em oitenta dias a volta ao mundo. Na Ilha a hélice e na Casa a vapor, minha credulidade de menino saudou com entusiástico acolhimento o triunfo definitivo do automobilismo, que nessa ocasião não tinha ainda nome. Com Heitor Servadoc naveguei pelo espaço.
Santos Dumont

Alexandre Dumas

Com ele, a infância e as suas horas de leitura saboreadas em segredo, a emoção, a paixão, a aventura, o orgulho, entram no Panteão.
Com ele, fomos D'Artagnan, Monte Cristo ou Bálsamo, cavalgando os caminhos da França, percorrendo os campos de batalha, visitando palácios e fortificações.
Com ele, nós percorremos, com uma tocha na mão, corredores obscuros, passagens secretas, subterrâneas.
Com ele, sonhámos. E, com ele, continuamos a sonhar.
Jacques Chirac (2002)

Não é possível ligarmos os diversos tópicos, olhando para frente. Apenas conseguiremos uni-los, olhando para trás. Por isso, e paralelamente, devemos ter esperança que esses vários tópicos se ligarão, um dia, no futuro. Essencialmente, há que confiar em algo - no nosso instinto, no nosso destino, na nossa existência, no nosso karma, seja no que for. Esta abordagem nunca me desapontou, e fez toda diferença ao longo da minha vida.
Steve Jobs

MEMÓRiA

16JUL1872-1928 - Roald Amundsen: Explorador norueguês - «Assim se rasgou para sempre o véu e um dos maiores segredos da Terra deixou de existir» (1911, ao atingir o Pólo Sul). IMAG.183-350

1854-17JUL1912 - Jules Henri Poincaré: Filósofo, matemático e físico francês - «Assim como casas são feitas de pedras, a ciência é feita de factos. Mas, uma pilha de pedras não é uma casa, e uma colecção de factos não é, necessariamente, ciência. IMAG.126

1681-20JUL1732 - Francesco Bartolomeo Conti: Teórico italiano e compositor dramático, membro da Accademia Filarmónica di Bologna, prestigiado intérprete de bandolim, autor de da ópera dramática Cleotide (1706). IMAG.307

20JUL1932-2010 - Richard Josepb Giordano, aliás Dick Giordano: Ilustrador e artista norte-americano de banda desenhada, distinguido como Melhor Editor (Prémio Alley - 1969) e Melhor Arte-Finalista (Prémio Shazam - 1970-1974), assinou Batman ou Wonder Woman/Mulher Maravilha. IMAG.26-243-297

1873-23JUL1932 - Alberto Santos Dumont: Aeronauta, inventor e desportista brasileiro, construiu o balão dirigível com motor a gasolina, tendo contornado a Torre Eiffel e conquistado o Prémio Deutsch (1901). IMAG.116

1908-23JUL1972 - Adolfo Casais Monteiro: Escritor português e crítico literário - «Eu falo das casas e dos homens, / dos vivos e dos mortos: / do que passa e não volta nunca mais… / Não me venham dizer que estava materialmente / previsto, / ah, não me venham com teorias! / Eu vejo a desolação e a fome, / as angústias sem nome, / os pavores marcados para sempre nas faces trágicas / das vítimas.» IMAG. 58-82-185-233-335

24JUL1802-1870 - Dumas Davy de la Pailleterie, aliás Alexandre Dumas, Pai: Escritor francês - «Os sofrimentos de um homem têm às vezes sido tantos, que lhe dão direito de nunca dizer: Sou demasiado feliz» (A Tulipa Negra - 1850). IMAG.28-168-339

sexta-feira, setembro 29, 2017

IMAGINÁRiO #378

José de Matos-Cruz | 08 Julho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ESPLENDOR
Presentemente, um nome maior da escola franco-belga, o artista suiço Enrico Marini evoca a mangà nipónica, através de sofisticada ilustração narrativa, pelas atmosferas dum grafismo sensual, sangrento ou monumental, o qual é tributário do imaginário cripto-gótico na actual exploração por Hollywood. Obra épica, de maturidade e sagração, As Águias de Roma - em Livro II, com edição sob chancela Asa - é uma proposta para os fãs ávidos de emoções fortes, ambientada no esplendor imperial, pelo ano 9 d.C. Feito refém, após tremendos combates, Ermanamer, filho do príncipe Sigmar, é confiado por Augusto ao leal Tito Valério Falco, pai de Marco, que tem a mesma idade… Disciplina, companheirismo, subjugação, rivalidade amorosa, atravessam uma realidade tranquila ou violenta na aparência faustosa, sob a qual se ocultam forças decisivas, com influência sobre o bem e o mal. Entre vítimas e vencedores, predadores ou coniventes, sob estigmas sobrenaturais/demoníacos, eis símbolos/significados paralelos à mutação dos códigos de uma leitura sobre a história... IMAG.8-17-25-56-344

CALENDÁRiO

SET2011 - São postos à venda dois cadernos Moleskine - da colecção Cover Art, envolvendo uma homenagem à «criatividade e liberdade de expressão» - com capa ilustrada por Ricardo Cabral; ambos com 96 páginas, disponíveis juntos e com o mesmo desenho (de uma série sobre Barcelona), mas com cores diferentes. IMAG.185-340

MEMÓRiA

15MAI891-1940 - Milkhail Bulgákov: Ficcionista e dramaturgo russo - «Todo o poder é uma violência exercida contra as pessoas».

1461-18JUN1532 - D. Diogo de Sousa: Bispo do Porto (1496) e Arcebispo de Braga (1505) - protector das artes e das letras, promotor da impressão de Constituições e Evangelhos e Epístolas Com Suas Exposições Em Romance (Porto - 1497), fundador do Colégio de São Paulo (Braga - 1531) com ensino gratuito.

04AGO1792-08JUL1822 - Percy Blysshe Shelley: Poeta romântico inglês - «As almas encontram-se nos lábios dos enamorados». IMAG.79

1885-09JUL1932 - King Camp Gilette: Inventor americano, concebeu e produziu, a partir de 1903, a gilette - lâmina de barbear descartável, colocada num instrumento simples de usar e com a vantagem de não se deitar fora.

14JUL1862-1918 - Gustav Klimt: Artista plástico austríaco - «Quem olha para mim, nada vê de especial. Sou um pintor que trabalha todo o dia, de manhã até à noite - figuras e paisagens, mais raramente retratos».

15JUL1892-1940 - Walter Benjamin: Ensaísta e filósofo alemão - «O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos». IMAG.37-153-292

VISTORiA

Bulgákov

A ti, que em vez das rosas sepulcrais,
Em vez do incenso do turíbulo,
Tiveste uma vida tão difícil, e até ao fim
Ostentaste um magnífico desdém.

Bebias vinho, troçavas como ninguém
E sentias gravar o sufoco de paredes,
E à terrível visitante abriste a porta
E com ela a sós te fechaste.

Deixas de ser, e tudo à volta cala
A tua vida sofrida e sublime,
Só a minha voz ressoará com flauta
No silêncio de teu banquete funerário.

Oh, quem havia de crer que a mim, a doida,
A mim, que ardo em fogo lento,
Que me esvaio toda e sou por todos esquecida,
Tocaria entender um ser que, cheio de forças,
de ideias brilhantes, e de vontade,
É como se ontem falasse comigo,
Dissimulando o calafrio da agonia.
Anna Akhmátova (1940)

VISTORiA

Ninguém pode dizer: «vou compor poesia». Nem o maior poeta o pode afirmar, pois, ao criar, o espírito é como brasa que se extingue, mas que uma influência invisível, qual vento constante, desperta para um fulgor transitório; este poder nasce de dentro, como a cor de uma flor que desmaia e muda à medida que se desenvolve; e a parte consciente da nossa natureza é incapaz de profetizar - quer a sua aproximação, quer o seu afastamento: pudesse esta influência perdurar na pureza e na força originais, e seria impossível predizer a grandeza dos resultados; porém, quando se inicia a composição, a inspiração está já em declínio, e a mais gloriosa poesia que alguma vez se comunicou ao mundo é provavelmente uma ténue sombra das concepções originais do poeta. Invoco o testemunho dos maiores poetas do presente: não será um erro afirmar que os mais belos trechos poéticos são produto do labor e do estudo? O labutar e o proletar recomendados pelos críticos podem, numa interpretação justa, não significar mais do que uma cuidadosa observância dos momentos de inspiração e uma ligação artificial das suas sugestões, preenchendo os espaços entre elas com a intertextura de expressões convencionais, uma necessidade imposta apenas pelas limitações da própria faculdade poética.
Percy Bysshe Shelley
- Uma Defesa da Poesia (excerto)

Uma nova forma de miséria surgiu com esse monstruoso desenvolvimento da técnica, sobrepondo-se ao homem. A angustiante riqueza de ideias que se difundiu entre, ou melhor, sobre as pessoas, com a renovação da astrologia e do ioga, da christian science e da quiromancia, do vegetarianismo e da gnose, da escolástica e do espiritualismo, é o reverso dessa miséria. Porque não é uma renovação autêntica o que está em jogo, e sim uma galvanização. Pensemos nos esplêndidos quadros de Ensor, nos quais uma grande fantasmagoria enche as ruas das metrópoles: pequeno-burgueses com fantasias carnavalescas, disformes máscaras brancas de farinha, coroas de folha de estanho, rodopiam imprevisivelmente ao longo das ruas. Esses quadros são talvez a cópia da Renascença terrível e caótica na qual tantos depositam as suas esperanças. Aqui se revela, com toda a clareza, que a nossa pobreza de experiências é apenas uma parte da grande pobreza que recebeu novamente um rosto, nítido e preciso como o do mendigo medieval. Pois qual o valor de todo o nosso património cultural, se a experiência não mais o vincula a nós? A horrível mixórdia de estilos e concepções do mundo do século passado mostrou-nos com tanta clareza aonde esses valores culturais nos podem conduzir, quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia uma prova de honradez confessar a nossa pobreza. Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge assim uma nova barbárie.
Walter Benjamin
- Experiência e Pobreza (1933 - excerto)

Tudo passa. Sofrimentos, dores, sangue, fome e peste. A espada vai desaparecer, mas as estrelas vão permanecer no céu, quando nem uma sombra dos nossos corpos e das nossas obras restar no mundo.
Milkhail Bulgákov
- A Guarda Branca (excerto)


BREVIÁRiO

Presença edita A Guarda Branca de Milkhail Bulgákov (1891-1940); tradução de Nino Guerra e Filipe Guerra.

Orquestra Metropolitana de Lisboa edita em CD, com Câmara Municipal de Lisboa, Música Para Lisboa por Ricardo Parreira (guitarra portuguesa) com Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Cesário Costa.

Polvo edita A Ermida, em banda desenhada com argumento e ilustração de Rui Lacas. IMAG.127-192-280

Clean Feed edita em CD, Riptide por Gerry Hemingway Quintet.

ANTIQUÁRiO

14JUL1912 - Ao correr a prova de Maratona, durante os V Jogos Olímpicos da Era Moderna em Estocolmo, os primeiros em que Portugal participou, Francisco Lázaro tomba inanimado; pelos 28 km, seguia a par com o sul-africano Kane McArthur, que triunfou; pouco depois, cambaleou até cair em colapso. Carpinteiro numa fábrica de carroçarias em Lisboa, o atleta - que havia declarado «ou ganho, ou morro» - untara o corpo com sebo pouco antes da partida, para se proteger do sol; sendo-lhe diagnosticada uma meningite, faleceu horas depois no hospital, sem ter recuperado a consciência.

OBSERVATÓRiO

- Histórias da Menina-Cão - Blog de Ana e André Ruivo - «Imagino que vivem sozinhos na grande casa como uma trupe de ocupas, espreitando caixotes do lixo, aos restos e a colher gestos espontâneos de afecto pela vizinhança…». IMAG.375
 

quinta-feira, setembro 28, 2017

IMAGINÁRiO #377

José de Matos-Cruz | 01 Julho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PROPAGANDA
Prestigiado nos anais de Hollywood como o realizador que mais contribuiu para a revelação de Bucha & Estica (aliás, Stan Laurel e Oliver Hardy), Leo McCarey (1898-1969) dirigiu ainda, a partir de meados dos anos ’20, uma série de populares comédias a cargo das principais companhias - da MGM à Paramount, da Fox à United Artists, da Columbia à RKO. Para esta, a primeira produção foi Lua Sem Mel / Once Upon a Honeymoon (1942) - sendo ainda argumentista com Sheridan Gibney, e a qual assinalou o lançamento, nos EUA, do actor austríaco Walter Slezak. Tendo incidência através da Europa, acção romântica e estilizado humor forjam uma obra tipificada como propaganda anti-nazi, que estreou antes da entrada da América na II Guerra Mundial. Significativamente, só apareceu em Portugal em 1945, e em França quatro anos depois. Com uma nomeação da Academia ao Oscar do Melhor Som (Stephen Dunn), Lua Sem Mel teve como protagonistas Cary Grant e Ginger Rogers, que voltariam a encontrar-se em A Culpa Foi do Macaco (1952 - Howard Hawks). A rodagem principiou em 25 de Abril de 1942, tendo Grant (aliás, Archibald Alexander Leach) conseguido um atraso quanto ao seu alistamento, que ele pretendia nos Army Air Corps; a 26 de Junho, e mantendo embora um emblemático vínculo pró-britânico, tornou-se cidadão ianque, adoptando legalmente o nome artístico. IMAG.197-233

MEMÓRiA

01JUL1742-1799 - Georg Christoph Lichtenberg: Escritor, filósofo e matemático alemão - «As pessoas que cedem e concordam com tudo são sempre as mais saudáveis, as mais belas e de figura mais harmoniosa. Basta alguém ter um defeito, para haver uma opinião própria… No mundo, encontramos mais frequentemente lições, que conforto».

1921-04JUL1992 - Astor Piazzola: Compositor e bandeonista argentino - «A minha vida podia resumir-se a um só tango, um tango muy porteño e muito triste. Não porque eu seja triste. Pelo contrário, sou um louco da guerra, sou um louco lindo, agrada-me divertir-me, gosto de beber vinho, gosto de comer bem, gosto da vida, pelo que a minha música não teria que ser triste. A minha música é triste porque o tango é triste». IMAG.314

1897-06JUL1962 - William Faulkner: Autor americano, Prémio Nobel da Literatura em 1949 - «Um escritor é alguém congenitamente incapaz de dizer a verdade. Por isso, o que ele escreve chama-se ficção».

CALENDÁRiO

16SET1938-23SET2011 - Jozé Niza: Médico, político, escritor e músico português, criador de E Depois do Adeus - «Foi o maior compositor da nossa geração e um homem de princípios que, desde a década de ’50, foi meu parceiro na poesia e na música, para além de companheiro na política. Tinha uma personalidade multifacetada» (Manuel Alegre).

05NOV2011-31MAR2012 - No Museu Nacional de Etnologia, decorre A América Pré-Colombiana - Introdução à História das Culturas Ameríndias, curso leccionado por Diniz Conefrey.IMAG.289-301-325-332

COMENTÁRiO

Não sou capaz de entender como em Portugal, e praticamente em toda a Europa, estejam hegemonicamente no poder governos e partidos que, na ideologia e na prática quotidiana, professam e estimulam a ditadura dos mercados financeiros.
José Niza (2011)

ANTIQUÁRiO

1853-JUL1932 - Artur Loureiro: Artista plástico, natural do Porto - «A sua obra tem a capacidade de nos surpreender pela sensibilidade que sempre demonstrou no seu tempo tardo-romântico, naturalista, simbolista com marcas francesas, italianas e belgas… com um gosto pronunciado pela paisagem e dentro dela, tanto pela incerteza das brumas e pela poética das rosas, como pela solidez das rochas da beira-mar ou do Gerez» (José Luís Porfírio). IMAG.340

01JUL2004 - Kafre publica o IMAGINÁRiO1, ainda apenas em versão newsletter.

PARLATÓRiO

À medida que os povos se tornam melhores, os Deuses melhoram também. Mas, como não se lhes pode eliminar, imediatamente, as particularidades humanas que tempos mais grosseiros lhes atribuíram, as pessoas sensatas têm, durante um certo tempo ainda, muitas coisas como incompreensíveis ou explicam-nas por meio de símbolos.
Conquistar o êxito graças a obras que não exigiram a totalidade das nossas forças, torna-se uma coisa perigosa para o aperfeiçoamento do espírito. Normalmente, é-se espezinhado no mesmo âmbito. É o que incita La Rochefoucauld a pensar que ainda não aconteceu que um homem tivesse realizado tudo aquilo de que seria capaz. Considero esta ideia verdadeira para a maior parte das pessoas.
Georg Lichtenberg
- Aforismos

Se eu não tivesse existido, outro alguém teria escrito os meus livros: Hemingway, Dostoievski, qualquer um. A prova disso é que há cerca de três candidatos para a autoria das peças de Shakespeare. Mas o que é importante são Hamlet e O Sonho de Uma Noite de Verão. Não quem os escreveu, mas o facto de alguém o ter feito. O artista não tem importância. Só é importante o que ele cria, já que não existe nada de novo para ser dito. Shakespeare, Homero, Balzac, todos escreveram acerca das mesmas coisas - e, se eles tivessem vivido mil anos, os editores não teriam, desde então, necessidade de ninguém mais.
William Faulkner (1956)

BREVIÁRiO

Bertrand edita O Intruso de William Faulkner (1897-1962); tradução de M. J. Fernandes. IMAG.86-153-231-232-305-340-356

iPlay edita em CD e DVD, sob chancela Ponderosa, The Royal Albert Hall Concert pelo pianista Ludovico Einaudi com I Virtuosi Italiani.

INVENTÁRiO

Conhecido pela sua ganância (consta que chegou a cobrar por cada autógrafo), Cary Grant - que não estava vinculado a qualquer estúdio - logrou da RKO, em 1942. um salário semanal de 6.250 dólares, mais dois por cento das receitas de exploração de Lua Sem Mel / Once Upon a Honeymoon - isto, numa altura em que as taxas do fisco atingiam os 93 por cento dos rendimentos, nos Estados Unidos. Ginger Rogers, que o considerava «um dandy irresistível», consagrara-se pelos musicais com Fred Astaire na década de ’30, assumindo - em Lua Sem Mel - uma ex-bailarina de cabaré em Nova Iorque, Katie, que por 1938, em Viena, se faz passar por membro da melhor sociedade de Filadélfia, estando prestes a casar com o Barão austríaco Von Luber. Numa trama cosmopolita, de aparências e disfarces, a jovem fascinada por jóias é, então, assediada por Pat - suposto costureiro francês e, na realidade, um compatriota, repórter radiofónico que pretende extrair-lhe informações sobre o noivo, sem que ela o saiba um influente colaborador de Adolf Hitler. De facto, e celebrado o matrimónio na Checoslováquia, uma agitada viagem de núpcias continua pela Polónia, Holanda, Bélgica - sempre com Pat a segui-los, cada vez mais seduzido - países que irão caindo sob o domínio do III Reich. Até França ameaçada e, finalmente em Paris sob ocupação, uma Katie já incrédula, e aliada Pat, dedicar-se-á à espionagem conjugal...
Aventura insinuante sob o signo histriónico - e com implicações que Alfred Hitchcock evocaria em Difamação (1946), reincidindo Grant ao lado de Ingrid Bergman - Lua Sem Mel patenteia a expressiva dinâmica de Leo McCarey, em que um enleio fantasista entre personagens se recorta na efusão de alusões e subentendidos, em suas máscaras ou equívocos, ou pela ironia contrastada dos diálogos. Em momento tão crítico para a História do Século XX, Lua Sem Mel constitui, também, uma curiosa alegoria da representação pelo Novo Mundo sobre o Velho Continente, a cargo de um californiano de origem irlandesa. As contingências próprias da época fazem denotar uma rodagem rápida e ligeira, privilegiando a ênfase do burlesco e a eficácia das vedetas, sobre a estrutura narrativa ou o quilate técnico. Tal risco virtual entre artifício e consistência - que McCarey sempre joga, como trunfos criativos - remeteria para uma alusão de Com a Verdade Me Enganas (1937), de onde o talento de Grant se exubera, cúmplice e cativo. Bastaria apreciar, nesta Lua Sem Mel, a sequência da partida de cartas no barco, por excelência visual, detalhada, com todos os requintes de uma conjugação sobre o cinema mudo. Algo que, aliás, se prefigura na recorrência mordaz entre Rogers e Grant - quando, logo no início, ele lhe tira as medidas… servindo-se de uma fita métrica em metal!

VISTORiA

No dia em que o delegado trouxe Goodwin para a cidade, havia na cadeia um assassino, um negro, que matara a sua mulher. Cortara-lhe o pescoço com uma navalha, de modo que, destacando-se a cabeça cada vez mais para trás, toda ensanguentada, a vítima correra para fora do quarto, dando seis ou sete passos na senda enluarada… À tarde, o assassino apoiava-se às grades da prisão e cantava. A última das flores caíra da árvore-do-paraíso, a um canto do pátio da cadeia. Jaziam no chão, grossas, pegajosas, adocicadas, de uma doçura excessiva e moribunda. À noite, a sombra irregular de galhos, que agora só tinham folhas, estremecia debilmente nas grades de ferro. A janela ficava na sala comum. As paredes caiadas de branco estavam manchadas, com a marca de mãos, rabiscos de nomes e datas, inscrições obscenas, feitas a lápis, com a unha ou com a lâmina de uma faca. Todas as noites, o negro assassino ali se apoiava, o rosto manchado pela sombra das grades nos irrequietos interstícios das folhas. E cantava, em coro, com aqueles que se achavam na cerca lá em baixo.
William Faulkner
- Santuário (1931, excerto)
 

domingo, setembro 24, 2017

IMAGINÁRiO #376

José de Matos-Cruz | 24 Junho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

HUMORES
Após uma primeira geração de notáveis artistas pioneiros, a banda desenhada de expressão franco-belga explora distintos horizontes e protagonistas, sob a estratégia das principais editoras, e visando um mais amplo público. Aos aliciantes da aventura correspondem os temas alternativos, revelando-se versáteis grafismos. Humor estilizado, como testemunho da realidade actual, eis uma receita de sucesso - que, em quadradinhos, se destina especialmente aos leitores adultos.
Da irrisão política à caricatura social, envolvendo tempos de crise e período de férias, sob chancela Asa, Os Campistas - por Veerle Swinnen & Dugomier (argumento) e Eric Maltaite (ilustração) - desvenda a tórrida e agitada vizinhança no Parque de Campismo Bela-Vista; em contraste, Os Funcionários - por Béka (argumento) e Bloz (ilustração) - reporta um quotidiano burocrático e contestatário, Sempre Em Festa! Sátira hilariante, sarcasmo e ironia - o objectivo é rir, sem inibições ou tácticas de sofisticação - em situações ambíguas, radicais, entre a identificação individual e a exacerbação colectiva.

CALENDÁRiO

23OUT1917-21SET2011 - Júlio Martins Resende da Silva Dias, aliás Júlio Resende: Artista plástico português, distinguido com o Prémio AICA/Associação Internacional de Críticos de Arte - «Às vezes, pergunto-me: tu achas que valeu a pena? Essas dúvidas também doem muito. Não sei se valeu a pena. O futuro o dirá, talvez». IMAG.132-168

04-13NOV2011 - Celebrando «o cinema enquanto criação artística», decorre o Lisbon & Estoril Film Festival.

MEMÓRiA

24JUN1542-1591 - Juan de Yepes, aliás São João da Cruz: «Nessa noite ditosa, / secretamente, que ninguém me via, / de nada curiosa, / sem outra luz nem guia / senão a do coração que me ardia» (Noite Escura). IMAG.350

24JUN1842-1914 - Ambrose Gwinnett Bierce: Escritor e editor americano - «A erudição é poeira caída de um livro sobre um crânio vazio».

25JUN1852-1926 - Antonio Gaudi: Arquitecto catalão - «A criação prossegue incessantemente por intermédio do homem, mas o homem não cria: descobre». IMAG.154

26JUN1892-1973 - Pearl Sydenstricker Buck, aliás Pearl S. Buck: Escritora norte-americana, Prémio Nobel da Literatura em 1938 - «Quando cessa a vigilância e os esforços dos bons em todo o país, predominam os homens maus». IMAG.87

1891-26JUN1982 - Alfredo Rodrigo Duarte, aliás Alfredo Marceneiro: Português, fadista - «É sempre tristonha e ingrata /Que se torna a despedida / De quem temos amizade / Mas se a saudade nos mata / Eu quero ter muita vida / Para morrer de saudade» (Despedida - excerto). IMAG.175-261-317-371

28JUN1712-1778 - Jean-Jacques Rousseau: Escritor e filósofo suíço, teórico político - «O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer “isto é meu”, e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao género humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”». IMAG.185-270-309

1883-29JUN1982 - Henry King: Cineasta americano - «Quando se faz um filme, trabalhamos durante meses a preparar a história, a aprontá-la, a juntar uma equipa, a constituir um staff à nossa volta, a arranjar um guarda-roupa, a construir os cenários, a pesquisar, a ter tudo preparado. Quando começamos a rodá-lo, tornou-se uma grande empreitada. Quando o terminamos, quando se acaba a montagem e o enviamos para visionamentos, acabou-se tudo». IMAG.77-169

30JUN1232 - O Papa Gregório IX canoniza Santo António de Lisboa, na cidade de Espoleto. Neste mesmo dia, segundo a tradição, repicam os sinos das diversas torres de Lisboa, sem impulso de ninguém.  
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VISTORiA

Modo de não impedir o tudo:
Quando reparas em alguma coisa,
deixas de arrojar-te ao tudo.
Porque para vir de todo ao tudo,
hás de negar-te de todo em tudo.
E quando vieres a tudo ter,
hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter alguma coisa em tudo,
não tens puramente em Deus teu tesouro.
São João da Cruz

PARLATÓRiO

Mesmo quando cada um de nós pudesse alienar-se, não poderia alienar a seus filhos: eles nascem homens e livres, a sua liberdade pertence-lhes e ninguém, senão eles, pode dispor dela. Antes de chegar à idade da razão, o pai pode, em seu nome, estipular as condições de sua conservação, do seu bem-estar. Porém, sem dá-los irrevogável e incondicionalmente, porque um dom semelhante contraria os fins da natureza e sobrepõe os limites da finalidade paternal. Seria, pois, preciso para que um governo arbitrário fosse legítimo, que, em cada geração, o povo fosse dono de aceitá-lo ou de rejeitá-lo. Porém, o governo não seria, então, arbitrário.
Jean-Jacques Rousseau

A mente verdadeiramente criativa em qualquer campo não é mais que isto: uma criatura humana nascida anormalmente, inumanamente sensível. Para ele, um toque é uma pancada, um som é um ruído, um infortúnio é uma tragédia, uma alegria é um êxtase, um amigo é um amante, um amante é um deus e o fracasso é a morte. Adicione-se a este organismo cruelmente delicado a subjugante necessidade de criar, criar, criar - de tal forma que sem a criação de música ou poesia ou literatura ou edifícios ou algo com significado, a sua respiração lhe é cortada. Ele tem que criar, deve derramar criação. Por qualquer estranha e desconhecida urgência interior, não está realmente vivo a menos que esteja criando.
Pearl S. Buck

BREVIÁRiO

Ulisseia edita Os Armários Vazios de Maria Judite de Carvalho (1921-1998).

Presença edita O Grande Gatsby (1925) de F. Scott Fitzgerald (1896-1940); tradução de José Rodrigues Miguéis. IMAG.161-303-334

Ramée edita em CD, Georg Friedrich Händel [1685-1759]: Suites de Piéces Pour le Clavecin pelo cravista Cristiano Holtz. IMAG.196-222-243-253-296

Cotovia edita Histórias de Imagens de Robert Walser (1878-1966); tradução de Pedro Sepúlveda. IMAG.200

Movieplay Classics edita em CD, As Sonatas Para Violino e Piano de Óscar da Silva (1870-1958) e Armando José Fernandes (1906-1983) por Bruno Monteiro (violino) e João Paulo Santos (piano).

Guimarães edita Principais Poemas de Edgar Allan Poe (1809-1849); introdução de Fernando Pessoa, traduções de Fernando Pessoa e Margarida Vale de Gato. IMAG.66-211-244-254

INVENTÁRiO

Júlio Resende
Júlio Resende diplomou-se em Pintura, em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi discípulo de Dórdio Gomes. Fez a sua primeira aparição pública em 1944, na I Exposição dos Independentes. Em 1948, partiu para Paris, recebendo formação de Duco de la Haix e de Otto Friez. O trabalho produzido em terras gaulesas é exposto em Portugal, em 1949, e as propostas actualizadas que Resende demonstra têm reflexo nos artistas portugueses, definindo a sua vocação de expressionista. Assimilou algum cubismo, que vai construir na sua fase alentejana, e mais tarde, no Porto, desenvolveu uma pintura caracterizada pela plasticidade e pela dinâmica, de malhas triangulares ou quadrangulares, aproximando-se de forma progressiva da não-figuração. Do geometrismo ao não-figurativismo, do gestualismo ao neofigurativo, a sua arte desenvolveu-se numa encruzilhada de pesquisas, cuja dominante será sempre expressionista e lírica. Pintor de transição entre o figurativo e o abstracto, distingue-se também como professor, trazendo à Escola do Porto um novo espírito, aos alunos que a frequentaram na década de 1960. A obra pictórica de Júlio Resende revela como percebeu a pintura europeia, pois a observou, experimentou e soube transmitir aos pintores e aos alunos que formou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Uma das suas obras mais conhecidas é «Ribeira Negra», no Porto.

VISTORiA

A
Abandonado - s. e adj. O que não tem favores para outorgar. Desprovido de sorte. Amigo da verdade e do senso comum.

Abdicação - s. Acto mediante o qual um soberano demonstra perceber a alta temperatura do trono.

Abdómen - s. Templo do deus Estômago, ao qual rendem culto e sacrifício todos os homens autênticos. As mulheres só prestam a esta antiga fé um sentimento vacilante. Por vezes, oficiam no seu altar, de modo tíbio e ineficaz, mas sem veneração real pela única deidade que os homens verdadeiramente adoram. Se a mulher manobrasse a seu gosto o mercado mundial, a nossa espécie tornar-se-ia erbívora.

Aborígenes - s. Seres de escasso mérito que entorpecem o dolo de um país recém-descoberto. Cedo, deixam de entorpecer; então, fertilizam.
Ambrose Bierce
- O Dicionário do Diabo (1906-1911 - excerto)

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

A PENA DURA EM PEITO MOLE - 9

O que havia de se fazer a uma consumição daquelas farfalhuda, porém sem aparentemente gravidade e, ainda por cima, do género feminino?
Despachá-la para a Cadeia do Aljube?
Encerrá-la no Hospital de Rilhafoles?
Ora, meia população deste transviado Reino de Portugal teria, então, que ser circunscrita ao Alentejo ou degredada em África.
Continua