PRONTUÁRiO
MOMENTOS
Em
princípios da década de ’60, no Século XX, anuncia-se uma
abertura
política em Espanha, que permitiria, finalmente, a interrupção do
exílio de Luis Buñuel (1900-1983) - que recua aos anos ’30, em
França, com a ditadura de Primo de Rivera, e que se prolongaria por
dois decénios depois, na América Latina, em pleno franquismo.
Surgiu, portanto, a oportunidade de realizar Viridiana
(1961) em Espanha, como coprodução hispano-mexicana, sendo dada luz
verde
ao projecto, mediante a aprovação oficial do argumento com
alterações de circunstância. Após El
Angel Exterminador
(1962), outra vez no México, Buñuel regressou a França, para
dirigir Diário
de Uma Criada de Quarto (1964),
adaptação do clássico de Octave Mirabeau em colaboração com
Jean-Claude Carrière, e cuja acção foi transposta para 1930…
Ciclos, circunstâncias de um cineasta surpreendente e ousado, em
quem a lucidez, a ironia e a juventude criativa sempre estiveram
patentes, entre o real e a transfiguração, tendo passado a assinar
alguns dos filmes que, definitivamente, o consagrariam em todo o
mundo.
MEMÓRiA
21AGO1891-1959
- Florencio Molina Campos: Pintor e ilustrador argentino - «O teu
estilo não pode perverter-se. Trabalha e sofre nessas imagens, que
deformas tão harmoniosamente!» (Pio Collivadino).
01MAI1852-1934
- Santiago Ramón y Cajal: Médico e histologista espanhol - «O ódio
pode ser desarmado pelo amor e acabar por esquecer; mas a inveja, às
vezes, nem à beira da sepultura se detém».
01MAI1872-1918
- Sidónio Pais: Oficial de Artilharia, professor universitário,
quarto Presidente da República - «A
chama que ardia nos corações dos revolucionários elevava-se até
aos Céus, numa inspiração de Justiça, de Verdade e de Beleza, que
os inspirava, vaga talvez na forma da realidade, mas firme e definida
na intenção mais pura de salvar a Pátria e de buscar a felicidade
do Povo» (1918). IMAG.
62-206-237
02MAI1772-1801
- Georg Philipp Friedrich von Hardenberg, aliás Novalis: Filósofo e
escritor alemão - «Só
há um templo no mundo e é o corpo humano. Nada é mais sagrado que
esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem
a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se toca um corpo
humano». IMAG.135-316
02MAI1802-1861
- Henri-Dominique Lacordaire: Dominicano francês - «Não é o
génio, nem a glória, nem o amor que medem a elevação da alma - é
a bondade». IMAG.347
02MAI1922-2004
- Serge Reggiani: Actor, cantor, escritor, pintor - nascido em
Itália, naturalizado francês em 1948 - «Combien de temps... /
Combien de temps encore / Des années, des jours, des heures, combien
? / Quand j'y pense, mon coeur bat si fort... / Mon pays c'est la
vie. / Combien de temps... Combien ?» (Le
Temps Qui Reste).
1817-06MAI1862
- Henry Thoreau: Escritor e naturalista americano - «A virtude a que
chamamos boa vontade entre os homens é, apenas, a virtude dos porcos
na pocilga - que dormem bem juntos, para se aquecerem».

07MAI1872-1944
- Piet Mondrian: Pintor holandês - «Não se faz arte para todos…
E, ao mesmo tempo, a arte é de todos».
CALENDÁRiO
02JUL-18SET2011
- Em Lisboa, Culturgest apresenta, com direcção artística de
Miguel Wandschneider, Hans
Schabus - O Espaço do Conflito,
sendo curador Pablo Fanego.
11AGO2011
- Columbia TriStar Warner estreia Os
Smurfs / The Smurfs de Raja
Gosnel; com Neil Patrick Harris e Sofía Vergara, em transposição
das aventuras em quadradinhos de Les
Schtroumpfs (1958) por
Peyo/Pierre Cuttillard. IMAG.192
18AGO2011
- Zon Lusomundo estreia Cowboys
& Aliens de Jon Favreau;
com Daniel Craig e Harrison Ford, sobre a novela gráfica concebida
por Scott Mitchell Rosenberg, escrita por Fred Van Lente e Andrew
Foley, e ilustrada por Dennis Calero e Luciano Lima, para Platinum
Studios (2006).
03SET-23OUT2011
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Tudo
o Que Acontece - 1976-2011,
exposição de pintura de Emília Nadal.
PARLATÓRiO
Senhores
Deputados e Senadores:

A
Constituição Política da República Portuguesa, com as alterações
decretadas durante a ditadura revolucionária, regula até que o
Congresso faça a sua revisão, as funções dos três poderes do
Estado: legislativo, executivo e judicial independentes e harmónicos
entre si.
Chefe
da Revolução de 5 de Dezembro sinto vivo prazer em ter podido
conduzir o país com a colaboração de todos os que tomaram parte no
movimento revolucionário e o apoiaram após oito meses de
dificuldades inúmeras e de áspera luta de todos os dias contra a
demagogia, tendo sempre assegurado a ordem e a respeito pelas
liberdades públicas e pelos direitos individuais, a uma situação
perfeitamente normalizada, em que a soberania nacional se exerce por
intermédio dos seus legítimos órgãos.
Foi
para o povo que se fez a revolução de 5 de Dezembro, segundo as
nobres aspirações dos que a levaram a efeito.
Foi
com os olhos sempre fitos no povo que governei durante o período
ditatorial.
É
para o povo que desejo de todo o coração que se continue a governar
de hora avante.
É
tão grosseiro o erro que se comete supondo a Revolução de 5 de
Dezembro reaccionária como supondo-a demagógica.
Nunca
uma verdadeira revolução, e foi-o aquela, que o povo português na
sua quase unanimidade consagrou, pode deixar de ser guiada por uma
ideia de progresso.
Pela
parte que me toca, só quem desconhece o meu passado e ignora a
persistência do meu carácter, pode apodar-me de reaccionário. Tão
pouco poderia associar-me a uma obra improgressiva.
Fui
sempre e sou republicano; por isso procurei manter e consolidar a
República.
Atravessava-se,
na época em que começou a organização revolucionária, um período
crítico em que os desmandos e a corrupção do poder perturbavam as
consciências.
Em
cada peito se gerava um fundo ressentimento de revolta. Era mister
canalizar essas forças desorientadas, para evitar a anarquia
evidente. Ou se fazia a coordenação dessas energias dispersas ou
viria o caos. Não só a pátria estava em perigo. Se elementos
republicanos não encarnassem em si as aspirações do país a
revolução poderia vir a apresentar a forma duma restauração
monárquica. Era mister actuar rapidamente.
Sidónio
Pais
-
Mensagem ao Parlamento
-
22JUN1918 - Abertura do Congresso da República (excerto)
VISTORiA

E
eu volto-me para a Noite misteriosa, sagrada e indescritível. Ao
longe repousa o mundo, em sepulcro profundo; um lugar solitário e
arruinado. Nas cordas do peito golpeia uma tristeza profunda. Estou
pronto para mergulhar nas gotas do orvalho, e misturar-me com as
cinzas. A distância da memória, os desejos da juventude, os sonhos
da infância, as breves alegrias e aspirações vãs de uma vida
longa, surgem com uma veste acinzentada, como o vapor da tarde antes
do pôr-do-sol. Em outras plagas, a luz assentou as suas tendas
felizes: e se eu nunca mais regressar para as suas crianças, que me
esperam com a fé da inocência?
O
que renova todos os pressentimentos do meu coração, e acalma o ar
suave da tristeza? Negra Noite, não terás uma afinidade connosco?
O
que seguras sob teu manto, cujos poderes ocultos afectam a minh’alma?
O bálsamo precioso goteja do ramo de papoilas, em tuas mãos. Tu
retiras os cravos de aço da alma. De modo obscuro e indescritível,
somos tocados: estarrecido de prazer, contemplo a face grave que,
suavemente e em prece, se inclina sobre mim, e, em meio a olhares
confusos, revela o amor jovial da Mãe. Como a luz parece agora algo
pobre e infantil! Como é agradável e bem-vinda a partida do dia!
Não
é apenas porque a noite arrebata de ti os seus servos, e lança aos
abismos do espaço os teus globos cintilantes, que proclamas, nos
momentos de ausência, a sua omnipotência, e desejas o seu retorno?
Temos
olhos que a noite abriu em nosso interior, mais divinos que aquelas
estrelas brilhantes. A sua visão alcança além dos incontáveis
hóspedes mais pálidos da noite. Sem auxílio da luz, eles penetram
as profundezas que abrangem as regiões elevadas com inefável
delícia. Glória à rainha do mundo, à grande profetisa dos mundos
mais sagrados, à mãe cuidadosa do delicioso amor! Ela mandou-te a
mim, tu a mais suavemente amada, sol gracioso da Noite. Agora
desperto, pois sou teu e meu. Fizeste-me conhecer a Noite,
entregaste-a a mim para que se tornasse minha vida; tu fizeste de mim
um homem. Consumas o meu corpo com o ardor da minh’alma, de modo a
que eu, tornado ar purificado, possa misturar-me completamente
contigo, e assim, a nossa noite de núpcias durará eternamente.
Novalis
-
Hinos Para a Noite I
(excerto)
BREVIÁRiO
Universal
edita em DVD, Diário de Uma
Criada de Quarto / Le Journal d'Une Femme de Chambre
(1964), A Bela de Dia / Belle
de Jour (1967), O
Fantasma da Liberdade / Le Fantôme de la Liberté (1974)
e Este Obscuro Objecto do
Desejo / Cet Obscur Objet du Désir (1977)
de Luis Buñuel. IMAG.172-263-314
Assírio
& Alvim edita Vidas
Imaginárias de Marcel Schwob
(1867-1905); tradução e apresentação de Aníbal Fernandes.
Murecords
edita em CD, sob chancela Arte das Musas, Vento
por Sete Lágrimas.
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