quinta-feira, setembro 14, 2017

IMAGINÁRiO #369

José de Matos-Cruz | 01 Maio 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

MOMENTOS
Em princípios da década de ’60, no Século XX, anuncia-se uma abertura política em Espanha, que permitiria, finalmente, a interrupção do exílio de Luis Buñuel (1900-1983) - que recua aos anos ’30, em França, com a ditadura de Primo de Rivera, e que se prolongaria por dois decénios depois, na América Latina, em pleno franquismo. Surgiu, portanto, a oportunidade de realizar Viridiana (1961) em Espanha, como coprodução hispano-mexicana, sendo dada luz verde ao projecto, mediante a aprovação oficial do argumento com alterações de circunstância. Após El Angel Exterminador (1962), outra vez no México, Buñuel regressou a França, para dirigir Diário de Uma Criada de Quarto (1964), adaptação do clássico de Octave Mirabeau em colaboração com Jean-Claude Carrière, e cuja acção foi transposta para 1930… Ciclos, circunstâncias de um cineasta surpreendente e ousado, em quem a lucidez, a ironia e a juventude criativa sempre estiveram patentes, entre o real e a transfiguração, tendo passado a assinar alguns dos filmes que, definitivamente, o consagrariam em todo o mundo.

MEMÓRiA

21AGO1891-1959 - Florencio Molina Campos: Pintor e ilustrador argentino - «O teu estilo não pode perverter-se. Trabalha e sofre nessas imagens, que deformas tão harmoniosamente!» (Pio Collivadino).

01MAI1852-1934 - Santiago Ramón y Cajal: Médico e histologista espanhol - «O ódio pode ser desarmado pelo amor e acabar por esquecer; mas a inveja, às vezes, nem à beira da sepultura se detém».

01MAI1872-1918 - Sidónio Pais: Oficial de Artilharia, professor universitário, quarto Presidente da República - «A chama que ardia nos corações dos revolucionários elevava-se até aos Céus, numa inspiração de Justiça, de Verdade e de Beleza, que os inspirava, vaga talvez na forma da realidade, mas firme e definida na intenção mais pura de salvar a Pátria e de buscar a felicidade do Povo» (1918). IMAG. 62-206-237

02MAI1772-1801 - Georg Philipp Friedrich von Hardenberg, aliás Novalis: Filósofo e escritor alemão - «Só há um templo no mundo e é o corpo humano. Nada é mais sagrado que esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se toca um corpo humano». IMAG.135-316

02MAI1802-1861 - Henri-Dominique Lacordaire: Dominicano francês - «Não é o génio, nem a glória, nem o amor que medem a elevação da alma - é a bondade». IMAG.347

02MAI1922-2004 - Serge Reggiani: Actor, cantor, escritor, pintor - nascido em Itália, naturalizado francês em 1948 - «Combien de temps... / Combien de temps encore / Des années, des jours, des heures, combien ? / Quand j'y pense, mon coeur bat si fort... / Mon pays c'est la vie. / Combien de temps... Combien ?» (Le Temps Qui Reste).

1817-06MAI1862 - Henry Thoreau: Escritor e naturalista americano - «A virtude a que chamamos boa vontade entre os homens é, apenas, a virtude dos porcos na pocilga - que dormem bem juntos, para se aquecerem».

1901-06MAI1992 - Maria Magdalene Von Bosch, aliás Marlene Dietrich: Actriz alemã - «Dormir a sós é muito solitário, as crianças que o digam. Sempre que possível, mais vale dormir com alguém que amamos. Juntos, recarregaremos mutuamente as baterias, e sem custos». IMAG.254-352

07MAI1872-1944 - Piet Mondrian: Pintor holandês - «Não se faz arte para todos… E, ao mesmo tempo, a arte é de todos».

CALENDÁRiO

02JUL-18SET2011 - Em Lisboa, Culturgest apresenta, com direcção artística de Miguel Wandschneider, Hans Schabus - O Espaço do Conflito, sendo curador Pablo Fanego.

11AGO2011 - Columbia TriStar Warner estreia Os Smurfs / The Smurfs de Raja Gosnel; com Neil Patrick Harris e Sofía Vergara, em transposição das aventuras em quadradinhos de Les Schtroumpfs (1958) por Peyo/Pierre Cuttillard. IMAG.192

18AGO2011 - Zon Lusomundo estreia Cowboys & Aliens de Jon Favreau; com Daniel Craig e Harrison Ford, sobre a novela gráfica concebida por Scott Mitchell Rosenberg, escrita por Fred Van Lente e Andrew Foley, e ilustrada por Dennis Calero e Luciano Lima, para Platinum Studios (2006).

03SET-23OUT2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Tudo o Que Acontece - 1976-2011, exposição de pintura de Emília Nadal.

PARLATÓRiO

Senhores Deputados e Senadores:
Eleito e proclamado o Presidente da República e constituído o Congresso, entra o país em plena normalidade constitucional.
A Constituição Política da República Portuguesa, com as alterações decretadas durante a ditadura revolucionária, regula até que o Congresso faça a sua revisão, as funções dos três poderes do Estado: legislativo, executivo e judicial independentes e harmónicos entre si.
Chefe da Revolução de 5 de Dezembro sinto vivo prazer em ter podido conduzir o país com a colaboração de todos os que tomaram parte no movimento revolucionário e o apoiaram após oito meses de dificuldades inúmeras e de áspera luta de todos os dias contra a demagogia, tendo sempre assegurado a ordem e a respeito pelas liberdades públicas e pelos direitos individuais, a uma situação perfeitamente normalizada, em que a soberania nacional se exerce por intermédio dos seus legítimos órgãos.
Foi para o povo que se fez a revolução de 5 de Dezembro, segundo as nobres aspirações dos que a levaram a efeito.
Foi com os olhos sempre fitos no povo que governei durante o período ditatorial.
É para o povo que desejo de todo o coração que se continue a governar de hora avante.
É tão grosseiro o erro que se comete supondo a Revolução de 5 de Dezembro reaccionária como supondo-a demagógica.
Nunca uma verdadeira revolução, e foi-o aquela, que o povo português na sua quase unanimidade consagrou, pode deixar de ser guiada por uma ideia de progresso.
Pela parte que me toca, só quem desconhece o meu passado e ignora a persistência do meu carácter, pode apodar-me de reaccionário. Tão pouco poderia associar-me a uma obra improgressiva.
Fui sempre e sou republicano; por isso procurei manter e consolidar a República.
Atravessava-se, na época em que começou a organização revolucionária, um período crítico em que os desmandos e a corrupção do poder perturbavam as consciências.
Em cada peito se gerava um fundo ressentimento de revolta. Era mister canalizar essas forças desorientadas, para evitar a anarquia evidente. Ou se fazia a coordenação dessas energias dispersas ou viria o caos. Não só a pátria estava em perigo. Se elementos republicanos não encarnassem em si as aspirações do país a revolução poderia vir a apresentar a forma duma restauração monárquica. Era mister actuar rapidamente.
Sidónio Pais
- Mensagem ao Parlamento
- 22JUN1918 - Abertura do Congresso da República (excerto)

VISTORiA

Diante do espectáculo maravilhoso do espaço aberto à sua volta, que existência viva, sensível, não ama a deliciosa luz, com as suas cores, raios e ondulações, a sua omnipresença gentil na forma do alvorecer? O mundo gigantesco das constelações despertas inala o dia como a mais profunda alma da vida, e flutua dançando em sua torrente azulada; inalam-no a pedra tranquilamente faiscante, a meditativa planta, o mundo selvagem, ardente e multiforme dos animais; porém, mais ainda, o nobre estrangeiro com olhos brilhantes, andar altivo, lábios melodiosos e cerrados. Como um rei que comanda a natureza mundana, ele invoca os poderes para transformações incontáveis, ata e desata inúmeras alianças, sustenta sob a forma celestial cada substância terrena. A sua presença por si só revela o esplendor maravilhoso dos reinos do mundo. 
E eu volto-me para a Noite misteriosa, sagrada e indescritível. Ao longe repousa o mundo, em sepulcro profundo; um lugar solitário e arruinado. Nas cordas do peito golpeia uma tristeza profunda. Estou pronto para mergulhar nas gotas do orvalho, e misturar-me com as cinzas. A distância da memória, os desejos da juventude, os sonhos da infância, as breves alegrias e aspirações vãs de uma vida longa, surgem com uma veste acinzentada, como o vapor da tarde antes do pôr-do-sol. Em outras plagas, a luz assentou as suas tendas felizes: e se eu nunca mais regressar para as suas crianças, que me esperam com a fé da inocência?
O que renova todos os pressentimentos do meu coração, e acalma o ar suave da tristeza? Negra Noite, não terás uma afinidade connosco?
O que seguras sob teu manto, cujos poderes ocultos afectam a minh’alma? O bálsamo precioso goteja do ramo de papoilas, em tuas mãos. Tu retiras os cravos de aço da alma. De modo obscuro e indescritível, somos tocados: estarrecido de prazer, contemplo a face grave que, suavemente e em prece, se inclina sobre mim, e, em meio a olhares confusos, revela o amor jovial da Mãe. Como a luz parece agora algo pobre e infantil! Como é agradável e bem-vinda a partida do dia!
Não é apenas porque a noite arrebata de ti os seus servos, e lança aos abismos do espaço os teus globos cintilantes, que proclamas, nos momentos de ausência, a sua omnipotência, e desejas o seu retorno?
Temos olhos que a noite abriu em nosso interior, mais divinos que aquelas estrelas brilhantes. A sua visão alcança além dos incontáveis hóspedes mais pálidos da noite. Sem auxílio da luz, eles penetram as profundezas que abrangem as regiões elevadas com inefável delícia. Glória à rainha do mundo, à grande profetisa dos mundos mais sagrados, à mãe cuidadosa do delicioso amor! Ela mandou-te a mim, tu a mais suavemente amada, sol gracioso da Noite. Agora desperto, pois sou teu e meu. Fizeste-me conhecer a Noite, entregaste-a a mim para que se tornasse minha vida; tu fizeste de mim um homem. Consumas o meu corpo com o ardor da minh’alma, de modo a que eu, tornado ar purificado, possa misturar-me completamente contigo, e assim, a nossa noite de núpcias durará eternamente.
Novalis
- Hinos Para a Noite I (excerto)

BREVIÁRiO

Universal edita em DVD, Diário de Uma Criada de Quarto / Le Journal d'Une Femme de Chambre (1964), A Bela de Dia / Belle de Jour (1967), O Fantasma da Liberdade / Le Fantôme de la Liberté (1974) e Este Obscuro Objecto do Desejo / Cet Obscur Objet du Désir (1977) de Luis Buñuel. IMAG.172-263-314

Assírio & Alvim edita Vidas Imaginárias de Marcel Schwob (1867-1905); tradução e apresentação de Aníbal Fernandes.

Murecords edita em CD, sob chancela Arte das Musas, Vento por Sete Lágrimas.

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