sábado, setembro 09, 2017

IMAGINÁRiO #367

José de Matos-Cruz | 16 Abril 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

SINGULARIDADES
Um dos mais fascinantes, prolíficos e singulares autores portugueses de banda desenhada, Fernando Bento (1910-1996) tem a sua vasta obra testemunhada, referenciada, ilustrada e analisada por João Paulo Paiva Boléo, em edição do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem/CNBDI, nos cadernos NonArte, com a chancela da Câmara Municipal da Amadora. E Tudo Fernando Bento Sonhou evoca e consagra o talento autodidacta, a sensibilidade gráfica, o estilo único de um criador versátil, estimulante, repartido ainda por diversos meios de expressão, mas sempre peculiar e inconfundível. Segundo Paiva Boléo, «alto, boa figura, delicado e cativante, algo aquilino, tímido e observador, discreto mas não passando despercebido, Fernando Bento é um homem de muitos sonhos e muitos segredos. Ou dito de outra forma: um homem que muito fez sonhar sem verdadeiramente se saber se sonhou mais para os outros do que para si próprio, se concretizou os seus sonhos mais profundos de artista». IMAG.257-299-307-328

VISTORiA

A Um Poeta

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
Antero de Quental

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria

CALENDÁRiO

11JUN1921-25JUL2011 - Mihalis Kakogiannis, aliás Michael Cacoyannis: Cineasta cipriota, realizador de Zorba, o Grego (1964) - «As personagens ganham vida através dos diálogos, e é isso que transparece para o ecrã… Os estúdios americanos tentaram aliciar-me com insistência, mas eu soube sempre resistir. Não me interessava ir a qualquer preço - só se fosse para fazer o que sei, e não para receber ordens. Mas, eu não era a única excepção, na Europa. E, depois, havia Fellini e Bergman - que não se deixariam envolver por Hollywood, a qualquer preço».

21OUT-06NOV2011 - Na Amadora, decorre 22º Festival Internacional de Banda Desenhada - Amadora Bd 2001, tendo por tema central o Humor.

VISTORiA

Ninguém pode admirar-se de que haja ainda tantos pontos obscuros relativamente à origem das espécies e das variedades, se reflectirmos na nossa profunda ignorância sobre tudo o que se prende com as relações recíprocas dos inúmeros seres que vivem em redor de nós. Quem pode dizer a razão por que tal espécie é mais numerosa e mais espalhada, quando outra espécie vizinha é muito rara e tem um habitat muito restrito? Estas relações têm, contudo, a mais alta importância, porque é delas que dependem a prosperidade actual e, creio firmemente, os futuros progressos e a modificação de todos os habitantes da Terra. Conhecemos ainda bem pouco das relações recíprocas dos inúmeros habitantes da Terra durante os longos períodos geológicos passados.
Ora, posto que numerosos pontos sejam ainda muito obscuros, se bem que devem ficar, sem dúvida, inexplicáveis por bastante tempo ainda, vejo-me, contudo, após os estudos mais profundos e uma apreciação fria e imparcial, forçado a sustentar que a opinião defendida até há pouco pela maior parte dos naturalistas, opinião que eu próprio partilhei, isto é, que cada espécie foi objecto de uma criação independente, é absolutamente errónea. Estou plenamente convencido que as espécies não são imutáveis; estou convencido que as espécies que pertencem ao que chamamos o mesmo género derivam directamente de qualquer outra espécie ordinariamente distinta, do mesmo modo que as variedades reconhecidas de uma espécie, seja qual for, derivam directamente desta espécie; estou convencido, enfim, que a selecção natural tem desempenhado o principal papel na modificação das espécies, posto que outros agentes tenham nela partilhado igualmente.
Charles Darwin
- A Origem das Espécies (1859, excerto)

MEMÓRiA

1908-17ABR1992 - Olivier Messiaen: Compositor e organista, autor original e vanguardista, distinguido com o Prémio Internacional Paulo VI (1989) - «Sou um francês das montanhas, tal como Berliotz». IMAG.213-228-235-282-304

18ABR1842-1891 - Antero de Quental: «Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira: / Se um momento a prendeu mortal beleza, / É pela eterna pátria que suspira...» (Aspiração - excerto). IMAG.59-147-161-187-214-263-293-338

1929-18ABR2002 - Herlander Peyroteo: Realizador de televisão e cinema português, encenador teatral - «Prefiro um bom texto teatral a um mau guião fílmico ou televisivo. Mas, porque será que alguns do cinema me querem confinar ao vídeo?». IMAG.239

1936-18ABR2002 - Álvaro Guerra: Escritor, jornalista e diplomata português - «E espreita-nos no denso bosque de acácias disfarçadas de subúrbio ou de carruagem de metro, fora de horas, de seringa em punho, a pedir contas» (No Jardim das Paixões Extintas - 2002).

1809-19ABR1882 - Charles Darwin: «Quando entre indivíduos, evidentemente expostos às mesmas condições, qualquer desvio muito raro, devido a algum concurso extraordinário de circunstâncias, aparece num só indivíduo, em meio de milhões de outros que não são afectados, e vemos aparecer este desvio no descendente, a simples teoria das probabilidades força-nos quase a atribuir esta aparição à hereditariedade». 
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1847-20ABR1912 - Bram Stoker: Romancista irlandês, autor de Drácula (1897) - «Ah, abençoadas são certas pessoas, que vivem sem receios, sem ameaças, para quem dormir é uma bênção que chega com a noite, e traz consigo apenas sonhos ternos!». IMAG.27-35-157-208-213-221

20ABR1932-2010 - Rosa Lobato de Faria: «Com imaginação nunca estamos sozinhos. / A imaginação é um voo, um lugar / onde temos amigos, onde há outros caminhos / nos quais, sem te mexeres, podes ir passear» (Imaginação - excerto). IMAG.256-288

1746-21ABR1792 - Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes: Activista político do Brasil colonial, mártir da Inconfidência Mineira - Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença.

BREVIÁRiO

Casa das Letras edita Citações e Pensamentos de Florbela Espanca (1894-1930); organização de Paulo Neves da Silva. IMAG.17-80-151-243-284-302

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Cesar Franck [1822-1890], [Edvard] Grieg [1843-1907], [Leos] Janácek [1854-1928]: Violin Sonatas pelo violinista Vadim Repin com o pianista Nikolai Lugansky. IMAG.163-207

ANTIQUÁRiO

23ABR1992 - Em Itália, José Cardoso Pires (1925-1998) é distinguido com o Astrolábio de Ouro, Premio Internazionale Ultimo, pelo conjunto da sua obra literária. IMAG.53-200-226-227-314-366

TRAJECTÓRiA

Bram Stoker e Drácula
Romancista irlandês, Abraham Stoker (1947-1912) notabilizou-se sobretudo pela novela de horror Drácula publicada em 1897. Natural de Dublim, viveu os primeiros oito anos recluso no seu quarto por motivo de doença, tendo esse período em que viveu com a imaginação povoada de histórias que a sua mãe lhe contava influenciado o seu futuro como escritor. Foi um pesadelo que lhe deu a visão da personagem que se imortalizaria como o Conde Drácula. Para lhe dar vida, fez abundantes pesquisas no Museu Britânico, inspirando-se na existência real de Vlad Tepes, mas também na da sanguinária Condessa Elizabeth Bathory. 30MAI2009 - Diário de Notícias

Rosa Lobato de Faria e as Letras
Nasceu em Lisboa, em Abril de 1932. Poeta e romancista, o essencial da sua poesia foi reunido no volume Poemas Escolhidos e Dispersos (1997). Em 1999, na Asa, publicou A Gaveta de Baixo, um longo poema inédito acompanhado por aguarelas do pintor Oliveira Tavares. O seu primeiro romance, O Pranto de Lúcifer, veio a público em 1995. Seguiram-se Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camilla S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (1999) e A Trança de Inês (2001), até As Esquinas do Tempo (2008).
 

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