sábado, janeiro 06, 2018

IMAGINÁRiO #434

José de Matos-Cruz | 08 Setembro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS
Talentoso e peculiar criador da escola franco-belga, homenageado pelo Festival de Angoulême em 1999, François Boucq voltou à cumplicidade do chileno Alexandro Jodorowsky - celebrada com Face da Lua - O Domador de Ondas - sob chancela das Edições Asa, com Bouncer em sexto e sétimo tomo, respectivamente A Viúva Negra e Coração Dividido. Em causa original, um grupo de mercenários sulistas que, tendo-se recusado à rendição, no crepúsculo da Guerra da Secessão na América, busca uma jóia prodigiosa…
À tensão empolgante e violenta cominação, dramatizada por Jodorowsky ao ritualizar o desígnio humano, Boucq confere um grafismo estigmatizado e persistente, na expansão do imaginário lúdico e aventuroso. Para o versátil autor, «a banda desenhada é uma escrita original, incomparável, ilimitada, inclassificável, insolente, que não tem contas a prestar a qualquer outro meio de expressão. A sua nobreza, herdou-a da arte de contar e das imagens da Idade Média». IMAG.3-64-221

CALENDÁRiO

26OUT2012-27JAN2013 - Na Galeria de Exposições Temporárias, Fundação Calouste Gulbenkian apresenta As Idades do Mar, em seis secções distintas - A Idade dos Mitos, A Idade do Poder, A Idade do Trabalho, A Idade das Tormentas, A Idade Efémera e A Idade Infinita; mostra de cento e nove obras representativas da pintura ocidental, realizadas entre os Séculos XVI e XX, por artistas como Van Goyen, Lorrain, Turner, Constable, Friedrich, Courbet, Boudin, Manet, Monet, Signac, Fattori, Sorolla, Klee, De Chirico e Hooper, ou os portugueses Henrique Pousão, Amadeo de Souza-Cardoso, João Vaz, Maria Helena Vieira da Silva e Menez.

08NOV2012 - ZON Audiovisuais estreia Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus de Francisco Manso e João Correa; com Victor Norte e Leonor Seixas. IMAG.150-198-253-326
26NOV2012 - António de Macedo, António da Cunha Telles e Isabel Ruth são distinguidos com o Prémio Sophia/Carreira, pela Academia Portuguesa de Artes e Ciências Cinematográficas.
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MEMÓRiA

1902-08SET2003 - Leni Riefenstahl: Fotógrafa e cineasta germânica - «Sinto-me fascinada por tudo o que é belo, forte, saudável, por tudo o que está vivo. O meu objectivo é a harmonia». IMAG.383

09SET1903-2009 - Edward Upward: Escritor britânico, membro da Geração de Oxbridge dos anos de ‘1930 - «Aquele cuja vida mais se manteve fiel aos seus princípios e ideais» (Stephen Spender). IMAG.238

09SET1923-2011 - David Rayfiel: Argumentista do cinema americano, colaborador habitual de Sydney Pollack e Robert Redford - «É um escritor de subentendidos - se pretende revelar algo sobre uma personagem, fá-la falar ou, então, leva outras personagens a dizer algo sobre ela» (Sydney Pollack - 1985). IMAG.364

09SET1923-2011 - Cliff Robertson: Actor americano de teatro e cinema, distinguido com o Oscar como intérprete de Charly (1968) - «Não tenho uma profissão propriamente estável… É como tentar subir para uma canoa, com as calças em baixo». IMAG.374

1668-11SET1733 - François Couperin: Compositor, organista e cravista francês - «Era o músico poeta par excellence… Acreditava na habilidade de a Música (com M maiúsculo) se expressar em sa prose et ses vers» (Jordi Savall). IMAG.202-340

14SET1983-2011 - Amy Winehouse: Cantora pop inglesa - «Eu já morri centenas de vezes… As lembranças magoam a minha mente… Digo adeus só com palavras». IMAG.366

15SET1613-1680 - François, Duque de La Rochefoucauld: Pensador e memorialista francês - «Aqueles que se dedicam demasiado às pequenas coisas, tornam-se normalmente incapazes de realizar as grandes… / Prometemos conforme as nossas esperanças, e cumprimos segundo os nossos receios». IMAG.42-267-377

TRAJECTÓRiA

Leni Riefenstahl

Nascida em Berlim, a 22 de Agosto de 1902, Bertha Helene Amalie Riefenstahl queria ser bailarina, mas desiste após uma queda em palco. Conhece Arnold Franck, realizador de filmes de montanha, e protagoniza vários deles. Em 1932, assina o primeiro filme, A Luz Azul. Hitler, seu admirador, insta-a a filmar o congresso do Partido Nacional-Socialista em Nuremberga, em 1934. É O Triunfo da Vontade (1935). Segue-se Os Deuses do Estádio (1938), sobre as Olimpíadas de Munique de 1936, premiado mundialmente. Após a derrota alemã na II Guerra Mundial, Riefenstahl sofre várias humilhações mas acaba desnazificada. Completa o inacabado Tiefland (1954). Fotografa os Nuba no Sudão e dedica-lhes dois livros. Tira aulas de mergulho nos anos 70. Delas resultam mais livros e o documentário Impressões Submarinas (2002).
22AGO2002 - Diário de Notícias

INVENTÁRiO

O PRIMO BASÍLIO

Em 1922, George Pallu realizou, para a Invicta Film, o drama cinegráfico O Primo Basílio, baseado no romance de Eça de Queiroz. Tudo gira, como se sabe, em volta dum adultério incómodo – entre Luísa, uma dama (bem) casada com Jorge, mas suspirante; e Basílio, um parente cosmopolita, leviano, que chega do estrangeiro… No contrato celebrado com os livreiros Lello & Irmão, estava prevista a venda da fita para o Brasil, estipulando-se quanto aos termos ficcionais e económicos: a Invicta podia «introduzir, modificar ou suprimir qualquer assunto», «segundo as exigências do cinematógrafo, desde que não fiquem alteradas as linhas gerais», «ou suprimidos os principais personagens»; a cessão foi feita «pela quantia de dois cêntimos em moeda francesa ao câmbio do dia, por metro de cada positivo vendido», «depois de deduzida a metragem dos títulos». Reproduzindo com bastante fidelidade os tipos característicos, bem como o clima fútil e a tensão expiadora, na obra literária, Pallu – também autor do argumento – não consegue, todavia, transmitir a toada sibilina, nem a feroz insolência sobre os costumes mesquinhos e a medíocre moral da época. Mesmo assim, um tema tão ousado e a sugerida escabrosidade levantaram significativa onda de protestos. Já a Invicta Cine – reconhecendo a «grande irreverência» de Eça – criticou os «delambidos púrrios, grotesca personificação da honestidade, que andam a ejacular a sua estupidez…» A estreia comercial do filme esteve em risco, acabando por ocorrer – com distribuição Castello Lopes – em Lisboa (Condes), a 16 de Março; e no Porto (Jardim Passos Manuel), a 27 de Março de 1923. A fotografia de Maurice Laumann é sóbria mas envolvente, filtrando a mecânica do conflito (assédio, infidelidade, chantagem) através da transparência cénica (humilhação, doença, morte). O papel de Basílio, interpretado por um Robles Monteiro corpulento e bonacheirão, raro sugere o insinuante sedutor que implicaria a trama sentimental, bem servida por uma Amélia Rey Colaço na figura vulnerável e patética de Luísa. Arrebatador é, no entanto, o desempenho da notável Ângela Pinto, como Juliana, na sua única aparição em cinema: cria com o espectador uma distanciação ambígua que, no entanto, gera a cumplicidade, proferindo apartes em direcção à câmara… Ainda no elenco, destacam-se Raul de Carvalho (Jorge), António Pinheiro (Conselheiro Acácio) e Arthur Duarte (Ernestinho). A pouco característica definição de situações, no acercamento desse estrato classista e pretensioso, algo parasitário em seus rituais de dissolução, para além das aparências morais, é contrabalançada pela dinâmica narrativa – assente numa montagem equilibrada, com recurso frequente a sequências paralelas.


DOMINGO À TARDE

Arquitecto de formação, logo António de Macedo marcou a sua diferença, em 1965, com Domingo à Tarde - sobre o romance de Fernando Namora, em que imprimiria os requisitos profissionais de um espectáculo comercial. Por tal se ajuizou «marcar uma etapa de continuidade no cinema novo» (em Mundo Desportivo), suscitando apreço parcial da crítica e relativa adesão do público, além de larga controvérsia. Uma temática forte, acentuada pelo tratamento formal, definiu a expressão de autor - por olhares, silêncios, a (im)passibilidade dos desempenhos, tédio sobre o tumulto da própria existência. Em causa, um médico desencantado, que tenta salvar uma doente por quem se apaixonou, vítima de leucemia... O artificial conflito romântico, quanto aos dilemas entre amor e morte, tem uma figuração estética por Ruy de Carvalho, Isabel de Castro e Isabel Ruth. Macedo reivindicaria uma leitura «aos níveis psicológico e ontológico» - para um projecto que surgiu como segunda oportunidade, a partir da relação travada com Namora pelo início dos anos ‘60. Este convidou-o a adaptar A Noite e a Madrugada, cuja realização outrem faria; tal hipótese frustrou-se, mas consolidou os laços «de estima e respeito mútuos», propiciando Domingo à Tarde - cuja produção, orçamentada em 800 contos, coube a António da Cunha Telles, que só viu a fita já concluída. Alarmou-se, julgando ter levado longe demais «a coragem de permitir a Macedo uma experiência diferente» - como um lance a cores, durante transfusão de sangue; ou um filme-dentro-do-filme, de simbologia sobrenatural... Com estreia no Império, em 13 de Abril de 1966, Domingo à Tarde - seleccionado entre 300 concorrentes, para o Festival de Veneza em 1965 - mereceu um Diploma de Mérito, sendo ainda distinguido com o Prémio da Casa da Imprensa em 1965.

ANTIQUÁRiO

16MAR1923 - No Condes, Castello Lopes estreia O Primo Basílio de Georges Pallu (1869-1948); sobre o romanesco de Eça de Queiroz (1845-1900), com Amélia Rey Colaço e Raul de Carvalho.
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BREVIÁRiO

Universal edita em CD, Carlos do Carmo ao Vivo Nas Salas Míticas. IMAG.166-314

Bertrand edita Cosa Nostra - Um Século de História da Máfia de Eric Fratini; tradução de Pedro Carvalho. IMAG.210

Eter edita em CD, sob chancela d’Euridice, Avis Rara por Gaiteiros de Lisboa. IMAG.112

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