PRONTUÁRiO
TRANSFIGURAÇÕES
No
esplendoroso imaginário em quadradinhos europeus, François Schuiten
é um criador arrojado e estimulante, pelas incursões entre a
realidade e o fantástico, a actualidade irradiante entre o passado e
o futuro. A sensualidade gráfica e o estilo prodigioso patenteiam um
rasgo visionário - assim testemunhado em 12
- A Doce,
sob chancela Asa. Fábula civilizacional, sobre o paroxismo
tecnológico e o desenlace humano, e a sagração de uma locomotiva a
vapor com o número de registo 12.004, na longa cumplicidade com o
seu maquinista, Léon, em destino e desafio sob o advento de outros
tempos, ao progresso dos transportes eléctricos. Toldando a vertigem
de tal vivência magnífica e vibrante, inquietude e nostalgia
expandem - afinal - a voragem caprichosa de uma viagem onírica e
resgatadora… Uma arquitectura exuberante, sublimada pela
transfiguração a preto e branco, eis a arte de François Schuiten -
em manifesta revelação: «A dinâmica narrativa é fundamental na
banda desenhada. Eu não sou propriamente um especialista em
cartazes, ou um pintor. De qualquer modo, numa só imagem, o que me
interessa são as suas potencialidades essenciais: em cada uma existe
uma multiplicidade de histórias possíveis. Por outro lado, cada
história pode, virtualmente, contar-se através de grande variedade
de imagens - em grafismo, estilo ou estética».
IMAG.215-248-269-400
CALENDÁRiO
13DEZ2012-17FEV2013
- Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe A
Fonte das Palavras de Maria
João Worm. Sendo curadora Ana Ruivo, o projecto teve como ponto de
partida o contexto editorial ficcionado que a artista vem
desenvolvendo no seu trabalho, através do qual cria quadros
biográficos diversos, e dá corpo a escritores e tradutores pela
apresentação dos seus trabalhos. Na segunda parte do percurso, um
conjunto de matrizes de gravuras realizadas para ilustrarem textos da
escritora Dulce Maria Cardoso.
Galardoada
com o Prémio Nacional de Ilustração 2011, Maria João Worm
transporta a cada projecto a poética das histórias e das memórias
individuais para um quotidiano desassossegado de questionamento
identitário de se ser humano, fazendo da imagem e da palavra, do
desenho, da gravura, dos objectos, as suas formas de pensar e contar.
IMAG.289-301-325-359-386-409-416-430
MEMÓRiA
1894-22NOV1963
- Aldous Huxley: Escritor inglês - «O
trabalho não é mais respeitável que o álcool, e serve
precisamente para o mesmo fim: distrair o espírito e fazer com que o
homem se esqueça de si próprio».
IMAG.71-165-332
24NOV1713-1768
- Laurence Sterne: Escritor irlandês - «Tenho certeza de possuir
uma alma, e todos os livros com os quais os materialistas enfadaram o
mundo não me convencem do contrário».
1888-27NOV1953
- Eugene O’Neill: Escritor e dramaturgo americano, distinguido com
o Prémio Nobel da Literatura (1936) - «Acreditar no senso comum, é
a primeira demonstração da falta de senso comum». IMAG.199
1567-29NOV1643
- Claudio Monteverdi: Compositor italiano, maestro e cantor - «O
texto deve ser o senhor e não o servo da música».
IMAG.134-211-265-279
1879-30NOV1953
- François Marie Martinez Picabia, aliás Francis Picabia: Escritor,
pintor, designer
e ilustrador francês, influenciado pelo cubismo, o impressionismo, o
dadaísmo e o surrealismo - «Não pinto o que meus olhos vêem.
Pinto o que vê o meu espírito, ou a minha alma».
COMENTÁRiO
Anarquismo
Na Vida e Obra de Eugene O’Neill
Um
estudo sistemático das actividades anarquistas do grande dramaturgo
ainda não foi empreendido, que eu saiba, porém existem muitos
ensaios sobre ele e os dados colhidos permitem estabelecer uma
trajectória, se não completa, pelo menos suficiente.
A
mais pormenorizada das biografias interessantes para o nosso assunto
é sem dúvida a do casal Arthur e Barbara Gelb, que chega quase a
mil páginas, mas há também duas obras de Louis Sheaffer que
oferecem uma grande quantidade de informação. Descobre-se, assim,
que um dos primeiros contactos que O’Neill teve com anarquistas
data de 1907, quando conheceu Benjamin Tucker e começou a frequentar
a livraria dele em Nova Iorque: The Unique Bookshop, situada na Sexta
Avenida. Eugene não tinha ainda vinte anos, enquanto o pensador e
escritor anarquista alcançara já os cinquenta, com mais de trinta
anos de experiências como propagandista, redactor de periódicos,
autor de ensaios. Foi através do Tucker que O’Neill travou
conhecimento com a obra de Bacunin e Kropotkin, Proudhon e Tolstoi,
Stirner e Nietzsche. Definiu-se então «anarquista filosófico»,
uma etiqueta pouco usada em outros países, mas que se tornou comum
nos Estados Unidos e que equivale – ainda hoje – a «anarquista
não-violento». Distinção necessária, pois a opinião pública
tende a misturar anarquismo e terrorismo. Para bem da verdade, cabe
reconhecer que naquela época a associação com Czolgosz (que tinha
matado um Presidente) e Berkman (que atirara contra um capitalista
inflexível e cruel contra operários grevistas) era comum. Quem
apresentou O’Neill a Tucker foi Paul Holliday, outro anarquista,
irmão de Polly Holliday, gerente de um café boémio no Greenwich
Village, companheira de vida de outro militante activo muito
conhecido, Hippolyte Havel. Paul foi um grande amigo de O’Neill até
sua trágica morte, poucos anos depois. Outro grande amigo anarquista
(e futuro personagem de sua obra) foi Terry Carlin (verdadeiro nome
Terence O’Carolan), que tinha a qualidade adicional de ser de
origem irlandesa, como O’Neill. Companheiro de bebedeira, o
escritor nunca o renegou quando ficou famoso e passou a mandar-lhe
cheques mensais para que nunca lhe faltasse a bebida. Os Gelb
escrevem: «Carlin teve uma influência maior na filosofia de O’Neill
do que qualquer outra pessoa». Não devemos estranhar, pois Carlin
foi admirado por escritores importantes como Jack London e Theodore
Dreiser. Mais uma amizade importante – e que durou até o fim da
vida – foi a com Saxe Commins (verdadeiro nome Cominsky), dentista
que se tornou autor teatral, e sobrinho de Emma Goldman. A ele se
dirigiu O’Neill, para que lhe procurasse documentação sobre
algumas personagens anarquistas em suas peças. Em gratidão pela
hospitalidade recebida dele e de toda a família, e por lhe ter
cuidado dos dentes de graça, O’Neill sugeriu a sua contratação
pela Random House, onde se tornou seu editor pessoal. Saxe foi também
quem manteve contactos indirectos entre O’Neill, com as duas
primeiras esposas e os filhos que delas teve. Quando fugiu para a
França, onde vivia incógnito com Carlotta, que se tornou sua
terceira mulher, foi justamente Commins um dos poucos que sempre
soube onde ele se encontrava. Aliás, O’Neill não era o único que
o estimava, pois tornou-se também amigo de Albert Einstein, que
conheceu quando ambos ensinavam em Princeton.
Pietro
Ferrua - Verve (excerto)
VISTORiA

Aldous
Huxley
PARLATÓRiO
Trabalho
com regularidade pela manhã e, depois, um pouquinho antes do
jantar. Não sou dos que trabalham à noite. À noite, prefiro
ler. Em geral, trabalho quatro ou cinco horas por dia. Trabalho tanto
quanto posso, até sentir que estou ficando rançoso. Às vezes,
quando emperro, ponho-me a ler - ficção, psicologia ou história,
não importa muito o quê - não para tomar emprestados ideias ou
materiais, mas simplesmente para recomeçar de novo. Qualquer coisa,
quase, proporcionará esse desiderato.
Aldous
Huxley
BREVIÁRiO
Diverdi
edita em CD, sob chancela Alqhal&Alqhal, Cláudio Monteverdi
[1567-1643]:
Amori di Marte pelo tenor
Juan Sancho e o soprano Marivi Blasco, com Accademia del Piacere, sob
a direcção de Fahmi Alqhal.
Gradiva
edita A Química das Lágrimas
de Peter Carey; tradução de
Ana Falcão Bastos.
CPO
edita em CD, Carl Orff
[1895-1982] | Cláudio
Monteverdi [1567-1643] -
Orpheus - Klage der Ariadne
por Münchner Rundfunkorchester e Orpheus Chor München, sob a
direcção de Ulf Schirmer. IMAG.134-211-265-279-364
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