segunda-feira, março 26, 2018

IMAGINÁRiO #481

José de Matos-Cruz | 1 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

NAVEGAÇÕES
Além de todas as telenovelas, bastante música, raros filmes e alguma literatura, quase nenhuma arte genuína nos chega, actualmente, do Brasil. Sobretudo, em quadradinhos - tendo-se perdido uma tradição que, ao longo de várias gerações, fascinou tantos jovens nos dois lados do Atlântico. Graças a um imaginário popular, exótico, empolgante ou humorístico, expresso na língua partilhada. A mesma que também nos revelou ou manteve a par com o melhor de outras bandas desenhadas, logo americana ou japonesa. Aliás, aquele país irmão foi, ainda, destino de lendários autores nossos, como Jayme Cortez… Neste milénio, o intercâmbio restabeleceu-se com Lailson de Holanda Cavalcanti - cujo sucesso se firmou com Pindorama (2001), uma tira irreverente, que evoca as comuns glórias históricas para tratar uma actualidade sociopolítica. Pindorama é o Brasil primitivo, terra de índios e palmeiras - onde chegou Vasco Cuínas del Mangue, herói e náufrago que acompanhava o descobridor Pedro Álvares Cabral. Já em 2006, Lailson de Holanda Cavalcanti lançou Lusíadas 2500 - versão fantástica sobre Os Lusíadas por Luís Vaz de Camões, transpondo a saga dos navegadores portugueses para um horizonte futurista e virtual.

CALENDÁRiO

1939-30AGO2013 - Seamus Justin Heaney, aliás Seamus Heaney: Poeta e ficcionista irlandês, distinguido com o Prémio Nobel em 1995 - «Há no poeta um discurso contaminado por algum cosmopolitismo, pela diversidade que define e condiciona o tempo enquanto espaço de acção, espaço que chama a si essa mesma acção, esse narrar poético intelectual mas afectivo» (Sylvia Beirute).

1919-02SET2013 - Frederik George Pohl Jr, aliás Frederik Pohl: Escritor e editor americano, mestre de ficção científica, autor de Gladiador da Lei (1955) - «O que distingue os homens não é o modo como ganham a vida, mas a maneira como perdem tempo».

03SET2013 - Em Lisboa, Hill´s Art expõe Blue Planet - Fotografia e Assemblage de Dário Vidal. IMAG.388-431-451-454

MEMÓRiA

04SET1824-1896 - Anton Bruckner: Compositor austríaco - «…Ficou na história da música como um sinfonia de excelência. O conjunto de nove sinfonias, número vivo desde o ciclo de Beethoven, alcançou um estatuto de grande erudição devido às dimensões e sonoridades monumentais» (Rui Pereira). IMAG.104-233-323-404-437-440

1899-04SET1974 - Marcel-Augustin Ferréol, aliás Marcel Achard: Comediógrafo e argumentista francês - «A mulher raras vezes entende que, amá-la eternamente, não significa amá-la sem interrupção durante tanto tempo».

10SET1924-2011 - Luiz Francisco Rebello: Dramaturgo português, crítico, ensaísta e investigador teatral, Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (1973-2003) - «Foi toda a vida um homem de convicções e um lutador pelas causas em que acreditava» (Rui Vieira Nery). IMAG.19-68-157-169-388-437

VISTORiA

A Árvore dos Desejos

Recordei-a como a árvore dos desejos que morreu
E vi-a subir, inteira, até ao céu,
Deixando um rasto de tudo o que se cravara

Por cada carência, uma e outra vez, na têmpera
Da sua casca e sâmago: moeda, alfinete e prego
Desfraldaram dela como uma cauda de cometa

Recém-cunhada e dissolvida. Tive uma visão
De uma ramada aérea atravessando húmidas nuvens,
De rostos erguidos, onde a árvore estivera.
Seamus Heaney
(Tradução de Rui Carvalho Homem)

VISTORiA

Rui - …Eu tinha a noção exacta do perigo que se aproximava. E sentia-o avançar, avançar cada vez mais. E não fiz nada para o evitar. Nem sequer fui capaz de puxar a tempo o sinal de alarme… Pelo contrário: fechei os olhos e deixei-me caminhar para ele… agarrado a uma esperança absurda de que talvez houvesse ainda uma solução, uma forma de tudo se harmonizar…
Luiz Francisco Rebello
- Alguém Terá de Morrer
(1956 - excerto)
TRAJECTÓRiA

MAFALDA, A CONTESTATÁRIA

Fenómeno de popularidade, Mafalda foi criada em 1964, por Quino (aliás, Joaquin Salvador Lavado) em quadradinhos. Até 1973, tornou-se ponto alto numa carreira celebrada com a exposição Quino, 50 Anos no Palácio do Gelo, em Buenos Aires. Entretanto, a irreverente e precoce miudinha - protótipo de uma geração contestatária - cedo atravessou as fronteiras da sociedade argentina, com uma acutilância que ultrapassaria os próprios Peanuts de Charles Monröe Schulz. Levada ao cinema em animação por Carlos Márquez em 1981, Mafalda apresenta-se rodeada pelos amigos ou no convívio familiar, preparando-se para a escola primária. Intervêm todos os elementos que a tornaram famosa: filosofia do humor, mordacidade e propensão para analisar, argutamente, situações domésticas ou problemas ao mais alto nível. Aparentemente, o universo vivencial de Mafalda corresponde ao de qualquer outro agregado humano. Segundo Quino - cujos progenitores emigraram da Andaluzia em 1919, e naturalizado espanhol em 1990 - quando os pais não sabem explicar melhor, há sempre uma cegonha a justificar tudo, na história de Mafalda. Se ela tivesse nascido numa época anterior e menos complicada, desenvolver-se-ia de uma forma diferente. Poderia ter brincado com bonecas, atormentado rapazes e outras coisas no género. Mas é uma criança do seu tempo. Não pode evitar perguntas, escutar, ver e falar sobre todos os assuntos. Mafalda e os amigos - Manolito, Miguelito, Felipe e Susana - consagraram-se em jornais e revistas de trinta países e em oito idiomas, além de milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. 
 
ANUÁRiO

354-430 - Aurélio Agostinho, dito de Hipona, aliás Santo Agostinho: Escritor, filósofo, teólogo e bispo latino - «O dom da palavra foi concedido aos homens não para que eles se enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem os seus pensamentos e comunicassem entre si». IMAG. 19-34-116-227-282

PARLATÓRiO

Sermões

De onde veio a morte?
Vamos investigar a origem da morte. O pai da morte é o pecado. Se nunca houvesse pecado, ninguém morreria. O primeiro homem recebeu a lei de Deus, isto é, um preceito de Deus, com a condição de que, se o observasse, viveria e, se o violasse, morreria. Não crendo que morreria, fez o que o faria morrer; e verificou a verdade do que dissera quem lhe dera a lei. Desde então, a morte. Desde então, ainda, a segunda morte, após a primeira; isto é, após a morte temporal, a eterna morte. Sujeito a essa condição de morte, a essas leis do inferno, nasce todo homem; mas, por causa desse mesmo homem, Deus fez-se homem, para que não perecesse o homem. Não veio, pois, ligado às leis da morte, e por isso diz o Salmo: «Livre, entre os mortos».
Concebeu-o, sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-o à luz, Virgem permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa, comungava connosco no castigo, mas não na culpa. O castigo da culpa é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio pecar; comungando connosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia, após esta vida. Foi assim crucificado, para mostrar na cruz o fim do nosso homem velho; e ressuscitou, para mostrar, em sua vida, como é a nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: «Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação».
Santo Agostinho
- Sobre a Ressurreição de Cristo Segundo São Marcos

ANTIQUÁRiO

29SET1964 - Concebida e desenhada pelo artista argentino Joaquín Salvador Lavado, aliás Quino, Mafalda aparece em quadradinhos, na revista semanal Primera Plana. IMAG.11-58-267-289

BREVIÁRiO

Gradiva edita Outras Terras No Universo - Uma História da Descoberta de Novos Planetas de Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato.

Andante edita em CD, sob chancela Hyperion, Benjamin Britten [1913-1976]: Cello Symphony, Cello Sonata e Cello Suites pelo violoncelista Alban Gerhardt e Osborne, com BBC Scottish Symphony Orchestra, sob a direcção de Andrew Manze. IMAG.71-298-443-473

Guimarães edita Breviário do Brasil de Agustina Bessa-Luís; organização de Manuel Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira. IMAG.11-33-83-92-209-216-223-239-243-341

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 4

Até que Salomão, esvaída a lábia, se atenuou. Ia ficando à rasca. Logo, para escapar, tinha que espicaçar.
Então escolheu, em mal menor, a solícita Clotilde:
- Matar-te-ei por me atraiçoares, ingrata! lançou feroz, a fulminar.
Continua

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