José
de Matos-Cruz | 1 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
NAVEGAÇÕES
Além
de todas as telenovelas, bastante música, raros filmes e alguma
literatura, quase nenhuma arte genuína nos chega, actualmente, do
Brasil. Sobretudo, em quadradinhos - tendo-se perdido uma tradição
que, ao longo de várias gerações, fascinou tantos jovens nos dois
lados do Atlântico. Graças a um imaginário popular, exótico,
empolgante ou humorístico, expresso na língua partilhada. A mesma
que também nos revelou ou manteve a par com o melhor de outras
bandas desenhadas, logo americana ou japonesa. Aliás, aquele país
irmão foi, ainda, destino de lendários autores nossos, como Jayme
Cortez… Neste milénio, o intercâmbio restabeleceu-se com Lailson
de Holanda Cavalcanti - cujo sucesso se firmou com Pindorama
(2001), uma tira irreverente,
que evoca as comuns glórias históricas para tratar uma actualidade
sociopolítica. Pindorama é o Brasil primitivo, terra de índios e
palmeiras - onde chegou Vasco Cuínas del Mangue, herói e náufrago
que acompanhava o descobridor Pedro Álvares Cabral. Já em 2006,
Lailson de Holanda Cavalcanti lançou Lusíadas
2500 - versão fantástica
sobre Os Lusíadas por
Luís Vaz de Camões, transpondo a saga dos navegadores portugueses
para um horizonte futurista e virtual.
CALENDÁRiO
1939-30AGO2013
- Seamus Justin Heaney, aliás Seamus Heaney: Poeta e ficcionista
irlandês, distinguido com o Prémio Nobel em 1995 - «Há no poeta
um discurso contaminado por algum cosmopolitismo, pela diversidade
que define e condiciona o tempo enquanto espaço de acção, espaço
que chama a si essa mesma acção, esse narrar poético intelectual
mas afectivo» (Sylvia Beirute).
1919-02SET2013
- Frederik George Pohl Jr, aliás Frederik Pohl: Escritor e editor
americano, mestre de ficção científica, autor de Gladiador
da Lei (1955) - «O que
distingue os homens não é o modo como ganham a vida, mas a maneira
como perdem tempo».
03SET2013
- Em Lisboa, Hill´s Art expõe Blue
Planet - Fotografia e Assemblage de
Dário Vidal. IMAG.388-431-451-454
MEMÓRiA
04SET1824-1896
- Anton Bruckner: Compositor austríaco - «…Ficou na história da
música como um sinfonia de excelência. O conjunto de nove
sinfonias, número vivo desde o ciclo de Beethoven, alcançou um
estatuto de grande erudição devido às dimensões e sonoridades
monumentais» (Rui Pereira). IMAG.104-233-323-404-437-440
1899-04SET1974
- Marcel-Augustin Ferréol, aliás Marcel Achard: Comediógrafo e
argumentista francês - «A mulher raras vezes entende que, amá-la
eternamente, não significa amá-la sem interrupção durante tanto
tempo».
10SET1924-2011
- Luiz Francisco Rebello: Dramaturgo português, crítico, ensaísta
e investigador teatral, Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores
(1973-2003) - «Foi toda a vida um homem de convicções e um lutador
pelas causas em que acreditava» (Rui Vieira Nery).
IMAG.19-68-157-169-388-437
A
Árvore dos Desejos
Recordei-a
como a árvore dos desejos que morreu
E
vi-a subir, inteira, até ao céu,
Deixando
um rasto de tudo o que se cravara
Por
cada carência, uma e outra vez, na têmpera
Da
sua casca e sâmago: moeda, alfinete e prego
Desfraldaram
dela como uma cauda de cometa
Recém-cunhada
e dissolvida. Tive uma visão
De
uma ramada aérea atravessando húmidas nuvens,
De
rostos erguidos, onde a árvore estivera.
Seamus
Heaney
(Tradução
de Rui Carvalho Homem)
VISTORiA

Luiz
Francisco Rebello
-
Alguém Terá de Morrer
(1956
- excerto)
TRAJECTÓRiA
MAFALDA,
A CONTESTATÁRIA
Fenómeno
de popularidade, Mafalda
foi criada em 1964, por Quino (aliás, Joaquin Salvador Lavado) em
quadradinhos. Até 1973, tornou-se ponto alto numa carreira celebrada
com a exposição Quino, 50
Anos no Palácio do Gelo, em
Buenos Aires. Entretanto, a irreverente e precoce miudinha -
protótipo de uma geração contestatária - cedo atravessou as
fronteiras da sociedade argentina, com uma acutilância que
ultrapassaria os próprios Peanuts
de Charles Monröe Schulz. Levada ao cinema em animação por Carlos
Márquez em 1981, Mafalda apresenta-se rodeada pelos amigos ou no
convívio familiar, preparando-se para a escola primária. Intervêm
todos os elementos que a tornaram famosa: filosofia do humor,
mordacidade e propensão para analisar, argutamente, situações
domésticas ou problemas ao mais alto nível. Aparentemente, o
universo vivencial de Mafalda corresponde ao de qualquer outro
agregado humano. Segundo Quino - cujos progenitores emigraram da
Andaluzia em 1919, e naturalizado espanhol em 1990 - quando os pais
não sabem explicar melhor, há sempre uma cegonha a justificar tudo,
na história de Mafalda. Se ela tivesse nascido numa época anterior
e menos complicada, desenvolver-se-ia de uma forma diferente. Poderia
ter brincado com bonecas, atormentado rapazes e outras coisas no
género. Mas é uma criança do seu tempo. Não pode evitar
perguntas, escutar, ver e falar sobre todos os assuntos. Mafalda e os
amigos - Manolito, Miguelito, Felipe e Susana - consagraram-se em
jornais e revistas de trinta países e em oito idiomas, além de
milhões de álbuns vendidos em todo o mundo.
ANUÁRiO
354-430
- Aurélio Agostinho, dito de Hipona, aliás Santo Agostinho:
Escritor, filósofo, teólogo e bispo latino - «O dom da palavra foi
concedido aos homens não para que eles se enganassem uns aos outros,
mas sim para que expressassem os seus pensamentos e comunicassem
entre si». IMAG.
19-34-116-227-282
PARLATÓRiO
Sermões
De
onde veio a morte?

Concebeu-o,
sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-o à luz, Virgem
permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa,
comungava connosco no castigo, mas não na culpa. O castigo da culpa
é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio
pecar; comungando connosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a
culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia, após esta
vida. Foi assim crucificado, para mostrar na cruz o fim do nosso
homem velho; e ressuscitou, para mostrar, em sua vida, como é a
nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: «Foi entregue por causa dos
nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação».
Santo
Agostinho
-
Sobre a Ressurreição de
Cristo Segundo São Marcos
ANTIQUÁRiO
29SET1964
- Concebida e desenhada pelo artista argentino Joaquín Salvador
Lavado, aliás Quino, Mafalda
aparece em quadradinhos, na revista semanal Primera
Plana. IMAG.11-58-267-289
BREVIÁRiO
Gradiva
edita Outras Terras No
Universo - Uma História da Descoberta de Novos Planetas de
Nuno Cardoso Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato.
Andante
edita em CD, sob chancela Hyperion, Benjamin Britten
[1913-1976]:
Cello Symphony, Cello
Sonata e Cello
Suites pelo violoncelista
Alban Gerhardt e Osborne, com BBC Scottish Symphony Orchestra, sob a
direcção de Andrew Manze. IMAG.71-298-443-473
Guimarães
edita Breviário do Brasil de
Agustina Bessa-Luís; organização de Manuel Vieira da Cruz e Luís
Abel Ferreira. IMAG.11-33-83-92-209-216-223-239-243-341
EXTRAORDINÁRiO
OS
HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico
CARTA
NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 4
Até que Salomão, esvaída a lábia, se atenuou. Ia ficando à rasca. Logo, para escapar, tinha que espicaçar.
Então
escolheu, em mal menor, a solícita Clotilde:
- Matar-te-ei
por me atraiçoares, ingrata!
lançou feroz, a fulminar.
– Continua
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