quinta-feira, março 15, 2018

IMAGINÁRiO #476

José de Matos-Cruz | 24 Julho 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

FUTURISMOS
A editora Apenas Livros veio a público em 1998, com o lançamento de Lisboa No Ano 2000, reunindo três artigos publicados na Ilustração Portuguesa em 1906, pelo engenheiro José Maria de Melo de Matos (1856-1915). Uma panorâmica visionária e apaixonada, de como Lisboa deveria ser no início deste século, com especial incidência para a zona ribeirinha, actualmente reestruturada. Previa Melo de Matos que, «se progredirmos a valer e como devemos, dentro de 96 anos teremos ultrapassado tudo o que fantasiarmos aqui. Quando muito bastarão trinta anos para que se realize tudo o que sonharmos escrevendo». E, segundo se realça em Apresentação, «o mais fascinante foi que não só sonhou uma Lisboa de progresso científico e económico, como fantasiou também objectos de utilidade corrente, como, por exemplo, o telefotográfico, nada mais nada menos que um telefone com ecrã, ou o comboio sob o Tejo, ligando Lisboa ao Seixal». Melo de Matos desempenhou diversos cargos políticos de relevância, nos anos finais do regime monárquico, tendo alcançado êxito assinalável com a publicação destas prospecções irresistíveis sobre «a terra de muitas e desvairadas gentes».

CALENDÁRiO

26JUL2013-19JAN2014 - Em Lisboa, Centro de Arte Moderna/CAM da Fundação Calouste Gulbenkian expõe Sob o Signo de Amadeo - Um Século de Arte; a obra pioneira de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), sendo curadores Isabel Carlos, Ana Vasconcelos, Leonor Nazaré, Patrícia Rosas e Rita Fabiana. IMAG.84-149-154-185-258-279-434

01AGO2013 - Columbia TriStar Warner estreia Os Smurfs 2 / The Smurfs 2 de Raja Gosnell; com Neil Patrick Harris e Sofía Vergara, em transposição das aventuras em quadradinhos de Les Schtroumpfs (1958) por Peyo/Pierre Cuttillard. IMAG.192-369

06DEZ1923-09AGO2013 - Urbano Tavares Rodrigues: Escritor português, professor universitário - «A vida é como um trapézio, não podemos parar durante o voo». IMAG.71-96-157-229-384-420

VISTORiA

Epitáfio 
Pára, viajante cristão! – Pára, criança de Deus,
E lê com o coração. Debaixo desta terra
Descansa um poeta, ou o que ele possa ter sido.
Oh, faz uma oração para S.T.C. –
Ele, que por muitas vezes teve dificuldade em respirar,
Descobriu morte em vida, pode agora descobrir
A vida na morte!
Misericórdia pelo louvor – ser perdoado em vez de afamado
Através de Cristo, ele pediu, e esperou. Faz tu o mesmo!
Samuel Taylor Coleridge

Que seria dos homens, mesmo que se libertassem de certas escravidões económicas e políticas, se não pudessem preservar, defender, nos seus horários pejados de máquinas e de gestos automáticos, essas vozes que ele não queria deixar de ouvir, vozes surdas, que o ligavam, fugidiamente que fosse, aos plátanos a esfolharem-se, às sombras azuis dos telhados com sol, o último sol do dia, aos ardinas – reis-do-trânsito esfarrapados que forçavam os automobilistas a travar, volta não volta –, aos fregueses daquele quieto café, de tão diversas expressões, que não eram aparelhos, mensuráveis em rentabilidade, em termos de pura necessidade, mas criaturas humanas, com os seus específicos problemas, apelos de simpatia?! Sentia agudamente que a vida merecia ser vivida; e que esse forte, persistente e por vezes luminoso amor à vida, de que ele, anónimo empregado, era tão rico, que lhe batia assim no peito, em ritmo de exaltação, resumindo a dádiva e o perigo, o instinto de liberdade, o orgulho da sua condição, era a coisa mais importante que um homem podia transmitir a outro homem.
Urbano Tavares Rodrigues
- Terra Ocupada (1963, excerto)

VISTORiA

Os factos em que se apoiam as religiões são antigos e maravilhosos, ou seja, são o mais suspeitos possível, para provarem as coisas mais inacreditáveis.

A religião de Jesus Cristo, anunciada por ignorantes, originou os primeiros cristãos. A mesma religião, pregada hoje por sábios e doutores, só causa incredulidade.

Platão considerou a divindade sobre três aspectos: a bondade, a sabedoria e o poder. É preciso ter os olhos fechados para não reconhecer aí a trindade dos cristãos. Há perto de três mil anos, o filósofo de Atenas deu o nome de Logos ao que hoje chamamos Verbo.

As pessoas divinas são, ou três acidentes, ou três substâncias. Se são três acidentes, nós somos ateus ou deístas. Se são três substâncias, nós somos pagãos.

Deus pai julga os homens dignos da sua vingança eterna; Deus filho julga-os dignos da sua misericórdia infinita; o Espírito Santo permanece neutro. Como conciliar esta verborreia católica com a unidade da vontade divina?

Existiram, nos primeiros séculos da nossa Era, sessenta Evangelhos, nos quais se acreditava de forma praticamente igual. Foram rejeitados cinquenta e seis Evangelhos devido à infantilidade e inépcia que continham. Não existe nada disso naqueles que se conservaram?
Denis Diderot
- Addition aux Pensées Philosophiques (excertos)

Não nos pertencemos mais. Não mais somos seres, somos coisas. Somos as primeiras no amor-próprio deles, as últimas em sua estima. Temos amigas, mas não amigas como Prudence, mulheres que já foram de vida fácil, e ainda têm gostos caros que sua idade não mais lhes permite. A sua amizade chega até à servidão, jamais ao desinteresse. Elas nunca darão algo, a não ser conselhos lucrativos. Pouco lhes importa que tenhamos dez amantes a mais, desde que elas ganhem vestidos ou uma pulseira, que possam de vez em quando passear na nossa carruagem, ir ao teatro no nosso camarote. Elas ficam com as nossas flores no dia seguinte, e levam emprestadas as nossas caxemiras… Não nos prestam jamais um serviço, por menor que seja, sem se fazer pagar pelo dobro do que vale.
Alexandre Dumas, Filho
- A Dama das Camélias (1848 - excerto)

Quando falamos de um novo amigo, as pessoas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: «Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que colecciona borboletas?» Mas perguntam: «Qual é sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Quanto ganha o seu pai?» Só então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: «Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…», elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: «Vi uma casa de seiscentos contos». Então, elas exclamam: «Que maravilha!»
Antoine de Saint-Exupéry
- O Principezinho (1943 - excerto)

MEMÓRiA

25JUL1654-1728 - Agostino Steffani: Cantor, compositor e organista italiano, diplomata e bispo católico - «Foi um criador de primeira linha, tendo fundido a melodia italiana e o contraponto germânico com a tendência francesa para o ritmo de dança e os instrumentos de sopro» (Music and Letters). IMAG.445

1772-25JUL1834 - Samuel Taylor Coleridge: Filósofo e poeta inglês - «Aquele que começa a amar o cristianismo mais do que a verdade, acabará por amar a sua seita ou a sua igreja mais do que o cristianismo e, depois, por amar a si mesmo mais do que a qualquer outra coisa». IMAG.391

26JUL1944-2009 - Salvatore Samperi: Cineasta italiano, perspectivou uma crítica social à burguesia através das estratégias sexuais, com destaque para «a ansiedade e os dilemas do tempo» (Fabio Ferzetti). IMAG.241

27JUL1824-1895 - Alexandre Dumas, Filho: Escritor francês - «A glória pela glória é uma especulação reles. Os homens felizes pela sua celebridade, são ingénuos; os homens soberbos pelo seu génio, são tolos».

1767-28JUL1794 - Louis Antoine Léon de Saint-Just: Ideólogo e revolucionário francês - «Todas as artes só produziram maravilhas; a arte de governar apenas produziu monstros».

1713-31JUL1784 - Denis Diderot: Escritor e filósofo francês - «Não seria impossível que um só homem se encarregasse de anatomia, de medicina, de cirurgia, da matéria médica, e de uma parte da farmácia; um outro da química, da parte restante da farmácia e do que há de química em artes como a metalurgia, a tinturaria, uma parte da ourivesaria, uma parte da caldearia, da arte de trabalhar o chumbo, da preparação de cores de toda a espécie, metálicas ou outras. Um só homem bem instruído numa qualquer arte do ferro, poderia abarcar as profissões de cutelaria, serralharia, ferraria…». IMAG.68-216-418-437

1900-31JUL1944 - Antoine de Saint-Exupéry: Escritor e ilustrador francês - «Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer… Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca» (Cidadela). IMAG.88-243-280-351-405

ANTIQUÁRiO

25JUL1814 - A primeira locomotiva viável a vapor é apresentada, sendo delineada por George Stephenson segundo os princípios de James Watt. IMAG.326

BREVIÁRiO

Verbo edita A Vitória de [George] Orwell (1903-1950) de Christopher Hitchens (1949-2011); tradução de Vasco Gato.  
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