quinta-feira, março 29, 2018

IMAGINÁRiO #484

José de Matos-Cruz | 24 Setembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PERIGOS
Um casal de campistas introduz-se, inadvertidamente, em centro de pesquisas militares - abandonado, há anos, após o termo da Guerra do Vietname - mergulhando, à luz da lua, no que parece ser uma piscina. Só demasiado tarde se apercebe do perigo: trata-se de um reservatório de piranhas! Uma jovem, incumbida de investigar o paradeiro dos desaparecidos, chega ao local acompanhada por um solitário montanhista. Inspeccionam a zona, esvaziando o enorme tanque, onde encontram os esqueletos das vítimas. Com esse gesto irreflectido, os rios limítrofes são invadidos pelos ferozes peixes, pondo em risco a vida de centenas de veraneantes… Ao assumir como inevitável referência outro assassino subaquático, que o cinema de catástrofe tomou como modelo - Tubarão /Jaws (1975) de Steven Spielberg - e substituindo o tamanho pela quantidade, o ímpeto pelo furor da depredação, Piranha (1978) de Joe Dante estabelece aliás, no início, uma sarcástica homenagem. Prosseguindo em dimensão angustiante, de inevitabilidade que alastra através de atmosfera ora exótica, ora irracional, persiste ainda uma denúncia sobre a intervenção crepuscular da América no Sudoeste Asiático.

MEMÓRiA

1935-24SET2004 - Françoise Quoirez, aliás Françoise Sagan: Escritora francesa - «As pessoas que escrevem livros poucas vezes são intelectuais. Os intelectuais são pessoas que falam sobre os livros que outros escreveram». IMAG.13-63

28SET1924-1996 - Marcello Vincenzo Domenico Mastroianni, aliás Marcello Mastroianni: Actor italiano - «Creio que todos somos um pouco como Dom Quixote: certas ilusões são mais fortes do que a realidade». IMAG.72-254-435

29SET1864-1936 - Miguel de Unamuno y Jugo, aliás Miguel de Unamuno: Escritor e filósofo espanhol - «Para cada alma há uma ideia que lhe corresponde e que é como a sua fórmula; e andam as almas e as ideias procurando-se umas às outras». IMAG.112-226-382

VISTORiA
 
Madre, Llévame a la Cama
Madre, llévame a la cama.
Madre, llévame a la cama,
que no me tengo de pie.
Ven, hijo, Dios te bendiga
y no te dejes caer.
No te vayas de mi lado,
cántame el cantar aquél.
Me lo cantaba mi madre;
de mocita lo olvidé,
cuando te apreté a mis pechos
contigo lo recordé.
¿Qué dice el cantar, mi madre,
qué dice el cantar aquél?
No dice, hijo mío, reza,
reza palabras de miel;
reza palabras de ensueño
que nada dicen sin él.
¿Estás aquí, madre mía?
porque no te logro ver....
Estoy aquí, con tu sueño;
duerme, hijo mío, con fe.
Miguel de Unamuno

CALENDÁRiO

17OUT1924-23SET2013 - António Ramos Rosa: Poeta e desenhador português, distinguido com o Prémio Nacional de Poesia (1971) - «Sem direcção, sem caminho / escrevo esta página que não tem alma dentro. / Se conseguir chegar à substância de um muro / acenderei a lâmpada de pedra na montanha. / E sem apoio penetro nos interstícios fugidios / ou enuncio as simples reiterações da terra, / as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.» (O Horizonte das Palavras/Acordes - 1989, excerto). IMAG.235-317

VISTORiA

Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê…
Miguel de Unamuno
- Portugal - Povo de Suicidas (1908, excerto)

Hesito em acrescentar o nome, o belo, o solene nome de tristeza a este sentimento desconhecido cuja languidez e doçura me consomem. É um sentimento tão profundo, tão egoísta, que quase me envergonho dele, ainda que a tristeza me tenha parecido sempre nobre. Não a conhecia, mas sim o tédio, o arrependimento, por vezes o remorso. Hoje, há qualquer coisa que me envolve como uma seda, enervante e doce, e me separa dos outros. Naquele Verão, eu tinha dezassete anos e era inteiramente feliz. Os «outros» eram o meu pai e Elsa, a sua amante. Antes de mais nada, devo explicar esta situação, que pode parecer falsa. Meu pai tinha quarenta anos, estava viúvo há quinze; era um homem novo, cheio de vitalidade, de possibilidades, e quando saí do colégio, havia dois anos, não tinha podido compreender que ele vivesse com uma mulher. Muito menos que mudasse de mulher de seis em seis meses! Mas em breve, a sua sedução, aquela vida nova e fácil, as minhas próprias tendências, levaram-me a aceitá-lo. Era um homem impulsivo, hábil nos negócios, sempre curioso e depressa desinteressado, e que agradava às mulheres.
Françoise Sagan
- Bonjour Tristesse (1954, excerto)

As Cegonhas

As cegonhas,
trazem o adro,
duas casas, ou três, se forem brancas,
a torre onde pousavam
lentas, eu tinha então
a idade das amoras,
o sol sufocava sobre a boca,
lembras-te? ou o peso doutra boca,
doutra razão, já não sei,
corria à pedrada
os cães de que tinhas medo,
e fugia de ti para afagar
em segredo
o baiozinho que então namorava.
António Ramos Rosa
- Branco No Branco

BREVIÁRiO

Second Sight edita em Blu-ray, Piranha (1978) de Joe Dante; com Bradford Dillman e Heather Menzies. IMAG.304

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Gustav Mahler [1860-1911] 9 por Los Angeles Philharmonic, sob a direcção de Gustavo Dudamel. IMAG. 208-224-237-281-323-374

Dom Quixote edita Kalevala de Elias Lönnrot (1802-1884); tradução de Merja de Mattos-Parreira e Ana Isabel Soares, introdução de Seppo Knuuttila, ilustrações de Rogério Ribeiro. IMAG.192-366

Harmonia Mundi edita em CD, Carl Maria von Weber [1786-1826]: Sonatas For Piano & Violin: Piano Quartet por Isabelle Faust, Alexander Melnikov, Boris Faust e Wolfgang Emanuel Schmidt. IMAG.85

Quetzal edita E os Hipopótamos Cozeram Nos Seus Tanques de William S. Burroughs (1914-1997) & Jack Kerouac (1922-1969); tradução de Telma Costa. IMAG.85-126-141-212-217-247-338-362-404-469

VGM edita em CD, sob chancela Ricercar, Love, Revelry and the Dance In Mediaeval Music por Millenarium.

Relógio D’Água edita Laços de Família de Clarice Lispector (1920-1977). IMAG.158-301-375-399-458

ANTIQUÁRiO

JUN1935 - O Secretariado da Propaganda Nacional/SPN convida, para assistirem às Festas de Lisboa, vários autores espanhóis, franceses e alemães, levando-os de seguida numa excursão de visita a monumentos e pontos pitorescos do Norte e Centro. Entre outros, Jacques Maritain, Luigi Pirandello, Maurice Maeterlink, François Mauriac, Jules Romain, Georges Duhamel, Miguel de Unamuno, Fernández Flores, Gabriela Mistral e Ribeiro Couto, que publicaram artigos e reportagens nos jornais internacionais, sendo ainda rodada a reportagem Visita de Escritores Estrangeiros a Portugal, em que figura ainda António Ferro durante um passeio fluvial no Tejo.

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 6

Com tal pretexto, insistiu Salomão, entre insultos e disparates:
- E o que sabes tu que eu nem imagino, pois, vivendo solteiro, a manténs debaixo da tua telha, e a comprometes, dando-lhe alcova a poucos passos do quarto em que dormes?
A história rocambolesca estava a modos de continuar, deslizando qual folhetim esticado de um pasquim, naquelas temporadas em que não há notícias que se realizem durante os próximos dias.
Continua

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