sexta-feira, dezembro 29, 2017

IMAGINÁRiO #431

José de Matos-Cruz | 16 Agosto 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

DELÍRIOS
Pelos anos ’70 do Século XX, Terry Gilliam tornou-se notado como artista de quadradinhos - em Nova Iorque, ao trabalhar com Harvey (Mad) Kurtzmann, em Help!; e em França, como colaborador da Pilote pela mão de René (Astérix) Goscinny. Um salto a Inglaterra comprometeu-o na série televisiva Monty Python’s (1969), graças à associação com (outro) Terry (de apelido) Jones. Mais tarde, esta equipa de magos visionários e sarcásticos transitou para o cinema - em títulos como Monty Python e o Cálice Sagrado (1975) ou O Sentido da Vida (1983), onde se contrastam uma extravagância por vezes surrealista, e filosóficas considerações sobre a civilização tecnológica, paralelamente a reflexos de paroxismo ou elementar humor… Argumentista, actor eventual, mestre da animação, Terry Gilliam evocaria: «Todos os meus filmes dessa época tiveram origem em mim, desenvolvendo ideias próprias e insistindo na sua concretização. Em contraste com os privilégios do director no cinema americano, eu via-me como um autêntico realizador!»

CALENDÁRiO

1925-05OUT2012 - Claude Pinoteau: Cineasta francês, produtor e realizador de A Bofetada / La Gifle (1974).

1957-05OUT2012 - Bruno Le Floc’h: Ilustrador e criador de animação, artista de banda desenhada, distinguido com o Prémio Goscinny ao Argumentista por Trois Éclats Blancs (2004).

10OUT2012 - O cineasta Carlos Saura é distinguido com o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura 2012, pela realização de Fados (2007). IMAG.93-166-172-331

11OUT2012 - ZON Audiovisuais estreia O Gebo e a Sombra de Manoel de Oliveira; sobre a peça de Raul Brandão (1867-1930), com Michael Lonsdale e Claudia Cardinale.
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10-30OUT2012 - Em Lisboa, Galeria de Arte do CDL / Ordem dos Advogados / Conselho Distrital de Lisboa expõe Utopias, escultura e pintura de Dário Vidal. IMAG.388

11OUT2012 - Mo Yan é distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, porque «com um realismo alucinatório, funde contos populares, história e contemporaneidade».

18OUT2012 - ZON Audiovisuais estreia Astérix e Obélix ao Serviço de Sua Majestade / Astérix et Obélix au Service de Sa Majesté de Laurent Tirard; sobre a saga em quadradinhos de René Goscinny & Albert Uderzo, com Edouard Baer e Gérard Depardieu.
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19OUT2012 - Em Lisboa, Livraria Leya na Buchholz apresenta Cinzas da Revolta - exposição de banda desenhada por Miguel Peres e Jhion / João Amaral, com álbum editado sob chancela Asa, por ocasião do 23º Festival AmadoraBd. IMAG.7-149-155-204-416-430

20OUT2012-17MAR2013 - Em Lisboa, Museu da Electricidade apresenta Riso - em pintura, fotografia, cinema, teatro, ópera e literatura, sendo comissários José Manuel Fernandes, João Pinharanda e Nuno Artur Silva.

MEMÓRiA

1907-05FEV1973 - António Jorge Dias: Etnólogo e antropólogo português - «É um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes, e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento» (Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa - 1953).

15JUL1933-31JUL2003 - Guido Crepax: Artista italiano de banda desenhada, argumentista e ilustrador, criador de Valentina (1965) - «Agrada-me o jogo da vida dupla, o mundo da fantasia onde qualquer coisa pode acontecer. A beleza da fantasia não seria o que é, se não existisse o outro lado da moeda, a realidade». IMAG.40-400

17AGO1893-03ABR1933 - Wilson Mizner: Ficcionista e dramaturgo americano - «Quando se rouba de um autor, diz-se que é plágio; quando se rouba de muitos, passa a ser pesquisa».

19AGO1883-1971 - Coco Chanel: Estilista francesa - «Para sermos insubstituíveis, temos que ser diferentes… A cor mais chique do mundo é a que nos fica melhor». IMAG.306

PARLATÓRiO

Adoro o luxo… E o luxo não reside na riqueza ou na ostentação, mas na falta de vulgaridade.
Coco Chanel

Guido Crepax é um homem de sucesso, o primeiro que teve a capacidade de trazer para o mundo dos quadradinhos, italiano e internacional, algo de novo: um novo estilo gráfico, importante e incisivo. A sua forma de narrar tornou-se uma novidade, e diria que foi o primeiro a não dirigir-se a um público infantil, e sim a adolescentes e adultos.
Hugo Pratt

Agora, volto à saga de Valentina e comprovo que, convertida já num clássico da expressão gráfica contemporânea, nem por isso perdeu um ápice da sua sã capacidade transgressora e iconoclasta… Valentina converteu-se, pois, num evento fundamental, para a história da banda desenhada culta e europeia.
Román Gubern (1981)



BREVIÁRiO

Sony Pictures edita em Blu-ray, Monty Python e o Cálice Sagrado / Monty Python and the Holy Grail (1975) de Terry Jones e Terry Gilliam; com Graham Chapman e John Cleese. IMAG.8-62-166-384-419

Relógio d’Água edita Música de Câmara de James Joyce (1882-1941); tradução de João Almeida Flor. IMAG.136-306-357-404

Harmonia Mundi edita em CD, Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]: Keyboard Music, Vol. 3 pelo pianista Kristian Bezuidenhout.
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Quetzal edita Memorial do Coração - Conversa a Quatro Mãos de António Manuel Couto Viana (1923-2010) e Ricardo de Saavedra. IMAG.107-308-332-403

Deutsche Grammophon edita em CD, Ludwig van Beethoven [1770-1827] - Sinfonia Nº 3 - Eroica por Orquestra Sinfonica Juvenil Simón Bolívar, sob a direcção de Gustavo Dudamel.
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VISTORiA

Caracterização Psicológica Do Povo Português

O Português é um misto de sonhador e de homem de acção, ou melhor, é um sonhador activo, a que não falta certo fundo prático e realista. A actividade portuguesa não tem raízes na vontade fria, mas alimenta-se da imaginação, do sonho, porque o Português é mais idealista, emotivo e imaginativo do que homem de reflexão. Compartilha com o Espanhol o desprezo fidalgo pelo interesse mesquinho, pelo utilitarismo puro e pelo conforto, assim como o gosto paradoxal pela ostentação de riqueza e pelo luxo. Mas não tem, como aquele, um forte ideal abstracto, nem acentuada tendência mística. O Português é, sobretudo, profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgulho, pode ser violento e cruel. A religiosidade apresenta o mesmo fundo humano peculiar ao Português. Não tem o carácter abstracto, místico ou trágico próprio da espanhola, mas possui uma forte crença no milagre e nas soluções milagrosas.
Há no Português uma enorme capacidade de adaptação a todas as coisas, ideias e seres, sem que isso implique perda de carácter. Foi esta faceta que lhe permitiu manter sempre a atitude de tolerância e que imprimiu à colonização portuguesa um carácter especial inconfundível: a assimilação por adaptação.
O Português tem um vivo sentimento da Natureza e um fundo poético e contemplativo estático diferente dos outros povos latinos. Falta-lhe também a exuberância e a alegria espontânea e ruidosa dos povos mediterrâneos. É mais inibido que os outros meridionais pelo grande sentimento do ridículo e medo da opinião alheia. É, como os Espanhóis, fortemente individualista, mas possui grande fundo de solidariedade humana. O Português não tem muito humor, mas um forte espírito crítico e trocista e uma ironia pungente.
Jorge Dias
(1950 - excerto)

A minha história começa no dia 1 de Janeiro de 1950. Nos dois anos anteriores, nas profundezas do inferno, eu tinha sofrido torturas cruéis que nenhum ser humano seria capaz de conceber. Sempre que era trazido ao tribunal, proclamava a minha inocência em tons solenes, comoventes, tristes, desgraçados, que penetravam cada greta do Salão de Audiência do Senhor Yama, e se repercutiam em muitas camadas de ecos. Nem uma palavra de arrependimento saiu dos meus lábios, embora eu fosse torturado cruelmente, o que me valeu a reputação de homem de ferro. Sei que ganhei o respeito silencioso de muitos dos funcionários do submundo de Yama, mas sei também que o Senhor Yama não me suportava mais. Assim, para me obrigar a admitir a derrota, submeteram-me à mais sinistra forma de tortura que o inferno tem no seu stock: atiraram-me para uma tina de óleo fervente, na qual eu rolei, contorci-me e gemi como um frango frito durante cerca de uma hora. Palavras não têm como fazer justiça à agonia que senti, até que um servente me espetou com um tridente e, carregando-me bem alto, me conduziu à escadaria do palácio. Juntaram-se a ele dois outros serviçais, um de cada lado, que guinchavam como morcegos-vampiros todas as vezes que o óleo escaldante pingava do meu corpo nos degraus do Salão de Audiência, produzindo borrifos e pequenas nuvens de fumaça amarela. Com cuidado, depositaram-me numa laje aos pés do trono e fizeram uma profunda mesura.
Mo Yan
- Life and Death Are Wearing Me Out (2006 - excerto
- Tradução de Howard Goldblatt - Sobre Versão de Sérgio Rodrigues)

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