sexta-feira, dezembro 08, 2017

IMAGINÁRiO #410

José de Matos-Cruz | 08 Março 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

REPÚBLICA
Análise, testemunho e reflexão, sobre a realidade e a vivência portuguesas, a partir de início do Século XX, com o fim da monarquia, tendo como vector exponencial as contingências sociais e políticas sob o regime do Estado Novo, pelos anos cinquenta, convergem em É de Noite Que Faço as Perguntas - álbum em quadradinhos, editado por Saída de Emergência, com apoio do AmadoraBd - Festival Internacional de Banda Desenhada e do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem/CNBDI, no âmbito das Comemorações Nacionais do Centenário da República. David Soares concebeu o argumento, sobre o país «mergulhado num regime autocrático», pela premissa de um pai que «tenta recuperar o filho, caído no seio do partido, escrevendo-lhe as memórias que experimentou» no «tempo em que o ideal de cidadania era a participação activa e não o recolhimento sob o jugo ditatorial».
Eis cinco histórias intensas, virtuais, delimitando múltiplas facetas e implicações, ilustradas por Richard Câmara (Prólogo, Epílogo), Jorge Coelho (É Só Alguém Que Foi à Caça), João Maio Pinto (Oh! A República!), André Coelho (Via Polémica) e Daniel da Silva (Rerum Novarum). Distintas visões e sensibilidades criativas, um coerente e aliciante manifesto artístico…

MEMÓRiA

09MAR1833-1899 - Francisco Martins Sarmento: Escritor, fotógrafo e arqueólogo, procedeu à exploração metódica e intensa da Citânia de Briteiros (1875), sendo autor de Os Argonautas, Ora Marítima ou Lusitanos, Lígures e Celtas.

1911-11MAR1993 - Manuel Lopes Fonseca, aliás Manuel da Fonseca: Escritor português - «Vida: / sensualíssima mulher de carnes maravilhosas / cujos passos são horas / cadenciadas / rítmicas / fatais. / A cada movimento do teu corpo / dispersam asas de desejos / que me roçam a pele / e encrespam os nervos na alucinação do “nunca mais”. / Vou seguindo teus / passos / lutando e sofrendo / cantando e chorando / e ficam abertos meus braços: nunca te alcanço!» (Vida - excerto) . IMAG.382

1818-14MAR1883 - Karl Marx: Intelectual e revolucionário alemão - «Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o carácter desses limites» (Carácter, Dúvida, Poder, Vontade). IMAG.148-177-294-361

VISTORiA

Pregão Escolástico

Ao fundo meditar de horas sem conto
O filho do saber põe curto ponto.
– É preciso que a flor aspire o orvalho.
Que o recreio, o folgar siga o trabalho;
Que o moço pensador, rindo fagueiro
Das mil lucubrações dum ano inteiro,
Tenha em prémio pedir de amor a palma
Às plantas da mulher, que trouxe na alma.
– Surge pois, Guimarães; o sol vem perto,
Que brilhante há-de vir ao teu desperto.
Matizados florões prende às janelas,
Cobre as feridas do chão das flores mais belas,
E à flor dos filhos teus, que te amam tanto,
De notas festivais ergue-lhe um canto:
Que amanhã, amanhã, dos Estudantes
A função brilhar vai mais do que dantes.
– Bailados vós vereis – delírios, queixas,
Juramentos de amor, ternas endeixas,
Facetas, invenções – tudo o que a mente
Na quadra juvenil sonha de ardente.
– Mas da turma civil, briosa e honesta,
Sectário do cerol que entre na festa....!?
Ai! Dele! – ninguém há que à pena o arranque
– Interino bacalhau – de ir para o tanque
Maldizer a hora aziaga da lembrança
De vir meter o pé em tão má dança.
Ai! de vós! – todos vós a quem a ciência
As portas não abriu!... Tende paciência…
Dizei como a raposa (se quiserdes):
«Boas uvas serão, mas estão verdes»;
Que da turba, civil, briosa e honesta,
Só quem loiros tiver entra na festa,
Só quem loiros tiver!... Então, formosas,
Não podeis a nenhum ser desdenhosas;
Vós, a cujos pés rica e brilhante
À coroa da função o põe o estudante…
Vê-lo-eis amanhã dívida antiga
Num pomo vos pagar com mão amiga
Mas este simboliza amor, ternuras;
O vosso, maldição, dor, penas duras.
Francisco Martins Sarmento (1854 – excerto)

VISTORiA

Tragédia do Destino

A menina está ali tão reservada,
tão silente e pálida;
a alma, como um anjo delicada,
está turva e abatida...
Tão suave, tão fiel ela era,
devotada ao céu,
da inocência imagem pura,
que a Graça teceu.
Aí chega um nobre senhor
sobre portentoso cavalo,
nos olhos um mar de amor
e flechas de fogo.
Feriu-a no peito tão fundo;
mas ele tem de partir,
em gritos de guerra bramando:
nada o pode impedir.
Karl Marx (excerto)

Noite de Sonhos Voada

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
Ó meu amor, já é dia!...
Manuel da Fonseca
- Poemas Dispersos
BREVIÁRiO

Tinta da China edita Quando o Diabo Reza de Mário de Carvalho.

Harmonia Mundi edita em CD, Il Caro Sassone: [Georg Friedrich] Händel [1685-1759] In Italy pela sobrano Lucy Crowe, com The English Concert sob a direcção de Harry Bicket. IMAG.196-222-243-253-296-376

Esfera do Caos edita Paisagem & Figuras de Annabela Rita. IMAG.19-222

Virgin edita em CD, Franz Liszt [1811-1886] Lieder pela soprano Diana Damrau, com o pianista Helmut Deutsch. IMAG.92-175-319-337-384-392-394-395-396

Teorema edita William Shakespeare (1564-1616) de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957). IMAG.105-189-278-295

COMENTÁRiO

Do mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo, não podemos tampouco julgar as épocas de revolução pela sua consciência, mas, pelo contrário, é necessário explicar a consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas e as relações de produção.
Karl Marx
- Ciência, Consciência, Força, Vida (excerto)

NOTICIÁRiO

Karl Marx

A administração dos Correios franceses apoderou-se da circular que Karl Marx dirigia aos filiados franceses na Internacional. Também foi apreendida uma porção de fotografias comunistas escondidas em um fardo de fazendas.

07JUL1872 - Diário de Notícias

PARLATÓRiO

Marx era, antes de tudo, um revolucionário. A sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para o derrube da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era o seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com que poucos puderam rivalizar.
Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultra-democráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando uma necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América – e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal.
Friedrich Engels (1883)

CALENDÁRiO

07MAI-29JUN2012 - No Estoril, Espaço Memória dos Exílios expõe Guerra Colonial: Tarrafal 50 Anos Depois, em organização da Câmara Municipal de Cascais com Sociedade Portuguesa de Autores/SPA.

1928-15MAI2012 - Carlos Fuentes: Escritor mexicano, distinguido com o Prémio Cervantes (1987) - «Um romance, que fosse perfeito, afastaria os leitores».

25MAI-08JUL2012 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Ruin’Arte, exposição de fotografia por Gastão de Brito e Silva.

GALERiA

Francisco Martins Sarmento
Alto, magro, de cabelos pretos retintos, a tez morena, o passo apressado, destacava-se em qualquer grupo, à primeira vista. Fisiologicamente um nervoso, falando por meias palavras, rápido e breve no discurso, como um homem que não pode desperdiçar o tempo, às vezes custava a perceber. A sua conversação usual, tocando aqui e ali a fugir, entrecortada de ditos alegres ou picantes, se carecia de atracção enlevadora, transbordava de típica graça portuguesa.
Alberto Sampaio

Sem comentários:

Enviar um comentário