PRONTUÁRiO
SILÊNCIO
Nunca
o cinema foi silencioso, mesmo durante o período mudo. E, no
entanto, em nenhum espectáculo se tornaria o silêncio tão
sugestivo e apelativo, em presenças ou ausências. Na primeira
década do Século XX, a música funcionou como um complemento
mecânico, ou um aleatório acompanhamento, manifesto durante as
sessões públicas. Para os actores, através de uma mera colagem ao
ecrã das imagens animadas, literalmente ilustrativa, a representação
implicava, sobretudo, uma improvisação. Considerando, no entanto,
códigos e significados primários, a transmitir ao público - como o
êxtase, o riso, o medo, uma ameaça - a que os acordes melódicos
conferiam expressão alusiva. Quando o cinema adquiriu consistência
como entretenimento, era através dos seus arquétipos, formalismos
ou convenções que se acentuava a acção ou emocionavam as pessoas.
The
Lodger (1926)
de Alfred
Hitchcock
é considerado o filme mais ruidoso
de todo o mudo. A imagem torna-se tão impressionante que, de certo
modo, faz estalar a tela silenciosa. Hitchcok recorreria, com talento
e frequência, ao que definiu como «o som da agonia», sendo Os
Pássaros
/ The
Birds
(1963) um exemplo primordial. Por fim, quando as aves predominam, até
onde a vista alcança, o silêncio reina - não «um silêncio
qualquer, mas um silêncio de uma tal monotonia, que pudesse evocar o
ruído do mar, sempre que se ouve muito ao longe».
CALENDÁRiO
03AGO2012
- A revista inglesa Sight and
Sound, do British Film
Institute, elege A Mulher Que
Viveu Duas Vezes / Vertigo (1958),
de Alfred Hitchcock, «o melhor filme de todos os tempos», através
de uma sondagem entre 846 críticos e especialistas na área do
cinema, tomando por critérios a relevância histórica, o sentido
estético e o impacto pessoal.
12SET2012
- Em Lisboa, no Terreiro do Paço, Lisbon Story Center expõe
Memórias da Cidade.
1917-27SET2012
- Herbert Charles Angelo Kuchacevich von Schluderbacheru, aliás
Herbert Lom: Actor inglês de origem austro-húngara, personificou o
Comissário Charles Dreyfus na série A
Pantera Cor-de-Rosa (a partir
de 1964), sendo protagonista Peter Sellers - «Ele era uma pessoa
magnífica, mas muito cruel com as crianças. Comigo, acontece o
contrário. São os meus filhos que me tratam mal» (2004).
27SET2012
- ZON Audiovisuais estreia Dredd
de Pete Travis; com Karl
Urban e Lena Headey, transposição da saga em quadradinhos Judge
Dredd (1977) de John Wagner &
Carlos Ezquerra.
28SET2012
- Aos 71 anos, Augusto Cid assina o seu último cartoon
no semanário Sol,
pondo fim a uma carreira com quatro decénios de colaboração na
imprensa, para dedicar-se por inteiro à escultura.
IMAG.45-197-252-279-292
28SET2012
- No Crato, Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa apresenta Deus
e os Demónios - O Fantástico e o Misterioso Na Escultura Românica
Em Portugal, exposição de
fotografia de Adalrich Malzbender.
12OUT-30DEZ2012
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, com
Embaixada da República da Polónia e Pelouro da Cultura da Câmara
Municipal de Cascais, A
Metáfora No Cartaz e No Desenho
de Marian Nowinski.
26OUT-11NOV2012
- Na Amadora, decorre 23º Festival Internacional de Banda Desenhada
- Amadora Bd 2012, tendo por tema central a Autobiografia.
INVENTÁRiO
A
LEI DE DREDD
América,
em 2139. Uma sociedade devastada pela violência e a alienação, a
degradação e a miséria, a anarquia e a sobrepopulação. Por Ordem
Presidencial, o Departamento de Justiça converteu-se em Julgado. Em
Mega-City One - urbe com oitocentos milhões de habitantes - Dredd
estabelece a lei das ruas, expondo-se como polícia-juíz-exterminador.
Patrulheiro montando a mota Lawmaster, vigilante totalitarista e
marcialmente armado. Numa vertigem apocalíptica - entre a ordem
civil e o paroxismo belicista - debatem-se a insurreição popular, a
corrupção criminal e a perversão científica…
A
Lei de Dredd / Judge Dredd (EUA
- 1995) é uma transposição para o cinema - com realização de
Danny Cannon - sobre Judge
Dredd (1977), saga em
quadradinhos de John Wagner & Carlos Ezquerra, sob chancela
Fleetway (GB). De imediato, o culto expandiu-se nos Estados Unidos,
por DC Comics. Astro emblemático, intrépido mas monolítico,
Sylvester Stallone - ao lado de Diane Lane - converteu-se em ícone
ideal para assumir tal anti-herói, de distorcido humor e expiação
exacerbada.
TRAJECTÓRiA
O
CINEASTA QUE SABIA DEMAIS
Um
dos maiores criadores da indústria cinematográfica anglo-americana,
Alfred Joseph Hitchcock faleceu em Los Angeles, a 20 de Abril de
1980. Artista controverso, é unanimemente considerado o mestre do
suspense
- um dos raros realizadores que o público reconhece, como a
personificação de um estilo. Nascido em Londres, a 13 de Agosto de
1899, descendente de uma família burguesa, e tendo rígida formação
católica, Hitchcock - cedo fascinado pelo animatógrafo - iniciou-se
em 1920, a partir da base: desenhando intertítulos para filmes
mudos. Dois anos depois, dirigiu Number
Thirteen (inacabado) e, em
1929, o primeiro filme sonoro britânico: Blackmail.
Tendo partido, pouco antes da II Grande Guerra, para Hollywood,
Hitchcock privilegiava o elemento visual. Era hábil em todas as
fases da feitura - do argumento à fotografia, da direcção de
actores à montagem, da comercialização ao lançamento
publicitário. Caracterizando-se pela busca incessante de novos meios
de expressão, pela constante renovação técnica e artística, que
adaptava à sua peculiar criatividade, a partir de 1953 passou a usar
a cor. Entre os seus tópicos de referência, sobressaem a dialéctica
entre aparência e realidade, a atmosfera de culpa, o terror
psicológico, a sofisticação da intriga, uma identidade ambígua, a
angústia perversa, o artificialismo mórbido, o humor sarcástico.
COMENTÁRiO
François
Truffaut: …Volto
um pouco atrás na conversa, porque o senhor ia dizer qualquer coisa
sobre o realismo do enquadramento, e o estado de espírito no
plateau...
Eu interrompi-o...
Alfred
Hitchcock: Ah, sim! Estou de
acordo consigo: muitos cineastas preocupam-se com o plateau
no seu conjunto, e a
atmosfera de rodagem; no entanto, só deveriam ter uma ideia em
consideração: o que aparecerá na tela. Como você sabe, eu nunca
olho pelo visor, mas o operador de imagem sabe muito bem que não
quero espaço em redor das personagens, e que lhe compete reproduzir
fielmente os desenhos que levamos preparados. Nunca nos devemos
impressionar com o espaço que a câmara é capaz de captar, pois o
principal é sabermos que, para obter a imagem final, podemos pegar
numa tesoura e cortar o que está a mais, o espaço inútil. Outro
aspecto ligado a esta questão, é que convém não malbaratar esse
espaço, pois poderemos, sempre, servir-nos dele em termos
dramáticos. Por exemplo, em The
Birds, quando os pássaros
atacam a casa protegida, e Melanie se lança para trás de um sofá,
eu mantive a câmara bastante longe dela e servi-me do espaço para
sugerir o vazio, o nada perante o qual ela assim recua. Depois,
introduzi uma variante, quando virei a câmara para ela, mas
colocando-a bastante alta, para dar a sensação de angústia em
crescendo. E, por último, há um terceiro movimento, que consta do
seguinte: para cima, e em redor. Mas, o importante era o grande
espaço do princípio. Se tivesse filmado, logo de início, junto da
rapariga, dar-se-ia a impressão de que ela estava a retroceder ante
um perigo que estaria a ver, mas oculto ao público. Porém, eu
pretendia mostrar que recuava por força de um perigo que não
existia, e, daí, o recurso a todo esse espaço diante dela. Pois
bem, os realizadores cujo trabalho consiste, simplesmente, em
posicionar os actores diante do cenário, e que colocam a câmara a
uma distância maior ou menor, consoante as personagens estão
sentadas, de pé ou deitadas, o que eles fazem é confundir as
ideias, e o seu trabalho nunca é explícito, pois não significa
nada.
François
Truffaut
-
O Cinema de Alfred Hitchcock
PARLATÓRiO

Alain Corneau (2008)
MEMÓRiA
01AGO1933-2009
- Dom DeLuise: Actor americano - «Um grande homem, em todos os
aspectos. Era grande em tamanho e, como actor, gerava grande alegria
e grandes gargalhadas» (Mel Brooks). IMAG.249
07AGO1943-2010
- Alain Corneau: Cineasta francês - «Até agora, nunca comecei um
filme sem ter a ideia precisa de uma música pré-existente, ou de um
músico com quem falei previamente. Mesmo tratando-se de uma banda
sonora original, preocupei-me sempre em ter a música antes, com a
possibilidade de a transformar mais tarde».
IMAG.323
BREVIÁRiO
Universal
edita em DVD, Os Pássaros
/ The Birds
(1963) de Alfred Hitchcock; com Rod Taylor e Tippi Hedren.
IMAG.3-4-14-19-26-29-44-48-49-51-71-85-111-112-142-146-163-168-179-188-191-238-271-280-283-288-307-312-327-351-354-377-381-384-386-428
Estampa
edita D. Manuel II e D. Amélia
- Cartas Inéditas do Exílio de
Fernando Amaro Monteiro.
Antígona
edita Religião, República,
Educação - Antologia de
Tomás da Fonseca (1877-1968). IMAG.122
-292-303
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