PRONTUÁRiO
OLHARES
Embora
associado às origens do neo-realismo italiano, Federico
Fellini
(1920-1993) é um cineasta pessoal, insólito, criador íntimo que se
distingue quanto a escolas, artistas ou estilos de grupo. Na sua
obra, costumam referenciar-se duas épocas essenciais - cuja
delimitação decorre pelo início dos Anos ’60 do Século XX, mais
propriamente com A
Doce Vida / La Dolce Vita
(1960). Numa primeira fase, Fellini insere-se pelos problemas do
quotidiano, registando uma sensível condição humanista - captando
o lado exuberante das pessoas, e quanto delas se reflecte ou é
motivado pelo círculo social. Em segundo período, Fellini - sem
descurar um empenho peculiar e a textura individual - centra tal
tendência sobre as virtualidades e os rituais do próprio imaginário
fílmico. De algum modo, mantém-se constante e coerente a magia
cénica, ou o fascínio do olhar felliniano, verificando-se a alegada
recorrência sobretudo ao nível de um diferencial expressivo -
assinalável, de modo eufemístico, com a passagem de um privilégio
da linguagem para a escrita do olhar.
CALENDÁRiO
12NOV-31DEZ2011
- No Centro Cultural de Cascais, Câmara Municipal de Cascais
apresenta, com o apoio do Instituto Arqueológico Alemão em Madrid e
do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico/IGESPAR, a exposição fotográfica Blick
Mira Olha!
MEMÓRiA
02SET1922-2000
- Vittorio Gassman: Actor italiano do cinema e do teatro -
«Representar não está longe da loucura. Um actor trabalha,
projectando o seu carácter nos outros. É uma espécie de
esquizofrenia». IMAG.280
1894-03SET1962:
Edward Estlin Cummings, aliás E.E. Cummings: Poeta americano -
«montanhas são montanhas; céus são céus - / e uma tal liberdade
nos aquece / que é como se o universo uno, sem véus, / total, de
nós (somente nós) viesse».
1885-07SET1962
- Karen Blixen, aliás Isak Dinesen: Escritora dinamarquesa - «Todos
os sofrimentos podem ser suportados, se conseguirmos convertê-los
numa história, ou se contarmos uma história sobre eles… A arte
real faz, sempre, supor uma certa bruxaria». IMAG.42-266
ANTIQUÁRiO
07SET1822
- Durante uma viagem entre São Paulo - onde acalmara uma rebelião
contra José Bonifácio - e Santos, junto às margens do Rio
Ipiranga, o Príncipe Regente D. Pedro de Bragança - filho
primogénito de El-Rei D. João VI, regressado a Portugal em ABR1821
- brada «Independência ou Morte!» Sagrando a Independência do
Brasil, e o termo do domínio português sobre aquele território de
além-Atlântico, seguir-se-ia, três meses depois, no Rio de
Janeiro, a declaração oficial de D. Pedro I como Imperador do
Brasil. IMAG.51-156
VISTORiA

de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu
mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando subtilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando subtilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou
se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada
que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não
sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
E.E.
Cummings
(Tradução
de Augusto de Campos)
INVENTÁRiO
COPRA
No
Verão de 1972, surgia em Coimbra um dos marcos pioneiros da
fanzinologia em Portugal: Copra
que, como então era prática, vinha indicada como número 0. Ainda
antes, e entre outros, aparecera
em Lisboa
o Quadradinhos
de Vasco Granja, que aliás se tornou um dos primeiros colaboradores
de Copra,
e cujo entusiasmo havia inspirado muitos dos
por essa altura
jovens amadores
da banda desenhada, interessados na sua análise e divulgação.
Formal
e objectivamente, Copra tinha,
aliás, outras características. Desde logo, era editada pelo
Boomovimento
um grupo liminarmente constituído por Álvaro Corte Real, António
Pedro Pita e José de Matos-Cruz. Hoje, posso reconhecer que eu
próprio instigara esta chancela colectiva, no âmbito das
iniciativas ou sua repercussão. Tal entusiasmo, forjado pela amizade
que sempre permaneceu, tornou-se determinante nas opções futuras,
pessoais ou públicas, de cada um de nós.

Quanto
a Copra,
saíram quatro números até à Primavera de 1974. Era paga por nós,
sem qualquer apoio, além da prestação de um leque significativo de
assinantes que, ao longo do país, pudemos angariar. Na maioria,
jovens também
e penso agora que, economicamente, todos ficámos algo prejudicados.
Mas, sem dúvida, terá valido a pena, concretizando uma aventura
cujos testemunhos não se perderam! A citação de Vasco Granja volta
a ser indispensável, pois facultava-nos artigos de autores
estrangeiros, segundo os seus contactos; idêntica colaboração nos
prestava, de Madrid, o dedicado editor de Comics
Camp, Comics In, Mariano
Ayuso.
Copra
apresentava-se no formato de 22,5
17,5 cm, sendo o aspecto gráfico uma das nossas maiores
preocupações. Da composição e impressão, em off-set,
incumbia-se José Abrantes
nome prestigiado na confecção de sebentas
universitárias; o número 3
teve, aliás, um importante salto qualitativo, já a cargo do Serviço
de Textos da Universidade de Coimbra. A capa do número 0 foi,
expressamente, concebida pelo grande artista plástico figueirense
Cação Biscaia e, entre os artigos, destaca-se a apresentação do
Tarzan de
Joe Kubert, ou a revelação de
Octobriana.
No
número 1 (Outono de 1972), com suplemento de Boomovimento,
citam-se uma crónica sobre Brenda
Starr; e a ilustração de O
Príncipe Valente
cuja notícia de sucessão havíamos dado, a nível europeu, em
primeira mão no Diário de
Coimbra, Agosto de 1971.
Outros notáveis se tornaram nossos colaboradores ou correspondentes:
o espanhol Luís Gasca; do Brasil, Álvaro de Moya e Adhemar
Carvalhaes. Em Fevereiro de 1973, era lançado um profuso boletim
especial de Boomovimento,
sobre a actividade editorial e fanzinológica, portuguesa e
internacional; e um destacável de homenagem a Wanya,
Escala em Orongo, obra-prima
de Augusto Mota & Nelson Dias.
Na
Primavera de 1973, quase nos arruinámos com a capa a duas cores de
Copra número
2, dedicada a Vampirella;
Jorge Magalhães reflectia sobre Comic,
Um Marco de Cultura Popular;
excepcionalmente, inseria-se Archibaldo
& C.ª por Tó/José
António Antunes
que, com guião meu como Jomac, e o cupyright
do Boomovimento
(1973), desenharia para o Diário
de Coimbra uma tira original,
periódica, de carácter humorístico, o King
Size. Em anexo a Copra
2, mais um Boomovimento
com amplas recensões.
Só
na Primavera de 1974, e pela última vez, regressaria Copra,
num extraordinário número 3: aí ganhava corpo o desafio que
lançámos aos artistas, portugueses e estrangeiros, para que
concebessem histórias curtas, tendo como heroina a própria Copra,
cuja personalidade e inserção romanesca dependeria inteiramente da
livre criatividade de cada um. Desde logo, e de Leiria,
corresponderam Nelson Dias & Augusto Mota, com uma magnífica
Copra, a Flor da Memória -
que constituiu o primordial aliciante dessa derradeira aparição do
nosso fanzine. Infelizmente, ficaram inéditas várias daquelas
composições, algumas das quais seriam depois recuperadas.
Para
além dos aspectos referenciais, avalio o exemplo de Copra,
e mais amplamente do Boomovimento,
em geral positivo e, de modo pontual, porventura inovador. A minha
transição de Coimbra para Lisboa, após Abril de 1974, determinou o
inevitável termo desta intervenção marcada pela disponibilidade
pessoal. Trata-se duma experiência ultrapassada e, em definitivo,
histórica.
Lembrarei por último que, em Copra,
se inseriram ainda depoimentos de Robert Gigi, Al Capp, Ignacio
Fuentes; textos de Pierre Couperie, Francis Lacassin e Esteban
Bartolomé; abordagens sobre Little
Orphan Annie, Jeff
Hawke, Thor,
O Fantasma,
O Agente Secreto X-9,
Tintin,
Pererê,
Batman,
Cuto;
ou incidências sobre os primitivos, cinema e bd, o underground
e super-heróis.
José
de Matos-Cruz
BREVIÁRiO
Costa
do Castelo edita em DVD, A
Estrada / La Strada (1954) de
Federico Fellini; com Anthony Quinn e Giulietta Masina.
IMAG.72-213-247-259-331-367-383
Ática
edita A Demonstração do
Indemonstrável de Fernando
Pessoa (1888-1935).
IMAG.
26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384
Caminho
edita O Silêncio da Água de
José Saramago (1922-2010) e Manuel Estrada (ilustração).
IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331
EXTRAORDINÁRiO
OS
HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico
A
PENA DURA EM PEITO MOLE
- 10
O
certo é que Cecília Sulpício amuou com a vida e com o mundo.
Fechou-se
em copas. Deixou de ser mais uma carta viciada do baralho.
Mas,
por alta recriação. Entre uma espécie de indiferença. Deu-lh’um
sumiço que só a morte explica, ou uma não existência...
Vagueando
pelos labirintos de Lisboa, como uma estrela flutuante, pode-se
chegar ao Passadiço das Almas Penadas.
– Continua
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