sexta-feira, outubro 13, 2017

IMAGINÁRiO #386

José de Matos-Cruz | 08 Setembro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

INUNDAÇÕES
O mais caprichoso rio do mundo, com três mil e setecentos quilómetros de água suja - «demasiado espessa para que se navegue bem, demasiado líquida para ser cultivada» - segundo o capitão Ned, o Mississipi serve de palco flutuante à radical rivalidade entre Barrows e Lowriver, respectivamente proprietários do Daisy Belle e do Asbestos D. Plower, os dois únicos barcos de passageiros e mercadorias no trajecto desde Nova Orleães até Mineápolis. Até que mais uma zaragata no Café Creole, em plena capital do Luisiana, entre os desavindos competidores, leva-os ao espectacular desafio de uma corrida - como se fosse uma viagem normal - decisiva, pois o vencedor ficará com o exclusivo da exploração fluvial. O pior é que Lowriver é traiçoeiro, recorrendo aos truques mais desonestos para ganhar. O melhor é que Barrows conta com Lucky Luke - o cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra - para travar as investidas e chegar a bom porto… Em mais um clássico das aventuras de Lucky Luke, reeditado sob cancela Asa, eis Subindo o Mississipi (1961) com argumento de René Goscinny (1926-1977) e ilustração de Morris - aliás, Maurice de Bevère (1923-2001). Cinquenta anos depois, eis a ironia actual e fabulosa, como reconhecia Morris, de um «herói que atrai sucessivas gerações... Parece incrível! Esse é o privilégio da bd, sobretudo de carácter popular: o interesse continua, para sempre».
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MEMÓRiA

12SET1902-1981 - Malcolm de Chazal: Escritor e pintor maurício - «O homem está pronto para tudo, desde que lhe seja dito com mistério… Quem quer ser acreditado, deve falar baixo». IMAG.341

1533-13SET1592 - Michel de Montaigne: Escritor e ensaísta francês - «A morte não nos diz respeito, nem mortos nem vivos; vivos, porque ainda o estamos; mortos, porque já não existimos».

1929-14SET1982 - Grace Kelly: Actriz americana de cinema, princesa do Mónaco - «A emancipação da mulher fê-la perder o seu mistério». IMAG.47-250-381

CALENDÁRIO

05OUT1922-08NOV2011 - William Aloysius Keane, aliás Bil Keane: Ilustrador americano, cartoonista e criador de The Family Circus (1960) - «Ontem é o passado, amanhã é o futuro e o hoje é uma oferta… É por isso que lhe chamamos presente».

11NOV-10DEZ2011 - Em Lisboa, Bartleby (Rua da Imprensa Nacional nº 108-B, cave do restaurante BS), expõe Os Animais Domésticos e os Electrodomésticos, livros e gravuras de Maria João Worm. IMAG.289-301-325-359

15NOV-31DEZ2011 - No átrio da Casa da Moeda, Imprensa Nacional - Casa da Moeda expõe Cartas da Real Fábrica.

15NOV2011-25MAR2012 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga expõe Cuerpos de Dolor - A Imagem do Sagrado Na Escultura Espanhola (1500-1750).

18NOV2011-29JAN2012 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, com Artistas Unidos, Quatro - exposição de pintura por Sofia Areal, Manuel Casimiro, Jorge Martins e Nikias Skapinakis. IMAG.42-46-72-102-281-333-341-358

20NOV-31DEZ2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta D. Carlos - Um Olhar Sobre o Rei Pintor de Isabel de Goes.

25NOV2011-05FEV2012 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Holes de Mercedes Lara.

26NOV2011-26FEV2012 - Museu da Cidadela, em Cascais, apresenta Jogo da Glória - O Século XX Malvisto Pelo Desenho de Humor, exposição organizada a partir da Colecção Ricon Peres.

1927-27NOV2011 - Ken Russell: Cineasta inglês - «Fazer filmes é muito complicado, e creio que a palavra acessível faz supor que se trata de uma actividade simples - quando, de facto, é extremamente difícil… Ao contrário da maior parte das pessoas, a realidade não me atrai, é algo sem interesse. Está demasiado à nossa volta». IMAG.166

27NOV2011 - Em Bali, na Indonésia, o Fado é proclamado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

30NOV2011-14JAN2014 - No Teatro da Politécnica, em Lisboa, Artistas Unidos apresenta A Farsa da Rua W de Enda Walsh; com Américo Silva e João Meireles.

30NOV2011-22JAN2012 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva expõe Vieira da Silva & Gerardo Rueda - Um Diálogo Convergente. IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382

VISTORiA

Viver No Escuro ou Na Sombra

O objecto que amamos parece-nos mais belo do que é, por isso vemos com frequência mulheres feias e mal-feitas serem adoradas e desfrutarem de grandes honras (Lucrécio), e mais feio aquele pelo qual temos aversão. Para um homem contrariado e aflito, a claridade do dia parece escurecida e tenebrosa. Os nossos sentidos são não apenas alterados mas, amiúde, totalmente embrutecidos pelas paixões da alma. Quantas coisas vemos, que não perceberemos se tivermos o nosso espírito ocupado alhures? Mesmo com coisas bem visíveis, reconhecerás que, se não lhes aplicares o espírito, é como se desde sempre elas estivessem ausentes ou muito distantes (Lucrécio). Parece que a alma traz para o interior e transvia os poderes dos sentidos. Dessa maneira, tanto o interior como o exterior do homem são cheios de fraqueza e de mentira.
Os que compararam a nossa vida com um sonho tiveram razão, talvez, mais do que pensavam. Quando sonhamos, a nossa alma vive, age, exerce todas as suas faculdades, nem mais nem menos do que quando está em vigília; porém de modo mais frouxo e obscuro, decerto não tanto que a diferença seja como da noite para uma viva claridade, mas sim como da noite para a sombra: lá ela dorme, aqui dormita, mais e menos. São sempre trevas, e trevas profundas e perpétuas.

Michel de Montaigne
- Ensaios

A testa
Sorri
Entre
As
Crianças.

Se o ar
Não se tornasse
Borboleta
Como
Poderia
A borboleta
Voar
No
Ar?

O robô
É
O cego
Conduzindo
O paralítico.

Para
A lama
A porcaria
É
A água.

As plantas
Só têm
Complexo
No
Pote.

As mulheres
Procuram
Deus
Na
Igreja
E o Diabo
Na cama.

Malcolm de Chazal

COMENTÁRiO

François Truffaut: …Não tenho a certeza de que o seu gosto coincida com o da maioria das pessoas. Parece-me que o público masculino gosta das mulheres chamativas, e isso poderia confirmar-se pelo facto de algumas delas atingirem o estatuto de estrelas, embora intervenham quase sempre em filmes medíocres - como Jane Russell, Marilyn Monroe, Sophia Loren, Brigitte Bardot. Creio que a grande maioria do público aprecia o sexo explícito ou, como o senhor diz, «o sexo estampado no rosto».
Alfred Hitchcock: É possível, mas você mesmo concorda comigo, que elas só têm feito filmes maus. E porquê? Porque, com elas, não pode haver surpresa nem, portanto, cenas impecáveis; com elas, não há a descoberta do sexo. Tome em atenção o princípio de Ladrão de Casaca / To Catch a Thief (1955). Fotografei Grace Kelly impassível, e a posição mais frequente que escolho é a de perfil, com um ar clássico, muito esbelta e glacial. Mas, enquanto caminha pelos corredores do hotel, e Cary Grant a acompanha até à porta do quarto, o que faz ela? Sem rodeios, mete os seus lábios entre os do homem.
François Truffaut: Isso é verdade, mas aí esperava-se tudo, menos uma tal reacção. No entanto, em meu entender, a sua teoria do sexo um pouco frígido é algo que o senhor consegue impor, independentemente da inclinação natural do público, a quem apetece ir logo ver as tais mulheres fáceis.
Alfred Hitchcock: Talvez tenha razão, mas não se esqueça de que, quando um filme meu acaba, sente-se que os espectadores estão satisfeitos.
François Truffaut: Eu não me esqueço, mas atrevo-me a propor uma hipótese: não acha que esse aspecto dos seus filmes agrada mais ao público feminino do que ao masculino?
Alfred Hitchcock: É possível, mas responder-lhe-ei que, num casal, é a mulher quem escolhe o filme que vão ver; e direi mais, é ela quem decide, no fim, se era bom ou mau. As mulheres podem suportar a vulgaridade na tela, desde que não a protagonizem pessoas do seu próprio sexo. O meu trabalho com Grace Kelly consistiu em proporcionar-lhe, de Chamada Para a Morte / Dial M For Murder (1954) a Ladrão de Casaca, papéis cada vez mais interessantes, de um filme para o outro. Em Ladrão de Casaca, que era sobretudo uma comédia nostálgica, eu sabia que não podia optar por um final completamente feliz. Por isso rodei aquela cena que decorre numa árvore, quando Grace Kelly segura Cary Grant por uma manga. Cary Grant deixa-se convencer, casará com Grace Kelly, mas a sogra irá viver com eles. Deste modo, será um epílogo quase trágico.
François Truffaut
- O Cinema de Alfred Hitchcock
BREVIÁRIO

Colibri edita Da Riviera Portuguesa à Costa do Sol - Fundação, Desenvolvimento e Afirmação de Uma Estância Turística (Cascais - 1850-1930) por João Miguel Henriques. IMAG.176

Universal edita em DVD, sob chancela Deutsche Grammophon, Ioan Holender Farewell Concert com Wiener Staatsoper.

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