PRONTUÁRiO
IMPRESSÕES
«Terça-feira,
18 de Outubro - O talento dos
autores a que nos
dedicamos é uma espécie de adubo que nos faz medrar. Uma pequena
notoriedade é ganha à sua custa.» Assim regista Ricardo António
Alves em Abencerragem - 1. Do
Escritório às Palavras - um
tomo referencial, apelativo, reunindo impressões, anotações,
excertos de opiniões e testemunhos, coligidos a partir de 2005. A
abrir esta edição sob chancela Livros do Estoril, qual diário
estruturado por apreços e alusões culturais, fragmentários mas
irresistíveis, desvenda o autor: «pareceu-me que não devia deixar
para trás os sons e as imagens que me vão acompanhando». E, a
páginas tantas: «Terça-feira,
29 de Março - 2 versos de
Carlos Drummond de Andrade: “Penetra surdamente no reino das
palavras / Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”» Todo
um universo favorito e crítico, memorial, amplo ou peculiar, de
intuições plásticas e literárias, de expressão clássica ou
moderna, e até ironia melómana: «Terça-feira,
1 de Novembro - Origens. Se
ouvirem o antigo cabeleireiro Chuck Berry, perceberão de onde vêm
os Rolling Stones.» . IMAG.26-47-180
CALENDÁRiO
27OUT2011
- O álbum gráfico O Diário
de K (2001) de Filipe
Abranches, adaptação de A
Morte do Palhaço (1926) de
Raul Brandão, é inserido no guia 1001
Bandas Desenhadas Para Ler Antes de Morrer de
Paul Gravett, com prefácio de Terry Gilliam em edição Universe.
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30OUT2011
- No âmbito do 22º Festival Internacional de Banda Desenhada -
Amadora Bd 2011, O Amor
Infinito Que Te Tenho e Outras Histórias de
Paulo Monteiro - com edição Polvo - é distinguido como Melhor
Álbum Português de Banda Desenhada. IMAG.36-149-226
MEMÓRiA
1829-24AGO1912
- Raimundo António de Bulhão
Pato: Ficcionista, poeta, ensaísta e memorialista português - «O
marquês de Sabugosa e eu tínhamos nossas fumaças de bons
andadores. Ufanávamo-nos de, havendo saído de uma reunião em casa
do marquês de Penalva, à Patriarcal, de chibatinha na mão - das
que então se chamavam polkas - irmos até ao palácio de São
Lourenço, a Santo Amaro, e, resolvendo-nos subitamente, sem pregar
olho, batermos connosco em Sintra! Contámos, com certo orgulho, a
aventura a Alexandre Herculano, quando na volta, que foi também a pé
no dia seguinte, lhe caímos em casa sobre a ceia, impando de glória
e mortos de fome; porque o nosso dinheiro, naquela viagem, fora meia
moeda e quando regressávamos, chegando a Queluz, possuíamos 30
reis, que comprámos de uvas!» (A
Cruz Mutilada - excerto).
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1704-25AGO1742
- José António Carlos de Seixas, aliás Carlos Seixas: Compositor,
cravista e organista da corte de D. João V - «Quiz
o Sereníssimo Senhor Infante D. António que o grande Escarlate
(Domenico
Scarlatti), pois
se achava em Lisboa no mesmo tempo lhe desse alguma lição,
regulando-se por aquela ideia errada de que os portugueses por mais
que fação nunca chegarão a fazer o que fazem os Estrangeiros, e o
mandou ao dito: este apenas o viu pôr as mãos no cravo, conhecendo
o gigante pelo dedo, lhe disse - Vossa mercê é que me pode dar
lições, e encontrando-se com aquele Senhor lhe disse - Vª Alteza
mandou-me examinar, pois saiba que aquele sujeito é dos maiores
professores que eu tenho ouvido» (José Mazza - Século XVIII).
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1915-29AGO1982
- Ingrid Bergman: Actriz sueca do cinema internacional - «Eu não
tenho arrependimentos. E não teria vivido a minha vida do modo que
vivi, se fosse preocupar-me com o que as pessoas iriam comentar».
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VISTORiA
A
Morte de José António Carlos (Seixas), Famoso Cravista
Por
perpétuo silêncio a Parca dura
Do Luso Orféo à doce melodia,
Já se vê os assombros da harmonia
Clauzurados no horror da Sepultura.
Do Luso Orféo à doce melodia,
Já se vê os assombros da harmonia
Clauzurados no horror da Sepultura.
Na
destreza feliz, na ideia pura
Do impulso humano as forças excedia,
E invejando-lhe a morte a idolatria
Provar-lhe o culto em lágrimas porfia.
Do impulso humano as forças excedia,
E invejando-lhe a morte a idolatria
Provar-lhe o culto em lágrimas porfia.
Se
deve à Pátria o seu merecimento
Glória imortal em vida transitória
Seja igual à jactância hoje o lamento.
Glória imortal em vida transitória
Seja igual à jactância hoje o lamento.
Porém
de tanta perda na memória,
Aonde irá parar o sentimento
Se serve a pena a proporção da glória.
Aonde irá parar o sentimento
Se serve a pena a proporção da glória.
Colecção
de Sonetos sérios que se não acham impressos,
extraídos
dos manuscritos antigos e modernos, com data de 1786 (Biblioteca
Nacional)
COMENTÁRiO
François
Truffaut: No fim de A
Casa Encantada/Spellbound
(1945), quando a mão do médico sustém a pistola, no eixo da
silhueta de Ingrid Bergman?...
Alfred
Hitchcock: Sim. Havia uma maneira
mais simples de fazer isso. Se inundarmos a cena de luz, pode-se
trabalhar com uma abertura pequena. Mas o operador, em Spellbound,
não foi capaz de o concretizar. Era um técnico muito conhecido:
George Barnes. Eu já tinha trabalhado com ele em Rebecca
(1940). Disse-me que não
podia fechar o diafragma, porque prejudicaria
o rosto de Ingrid Bergman. A
verdadeira razão é que ele era, em Hollywood, um fotógrafo de
mulheres. Na época das grandes estrelas, quando estas começavam a
ficar com algumas rugas, este tipo de operadores punha uma gaze
velada, diante da objectiva. Depois, reparou-se que isso era bom para
o rosto, mas não para o olhar. Então o operador, com um cigarro,
passou a fazer dois furos na gaze, que correspondiam à posição da
vista. Assim, o rosto era suave e os olhos cintilavam, mas,
evidentemente, elas não podiam mexer a cabeça. Então, passaram do
véu de gaze aos filtros difusores. Mas isso colocava, também, um
problema. A vedeta dizia ao chefe-operador: «Os meus amigos comentam
que estou a envelhecer, que comigo já recorrem à difusão, e isso
nota-se, quando inserem grandes planos meus, a meio de uma cena».
Então, o chefe-operador respondia: «Vou resolver isso». E era
muito simples: decidia criar o mesmo efeito difusor no resto do
filme; por isso, quando se procedia à inserção do primeiro plano,
já não havia diferença!
François
Truffaut
-
O Cinema de Alfred Hitchcock
BREVIÁRiO
Teorema
edita Na Casa de Honey de
Elmore Leonard; tradução de Luís Ruivo Domingos. IMAG.182
Universal
edita em CD, sob chancela Decca, Verismo
Arias pelo tenor Jonas
Kaufmann, com Coro e Orquestra da Academia de Santa Cecilia, sob a
direcção de Antonio Papano.
Antígona
edita Ondina de
Friedrich de La Motte-Fouqué (1777-1843); tradução de Manuela
Gomes, prefácio de Teolinda Gersão.
Sony
edita em CD, J.S. Bach
[1685-1750]:
Concertos pelo
pianista Murray Perahia.
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Quetzal
edita Onze Tipos de Solidão
de Richard Yates; tradução
de Nuno Guerreiro Josué.
Harmonia
Mundi edita em CD, Ludwig van Beethoven
[1770-1827]: Complete Piano
Concertos por Paul Lewis, com
Sinfónica da BBC, sob a direcção de Jiri Belohlávek.
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Dom
Quixote edita Os Terraços de
Junho de Urbano Tavares
Rodrigues. IMAG.71-96-157-229

Ática
edita Como Organizar Portugal
de Fernando Pessoa
(1888-1935).
IMAG.
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VISTORiA
As
Folhas Caídas

Estava
num momento análogo àquele, que lhe inspirara numas páginas de
prosa, que vêm nas Flores sem
Fruto - esta apóstrofe à
solidão:
«Solidão,
eu te saúdo! Silêncio dos bosques, salve!
A
ti venho, ó natureza: abre-me o teu seio.
Venho
depor nele o peso aborrecido da existência; venho despir as fadigas
da vida.»
Supunha,
iludido pela dor, que poderia prescindir do mundo, ele, o mais
mundano de todos os artistas; ele, para quem os fastígios do poder,
as pompas do luxo, os máximos requintes do gosto; as pérolas, as
safiras, as esmeraldas e os diamantes, rutilando no seio, nas mãos,
nos cabelos negros retintos, ou loiros acendrados, da mulher
apetecida - ou adorada - se tornavam impreteríveis!
Mas,
no momento, a sua dor era intensa e sincera; por isso, confirmando o
preceito de Horácio, ao descrevê-la a todos nos comovia.
Grandes
foram as provações por que passou aquele desmesurado espírito!
Para quem o lidou de perto, sobretudo nos últimos tempos, pelos seus
versos - Flores sem Fruto
e Folhas Caídas
- é fácil determinar quais foram as crises, os acessos dolorosos,
no drama daquele coração, que teve mais de um afecto, que
facilmente se deixava seduzir, mas que tão profunda, tão
arrebatadamente se apaixonava!
Depois
de grandes desgostos domésticos, que as dicacidades brutais e
malévolas de ânimos corrompidos vinham ainda envenenar, o poeta
parecia sucumbir aos revezes da má fortuna.
Bulhão
Pato
Tarzan
dos Macacos
Foi
com o Russ Manning que comecei a seguir as aventuras do Tarzan. As
historinhas saíam aqui nas publicações toscas da Agência
Portuguesa de Revistas, enquanto que a brasileira EBAL anunciava as
edições de Burne Hogarth («tudo em cor»), artista que o Vasco
Granja me ensinara ser «o Miguel Ângelo das histórias em
quadrinhos». Lamento, mas eu gostava muito mais de ler o Russ
Manning, com todas aquelas inverosimilhanças - parece que muito fiel
ao Burroughs - do que o perfeccionista Hogarth, com os seus
correctíssimos estudos anatómicos para atingir uma BD plena de
euritmia.
Ricardo
António Alves
-
Abencerragem - 1. Do
Escritório às Palavras - Quarta-feira, 26 de Outubro
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