PRONTUÁRiO
CLARIVIDÊNCIA
Distinguido
em 1997 com o Prémio Reuben para o Melhor Desenhador, e actualmente
com 54 anos, Scott
Adams
- o
inefável criador do irresistível Dilbert
- é um artista bizarro, preciosista, cuja improvável consagração
provem da perspectiva irónica e burocrática
com que explora - agora a cores como se impunha, e pelas
vivências pessoais / profissionais
- as diversas temáticas em alusivo privilégio. Assim, e a propósito
de Liberdade
É Só Mais Uma Palavra Para as Pessoas Descobrirem Que És
Incompetente,
sob chancela Asa, desvenda como «a única maneira de escapar à
escravidão da competência é cultivar cuidadosamente uma reputação
de ser minuciosamente incompetente»…
Nas
origens,
Dilbert
ganhou
fama e proveito com tiras diárias em
The
New York Times,
distribuindo-se depois por uns 1.950 outros jornais, como o nosso
Diário
de Notícias.
Dilbert
é
um
engenheiro informático, com cerca de 30 anos, cínico e inútil.
Adams colheu inspiração como engenheiro de sistemas na Pacific Bell
- permanecendo nesta companhia dos telefones durante anos. Com
proveitos duvidosos, segundo Dilbert, «porque
o meu projecto é uma desgraça ambulante e porque o meu chefe doou o
cérebro a um museu de pastilhas elásticas».IMAG.261-346
MEMÓRiA
1884-16OUT1962
- Gaston Bachelard: Filósofo e poeta francês - «O real não é
nunca aquilo em que se poderia acreditar, mas é sempre aquilo em que
deveríamos ter pensado».
1740-18OUT1802
- Sophie Arnould: Cantora de ópera, soprano francesa - «A maior
parte das mulheres galantes entrega-se a Deus, quando o Diabo já não
as pretende».
21OUT1772-1834
- Samuel Taylor Coleridge: Filósofo e poeta inglês - «Os críticos
são, frequentemente, pessoas que teriam sido poetas, historiadores,
biógrafos… se tivessem podido; colocaram o seu talento à prova
aqui e ali, e não conseguiram. Por isso, tornaram-se críticos».
1794-21OUT1872
- Jacques Babinet: Cientista francês, membro da Academia das
Ciências - «A física, a química, a astronomia e a meteorologia
devem-lhe grandes serviços». 28OUT1872
- Diário de Notícias
21OUT1982
- O Prémio Nobel da Literatura é atribuído a Gabriel García
Márquez, pela «corajosa posição ao lado dos pobres, vítimas da
opressão interna e da exploração estrangeira».
IMAG.13-224-261-294
1811-23OUT1872
- Théophile Gautier: Ficcionista e poeta francês - «Poucas pessoas
têm a coragem de ser covardes diante de testemunhas». IMAG.334
23OUT1942-2008
- Michael Crichton: Escritor e produtor de cinema e televisão, autor
de Parque
Jurássico -
«Era o melhor a misturar
aspectos da ciência com grandes conceitos dramáticos, e isto deu
credibilidade a um imaginário em que os dinossauros vivem de novo
sobre Terra. Tinha um temperamento gentil, e reservou a sua faceta
mais extravagante para as narrativas literárias. Não há ninguém
em tal actividade que possa preencher a sua ausência, ou continuar o
seu trabalho romanesco» (Steven Spielberg). IMAG.26-223
VISTORiA
E
se dormisses,
e
se, dormindo, sonhasses,
e
se, no teu sonho, viajasses até ao Céu,
e
lá colhesses uma estranha e bela flor,
e
se, ao acordar, encontrasses essa flor na tua mão?
Ah,
que farias então?
Samuel
Taylor Coleridge
Os
próprios deuses morrem,
Mas os vermes soberanos
Residem
Mais fortes que os bronzes.
Esculpe, lima, grava;
O teu sonho flutuante
Sela-se
No bloco resistente!
Mas os vermes soberanos
Residem
Mais fortes que os bronzes.
Esculpe, lima, grava;
O teu sonho flutuante
Sela-se
No bloco resistente!
Théophile
Gautier
-
A Arte
(excerto)
VISTORiA
O
espírito científico é essencialmente uma rectificação do saber,
um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado,
condenando-o. A sua estrutura é a consciência dos seus erros
históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como rectificação
histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como
rectificação da ilusão comum e primeira.
Gaston
Bachelard
-
O Novo Espírito Científico (excerto)
Foi
seu último livro. Tinha sido um leitor de voracidade imperturbável,
tanto nas tréguas das batalhas como nos repousos do amor, mas sem
ordem nem método. Lia a toda hora, com a luz que houvesse, ora
passeando debaixo das árvores, ora a cavalo sob os sóis
equatoriais, ora na penumbra dos coches trepidantes sobre os
empedrados, ora balouçando na rede enquanto ditava uma carta. Um
livreiro de Lima surpreendera-se com a abundância e a variedade das
obras que seleccionou de um catálogo geral onde havia desde os
filósofos gregos até um tratado de quiromancia. Na juventude, lera
os românticos por influência de um professor Simon Rodríguez, e
continuou a devorá-los como se estivesse a ler a si mesmo com seu
temperamento idealista e exaltado. Foram leituras passionais que o
marcaram para o resto da vida. Por fim, havia lido tudo o que lhe
caíra nas mãos, e não teve um autor predilecto, mas muitos que o
foram em diferentes épocas. As estantes das diversas casas onde
viveu estavam sempre abarrotadas, e os dormitórios e corredores
acabavam convertidos em desfiladeiros de livros amontoados e
montanhas de documentos errantes que proliferavam à sua passagem, e
o perseguiam sem misericórdia buscando a paz dos arquivos. Nunca
chegou a ler tantos livros quantos possuía. Ao mudar de cidade,
entregava-os aos cuidados dos amigos de maior confiança, embora
nunca voltasse a ter notícia deles, e a vida de guerra obrigou-o a
deixar um rasto de mais de quatrocentas léguas de livros e papéis,
da Bolívia à Venezuela.
Gabriel
García Márquez
-
O General No Seu Labirinto
(1989 - excerto)
CALENDÁRiO
1934-03JAN2012
- Victor Arriagada Ríos, aliás Vicar: Autor chileno de banda
desenhada, ilustrador de Pato
Donald / Donald Duck no
mercado europeu - «Era um artista muito complexo, muito académico»
(Herman Vidal/Hervi).
21ABR1912-04JAN2012
- Eve Arnold: Fotógrafa americana, fotojornalista e membro da
Agência Magnum - «Eu já fui pobre e quis documentar a pobreza;
perdi uma criança e andava obcecada com o nascimento; estava
interessada em política e queria saber coma ela afecta as nossas
vidas; eu sou uma mulher e queria saber mais sobre as mulheres».
1939-05JAN2012
- Pedro Osório: Compositor, maestro, orquestrador e pianista
português - «…Era tão multifacetado quanto exigente e empenhado
em cada projecto a que se dedicava… Imprimiu sempre uma marca de
contemporaneidade e modernidade na música ligeira portuguesa»
(Francisco José Viegas). IMAG.261
1929-08JAN2012
- Alexis Weissenberg: Compositor e pianista búlgaro, naturalizado
francês - «Intelectualmente honesto, irónico e com uma certa
distância em relação ao mundo. Não lhe interessava a fama, nem a
intensa carreira de um pianista de concerto. Só tocava quando sentia
que tinha algo a dizer ao mundo» (Norman Lebrecht).
20JAN-25FEV2012
- Em Guimarães, Laboratório das Artes expõe Marcha
Lenta de Manuel Botelho.
IMAG.364
NOTICIÁRiO
O
Homem das Selvas
Diz
a Gazeta de Goa
que na vila de Acqvebapuz, província de Fysabá, em Bengala,
apareceu um mancebo solitário, que vivia n’um covil de lobo e no
estado inteiramente selvagem e primitivo. Só come carne crua, não
fala língua alguma e foge para a solidão.
14SET1872
- Diário de Notícias
COROLÁRiO
Canção
Colonial
Blanco
dizi neglo furta
Neglo
furta é ladrão;
Mas
i blanco també furta
Té
unha di gavião.
20OUT1872
- Diário de Notícias
ANTIQUÁRiO
OUT1872
- Neste mês, exportam-se de Lisboa 93 bois vivos, no valor de
6:280$000 réis.
BREVIÁRiO
Eucleia
edita Não Humano de
Osamu Dazai (1909-1948); tradução de Ana Neto.
COMENTÁRiO
Conta-me
Como Foi…
Podemos
certamente seguir o cinismo ou derrisão de Álvaro de Campos quando,
depois de aceite a inevitabilidade das cartas de amor e do seu
ridículo, conclui que, afinal, as memórias actuais que tem «Dessas
cartas de amor/ É que são/ Ridículas». Mas não é apenas (ou
principalmente) a exposição dessa fragilidade humana que move
Manuel Botelho, na sua pesquisa e recriação. Ele é um dos autores
que têm, no novo século, de modo profundo e inovador, trabalhado
sobre o continente artisticamente quase inexplorado que é a Guerra
colonial e a presença portuguesa em África.
João
Pinharanda
(MAI
2011 - excerto)
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