segunda-feira, outubro 23, 2017

IMAGINÁRiO #391

José de Matos-Cruz | 16 Outubro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

CLARIVIDÊNCIA
Distinguido em 1997 com o Prémio Reuben para o Melhor Desenhador, e actualmente com 54 anos, Scott Adams - o inefável criador do irresistível Dilbert - é um artista bizarro, preciosista, cuja improvável consagração provem da perspectiva irónica e burocrática com que explora - agora a cores como se impunha, e pelas vivências pessoais / profissionais - as diversas temáticas em alusivo privilégio. Assim, e a propósito de Liberdade É Só Mais Uma Palavra Para as Pessoas Descobrirem Que És Incompetente, sob chancela Asa, desvenda como «a única maneira de escapar à escravidão da competência é cultivar cuidadosamente uma reputação de ser minuciosamente incompetente»…
Nas origens, Dilbert ganhou fama e proveito com tiras diárias em The New York Times, distribuindo-se depois por uns 1.950 outros jornais, como o nosso Diário de Notícias. Dilbert é um engenheiro informático, com cerca de 30 anos, cínico e inútil. Adams colheu inspiração como engenheiro de sistemas na Pacific Bell - permanecendo nesta companhia dos telefones durante anos. Com proveitos duvidosos, segundo Dilbert, «porque o meu projecto é uma desgraça ambulante e porque o meu chefe doou o cérebro a um museu de pastilhas elásticas».IMAG.261-346

MEMÓRiA

1884-16OUT1962 - Gaston Bachelard: Filósofo e poeta francês - «O real não é nunca aquilo em que se poderia acreditar, mas é sempre aquilo em que deveríamos ter pensado».

1740-18OUT1802 - Sophie Arnould: Cantora de ópera, soprano francesa - «A maior parte das mulheres galantes entrega-se a Deus, quando o Diabo já não as pretende».

21OUT1772-1834 - Samuel Taylor Coleridge: Filósofo e poeta inglês - «Os críticos são, frequentemente, pessoas que teriam sido poetas, historiadores, biógrafos… se tivessem podido; colocaram o seu talento à prova aqui e ali, e não conseguiram. Por isso, tornaram-se críticos».

1794-21OUT1872 - Jacques Babinet: Cientista francês, membro da Academia das Ciências - «A física, a química, a astronomia e a meteorologia devem-lhe grandes serviços». 28OUT1872 - Diário de Notícias

21OUT1982 - O Prémio Nobel da Literatura é atribuído a Gabriel García Márquez, pela «corajosa posição ao lado dos pobres, vítimas da opressão interna e da exploração estrangeira». IMAG.13-224-261-294

1811-23OUT1872 - Théophile Gautier: Ficcionista e poeta francês - «Poucas pessoas têm a coragem de ser covardes diante de testemunhas». IMAG.334

23OUT1942-2008 - Michael Crichton: Escritor e produtor de cinema e televisão, autor de Parque Jurássico - «Era o melhor a misturar aspectos da ciência com grandes conceitos dramáticos, e isto deu credibilidade a um imaginário em que os dinossauros vivem de novo sobre Terra. Tinha um temperamento gentil, e reservou a sua faceta mais extravagante para as narrativas literárias. Não há ninguém em tal actividade que possa preencher a sua ausência, ou continuar o seu trabalho romanesco» (Steven Spielberg). IMAG.26-223

VISTORiA

E se dormisses,
e se, dormindo, sonhasses,
e se, no teu sonho, viajasses até ao Céu,
e lá colhesses uma estranha e bela flor,
e se, ao acordar, encontrasses essa flor na tua mão?
Ah, que farias então?
Samuel Taylor Coleridge

Os próprios deuses morrem,
Mas os vermes soberanos
Residem
Mais fortes que os bronzes.

Esculpe, lima, grava;
O teu sonho flutuante
Sela-se
No bloco resistente!
Théophile Gautier
- A Arte (excerto)

VISTORiA

O espírito científico é essencialmente uma rectificação do saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado, condenando-o. A sua estrutura é a consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como rectificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como rectificação da ilusão comum e primeira.
Gaston Bachelard
- O Novo Espírito Científico (excerto)

Foi seu último livro. Tinha sido um leitor de voracidade imperturbável, tanto nas tréguas das batalhas como nos repousos do amor, mas sem ordem nem método. Lia a toda hora, com a luz que houvesse, ora passeando debaixo das árvores, ora a cavalo sob os sóis equatoriais, ora na penumbra dos coches trepidantes sobre os empedrados, ora balouçando na rede enquanto ditava uma carta. Um livreiro de Lima surpreendera-se com a abundância e a variedade das obras que seleccionou de um catálogo geral onde havia desde os filósofos gregos até um tratado de quiromancia. Na juventude, lera os românticos por influência de um professor Simon Rodríguez, e continuou a devorá-los como se estivesse a ler a si mesmo com seu temperamento idealista e exaltado. Foram leituras passionais que o marcaram para o resto da vida. Por fim, havia lido tudo o que lhe caíra nas mãos, e não teve um autor predilecto, mas muitos que o foram em diferentes épocas. As estantes das diversas casas onde viveu estavam sempre abarrotadas, e os dormitórios e corredores acabavam convertidos em desfiladeiros de livros amontoados e montanhas de documentos errantes que proliferavam à sua passagem, e o perseguiam sem misericórdia buscando a paz dos arquivos. Nunca chegou a ler tantos livros quantos possuía. Ao mudar de cidade, entregava-os aos cuidados dos amigos de maior confiança, embora nunca voltasse a ter notícia deles, e a vida de guerra obrigou-o a deixar um rasto de mais de quatrocentas léguas de livros e papéis, da Bolívia à Venezuela.
Gabriel García Márquez
- O General No Seu Labirinto (1989 - excerto)

CALENDÁRiO

1934-03JAN2012 - Victor Arriagada Ríos, aliás Vicar: Autor chileno de banda desenhada, ilustrador de Pato Donald / Donald Duck no mercado europeu - «Era um artista muito complexo, muito académico» (Herman Vidal/Hervi).

21ABR1912-04JAN2012 - Eve Arnold: Fotógrafa americana, fotojornalista e membro da Agência Magnum - «Eu já fui pobre e quis documentar a pobreza; perdi uma criança e andava obcecada com o nascimento; estava interessada em política e queria saber coma ela afecta as nossas vidas; eu sou uma mulher e queria saber mais sobre as mulheres».

1939-05JAN2012 - Pedro Osório: Compositor, maestro, orquestrador e pianista português - «…Era tão multifacetado quanto exigente e empenhado em cada projecto a que se dedicava… Imprimiu sempre uma marca de contemporaneidade e modernidade na música ligeira portuguesa» (Francisco José Viegas). IMAG.261

1929-08JAN2012 - Alexis Weissenberg: Compositor e pianista búlgaro, naturalizado francês - «Intelectualmente honesto, irónico e com uma certa distância em relação ao mundo. Não lhe interessava a fama, nem a intensa carreira de um pianista de concerto. Só tocava quando sentia que tinha algo a dizer ao mundo» (Norman Lebrecht).

20JAN-25FEV2012 - Em Guimarães, Laboratório das Artes expõe Marcha Lenta de Manuel Botelho. IMAG.364

NOTICIÁRiO

O Homem das Selvas
Diz a Gazeta de Goa que na vila de Acqvebapuz, província de Fysabá, em Bengala, apareceu um mancebo solitário, que vivia n’um covil de lobo e no estado inteiramente selvagem e primitivo. Só come carne crua, não fala língua alguma e foge para a solidão.
14SET1872 - Diário de Notícias

COROLÁRiO

Canção Colonial

Blanco dizi neglo furta
Neglo furta é ladrão;
Mas i blanco també furta
Té unha di gavião.
20OUT1872 - Diário de Notícias

ANTIQUÁRiO

OUT1872 - Neste mês, exportam-se de Lisboa 93 bois vivos, no valor de 6:280$000 réis.

BREVIÁRiO

Eucleia edita Não Humano de Osamu Dazai (1909-1948); tradução de Ana Neto.

COMENTÁRiO

Conta-me Como Foi…
Podemos certamente seguir o cinismo ou derrisão de Álvaro de Campos quando, depois de aceite a inevitabilidade das cartas de amor e do seu ridículo, conclui que, afinal, as memórias actuais que tem «Dessas cartas de amor/ É que são/ Ridículas». Mas não é apenas (ou principalmente) a exposição dessa fragilidade humana que move Manuel Botelho, na sua pesquisa e recriação. Ele é um dos autores que têm, no novo século, de modo profundo e inovador, trabalhado sobre o continente artisticamente quase inexplorado que é a Guerra colonial e a presença portuguesa em África.
João Pinharanda
(MAI 2011 - excerto)

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