terça-feira, abril 24, 2018

IMAGINÁRiO #499

José de Matos-Cruz | 18 Janeiro 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

EFABULAÇÕES
Sobretudo motivadas para a publicação, em álbuns coloridos, das obras-primas e da produção em série de origem franco-belga, as principais editoras europeias foram alterando, estrategicamente, uma opção de actualidade - pela oferta de títulos prestigiados ou alusivos sobre clássicos da literatura, em especial para jovens, através da recriação quadrinizada por artistas americanos. Trata-se de uma alternativa aos comics tradicionais que, podendo atrair os leitores fanáticos, suscita outros horizontes de fascinação aos destinatários primordiais. Assim, destacam-se os Contos de Fadas de Oscar Wilde / Fairy Tales of Oscar Wilde (1992-2004), ilustrados por P. Craig Russell: um imaginário sob o signo fantástico - em que o lendário da magia, o elã prodigioso, o onírico e a antiguidade correspondem, no entanto, a uma bizarra expressão dos valores e da moralidade, inerentes ao culto, e simbolizada numa contemporânea equivalência sobre os sentimentos humanos, ou numa dramática implicação sob as contingências do real… Incidências efabuladas pela alegoria desmesurada e, afinal, expostas ao precário epílogo da felicidade, ante a crueldade e os privilégios, a solidão ou os pavores infantis.

CALENDÁRiO

1961-28JAN2014 - Philippe Delaby: Artista belga de banda desenhada - «A sua paixão, a sua energia, o seu sentido do detalhe, da découpage, e a força das suas personagens, fizeram da série Murena, com argumentos do seu amigo Jean Dufaux, um sucesso internacional, plebiscitado por milhares de leitores e reconhecido pelos maiores especialistas da antiguidade romana» (Dargaud). IMAG.88-436

1923-29JAN2014 - François Cavanna: Autor francês, ficcionista e desenhador satírico, fundador das revistas Hara-Kiri e Charlie Hebdo - «O grande sacerdote do humor francês» (Charb).

31JAN-06ABR2014 - Em Lisboa, Museu da Cidade apresenta Sopros de Vida, exposição de pintura e escultura de Gil Teixeira Lopes. IMAG.236

31JAN-15ABR2014 - Em Lisboa, BES Arte & Finança apresenta Amar as Diferenças de Michelangelo Pistoletto e Marco Martins; curadoria pelo Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua. IMAG.58-125-173-292-300

1933-02FEV2014 - Eduardo de Oliveira Coutinho, aliás Eduardo Coutinho: Cineasta brasileiro, realizador de Cabra Marcado Para Morrer (1984) - «Um dos maiores documentaristas do Brasil» (Diário de Notícias).

1967-02FEV2014 - Philip Seymour Hoffman: Actor americano, distinguido com o Oscar por Capote (2005) - «Era, verdadeiramente, um homem gentil, maravilhoso, e um dos nossos mais talentosos actores de todos os tempos» (Mia Farrow). IMAG.84

06FEV-19ABR2014 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Escrita Íntima - Cartas e Desenhos; sobre Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e Arpad Szènes (1897-1985).
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07FEV-20ABR2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, com Associação Ser +, VIII Private Lives - com Criação Absurda, exposição de fotografia de Rodrigo Bettencourt da Câmara.

VISTORiA

Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga
- Diário XV

PARLATÓRiO

Quando digo que não me vejo como um intelectual, que não me considero culto, é por uma razão simples: quando vejo alguém culto, fico assustado, não tanto surpreendido. Admiro certas coisas, outras não, mas fico assustado. Alguém culto faz-se notar. É um saber, sobretudo, assustador. Vemos isso em muitos intelectuais, eles sabem tudo - bem, sabem tudo, estão a par de tudo, sabem a história da Itália, da Renascença, sabem geografia do Pólo Norte, sabem… Podemos fazer uma lista, são capazes de falar sobre tudo. É abominável. Quando digo que não sou culto, nem intelectual, quero dizer algo simples: não tenho um saber de reserva. Pelo menos, é algo que não me preocupa. Com minha morte, não será preciso procurar o que tenho para publicar: nada, pois não tenho nada de reserva. Não tenho provisão alguma, nenhum saber de resguardo, e tudo o que aprendo, aprendo para certa tarefa, e, concluída essa tarefa, esqueço. De modo que, se, dez anos depois, sou forçado a regressar ao mesmo tema, ou algo próximo, tenho de recomeçar do zero. Excepto em alguns casos raros, pois Spinoza está no meu coração, e não na minha cabeça, eu não o esqueço… Por que não admiro essa cultura assustadora? Pessoas que falam…
Gilles Deleuze

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita Uma Verdade Incómoda de John Le Carré; tradução de J. Teixeira de Aguilar. IMAG.167-232-342-390

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, [Alberto] Ginastera [1916-1983]; [Antonin] Dvorák [1841-1904]; [Dmitri] Shostakovich [1906-1975] por Simón Bolívar String Quartet.  
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Esfera dos Livros edita Escravos e Traficantes No Império Português - O Comércio Negreiro Português No Atlântico Durante os Séculos XV a XIX de Arlindo Manuel Caldeira.

Waxtime edita em CD, Duke Ellington [1899-1974] & [John] Coltrane [1926-1967]. IMAG.190-231-240-324-468

MEMÓRiA

1907-17JAN1995 - Adolfo Rocha, aliás Miguel Torga: Médico e escritor português - «Matei a lua e o luar difuso. / Quero os versos de ferro e de cimento. / E em vez de rimas, uso / As consonâncias que há no sofrimento.» (Identidade).
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18JAN1925-04NOV1995 - Gilles Deleuze: Filósofo francês - «São os organismos que morrem, não a vida». IMAG.23-368

20JAN1935-2010 - Dorothy Provine: Actriz norte-americana do teatro, do cinema e da televisão, no elenco de O Mundo Maluco (1963 - Stanley Kramer) ou A Grande Corrida à Volta do Mundo (1965 - Blake Edwards). IMAG.300

21JAN1905-1957 - Christian Dior: Estilista francês - «Quero construir vestidos, moldá-los sobre as curvas do corpo. A própria mulher definirá o contorno e o estilo». IMAG.26

22JAN1875-1948 - David Wark Griffith: Cineasta americano - «Não devemos recear a censura, se não pretendemos ofender com impropérios ou com obscenidades… Mas devemos exigir, como um direito, a liberdade de mostrar o lado negro do mal, para podermos iluminar o lado claro da virtude. A mesma liberdade que é concedida à arte de nos expressarmos por palavras, a mesma arte que nos vem da Bíblia ou das obras de Shakespeare». IMAG.22-191-238-332-397

1846-23JAN1905 - Raphael Bordallo Pinheiro: Artista português, pintor, caricaturista, escultor, ceramista, criador do Zé Povinho - «…Não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não seríamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a verdade. Não recebemos inspirações de quem quer que seja e se alguém se serve do nosso nome para oferecer serviços, que só prestamos à nossa consciência e ao nosso dever, - esse alguém é um infame impostor que mente» (O Besouro - 1878).
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ELUCIDÁRiO

Correspondendo à fidelidade e ao culto sofisticado dos leitores adultos, Murena é um clássico em banda desenhada, de fulgor épico, com argumento por Jean Dufaux, sendo ilustrador Philippe Delaby - galardoado com o prémio Clio, por Richard Coeur de Lion (1994). Tudo principia em Roma, pelo ano de 54 DC, estendendo-se a saga pelo tempo e pelo mundo. Um decénio volvido, Murena deixa a Gália e regressa à capital do império - para enfrentar Nero, em conflito inexorável de paixão e fatalidade, de poder e vingança. Com os corações em chamas, a própria cidade corre o risco de incendiar-se… Em quadradinhos, eis uma intriga perturbadora, inexorável, perspectivando a história como conspiração suprema.

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

ATRAPALHADO NA CARCAÇA O ESCARAVELHO FAZ-SE MORTO - 1

14 de Fevereiro de 1955
Apesar do seu estilo boçal, como abortos da natureza virtualmente atirados para a pedincha, assediando as principais igrejas de Lisboa, tanto Graciosa como o filho Damião tinham qualquer coisa que implicava simpatia e, portanto, estimulava a dar esmola. Estrategicamente, logo após a missa, ela esperava junto à saída dos homens, ele inspirava a generosidade das beatas.
Não havia pai para tal negócio da malquista família Benquerença. Se o tivera Damião, esbatera-se num anonimato social após o frenesim da cópula. Perdida a matriz civil, o bastardo padrão dos Benquerença converteu-se, pois, numa mais-valia marginal.
Continua

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