PRONTUÁRiO
FÁBULAS
«Naufragar,
só por si, já é terrível, mas naufragar em algo que não existe,
é ainda mais terrível…» - assim introduz Fred
o desafio heróico de Philemon
(1965),
ao precipitar-se num «mundo maravilhoso». Definição esta
atribuída por René Goscinny (1926-1977), responsável pela revista
Pilote
quando O
Náufrago do ‘A’
lhe foi proposto, reclamando Fred o argumento e a ilustração. Em
boa hora, pois garantiam-se as plenas características de uma
obra-prima incomparável - graças à imaginação prodigiosa de
Fred, aliás Othon Aristides (1931-2013), um dos mais
talentosos/virtuais artistas dos quadradinhos franceses para adultos.
Onírico, absurdo, surreal, satírico, Fred - galardoado em 1994 com
o Troféu Melhor Álbum no Festival de Angoulême, com A
História do Corvo de Ténis
- concebe/ilustra O
Náufrago do ‘A’,
espraiando-se entre umas misteriosas ilhas do Atlântico… Narração
fascinante, expressão estilizada - uma fábula clássica, e cuja
actualidade testemunha, com sugestão cultural/nostálgica, as
contradições e os paroxismos da nossa sociedade, através da
volúvel identidade humana. IMAG.459
VISTORiA
A
Cota
Com
quem te não banhaste, não convidas nunca,
E
só nos balneários teus convivas buscas,
A
mim me perguntava como nunca o fora:
E
agora sei que, nu, não pude encher-te os olhos.
Marco
Valério Marcial
(Tradução
de Jorge de Sena)
Que
Vergonha, Rapazes!
caídos
na cerveja ou no uísque,
a
enrolar a conversa no «diz que»
e
a desnalgar a fêmea («Vist’? Viii!»)
Que
miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é
esta videirunha à portuguesa,
que
às vezes me ergo no meu leito
e
vejo entrar quarta invasão francesa.
Desejo
recalcado, com certeza…
Mas
logo desço à rua, encontro o Roque
(«O
Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)
e
desabafo: – Ó Roque, com franqueza:
Você
nunca quis ver outros países?
– Bem
queria, Snr. O’Neill! E… as varizes?
Alexandre
O’Neill
CALENDÁRiO
01NOV2013-16FEV2014
- Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar expõe Caveiras,
Casas, Pedras e Uma Figueira de
Júlio Pomar, Álvaro Siza Vieira, Fernando Lanhas e Luís Noronha da
Costa, sendo curador Delfim Sardo.
IMAG.19-32-41-56-298-312-395-405-407-424-432-447-449
1917-16DEZ2013
- Joan de Beauvoir de Havilland, aliás Joan Fontaine: Actriz
americana, distinguida com o Oscar por Suspeita
/ Suspicion (1941), irmã de
Olívia de Havilland - «Casei primeiro, e ganhei o Oscar antes de
Olívia… Se eu morrer antes, ela ficará aborrecida, por voltar a
precedê-la» (1978). IMAG.351
1932-23DEZ2013
- José Ortiz Moya, aliás José Ortiz: Artista espanhol de banda
desenhada - «Mágico Vento
começou com ele. O seu traço forte parecia-me perfeito para o
número 1. Desenhava com uma velocidade vertiginosa. Terminava um
álbum em três meses. Sem ele, não teríamos podido ser pontuais
nos quiosques. Devo-lhe muito. Era um grande» (Gianfranco Manfredi)
(
Tex Willer Blog).
IMAG.65-145-286
09JAN-05FEV2014
- Em Lisboa, Espaço Nimas apresenta Ciclo
Ingmar Bergman (1918-2007).
IMAG.28-112-113-125-158-186-215-331-362-399-412-422-470
ANTIQUÁRiO
NOV-DEZ
1864 - Nestes meses, exportam-se do Arquipélago dos Açores, em 116
navios, 84.209 caixas de laranjas.
DEZ1864
- Durante este mês, o Asylo da Mendicidade de Lisboa teve de receita
de subscrições 22$650 réis de esmolas.
DEZ1864
- Nestes mês, entram as barreiras do Porto 11.474 carros, conduzindo
diferentes géneros e carretos sucessivos; carregados de estrume,
saíram as barreiras da mesma cidade, 1.316 carros.
ANUÁRiO
40-104
- Marco Valério Marcial: Poeta hispano-latino - «Serás sempre
pobre, se és pobre; a fortuna é, apenas, concedida aos ricos».
MEMÓRiA
19DEZ1924-1986
- Alexandre O’Neill: Escritor português, co-fundador do Movimento
Surrealista de Lisboa - «A meu favor / Tenho o verde secreto dos
teus olhos / Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor / O
tapete que vai partir para o infinito / Esta noite ou uma noite
qualquer.» (excerto).
IMAG.16-18-53-83-149-182-213
19DEZ1924-2009
- Edmund Purdom: Actor britânico, intérprete de António
e Cleópatra (William
Shakespeare) na Broadway (1952), encenador e realizador de Don't
Open 'til Christmas (1984);
radicado em Itália por 1964, dedicou-se a filmes de acção e
sensação, e à dobragem para inglês. IMAG.231-442
1922-19DEZ2004
- Renata Tebaldi: Soprano lírico italiana - «Compará-la comigo, é
como comparar um doce com champanhe» (Maria Callas).
IMAG.21-203-223-226-332-357-420

23DEZ1874-1929
- Luís Galhardo: Jornalista, escritor (também sob o pseudónimo de
Luis Aquino), tradutor e empresário teatral, fundador do Parque
Mayer, através da Sociedade Avenida Parque (1921), tendo idealizado
o Teatro Variedades (1926). IMAG.145-374
COMENTÁRiO
Fontaine
& Hitchcock
Quando
desejo esquecer o Alfred Hitchcock dos tempos da decadência, volto
para trás, seis anos antes da sua morte, exactamente à festa de 29
de Abril de 1974, no Avery Fischer Hall do Lincoln Center, onde a New
York Film Society lhe dedicou a sua gala anual. Essa sagração foi,
realmente, estimulante. Durante três horas de espectáculo, pudemos
ver uma centena de excertos dos seus filmes, todos os seus «clímaxes
magistrais» agrupados em diferentes categorias: The
Screen Cameos (as aparições
de Hitchcock nos seus filmes), The
Chase (as perseguições),
The Bad Guys,
os assassinatos, as cenas de amor e, integralmente, duas sequências
que me pediram para apresentar: o cymbal
crash (o bater de pratos)
em O
Homem Que Sabia Demais, e o
avião de Intriga
Internacional atacando Cary
Grant. Cada série de fragmentos era precedida de uma breve alocução
pelas mais belas actrizes hitchcockianas - Grace Kelly, Joan
Fontaine, Teresa Wright, Janet Leigh - e alguns amigos.
O
que me surpreendeu naquele fim de tarde - enquanto voltava a ver
todos os fragmentos de filmes que eu conhecia de memória, mas, por
uma única vez, isolados do seu contexto - foi a sinceridade e o
pendor selvático da obra hitchcockiana. É impossível não reparar
que todas as cenas de amor foram rodadas como cenas de assassinato, e
todas as cenas de assassinato como cenas de amor. Conhecia a obra de
Hitchcock, julgava conhecê-la muito bem, mas fiquei terrivelmente
impressionado diante do que estava a ver. Na tela, nem tudo eram
salpicos de sangue, fogos de artifício, ejaculações, suspiros,
lamentos, gritos, gente a esvair-se; antes compreendi que no cinema
de Hitchcock, indiscutivelmente mais sexual do que sensual, fazer
amor ou morrer significa o mesmo.
François
Truffaut
-
O Cinema de Alfred Hitchcock
BREVIÁRiO
Texto
edita O Mundo de Enid Blyton
(1897-1968) de Alice Vieira. IMAG.147-171-204-229
Distrirecords
edita em CD, sob chancela Brilliant Classics, Simeon
Ten Holt [1923-2012]:
Solo Piano Music por Jeroen
van Veen.
Quetzal
edita A Pedra Ainda Espera Dar
Flor - Dispersos 1891-1930 de
Raul Brandão (1867-1930); organização de Vasco Rosa.
IMAG.48-161-293-301-342-350-384-394-400-431
Universal
edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Franz Peter Schubert
(1797-1828) por
Maria João Pires.
IMAG.116-125-203-209-223-285-310-341-366-414-447
EXTRAORDINÁRiO
OS
HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico
CARTA
NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO
- 10
Porém,
de si para si, o Picareta estiolava
imaculado e demagógico. Faltava-lhe perseverança. Perdida a
tramontana, foi reclamar encerro voluntário no Hospital de
Rilhafoles.
- Pronto...
Já me desiludo entre o deve e o haver. E, para recebermos o que nos
pertence, devemos prescindir do que não é nosso!
justificou Salomão Emérito filosofal, furtando-se a uma existência
confortada.
– Continua
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