quarta-feira, abril 18, 2018

IMAGINÁRiO #495

José de Matos-Cruz | 16 Dezembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

FÁBULAS
«Naufragar, só por si, já é terrível, mas naufragar em algo que não existe, é ainda mais terrível…» - assim introduz Fred o desafio heróico de Philemon (1965), ao precipitar-se num «mundo maravilhoso». Definição esta atribuída por René Goscinny (1926-1977), responsável pela revista Pilote quando O Náufrago do ‘A’ lhe foi proposto, reclamando Fred o argumento e a ilustração. Em boa hora, pois garantiam-se as plenas características de uma obra-prima incomparável - graças à imaginação prodigiosa de Fred, aliás Othon Aristides (1931-2013), um dos mais talentosos/virtuais artistas dos quadradinhos franceses para adultos. Onírico, absurdo, surreal, satírico, Fred - galardoado em 1994 com o Troféu Melhor Álbum no Festival de Angoulême, com A História do Corvo de Ténis - concebe/ilustra O Náufrago do ‘A’, espraiando-se entre umas misteriosas ilhas do Atlântico… Narração fascinante, expressão estilizada - uma fábula clássica, e cuja actualidade testemunha, com sugestão cultural/nostálgica, as contradições e os paroxismos da nossa sociedade, através da volúvel identidade humana. IMAG.459

VISTORiA
A Cota

Com quem te não banhaste, não convidas nunca,
E só nos balneários teus convivas buscas,
A mim me perguntava como nunca o fora:
E agora sei que, nu, não pude encher-te os olhos.
Marco Valério Marcial
(Tradução de Jorge de Sena)

Que Vergonha, Rapazes!

Que vergonha, rapazes! Nós práqui,
caídos na cerveja ou no uísque,
a enrolar a conversa no «diz que»
e a desnalgar a fêmea («Vist’? Viii!»)

Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta videirunha à portuguesa,
que às vezes me ergo no meu leito
e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza…
Mas logo desço à rua, encontro o Roque
(«O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)

e desabafo: – Ó Roque, com franqueza:
Você nunca quis ver outros países?
Bem queria, Snr. O’Neill! E… as varizes?
Alexandre O’Neill

CALENDÁRiO

01NOV2013-16FEV2014 - Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar expõe Caveiras, Casas, Pedras e Uma Figueira de Júlio Pomar, Álvaro Siza Vieira, Fernando Lanhas e Luís Noronha da Costa, sendo curador Delfim Sardo.
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1917-16DEZ2013 - Joan de Beauvoir de Havilland, aliás Joan Fontaine: Actriz americana, distinguida com o Oscar por Suspeita / Suspicion (1941), irmã de Olívia de Havilland - «Casei primeiro, e ganhei o Oscar antes de Olívia… Se eu morrer antes, ela ficará aborrecida, por voltar a precedê-la» (1978). IMAG.351

1932-23DEZ2013 - José Ortiz Moya, aliás José Ortiz: Artista espanhol de banda desenhada - «Mágico Vento começou com ele. O seu traço forte parecia-me perfeito para o número 1. Desenhava com uma velocidade vertiginosa. Terminava um álbum em três meses. Sem ele, não teríamos podido ser pontuais nos quiosques. Devo-lhe muito. Era um grande» (Gianfranco Manfredi) ( Tex Willer Blog). IMAG.65-145-286

09JAN-05FEV2014 - Em Lisboa, Espaço Nimas apresenta Ciclo Ingmar Bergman (1918-2007). IMAG.28-112-113-125-158-186-215-331-362-399-412-422-470

ANTIQUÁRiO

NOV-DEZ 1864 - Nestes meses, exportam-se do Arquipélago dos Açores, em 116 navios, 84.209 caixas de laranjas.

DEZ1864 - Durante este mês, o Asylo da Mendicidade de Lisboa teve de receita de subscrições 22$650 réis de esmolas.

DEZ1864 - Nestes mês, entram as barreiras do Porto 11.474 carros, conduzindo diferentes géneros e carretos sucessivos; carregados de estrume, saíram as barreiras da mesma cidade, 1.316 carros.

ANUÁRiO

40-104 - Marco Valério Marcial: Poeta hispano-latino - «Serás sempre pobre, se és pobre; a fortuna é, apenas, concedida aos ricos». 
 
MEMÓRiA

19DEZ1924-1986 - Alexandre O’Neill: Escritor português, co-fundador do Movimento Surrealista de Lisboa - «A meu favor / Tenho o verde secreto dos teus olhos / Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor / O tapete que vai partir para o infinito / Esta noite ou uma noite qualquer.» (excerto).
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19DEZ1924-2009 - Edmund Purdom: Actor britânico, intérprete de António e Cleópatra (William Shakespeare) na Broadway (1952), encenador e realizador de Don't Open 'til Christmas (1984); radicado em Itália por 1964, dedicou-se a filmes de acção e sensação, e à dobragem para inglês. IMAG.231-442

1922-19DEZ2004 - Renata Tebaldi: Soprano lírico italiana - «Compará-la comigo, é como comparar um doce com champanhe» (Maria Callas). IMAG.21-203-223-226-332-357-420

21DEZ1804-1881 - Benjamin Disraeli: Escritor e político britânico - «Termos consciência de sermos ignorantes é um grande passo para o conhecimento». IMAG.319

23DEZ1874-1929 - Luís Galhardo: Jornalista, escritor (também sob o pseudónimo de Luis Aquino), tradutor e empresário teatral, fundador do Parque Mayer, através da Sociedade Avenida Parque (1921), tendo idealizado o Teatro Variedades (1926). IMAG.145-374

COMENTÁRiO

Fontaine & Hitchcock
Quando desejo esquecer o Alfred Hitchcock dos tempos da decadência, volto para trás, seis anos antes da sua morte, exactamente à festa de 29 de Abril de 1974, no Avery Fischer Hall do Lincoln Center, onde a New York Film Society lhe dedicou a sua gala anual. Essa sagração foi, realmente, estimulante. Durante três horas de espectáculo, pudemos ver uma centena de excertos dos seus filmes, todos os seus «clímaxes magistrais» agrupados em diferentes categorias: The Screen Cameos (as aparições de Hitchcock nos seus filmes), The Chase (as perseguições), The Bad Guys, os assassinatos, as cenas de amor e, integralmente, duas sequências que me pediram para apresentar: o cymbal crash (o bater de pratos) em O Homem Que Sabia Demais, e o avião de Intriga Internacional atacando Cary Grant. Cada série de fragmentos era precedida de uma breve alocução pelas mais belas actrizes hitchcockianas - Grace Kelly, Joan Fontaine, Teresa Wright, Janet Leigh - e alguns amigos.
O que me surpreendeu naquele fim de tarde - enquanto voltava a ver todos os fragmentos de filmes que eu conhecia de memória, mas, por uma única vez, isolados do seu contexto - foi a sinceridade e o pendor selvático da obra hitchcockiana. É impossível não reparar que todas as cenas de amor foram rodadas como cenas de assassinato, e todas as cenas de assassinato como cenas de amor. Conhecia a obra de Hitchcock, julgava conhecê-la muito bem, mas fiquei terrivelmente impressionado diante do que estava a ver. Na tela, nem tudo eram salpicos de sangue, fogos de artifício, ejaculações, suspiros, lamentos, gritos, gente a esvair-se; antes compreendi que no cinema de Hitchcock, indiscutivelmente mais sexual do que sensual, fazer amor ou morrer significa o mesmo.
François Truffaut
- O Cinema de Alfred Hitchcock

BREVIÁRiO

Texto edita O Mundo de Enid Blyton (1897-1968) de Alice Vieira. IMAG.147-171-204-229

Distrirecords edita em CD, sob chancela Brilliant Classics, Simeon Ten Holt [1923-2012]: Solo Piano Music por Jeroen van Veen.

Quetzal edita A Pedra Ainda Espera Dar Flor - Dispersos 1891-1930 de Raul Brandão (1867-1930); organização de Vasco Rosa.  
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Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Franz Peter Schubert (1797-1828) por Maria João Pires. 
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EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

CARTA NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO - 10

Porém, de si para si, o Picareta estiolava imaculado e demagógico. Faltava-lhe perseverança. Perdida a tramontana, foi reclamar encerro voluntário no Hospital de Rilhafoles.
- Pronto... Já me desiludo entre o deve e o haver. E, para recebermos o que nos pertence, devemos prescindir do que não é nosso! justificou Salomão Emérito filosofal, furtando-se a uma existência confortada.
Continua 

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