PRONTUÁRiO
TRANSCENDÊNCIA
Desde
cedo o cinema se converteu em fenómeno de culto, explorado por
múltiplas facetas: culto das suas vedetas, dos criadores, das
próprias fitas - assim variando ao longo do Século XX, entre o
fascínio e a emoção, a nostalgia e o encantamento. Durante
sucessivas décadas, por conseguinte, subsistiu uma margem de público
instituída - apesar das variantes - entre o estrito fanatismo e os
limites volúveis do espectáculo. Pensemos agora noutra situação,
punhamos a eventualidade de um culto que não respeita, já, ao
espectador mas directamente ao artista visionário, àquele que
manipula os materiais do cinema, e se exprime segundo as específicas
virtualidades do imaginário. O realizador - fiel à regras duma
indústria a que outrora se chamou fábrica
de sonhos,
mas também dependente dos caprichos do mercado, ou deles vítima
eventual. Em tal sortilégio transfigurador, as modas e os modelos
foram-se alterando. Este dilema eminente era reconhecido por David
Lean
(1908-1991), pouco antes de falecer. O mesmo director
que, após uma iniciação prestigiosa (Breve
Encontro
- 1945, Grandes
Esperanças
- 1946), logrou alguns dos maiores sucessos de sempre (A
Ponte do Rio Kway
- 1957, Doutor
Jivago
- 1965, A
Filha de Ryan
- 1971)… Do esplendor ao crepúsculo das superproduções,
concebidas para um deslumbramento ritual, o talento maior de David
Lean terá sido reverter um desafio tão insinuante, culminado em
Lawrence
da Arábia
(1962).
MEMÓRiA
1738-24NOV1794
- Cesare Bonesana, Marquês de
Beccaria: Jurista, filósofo,
economista e literato italiano - «É melhor prevenir os crimes do
que puni-los depois».
1948-25NOV1974
- Nicholas Rodney Drake, Nick Drake: Cantor e compositor britânico -
«Eu não sinto nenhuma emoção sobre nada. / Eu não quero rir nem
chorar. Estou dormente; morto por dentro». IMAG.208
1397-27NOV1474
- Guillaume Dufay: Compositor franco-flamengo da Escola de Borgonha -
«Cosmopolita, este homem não foi apenas celebrado na área musical.
Doutor em leis canónicas e especialista em questões eclesiásticas,
morreu rodeado de prestígio, riquezas e probendas» (A.R.).
IMAG.395
1908-27NOV1934
- Lester Joseph Gillis, aliás Baby Face Nelson: Durante a década de
’30, Inimigo Público nº 1 nos EUA - «Não aceito líderes. Tenho
a minha própria maneira de assaltar bancos. Entro por ali dentro,
mato toda a gente e saco o dinheiro» (sobre John Dillinger).
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1906-27NOV1994
- Fernando Lopes-Graça: Compositor e maestro português - «Revolução
e Liberdade são sinónimos, são equivalentes. São leis imutáveis
gravadas na face do Cosmo, eternas e divinas como ele».
IMAG.15-48-106-111-140-146-175-261-262-326-332-342
29NOV1874-1955
- António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz: - Neurologista,
investigador, político, escritor, distinguido com o Prémio Nobel da
Medicina (1949), autor de A
Vida Sexual (1901) - «Apesar
de hoje em dia aquela obra poder ser criticada de vários pontos de
vista, para época foi uma ousadia
apresentar o tema à
Universidade de Coimbra» (José Pacheco). IMAG.62-136-206-356
1858-29NOV1924
- Giacomo Antonio Domenico Michele Secondo Maria Puccini, aliás
Giacomo Puccini: «Massenet concebeu a Manon como um francês, com
minuetos e pó de arroz. Eu vou tratá-la como um italiano, com
paixão desesperada… Por que não duas óperas? Uma mulher como
Manon pode ter mais de um amante». IMAG.147-188-207-226-227-00-473
1931-30NOV1994
- Guy Ernest Debord, aliás Guy Debord: Escritor francês, teórico
marxista - «O espectáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a
própria sociedade e seu instrumento
de unificação. Enquanto
parte da sociedade, o espectáculo concentra todo o olhar e toda a
consciência. Por ser algo separado,
ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação
que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da
separação generalizada… O espectáculo não é um conjunto de
imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por
imagens» (A Sociedade do
Espectáculo - 1967).
IMAG.352
CALENDÁRiO
1918-05DEZ2013
- Rolihlahal Mandela, aliás Nelson Mandela, aliás Madiba: Activista
social, líder político, Presidente da África do Sul (1994-1999),
distinguido com o Prémio Nobel da Paz (1993) - «Naquilo em que eu
possa ter ajudado a trazer o nosso país até esta nova era, foi
porque sou produto das gentes do mundo que acalentaram a visão de
uma vida melhor para todos, em toda a parte» (1999). IMAG.361
VISTORiA
Origem
das Penas e Direito de Punir
Ninguém
fez gratuitamente o sacrifício de uma porção de sua liberdade
visando unicamente ao bem público. Tais quimeras só se encontram
nos romances. Cada homem só por seus interesses está ligado às
diferentes combinações políticas deste globo; e cada qual
desejaria, se fosse possível, não estar ligado pelas convenções
que obrigam os outros homens. Sendo a multiplicação do género
humano, embora lenta e pouco considerável, muito superior aos meios
que apresentava a natureza estéril e abandonada, para satisfazer
necessidades que se tornavam cada dia mais numerosas e se cruzavam de
mil maneiras, os primeiros homens, até então selvagens, viram-se
forçados a reunir-se. Formadas algumas sociedades, logo se
estabeleceram novas, na necessidade em que se ficou de resistir às
primeiras, e assim viveram essas hordas, como tinham feito os
indivíduos, num contínuo estado de guerra entre si. As leis foram
as condições que reuniram os homens, a princípio independentes e
isolados sobre a superfície da terra.
Cansados
de só viver no meio de temores e de encontrar inimigos por toda
parte, fatigados de uma liberdade que a incerteza de conservá-la
tornava inútil, sacrificaram uma parte dela para gozar do resto com
mais segurança. A soma de todas essas porções de liberdade,
sacrificadas assim ao bem geral, formou a soberania da nação; e
aquele que foi encarregado pelas leis do depósito das liberdades e
dos cuidados da administração foi proclamado o soberano do povo.
Não
bastava, porém, ter formado esse depósito; era necessário
protegê-lo contra as usurpações de cada particular, pois tal é a
tendência do homem para o despotismo, que ele procura sem cessar,
não só retirar da massa comum a sua porção de liberdade, mas
ainda usurpar a dos outros.
Eram
precisos meios sensíveis e bastante poderosos para comprimir esse
espírito despótico, que logo tornou a mergulhar a sociedade no seu
antigo caos. Esses meios foram as penas estabelecidas contra os
infractores das leis.
Cesare
Beccaria
-
Dos Delitos e das Penas (1764
- excerto)
COMENTÁRiO
Egas
Moniz, 50 Anos da Morte

Faleceu
Egas Moniz há 50 anos, que se completam em Dezembro próximo. Que
comemorações se encontram previstas para assinalar a efeméride?
Que iniciativas serão realizadas nas Universidades de Coimbra e de
Lisboa, onde foi catedrático? E na Casa-Museu em Avanca (Estarreja,
Aveiro), que guarda o seu espólio (em parte por investigar) e peças
de arte que coleccionou ao longo da vida?
A
bibliografia de Egas Moniz integra mais de 300 títulos, a maioria
dos quais de natureza científica. Destacam-se três temas. Num
primeiro plano, para o grande público, ressalta A
Vida Sexual. Saiu, em 1901, e
teve sucessivas edições. Enquadra-se no âmbito de outras obras do
mesmo teor publicadas, ao tempo, na Europa. Outro tema que lhe deu
notoriedade foi a angiografia. Egas Moniz e a sua equipa, em 1927,
tornaram visível a rede circulatória do cérebro e localizaram
tumores cerebrais. Cirurgiões de todo o mundo reconheceram a
descoberta. Mas a utilidade da angiografia não se limitou ao estudo
do cérebro. Foi aplicada por vários médicos portugueses a outras
regiões do corpo. Finalmente, avulta a descoberta que deu lugar à
atribuição do Nobel, a leucotomia. Sobre este terceiro tema deixou
muitas publicações. Os primeiros resultados comunicados à Academia
de Medicina de Paris, em 1936, despertaram interesse nos meios
científicos. A prática da leucotomia, pelas alterações que
provoca no comportamento, desencadeou uma polémica no seio da Igreja
Católica. Respondeu Egas Moniz às acusações defendendo, com
firmeza, a contribuição que prestava à medicina, à cirurgia, e,
de um modo genérico, a toda a Ciência.
Ainda
escreveu sobre literatura e arte. Egas Moniz era uma figura de
prestígio, na cátedra e nos encontros internacionais em que
participava. Também foi parlamentar no fim da monarquia e ministro e
diplomata na I República. Iniciado na maçonaria, pertenceu ao
Grande Oriente Lusitano.
A
atribuição do Nobel da Medicina pela primeira vez a um cientista
português justificava todo o relevo na divulgação. Mas o facto de
abrir o noticiário da Emissora Nacional deu origem a um processo
disciplinar a Jerónimo Bragança, coordenador da redacção, e ao
locutor Pedro Moutinho.
António
Valdemar
13JAN2005
- Diário de Notícias
BREVIÁRiO
Sony
Pictures edita em Blu-ray, Lawrence
da Arábia / Lawrence of Arabia (1962)
de David Lean; com Peter O’Toole e Alec Guiness. IMAG.141-320
Assírio
& Alvim edita Serão
Inquieto de António
Patrício; posfácio de David João Neves Antunes. IMAG.172-277-488
Divisa
edita em DVD e Blu-ray, Medo e
Desejo / Fear and Desire (1953)
de Stanley Kubrick (1928-1999); com Paul Mazursky e Frank Silvera.
IMAG.7-37-83-112-145-155-158-188-204-216-264-332-443-480
EXTRAORDINÁRiO
OS
HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico
CARTA
NA MÃO DOBRA O ENGUIÇO
- 9
Entre
altos e baixos, matreirices e decepções, fúrias e euforias,
Salomão Emérito havia de ser igual até final. Sem acólitos. Nunca
fiando. Sem sucesso. Nada propondo. Sem família. Ninguém contendo.
Sem futuro. Tudo poluindo.
– Continua
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