PRONTUÁRiO
CINEFILIAS
Primeiro
em grande, depois em longo -
tais parâmetros definem, virtualmente, o solene ritual fílmico
assumido e materializado por Cecil
B. DeMille
(1881-1959), personificando uma grandiloquente criatividade, única e
específica na excessiva e insólita Hollywood. Aliás, tal desígnio
e carisma, a plena ressurreição do imaginário, supera quaisquer
desafios de análise crítica, estilhaça a perspectiva monográfica,
persistindo como um desafio latente à nostalgia cinéfila e à
revelação entre as mais jovens gerações. O que está em causa,
sobretudo, é a obra sóbria ou sólida de uma personalidade
essencial, a carreira controversa ou polémica de um artista
determinante, para a indústria do audiovisual - não tanto pelo que
actualmente se concebe ou expõe, mas em quanto referencialmente se
impôs, ou explorou através de décadas… Mistério, magia,
sortilégio, transfiguração, ressurreição - do que se projecta
entre as luzes e as sombras, ao que se revê em múltiplos e
distintos ecrãs - sempre com o mesmo fascínio, sempre por distintos
olhares.
VISTORiA
I´ve got you under my skin
I´ve got you deep in the heart of me
So deep in my heart, that you´re really a part of me
I´ve got you under my skin
I´ve tried so not to give in
I´ve said to myself this affair never gonna swing so well
So why should I try to resist, when baby will I know damn well
That I´ve got you under my skin
I´d sacrifice anything come what might
For the sake of having you near
In spite of a warning voice that comes in the night
And repeats, repeats in my ear
Don´t you know little fool, you´ll never win
Why not use your mentality, come on step up to reality
But each time I do, just the thought of you
Makes me stop before I begin
´Cause I´ve got you under my skin
Cole
Porter
A nuvem de ouro dorme a noite inteira
no seio do gigântico rochedo.
Pela manhã, levanta-se bem cedo,
e descuidada vai-se pelos céus, ligeira.
Mas lá restou de orvalho um breve traço
nas rugas do penedo solitário.
E é como se ele ficara multivário
chorando suavemente ante o vazio espaço.
Mikhail
Lermontov
(Tradução
de Jorge de Sena)

um amante e o seu único amor,
caminhando devagar (pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra
até o meu segundo sonho começar –
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam (e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)
mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica
para sempre caindo neve.
e então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
– onde tu e eu estamos a florescer
E.E.
Cummings
(Tradução
de Cecília Rego Pinheiro)
MEMÓRiA


15OUT1814-1841
- Mikhail Iúrievitch Lérmontov, aliás Mikhail Lermontov: Poeta e
ficcionista russo - «Olhei em volta, mas não vi ninguém. Escutei;
pareceu-me que os sons vinham do Céu. Levantei os olhos: sobre o
tecto da cabana estava uma rapariga com um vestido às riscas e o
cabelo solto ao vento - como uma ninfa das águas. Com a mão fazia
sombra aos olhos e fitava atentamente o largo; umas vezes, ria-se e
falava consigo mesmo, depois voltava a cantar» (Taman
- excerto). IMAG.332
15OUT1844-1900
- Friedrich Wilhelm Nietzsche: Escritor e filósofo alemão - «As
mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para
manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma
pequena antipatia física». IMAG.37-69-228-288-338-441-444
1891-15OUT1964
- Cole Porter: Compositor e músico americano - «Os bons autores,
que antes escolhiam os melhores termos, agora só usam palavras de
quatro letras para escrever prosa… Tudo muda». IMAG.15-326
VISTORiA
Julgo
razoável, leitor, antes de prosseguirmos juntos, explicar-lhe que
pretendo fazer digressões no decurso de toda esta história sempre
que tiver ensejo ou oportunidade, da qual sou melhor juiz do que
qualquer lastimoso crítico que exista; e cumpre-me pedir aqui a
todos esses críticos que tratem da sua vida, e não se metam em
negócios ou obras que, de maneira nenhuma, lhes dizem respeito;
pois, enquanto não demonstrarem a autoridade por cuja virtude se
constituíram juízes, não me sujeitarei à sua jurisdição.
Henry
Fielding
-
A História de Tom Jones
(1749, excerto)
Uma
sociedade onde a corrupção se instala é acusada de abandono, de
facto o prestígio da guerra e do entusiasmo marcial sofrem baixa
visível; aspira-se aos prazeres da existência com tanto ardor,
quanto aqueles antigamente postos em conquistar honrarias militares.
Mas
os observadores talvez tenham negligenciado o facto de essa antiga
energia, antiga paixão pela nação, que a guerra e torneios punham
em tão pomposa evidência, transformou-se numa infinidade de paixões
privadas e limitou-se a tornar-se menos visível… Que digo eu?
É
até provável que no estado de corrupção
sejam dispendidas uma força, uma violência energética muito
maiores que nunca, pela nação, e que o indivíduo desperdice essa
energia com muito maior prodigalidade do que podia fazer
anteriormente, quando não tinha suficiente riqueza!
Precisamente
nas épocas de abandono
é que, portanto, a tragédia percorre as ruas e as coisas, que se vê
nascer o grande amor, o grande ódio e a chama do acontecimento
incendeia o céu.
Friedrich
Nietzsche
CALENDÁRiO
26SET2013-09JAN2014
- Em Lisboa, BES Arte & Finança apresenta Helena
Almeida - Andar, Abraçar;
inclui fotografias da colecção BESart, sendo curador Delfim Sardo.
IMAG.461-475
10OUT2013-06FEV2014
- Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Artistas
Portugueses - Obras da Colecção Particular de Maria Helena Vieira
da Silva e Arpad Szènes;
inclui obras de Justino Alves, Manuel Amorim, Pedro Avelar, René
Bartholo, Carlos Botelho, Manuel Cargaleiro, Lourdes Castro, Mário
Cesariny de Vasconcelos, António Costa Pinheiro, José Escada, Jaime
Isidoro, Eduardo Luís, Dália Martinho, Jorge Martins, Paula Rego,
Henrique Silva, João Vieira e Úrsula Zangger.
COMENTÁRiO
Artistas
Portugueses
A
colecção de obras de arte de Maria Helena Vieira da Silva e de
Arpad Szènes
não resultou de um projecto pessoal, de uma vontade expressa e
concretizada de criação de um núcleo de originais. Não se tratou
também de um investimento ou aforro; a visão da arte como um bem
comercial que traria futuros dividendos ainda não era generalizada.
Vieira da Silva, não sendo uma coleccionadora metódica, revelava
gosto em adquirir algumas peças de cerâmica, na maioria artesanato
e arte popular, e azulejos antigos, que gostava de montar em
renovadas composições.
A
exposição dos artistas portugueses da colecção particular de
Vieira da Silva e de Arpad Szènes
desvenda, portanto, uma colecção não planeada, que funciona como
uma espécie de diário, de álbum de clichês,
registo de afectos e vivências, que situa, através da produção
artística, a presença de determinada pessoa em determinado momento.
São na maioria ofertas, algumas aquisições – em parte para
ajudar os «jovens artistas» – que revelam parte da história do
casal e dos que com ele se relacionaram.
BREVIÁRiO
Eureka
edita em DVD e em Blu-ray, Cleópatra
/ Cleopatra (1934) de Cecil
B. DeMille; com Claudette Colbert e Warren William. IMAG.96-248
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