segunda-feira, abril 16, 2018

IMAGINÁRiO #493

José de Matos-Cruz | 01 Dezembro 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

REFERÊNCIAS
Revista trimestral de animação sócio-cultural, editada pelo GICAV/Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, Anim’Arte atinge ao número 89 - correspondente a Julho/Agosto/Setembro de 2013 - um dos seus momentos mais aliciantes e expressivos, com realce para Feira de São Mateus - Documentos Que Contam a História por Maria das Dores Almeida Henriques. Um destaque múltiplo e privilegiado é, como sempre, dedicado ao Espaço Banda Desenhada por Luiz Beira, saudando-se ainda os quadradinhos em reportagem sobre o XVIII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu (complementada A Respeito da Exposição de Homenagem a Sergio Bonelli), na Autobiografia por Geraldes Lino (que também analisa o Fanzine, Objecto Gráfico Literário Alternativo) ou, no Caderno Técnico, em O Pesadelo - que assinala o regresso às lides de Luís Louro (sobre A Metamorfose de Franz Kafka, com argumento de Tozé Simões), um dos nossos mais estimados autores. (Na imagem, Tex de Andrea Venturi.) A contactar para gicav@megamail.pt

MEMÓRiA

1740-02DEZ1814 - Donatien Alphonse François de Sade, aliás Marquês de Sade: Aristocrata e escritor francês - «Eu sou um libertino, mas não sou nenhum criminoso ou assassino... A prisão é um lugar de maldade. A solidão que aqui impera dá poder a certas obsessões, e o transtorno que uma semelhante força produz torna-se mais rápido e inevitável» (Cartas a Renée-Pélagie). IMAG.150-208-279

1876-02DEZ1944 - Filippo Tommaso Emilio Marinetti: Escritor e editor italiano, ideólogo do Movimento Futurista - «Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre, e o desprezo da mulher». IMAG.404
1850-03DEZ1904 - Robert-Louis Stevenson, aliás Robert L. Stevenson: Escritor americano, ficcionista e poeta - «O homem de sucesso é aquele que viveu bem, riu muitas vezes e amou bastante; que conquistou o respeito dos homens inteligentes e o amor das crianças; que superou uma posição respeitada e cumpriu as suas tarefas; que deixou este mundo melhor do que encontrou, ao contribuir com uma flor mais bonita, um poema perfeito ou uma alma resgatada; que nunca deixou de apreciar beleza do mundo ou deixou de a exprimir; que buscou o melhor nos outros e deu o melhor de si».
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1912-02DEZ1994 - David Ashford Tony Weare, aliás Tony Weare: Autor britânico de banda desenhada, ilustrador de Matt Marriott (1955-1977), saga western com argumento de Jim Edgar - «Era um dos muito poucos artistas, em Inglaterra e nos Estados Unidos, cujas identidades criativas nada devem à herança de estilização que influenciou muitos outros criadores dos quadradinhos de aventuras nos jornais… Primordialmente, era um ilustrador que, por coincidência, gostava de fazer banda desenhada. Além disso, possuía um domínio soberbo das luzes e das sombras, o qual dava a impressão de que ele estava a desenhar algo que tinha à sua frente, embora tudo fosse construído pela sua imaginação» (David Lloyd). IMAG.56-353

05DEZ1804-1895 - Cesare Cantú: Escritor e historiador italiano - «A autoridade é necessária para tutelar a liberdade de cada um contra a invasão de todos, e a liberdade de todos contra os atentados de cada um».

06DEZ1954-2010 - António Feio: Actor e encenador português - «Se há coisa que eu costumo dizer, é - aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento e não deixem nada por dizer, nada por fazer» (2010). IMAG.76-113-319

CALENDÁRiO

1922-09DEZ2013 - Eleanor Jean Parker, aliás Eleanor Parker: Actriz americana, distinguida com o Oscar por Melodia Interrompida / Interrupted Melody (1955), intérprete de Música No Coração /The Sound of Music (1965) - «Sou, essencialmente, uma actriz de personagens. Dei vida a tantas figuras diferentes, que a minha própria personalidade nunca emergiu».

VISTORiA

As grandes guerras que impuseram tão pesado fardo a Luís XIV, esgotaram os recursos tanto do tesouro quanto do povo. Mas mostraram também a um bando de parasitas o caminho da prosperidade. Tais homens estão sempre à espreita de calamidades públicas, que não se preocupam em aliviar, antes procurando criá-las e alimentá-las a fim de que possam tirar proveitos dos infortúnios alheios.
Marquês de Sade
- Os 120 Dias de Sodoma (1785 - excerto)

A Porta e o Pinheiro
O conde detestava certo barão alemão, forasteiro em Roma.
Não importam as razões desse ódio, mas, como tinha o firme propósito de vingar-se, com o mínimo de perigo, ele manteve-as secretas até do barão. De facto, tal é a primeira lei da vingança, já que ódio revelado é ódio impotente.
O conde era curioso e minucioso; tinha algo de artista; executava tudo com uma perfeição tão exacta que se estendia não só aos fins como também aos meios ou instrumentos. Certo dia, cavalgava ele pelas regueiras e chegou a um caminho lamacento que se perdia nos pântanos que circundam Roma. À direita havia uma antiga tumba romana; à esquerda uma casa abandonada no meio de um jardim de sempre-vivas. Esse caminho conduziu-o a um campo de ruínas, em cujo centro, no declive de uma colina, viu uma porta aberta e, não muito longe, um solitário pinheiro atrofiado, não maior que um arbusto. O local era deserto e secreto; o conde pressentiu que algo favorável o espreitava na solidão; amarrou o cavalo ao pinheiro, acendeu a luz com o isqueiro e penetrou na colina. A porta dava para um corredor de construção romana; este corredor, a uns vinte passos, bifurcava-se. O conde volveu pela direita e chegou, tacteando na escuridão, a uma espécie de barra que ia de uma parede à outra. Avançando o pé, encontrou uma borda de pedra polida, e logo depois o vácuo. Interessado, juntou uns galhos secos e acendeu o fogo. À sua frente havia um poço profundíssimo; sem duvida algum aldeão, que o havia usado para tirar água, teria colocado a barra. O conde apoiou-se na roldana e olhou o poço, demoradamente. Era uma obra romana e, como todas as desse povo, parecia construída para a eternidade. As suas paredes eram lisas e verticais: o desditoso que caísse no fundo não teria salvação. «Um impulso trouxe-me a este lugar», pensava o conde. «Com que fim? Que consegui eu? Por que fui enviado a olhar este poço?» A roldana cedeu; o conde esteve a ponto de cair. Saltou para trás, para salvar-se, e apagou com o pé as ultimas brasas do fogo. «Fui enviado para aqui a fim de morrer?», disse com temor. Teve uma inspiração. Arrastou-se até a boca do poço e levantou o braço, tacteando: duas hastes estavam a sustentar a roldana; agora, esta pendia de uma delas. O conde repô-la de modo a que cedesse ao primeiro apoio. Saiu à luz do dia, como um doente.
No outro dia, enquanto passeava com o barão, mostrou-se preocupado. Interrogado pelo barão, admitiu finalmente que o havia abatido um estranho sonho. Queria interessar ao barão – homem supersticioso que fingia desdenhar as superstições. O conde, instado pelo seu amigo, disse-lhe abruptamente que se precatasse, porque havia sonhado com ele. Como é óbvio, o barão não descansou até que lhe contaram o sonho.
Pressinto – disse o conde com aparente tristeza – que esta narração será infausta; algo me diz. Entretanto, se para nenhum dos dois pode haver paz até que você a ouça, carregue você com a culpa. Este era o sonho: Vi-o cavalgando, não sei onde, mas devia ser perto de Roma; de um lado havia um antigo sepulcro, do outro um jardim de sempre-vivas. Eu chamava-o, voltava a gritar que não prosseguisse, numa espécie de transe de terror. Ignoro se você me ouviu, porque seguiu para frente. O caminho levou-o a um local deserto entre ruínas, onde havia uma porta numa ladeira e, perto da porta, um pinheiro disforme. Você apeou-se (apesar das minhas súplicas), atou o cavalo ao pinheiro, abriu a porta e entrou resolutamente. Dentro estava escuro, mas no sonho eu continuava a vê-lo e pedindo-lhe que voltasse. Você seguiu a parede da direita, dobrou outra vez pela direita e chegou a uma câmara na qual havia um poço e uma roldana. Então, não sei por quê, o meu alarme cresceu e tornei a gritar-lhe que ainda estava a tempo e que abandonasse o vestíbulo. Essa foi a palavra que empreguei no sonho e então atribuí-lhe um sentido preciso; mas agora, acordado, não sei o que significava para mim. Você não escutou a minha súplica; apoiou-se na roldana e olhou demoradamente a água do poço. Então, revelaram-lhe alguma coisa. Não creio ter sabido o que era, mas o pavor arrancou-me do sonho, e acordei a chorar e a tremer. E agradeço-lhe de coração o haver insistido. Este sonho estava a oprimir-me, e, agora que o narrei à luz do dia, parece-me terrível.
Talvez – disse o barão. – Tem alguns pormenores estranhos. Revelaram-me eles alguma coisa, disse você? Sim, é um sonho raro. Divertirá os nossos amigos.
Não sei – disse o conde. – Estou quase arrependido. Esqueçamo-lo.
De acordo – disse o barão.
Não falaram mais do sonho. Daí a uns dias, o conde convidou-o a sair a cavalo; o outro aceitou. Ao regressar a Roma, o conde sofreou o cavalo, tapou os olhos e deu um grito.
Que aconteceu? – disse o barão.
Nada – gritou o conde. – Não é nada. Voltemos depressa a Roma.
Mas o barão havia olhado em seu redor e, à mão esquerda, viu um caminho lamacento com uma tumba e um jardim de sempre-vivas.
Sim – respondeu com a voz alterada. – Voltemos a Roma imediatamente. Receio que você se ache indisposto.
Por favor – gritou o conde. – Voltemos a Roma, quero deitar-me.
Regressaram em silêncio. O conde, que fora convidado para uma festa, deitou-se, alegando que tinha febre. No dia seguinte, o barão havia desaparecido; alguém achou seu cavalo atado ao pinheiro. Foi isto um assassínio?
Robert Louis Stevenson

PARLATÓRiO

Há uma certa camada teatral que considera que, pelo facto de uma pessoa ter público, os trabalhos são necessariamente maus… O que eu acho um completo absurdo. Tenho uma preocupação com o público, e creio que, se o teatro pode ter esse impacto, que é alterar um bocado a vida ou preencher alguns espaços da vida das pessoas, isso é muito mais importante.
António Feio (2000)
ANTIQUÁRiO

03DEZ1724 - Em Guimarães, é fundada a Academia Vimaranense. Os seus membros reúnem-se em casa de Thadeo Luiz Antonio Lopes de Carvalho Fonseca e Camões, senhor donatátio dos coutos de Negrelos e Abadim. Preside e pronuncia uma eloquente oração Francisco da Cunha Rebello, cónego da Colegiada daquela vila.

BREVIÁRiO

Gradiva edita Sobre a Dificuldade e Outros Ensaios de George Steiner.
 

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