PRONTUÁRiO
EXPEDIÇÕES

Entretanto, Tintin esteve no País dos Sovietes, nos Estados Unidos,
no Congo (ex-Belga), na China e Oriente, na Escócia, na Sildávia
(algures nos Balcãs), no Golfo, no Tibete, na América do Sul e até
na Lua! Em novo formato e com nova tradução, sob chancela Asa, As
Aventuras de Tintin
prosseguem, entre nós, com o lançamento de Tintin
e os Pícaros
(1949), Carvão
No Porão (1958),
Tintin
No Tibete
(1960), As
Jóias da Castafiore
(1963), Voo
714 Para Sydney (1968)
e Tintin
e a Alph-Art
(2004). Primitivo ou moderno, Hergé - aliás, Georges Prosper Remi
(1907-1983) - sagra uma narrativa exuberante, uma escrita rigorosa,
expondo a saga universalista, entre drama e euforia, tragédia e
resgate, em que a camaradagem sobrevive, paralelamente aos valores do
bem e do mal. «Tintin expõe as minhas próprias emoções e
experiências. Ele faz tanto parte de mim, que morreremos juntos» -
perspectivou um dia Hergé, sagrando a estirpe dos imortais.
VISTORiA
No
Bazar
Mergulho-me
na vida, na voz deste bazar,
Com
lojas, tendas, vendedores de rua:
É
um rio de rumor e cor, tentacular,
Que
flui, reflui e, de repente, estua.
Afoga-me
o fascínio da faiança, do jade,
Dos
electrônicos subtis, sofisticados,
Dos
adivinhos da felicidade
Com
óculos severos de letrados.
Aqui,
na margem de um afluente,
Junto
de velhos móveis, de ferragens, de moedas,
De
um deus irado, de outro sorridente,
Ambos
sujos de pó, nuns farrapos de sedas.
De
um disco fatigado de rock, da legenda
Que
eu não decifro, com provérbios chins,
Senta-se
atento à mão que, ávida, se estenda,
homem
dos tintins.
(Viu
ele um português, pertinaz e sem pressa,
De
olhar estranho, magro, a longa barba preta,
Descobrir,
entre o inútil, o valor de uma peça,
Com
ciência de sábio e arte de poeta?)
Além,
fumega e aromatiza o gosto
A
tenda dos petiscos. Tentação!
Como
tudo apetece, quando exposto!
Mas,
comê-lo… Não sei se sim se não.
Mais
além, Hóng-Kông, no templo do Bazar,
Um
bom mercado ao mercador promete
Se
ele, submisso, lhe vem pôr no altar
A
tangerina, a flor, e lhe acende um pivete.
Entro
no Loc-Koc, «casa de tomar chá».
No
alvor das madrugadas,
É
uma gaiola imensa, durante o iam-chá
Sorvido
entre gorjeios e asas excitadas.
Lá
fora, o riquexó, hoje triciclo, rasa
A
multidão: persegue uma nesga de espaço,
Levando
a rapariga a caminho de casa,
Com
os sacos das compras no regaço.
E,
ao ritmo da rua e da emoção,
Os
meus olhos descobrem, deslumbrados,
Navegando
ao pulsar do coração,
Um
navio vermelho de caracteres doirados!
António
Manuel Couto Viana
CALENDÁRiO
24MAR-24ABR2012
- No Porto, Galeria OBV/Óptica da Boavista apresenta Exposição
Colectiva de Pintura e Bijutaria, com aguarelas de Susana Resende e
peças em origami de Marta Cunha - Dark Horse Origami.
1920-21MAR2012
- Tonino Guerra: Ficcionista, poeta e argumentista italiano,
colaborador de cineastas como Federico Fellini, Vittorio De Sica,
Francesco Rosi e Michelangelo Antonioni - «Os meus diálogos para
filmes eram, apenas, um comentário às imagens… Afinal, os
melhores troços que escrevi, acabaram por não dar em nada».
1931-23MAR2012
- Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, aliás Chico Anysio:
Actor e humorista brasileiro - «No Brasil de hoje, os cidadãos têm
medo do futuro. Os políticos têm medo do passado».
MEMÓRiA
16JAN1933-2004
- Susan Sontag: Ensaísta americana e activista política - «Os
homens gostam de guerra. Ela exerce uma eterna sedução sobre eles,
pela intensidade da experiência, pela oportunidade de fugir ao
marasmo da vida familiar». IMAG.22-200-337
1929-20JAN1993
- Audrey Hepburn: Actriz americana - «A
verdadeira beleza de uma mulher não está na expressão facial, mas
acha-se reflectida em sua alma. Manifesta-se no carinho que ela
amorosamente dá, na paixão que ela demonstra».
IMAG.225
21JUN1903-20JAN2003
- Al Hirschfeld: Ilustrador americano, retratista estilizado de
celebridades e de artistas em The
New York Times - «Tenho
sempre a sensação de que o meu melhor desenho é, sempre, aquele
que na altura estou a fazer… Apenas estou interessado no momento
presente».
23JAN1783-1842
- Henri-Marie
Beyle, aliás Stendhal:
Escritor francês - «É um argumento dos aristocratas - esse, dos
crimes que uma revolução implica. Eles esquecem-se sempre dos que
se cometiam em silêncio, antes da revolução… Quanto mais forte é
um carácter, menos sujeito está à inconstância». IMAG.363
1777-23JAN1843
- Friedrich de La Motte-Fouqué: Escritor alemão, de pseudónimo
Pellegrin e A.L.T. Frank - «Desditosa criatura! Não é a primeira
vez que nos faz isto. Agora, a angústia encherá a nossa alma e o
sono escapará às nossas pálpebras, pois temeremos que ocorra algum
acidente, errando assim pelo campo até ao amanhecer…» (Ondina).
IMAG.384
24JAN1923-2010
- António Manuel Couto Viana: Ficcionista, poeta, ensaísta, actor,
dramaturgo, encenador e figurinista, autor de contos infantis e
argumentista de histórias em quadradinhos - «Pedi ao Farol da Guia,
/ Pra que a nau não naufragasse / Na noite que fôr o dia, / Que
fosse luz e a guiasse.» (No
Farol da Guia - excerto).
IMAG.107-308-332
PARLATÓRiO
Tonino,
a quem eu estou muito ligado, é um poeta que escreve em dialecto…
No nosso trabalho em conjunto, tivemos longas e violentas discussões…
O que o tornou, para mim, muito mais valioso!
Michelangelo
Antonioni
BREVIÁRiO
Em
As Aventuras de Tintin por
Hergé (aliás, Georges Prosper Remi - 1907-1983), Asa edita Tintin
e os Pícaros (1949), Carvão
No Porão (1958), Tintin
No Tibete (1960), As
Jóias da Castafiore (1963),
Voo 714 Para Sydney (1968)
e Tintin e a Alph-Art
(2004).
IMAG.
131-136-210-217-245-250-252-317-323-325-350-382-383-385-388
Objectiva
edita Lisboa Nos Passos de
Fernando Pessoa (1888-1935)
por Marina Tavares Dias.
IMAG.26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399
Megamúsica
edita em CD, sob chancela Alia Vox, Sieur
de Sainte-Colombe [c.1640-1700]:
Concerts à Deux Violes Esgales por
Wieland Kuijken e Jordi Savall.
Sextante
edita (José Agostinho de) Macedo
[1761-1831] -
Uma Biografia da Infâmia por
António Mega Ferreira. IMAG.338
Capitol
edita em CD, The
Smile Sessions por
The Beach Boys. IMAG.184
Antígona
edita A Escavação de
Andrei Platónov (1899-1951); tradução de António Pescada.
VISTORiA
Há
muitas centenas de anos, houve um velho pescador que, uma tarde,
sentado à porta de sua casa, se entretinha a remendar as suas redes.
Vivia num lugar maravilhoso. O tapete de verdura sobre o qual estava
construída a sua cabana, prolongava-se até ao centro de um grande
lago, e dizia-se que um sentimento de amor atraíra àquela península
as suas águas claras e azuis, e que o lago estendera afectuosamente
os seus braços àquele belo prado esmaltado de flores, coberto de
caules e até à sombra agradável das suas árvores. A água e a
terra pareciam ter-se separado para se visitarem mutuamente, sendo
ambas muito belas. Naqueles ermos, as criaturas humanas não eram
frequentes; melhor, nunca havia nenhuma, à excepção do pescador e
da sua família, pois, atrás da língua de terra, estendia-se um
bosque cerrado, pelo qual poucas pessoas se teriam aventurado, a não
ser levadas por uma necessidade absoluta…
La
Motte-Fouqué
-
Ondina
(1811 - excerto)

Stendhal
-
O Vermelho e o Negro
(1830 - excerto)
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