domingo, novembro 05, 2017

IMAGINÁRiO #396

José de Matos-Cruz | 24 Novembro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

MARIANO E EU
Conheci Mariano Ayuso pelo início da década de ’70, no século passado. Havia entre nós uma diferença de vinte anos, em idade. Era, já, uma personalidade notória, na divulgação da banda desenhada em Espanha. Caloroso, intenso, exuberante, apreciou os meus esforços iniciais de análise crítica, desde Coimbra, e logo nasceu uma forte e longa amizade, cujos laços fraternos se estenderam ao convívio das nossas famílias e das relações próprias e próximas, entre Madrid e Lisboa. Tendo-me revelado e desafiado em muitos horizontes, no gosto e na acção que partilhávamos pelo cinema e, sobretudo, em prol dos quadradinhos, acompanhei e participei em inúmeras das suas causas pessoais, actividades profissionais e experiências editoriais. Atento, generoso, cúmplice, entusiasta, o Mariano revive nas memórias fecundas, permanece nos irresistíveis testemunhos de um excepcional percurso humano e artístico.

CALENDÁRiO

1928-28DEZ2011 - Mariano Ayuso Bruno: Ensaísta e editor espanhol de quadradinhos, fez parte do Grupo de Madrid da segunda geração de críticos e historiadores de banda desenhada, tendo feito conferências em Itália, França, Portugal e México. IMAG.385

MEMÓRiA

24NOV1632-1677 - Bento de Espinosa: Filósofo racionalista holandês, de família judaica portuguesa - «Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que ela nos apetece, que a desejamos, mas, pelo contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por ela nos apetecer, por a desejarmos, que a julgamos boa» (Ética).

25NOV1562-1635 - Lope de Vega: Poeta e dramaturgo espanhol - «A poesia é a pintura dos ouvidos, assim como a pintura é a poesia dos olhos». IMAG.91

26NOV1792-1873 - Sarah Moore Grimké: Abolicionista americana, e feminista quaker - «Não pretendo favores para o meu sexo. Apenas peço aos nossos irmãos que tirem os pés dos nossos pescoços».

26NOV1922-2000 - Charles Monroe Schulz: Artista americano de quadradinhos, autor de Peanuts - «Pode estar para além da compreensão humana que alguém nasça para ser autor de banda desenhada... Mas, desde que me conheço, essa foi sempre a minha ambição». IMAG.11-29-106-118-263

27NOV1942-1970 - Johnny Allen Hendrix, aliás James Marshall Hendrix, aliás Jimi Hendrix: Compositor, guitarrista e cantor americano - «Well I wait around the train station / Waitin’ for that train / Waitin’ for the train, yeah / Take me, yeah, from this lonesome place / Well now a whole lotta people put me down a lot ‘a changes / My girl had called me a disgrace» (Hear My Train a Comin’ - excerto). IMAG.2251-291-300

28NOV1632-1687 - Jean-Baptiste Lully: Nascido Giovanni Battista em Florença, começou como bailarino e, amigo de Luís XIV, rei de França, aí naturalizado 1661, concebeu o estilo lírico, enquanto compositor da corte. IMAG.272-314

1780-28NOV1872 - Mary Fairfax Sommerville: Escritora, matemática e astrónoma escocesa, autora de A Relação das Ciências Físicas, Geografia Física e Ciência Molecular e Microscópica - «Dificilmente podia acreditar que possuía tal tesouro, quando pensava no dia em que ouvira pela primeira vez a palavra álgebra, e nos longos anos em que tinha procurado quase sem esperança. Isso ensinou-me a nunca desistir».

1889-30NOV1942 - Buck Jones: Actor americano popularizado em filmes sobre o Oeste, inicialmente como Charles Jones, em meados dos anos ’20 passou a cavalgar um corcel branco de nome Silver, e adoptou o nome artístico que o identificaria como herói aventureiro. IMAG.253

VISTORiA

A minhas solidões vou,
de minhas solidões venho,
porque para andar comigo
me bastam meus pensamentos.

Não sei o que tem a aldeia
onde vivo e onde pereço,
que não posso vir mais longe
porque venho de mim mesmo!

Nem bem nem mal vou comigo;
mas diz meu entendimento
que um homem que é todo ele alma
no próprio corpo está preso.

Entendo quanto me basta,
e somente não entendo
como se sofre a si mesmo
um ignorante soberbo.
Lope de Vega

COMENTÁRiO

E os Quadradinhos Nasceram Adultos…

Não é exactamente correcto que os quadradinhos sejam um divertimento para crianças. Sem dúvida, são feitos por adultos e nasceram na imprensa, onde tiveram a sua principal difusão através das tiras diárias nos jornais (daily strips). Todos sabemos que é o pai quem compra os jornais e, praticamente, só os lêem os adultos. Além das tiras diárias de imprensa, de segunda a sábado, ao domingo publica-se, independente do respectivo jornal, um suplemento a cores que, uma vez visto pelo pai, comodamente sentado na sua poltrona, passa para o filho, caso aquele o considere conveniente… 
Tais suplementos, a cores, publicavam uma página completa (sunday strips) que, por vezes, seguia a trama da história em quadradinhos iniciada em tira diária…

TRAJECTÓRiA

Mariano Ayuso

Nascido em Bilbau em 1928, Mariano Ayuso foi um dos pioneiros da imprensa especializada em quadradinhos, em Espanha e também foi pioneiro com a sua livraria de quadradinhos Totem, mais tarde Camelot, em Madrid.
Em 1972 editou o fanzine teórico Comics Camp, Comics In e em 1976 atreveu-se a lançar nos quiosques a revista teórica Sunday, que logrou sobreviver até 1985.
Abriu em Madrid a livraria especializada Totem em 1979, que se converteu num centro de actividades para o mundo da banda desenhada, vinculada à editorial Nueva Frontera, no seu arranque.
Foi também assessor editorial de Planeta nos inícios desta editora nos quadradinhos, como editor de Grandes Héroes (1981) ou Conan (1982), para posteriormente, em 1992, lançar a chancela Eseuve que reeditou inúmeros clássicos dos quadradinhos americanos.
Impulsionador da Semana de la Historieta em Madrid e colaborador de numerosas publicações, e também um dos rostos da banda desenhada espanhola no panorama internacional, a par com impulsionadores como Rinaldo Traini, em Itália, ou Claude Moliterni, em França.

VISTORiA

Uma criancinha acredita, livremente, que lhe apetece o leite; a um menino furioso, a vingança; e ao intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que diz aquilo que, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo género acreditam que, assim, se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente, que os homens se julgam livres apenas pela razão, porque são conscientes de suas acções, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios desejos: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afecto e, além disso, aqueles que são afligidos por afectos opostos, não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afecto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isto mostra claramente que tanto a decisão da mente, como o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e a mesma coisa - a que chamamos decisão, quando considerada sob o atributo do pensamento e explicada por si mesma; e determinação, quando considerada sob o atributo da extensão e deduzida das leis do movimento e do repouso.
Espinosa
- Ética (excerto)

COROLÁRiO

Ao Monumento de Espinosa em Haia

Maldição ao passante que insultar esta suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas - pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve a mais profunda visão de Deus…
Ernest Renan (1882)

BREVIÁRiO

Temas e Debates/Círculo de Leitores edita Tratado Político de Espinosa (1632-1677); tradução e introdução de Diogo Pires Aurélio.

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, The [Franz] Liszt [1811-1886] Legacy pelos pianistas Claudio Arrau, Alicia de Larrocha, Raymond Lewenthal, Benno Moiseiwitsch e Egon Petri.  
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Presença edita O Crime de Lord Arthur Saville e Outros Contos de Oscar Wilde (1854-1900); tradução de Ângela Miranda Cardoso.  
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Relógio D’Água edita Enviado Especial de Evelyn Waugh (1903-1966); tradução de Luís de Almeida Campos. IMAG.180-395

Columbia edita em CD, The Real… Billie Holiday (1915-1959). IMAG.235-390

Temas e Debates edita Republicanas Quase Desconhecidas de Fina D’Armada.

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