PRONTUÁRiO
FANTASIAS
Os
novos horizontes da banda desenhada portuguesa, sob o signo do
fantástico, evoluem em Mahou
- Na Origem da Magia
de Ana
Vidazinha
(argumento) e Hugo
Teixeira
(ilustração), com auspiciosa edição Asa.
Em
causa, Bia - uma miúda que, depois de ter consultado um livro numa
biblioteca, se vê transportada para o planeta Mahou, aí descobrindo
as suas raízes familiares. Em Mahou, existia Magia: a Magia Comum e
a Alta Magia. Até que se deu o Grande Cisma e se expandiu a
Tecnologia, iniciando-se uma guerra que durou anos… Além da carga
imaginária e fabulosa, da essencial dualidade entre as caprichosas
personagens e a história em exposição, numa dimensão singular e
humanista, sagra-se toda uma memória planetária - em que o elã
prodigioso, o onírico e o ancestral correspondem a uma simbólica
expressão lendária dos valores e da moralidade, inerentes ao culto;
e simbolizada numa contemporânea equivalência sobre os sentimentos
humanos, ou numa dramática implicação pelas contingências do real
em transfiguração.
NOTICIÁRiO
Rham-a-Samá
Temos
entre nós Rham-a-Samá, o homem selvagem, de que a imprensa e as
sociedades médicas de Paris, Londres e Madrid tanto se ocuparam.
Rham-a-Samá é um exemplar único até hoje conhecido. Foi agarrado
há cinco anos na Índia, nas montanhas do Himalaia. Supõe-se que o
apanharam naquelas paragens, vivendo ali em camaradagem com a
macacaria, durante muito tempo. Nutre especial afeição pelas
crianças, a quem acaricia com satisfação. Tem quarenta e cinco
anos, pouco mais ou menos. É baixo, largo de costas, pernas curtas,
braços de construção regular e peito desenvolvido. As costas e
todo o corpo, à excepção dos pulsos, são cobertos de abundantes
cabelos pretos, com a particularidade de nascerem para cima. Os
cabelos dos braços, do peito e das pernas, são iguais às cerdas
dos porcos e dos javalis. Sem dúvida, produto de uma falta de
higiene até tomarem aquele tamanho. Os beiços são enormes, e o
inferior caído e de extraordinária grossura. Não fala, apenas dá
gritos como os orangotangos. A alimentação reduz-se a vegetais, que
ingere crus. Este extraordinário fenómeno em descrição
apresenta-se hoje no Salão do Colyseu da Rua da Palma. Os homens da
ciência e os antropologistas que o estudem a fundo.
15DEZ1895
- Diário de Notícias
MEMÓRiA
06DEZ1922-2003
- José Viana: «Era um homem de múltiplos interesses e amores. A
sua vida girou à volta do teatro, da cenografia, da pintura, da
escrita e do cinema» (Portal da Estrela
ANTIQUÁRiO
30NOV1872
- À presente data, o activo/passivo do Banco de Portugal é de
20:190:756$802 réis.
ANUÁRiO
1872
- No corrente ano, o concelho de Porto Santo (Madeira) produz 4.072
hectolitros de vinho.
1932-2010
- Paulo-Guilherme d’Eça Leal: Filho de Olavo d’Eça Leal;
arquitecto, decorador, gráfico, ilustrador, cineasta, ficcionista,
poeta - autor dos livros O
Dilúvio de Quéops (1993),
As Sete Portas de Arsenise
(1995), Ainda É Cedo Para Ser
Tarde (1997) ou Depressa,
Que O Verso Foge… (1999).
IMAG.327
1879-1942
- Julio Sagreras: Compositor, guitarrista e pedagogo argentino,
fundador da Academia de Guitarra (1905) - «Faz-se presente ao aluno
de que os pontos colocados ao lado do número que indica a corda,
significam que as outras notas que se seguem, correspondem a essa
mesma corda» (As Primeiras
Lições de Guitarra).

VISTORiA
Depressa
Que o Verso Foge…
Gastei
as quatro folhas do meu trevo
e
outro não consigo encontrar.
Em
todo o caso, lê o que eu escrevo,
lê
tudo o que puderes decifrar,
na
minha letra tosca de menino.
Para
ser amanhã só falta um minuto,
é
improvável que algo aconteça.
Não
é agora o fim, não é para hoje
mas
como a negra morte está de luto
e
a roda da fortuna é travessa,
lê
depressa, lê já, que o verso foge…
Paulo-Guilherme
D’Eça Leal
-
Depressa, Que O Verso Foge…
COMENTÁRiO
O
Couraçado Potemkine
É
do conhecimento geral como o projecto O
Ano de 1905 se transformou em
O Couraçado Potemkine
que em princípio seria apenas um dos seis episódios. Em traços
gerais aqui fica o filme
dos acontecimentos: o projecto inicial ia da guerra russo-japonesa
(cuja sucessão de desastres foi uma das causas que levou à
revolução) até à revolta armada de Moscovo, e era constituído
por seis episódios, a saber: 1 - A guerra russo-japonesa: 2 - O nove
de Janeiro e a vaga de greves; 3 - Revoltas camponesas; 4 - A greve
geral e a sua repressão; 5 - Contra-ofensiva reaccionária: os
programas e os massacres na Arménia; 6 - Krasnaya Presnaya. Num
texto escrito pouco antes da sua morte, Sergei M. Eisenstein narra
como o tempo nebuloso que atrasou o previsto início das filmagens,
levou a equipa a dirigir-se para o Sul para filmarem em Odessa dois
dos episódios: a greve dos estaleiros e a manifestação que se
seguiu à revolta do Potemkine que o argumento original se resumia a
quarenta e dois planos. Simplesmente, ao ver a escadaria de Odessa,
Eisenstein ficou fascinado pelas potencialidades estéticas que
sentia nela. Eisenstein contou a sua génese num texto publicado
depois da sua morte: «A sequência fora primitivamente planificada
de modo a desenvolver em acrescento o tema da crueldade das
represálias dos cossacos… A sequência devia concluir por um plano
grandioso da escadaria monumental. Esta escadaria deveria ser
utilizada apenas como elo dramático e rítmico entre as vítimas da
tragédia que nela vinham morrer. Mas nenhuma das versões
preparatórias, nenhum plano de montagem previa uma fuzilaria da
escadaria de Odessa. Ela surgiu-me como um relâmpago, mal vi essa
escadaria».
Assim,
o que devia ser um amplo fresco do ano revolucionário de 1905
transformou-se na narrativa de um único acontecimento, e mesmo um
dos menos significativos que, pela força das imagens novas criadas
por Eisenstein, se tornou o símbolo da revolução, e uma sequência
imaginada pelo realizador, o massacre na escadaria, o episódio
central da narrativa…
Segundo
Barthélemy Amengual, no seu monumental Que
Viva Eisenstein, as imagens
finais da Armada que se dirige para o Potemkine,
provocara uma certa inquietação no Reichstag alemão, que se
«interrogou sobre a importância da marinha de guerra soviética»,
acrescentando a seguir o segredo revelado por Eisenstein. Tratava-se,
de facto, de velhas actualidades que nem sequer eram da marinha
imperial russa e sim duma certa
potência estrangeira. Provavelmente a British Navy, acrescenta
Amengual. Hoje é difícil isolar esses planos do resto da sequência
de tal modo a diferença é praticamente invisível, mas eles
reforçam esse lado documental
que Potemkine apresenta, concretamente, em todas as sequências no
interior do couraçado, do trabalho das máquinas, dos beliches e nos
mil e um pormenores do dia a dia dos marinheiros. É a que se refere
John Grierson (que trabalhou na versão americana do Potemkine),
quando afirmou, mais tarde, que também a escola documental
inglesa teve a sua origem na obra-prima de Eisenstein. Este aspecto é
apenas uma das muitas facetas deste filme que ainda hoje desperta
paixões e que, invariavelmente, aparece em todas as listas dos
Melhores Filmes de Sempre
desde 1952. É também com Citzen
Kane, de Orson Welles, e The
Birth of a Nation, de D.W.
Griffith, um dos momentos fundamentais da história do cinema, um
daqueles em que a linguagem deu um salto qualitativo de dimensões
gigantescas. Porque é na linguagem que reside a maior novidade de
Potemkine
com Eisenstein controlando rigorosamente as experiências iniciadas
em A Greve,
e levando-as à perfeição absoluta. Como a sua primeira longa
metragem, também Potemkine
está construído em forma de uma composição musical, em que cada
um dos cinco episódios em que se divide corresponde a um andamento
preciso, onde a montagem deixa de ser a simples ligação de planos
numa forma narrativa, para dar um ritmo cinematográfico de tipo
novo. Um dos momentos mais citados do tipo de montagem que Eisenstein
desenvolve neste filme é o dos leões de pedra cuja sucessão, após
o bombardeamento, parece criar vida.
O
Couraçado Potemkine é,
possivelmente, um dos filmes mais analisados da história do cinema.
Não vamos portanto alongar-nos sobre aspectos já examinados até à
exaustão como é a questão da montagem e das metáforas que o filme
constantemente desenvolve. Lembramos apenas, a terminar, o impacto
poderoso que este teve em todo o mundo, tanto do ponto de vista
estético (como já dissemos, o cinema mudou radicalmente após este
filme), como do ponto de vista revolucionário.
Manuel
Cintra Ferreira
(adaptação)
Cinemateca
Portuguesa - Museu do Cinema
CALENDÁRiO
03-18MAR2012
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe, com
Comité Português do Projecto Unesco Rota dos Escravos, Os
Africanos Em Portugal - História e Memória - Séculos XV-XXI.
BREVIÁRiO
EMI
Music edita em CD e DVD, sob chancela Virgin, Le
Voyage Dans la Lune por Air;
inclui o clássico (1902) de Georges Méliès. IMAG.61-163-350
Dom
Quixote edita Paiva Couceiro
[1861-1944] -
Diários, Correspondência e Escritos Dispersos de
Filipe Ribeiro de Meneses. IMAG.262
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