sexta-feira, novembro 03, 2017

IMAGINÁRiO #395

José de Matos-Cruz | 16 Novembro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PERIPÉCIAS
Apagar fogos, a lei e a ordem, novas tecnologias e sucesso porta a porta são expressões profissionais sobre quem, dando heroicamente o corpo ao manifesto, inspira também o humor como receita excitante ou azarenta - que, em quadradinhos, se destina especialmente aos leitores adultos. 
Muitos destes, fiéis apreciadores, há em Portugal - apesar de uma escassa tradição artística, e da ainda mais rara ousadia editorial. Tendo assumido esse propósito, a Asa diversifica também a oferta, sob o signo da banda desenhada franco-belga, através de algumas coordenadas com agrado certo - como Os Bombeiros - Sempre a Meter Água! de Cazenove & Stédo, Os Chuis - Sorriam, Foram Apanhados! de Jenfevre, Sulpice & Cazenove, Os Informáticos - Morte ao Bug de Reynès, Brrémaud & Toulon e Os Comerciais - Venda Subliminar de Bloz, Plumeri & Boitelle…
No fundo, tudo se completa entre a ironia e o acaso, a derrota e a desforra, que a banda desenhada recompensa com sensação e ironia, até à hilariedade!



CALENDÁRiO

1941-03FEV2012 - Zalman King: Actor, cineasta e produtor americano - «Era uma alma nobre e brilhante» (Charlie Sheen».

1923-05FEV2012 - Fernando Lanhas: Pintor e arquitecto português - «O homem olha duas vezes, ele tem a capacidade de recordar uma dúvida».

1923-06FEV2012 - Antoni Tàpies: Pintor espanhol, natural da Catalunha - «Tem uma forte influência da liberdade poética do surrealismo, mas há nele uma orientação muito original para outras sensibilidades, nomeadamente as orientais ligadas ao budismo» (João Pinharanda). IMAG.356

09FEV2012 - Clap Filmes produziu, e estreia Paixão de Margarida Gil; com Carloto Cotta e Ana Brandão. IMAG.27-42-77-129

09FEV2012 - ZON Lusomundo estreia O Que Há de Novo No Amor? de Hugo Alves, Hugo Martins, Mónica Santana Baptista, Patrícia Raposo, Rui Santos e Tiago Nunes; com David Cabecinha e Diana Nicolau.

10FEV-30ABR2012 - Fundação Calouste Gulbenkian expõe Fernando Pessoa [1888-1935]: Plural Como o Universo, em colaboração com a Fundação Roberto Marinho (Brasil) e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo; inclui filmes, vozes e sons, poemas ditos e páginas de livros. 
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1963-11FEV2012 - Whitney Houston: Cantora americana de pop, gospel e soul - «Há muito tempo, decidi que nunca estaria à sombra de ninguém… Porque, se eu falhar, ou se eu atingir o meu objectivo, pelo menos tê-lo-ei feito pelo modo em que acreditei».

17MAR-28JUL2012 - No Centro de Investigação e de Estudos Arte e Multimédia/CIEAM, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, decorre o curso A América Pré-Colombiana - Introdução à História e às Artes Visuais da Cultura Ameríndia, orientado por Diniz Conefrey.IMAG.289-301-325-332-377

MEMÓRiA

15SET1942 - No São Luiz, Sonoro Filme estreia Ala-Arriba! de Leitão de Barros; com Domingos Gonçalves e Elsa Bela-Flor.  
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1823-17NOV1872 - José Maria Braz Martins: Actor português e autor teatral - «Escritor estudioso e atilado compositor dramático, que deu vida em palco às suas próprias obras, mostrando quão bem sabia tornar imagens reais as fantasias do seu espírito» (Diário de Notícias - 18NOV1872).

1871-18NOV1922 - Marcel Proust: Ficcionista e ensaísta francês - «O artista que troca uma hora de trabalho por uma hora de conversa com um amigo sabe que está a sacrificar uma realidade a algo que não existe». IMAG.13-128-330-392
22NOV1782-1857 - Sophia Petrovna Soïmonov, aliás Anne Sophie Swetchine: Mística e escritora russa - «A cada passo, os homens invocam a justiça, quando a justiça deveria fazê-los tremer».

INVENTÁRiO

O MAR E OS POVEIROS

Um dos filmes de Leitão de Barros que maior consenso granjeou, cumulando admiradores e rendendo críticos, Ala-Arriba! (1942) inspirou-se em Os Poveiros, obra de A. Santos Graça, rica em termos descritivos. Partindo dum caso verídico, Alfredo Cortez escreveu o argumento. Houve, depois, que encontrar soluções de compromisso na planificação, para «tornar compreensíveis certos usos e costumes dos poveiros».
Consciente do terreno em que se movia, Barros - sempre determinado entre o documentário e a ficção, num jogo de incidências recíprocas - alertou que Ala-Arriba! deve «ser considerado num plano especial». Tendo recorrido a actores profissionais ou amadores, de Maria do Mar (1930) - que medeia a trilogia litoral, após Nazaré, Praia de Pescadores (1929) - a Lisboa, Crónica Anedótica (1930), fora do contexto ambiental, deixa agora aos «pescadores autênticos, peixeiros, operários humildes dos arredores da Póvoa de Varzim» a assunção dos seus dramas e vivências, de que os protagonistas, um casal autêntico, dão vivo recorte: ele, Domingos Gonçalves, moreno e másculo; ela, Elsa Bela-Flor, loira e graciosa... Só Maria Olguim, como suporte, e Luís Pinto, que descreve a tradição, vêm de fora...
Toda a equipa se dedicou, com sinceridade e disciplina, ao registo duma realidade adequada à actualidade da produção; num conflito - para o cineasta - que «não é de hoje», eivado de «imprevistas notas pitorescas e etnográficas», articulado por regras únicas e práticas consuetudinárias, dum corpo social rigidamente dividido em castas; onde coabitam «as romarias, os bruxedos, as fogueiras, as procissões, como a da Senhora da Assunção, entre os barcos - notas ricas de fundo folclórico». Tudo isto - «simples, forte, rude» - o atraiu, com rara sensibilidade e inexcedível talento.
O tema e as motivações interessaram o Secretariado da Propaganda Nacional e, em Setembro de 1942, Ala-Arriba! arrebatava na Bienal de Veneza - onde sobressaíam as Taças Mussolini - um dos prémios Biennali. Este filme límpido e misterioso foi, então, considerado um expoente do género - ao lado de Moana (1926 - Robert Flaherty), Pescadores de Sargaços (1928 - Jean Epstein) ou Esquimó (1933 - W.S. Van Dyke) - e um precursor do neo-realismo.
Razão tinha Leitão de Barros, quando pretendeu «romper com o vaudeville à moda do Minho, pelo drama à moda do mundo». Colaboradores inestimáveis foram Arthur Duarte, como director de cena e, na música, Ruy Coelho, «mestre indicado para este verdadeiro poema sinfónico». A sequência do naufrágio ficou como o clou máximo da temporada, e - lembraria o lendário fotógrafo-de-cena João Martins - «só o mar, imensíssimo e temível, lutou com ele, o convenceu e venceu os seus inúmeros caprichos artísticos».

VISTORiA

Um Poema

Quando já não sabemos,
fica outra ciência
mais límpida, menos ciência

Que nos diz onde,
nos diz como

Porque
saber muito, ainda é do homem
Fernando Lanhas

Somente pela arte podemos sair de nós mesmos, saber o que um outro vê desse universo que não é o mesmo que o nosso e cujas paisagens permaneceriam tão desconhecidas para nós quanto as que podem existir na lua. Graças à arte, em vez de ver um único mundo, o nosso, vemo-lo multiplicar-se e, quantos artistas originais existiam, tantos mundos teremos à nossa disposição, mais diferentes uns dos outros do que aqueles que rolam no infinito e, muitos séculos após se ter extinguido o foco do qual emanavam, chamassem-se eles Rembrandt ou Ver Meer, ainda nos enviam o seu raio especial.
Marcel Proust
- Em Busca do Tempo Perdido - O Tempo Reencontrado (1922 - excerto)

PARLATÓRiO

Senhoras, tomai o meu conselho e ponde de parte a política, que não vos pode oferecer senão abismos e misérias.
Imperatriz Isabel da Áustria
(Isabel da Baviera, aliás Elisabeth Amalie Eugenie von Österreich-Ungarn, aliás Sissi - 1837-1898),
ao Clube dos Direitos da Mulher reunido em Viena
- NOV1872

BREVIÁRiO

Alfaguara edita Vencidos da Vida de Leonard Cohen; tradução de João Henriques. IMAG.13-64-123-253-292-338-350


Sony edita em CD, sob chancela Columbia, Old Ideas de Leonard Cohen. IMAG.13-64-123-253-292-338-350

Dom Quixote edita Os Cachorros / Os Chefes de Mario Vargas Llosa; tradução de Pedro Tamen. IMAG.229-244-327-342-348

Deutsche Grammophon edita em CD, Franz Liszt [1811-1886]: Faust - Symphonie por Boston Symphony Orchestra, sob a direcção de Leonard Bernstein. IMAG.92-175-319-337-384-392-394

Relógio D’Agua edita As Desventuras do Sr. Pinfold de Evelyn Waugh (1903-1966); tradução de Maria Teresa e João Carlos Beckert d’Assunção. IMAG.180

Harmonia Mundi edita em CD, Guillaume Dufay [1397-1474]: O Gemma Lux por Paul Van Nevel, com Huelgas-Ensemble.

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