PRONTUÁRiO
PERSISTÊNCIA
«Há
lugares assim, onde a terra e o céu se falam. Sei mesmo, ouso
dizê-lo, em que língua fala. As nuvens e o solo trocam as suas
matérias, misturam as suas partículas, abrem e reciclam os seus
fragmentos de memória. As palavras chovem, invisíveis, formam
frases, jogam com os destinos…» As palavras fecundas de D.H.
Lawrence passam pelo olhar visionário de Enki
Bilal
- um
dos mais prestigiados e intervenientes artistas europeus de banda
desenhada - que, em Animal’z,
traçou um testemunho / alerta sobre tempos próximos de degradação
climatérica e crise ecológica, sobre a escassez de água potável e
a demolição social, implicando alterações irreversíveis e
desafios a uma sobrevivência em catástrofe.
Ainda
sob chancela Asa, Júlia
& Roem
desvenda as consequências planetárias do impacto causado pelo golpe
de sangue ambiental,
traçando um sortilégio fantástico e exacerbado - entre a
aprendizagem e a partilha, o sacrifício e a libertação - que Bilal
consuma pelo privilégio da narrativa sobre a dramaturgia, ao sagrar
uma dimensão épica e simbólica, num exorcismo imaginário entre as
luzes e as trevas. No outrora Mar Báltico, um misterioso capelão
atravessa o deserto mutante, num Ferrari eléctrico, sublimando a
resistência e a salvação… IMAG.
11-53-60-303-312
MEMÓRiA
01JAN1653
- Morre D. Francisco de Castro, neto de D. João de Castro, 4º
Vice-Rei da Índia, inquisidor e doutor em Teologia; foi Reitor da
Universidade de Coimbra, Bispo da Guarda e Conselheiro de Estado; jaz
no Convento de São Domingos de Benfica.
02JAN1872
- O autor e actor José Maria Braz Martins lê em casa do Senhor
Torrezão a sua nova comédia em 3 actos, Fruta
do Tempo.
04JAN1643-1727
- Isaac Newton: Cientista inglês, filósofo, astrónomo, físico,
matemático, alquimista e teólogo - «Assim,
então, a primeira religião era a mais racional de todas as outras
até que as nações a corromperam. Pois não há caminho sem
revelação para chegar ao conhecimento da divindade, excepto pela
estrutura da natureza».
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06JAN1883-1931
- Khalil Gibran: Pintor, filósofo e escritor líbano-americano - «Um
livro é como uma janela. Quem não o lê, é como alguém que ficou
distante da janela, e só pode avistar uma pequena parte da
paisagem». IMAG.317
1917-06JAN1993
- John Birks Gillespie, aliás Dizzy Gillespie: Trompetista
norte-americano de bebop e
jazz moderno
- «A música, em si, não me interessa… Aquilo de que eu gosto,
mesmo, é dos sons».
1856-07JAN1943
- Nikola Tesla: Engenheiro e inventor de origem sérvia, radicado nos
EUA - responsável pela corrente alterna, a televisão, a lâmpada
fluorescente de néon e os radares, considerado o pai da rádio - «O
cientista não tem por objectivo um resultado imediato. Ele não
espera que as suas ideias avançadas sejam facilmente aceites. O seu
dever é estabelecer as bases para aqueles que hão-de vir, e
assinalar um caminho».
22AGO1865
- José Maria Braz Martins, - autor de Gabriel
e Lusbel ou o Taumaturgo Santo António,
e actor do Theatro do Gymnasio - escreve uma alegoria em verso à
Exposição Internacional do Porto, que tenciona oferecer à direcção
do Palacio de Crystal.
ANUÁRiO
1823-1872
- José Maria Braz Martins: Actor e autor teatral português - «Um
artista dos mais inteligentes, que sabia dizer com propriedade e
intuição sensual e física, produzindo em cena caracteres e tipos
correctamente copiados da verdade humana, deixando um monumento
honrado que o há-de fazer lembrar longamente» (Diário
de Notícias - 18NOV1872).
IMAG.395
1883-1967
- Marie Rouget, aliás Marie Noёl: Poetisa francesa - «Aquele que
de nada precisa, tudo lhe faz falta».
CALENDÁRiO
19JAN-20MAI2012-
Museu Nacional de Etnologia expõe António
Peralta (1919-1984) -
O Pintor Que Esculpia Histórias.
14MAR2012
- Em Conselho de Ministros, o Governo define que o arquivo da Tobis
Portuguesa - recentemente vendida à empresa angolana Filmdrehtsich,
que ficará com o negócio de restauro e digital - passa a ser
classificado como «tesouro nacional», envolvendo o património
fílmico e imobiliário, pelo que o acervo audiovisual não poderá
ser alienado para o estrangeiro, sendo necessária autorização
oficial para qualquer movimentação temporária.
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VISTORiA
Do
Primeiro Beijo

É
o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do
mundo das coisas e dos seres para o mundo dos sonhos e das
revelações.
É
a união de duas flores perfumadas; e a mistura de suas fragrâncias,
para a criação de uma terceira alma.
Assim
como o primeiro olhar é uma semente lançada pela divindade no campo
do coração humano, assim o primeiro beijo é a primeira flor
nascida na ponta dos ramos da Árvore da Vida.
Khalil
Gibran
- A
Voz do Mestre

James
Gleick
-
Isaac
Newton
(2003 - excerto)
COMENTÁRiO
Afinal
a Maçã Não Caiu Na Cabeça de Sir
Isaac Newton
Um
dos mais famosos episódios da história da ciência, o da maçã que
caiu sobre a cabeça de Isaac Newton e que levou o cientista a
formular a teoria da gravidade, será infelizmente apenas uma boa
lenda.
A
Royal Society de Londres disponibilizou o manuscrito da biografia de
Newton, publicada em 1752 e da autoria de William Stukeley,
Lembranças da Vida de Isaac
Newton, onde o autor menciona
o episódio.
Segundo
conta o biógrafo, os dois homens jantaram e conversaram enquanto
tomavam chá sob um pomar de macieiras. E Newton contou ao seu amigo
como lhe ocorrera a ideia, ao ver uma maçã a cair no chão. «Por
que razão uma maçã desce sempre de forma perpendicular ao chão?»,
questionou-se o cientista.
Afinal,
a maçã nunca caiu na cabeça de Newton, mas no seu ângulo de
visão. O manuscrito de Stukeley pode ser visto na Internet, AQUI.
20JAN2010
- Diário de Notícias
TRAJECTÓRiA
António
Peralta - O Pintor que Esculpia Histórias
António Peralta (1919-1984) nasceu em Vila Nova do Coito (Almoster) onde
residiu grande parte da sua vida. Foi carpinteiro de muita obra,
desde o travejamento e emadeiramento da casa em construção, ao
mobiliário, alfaia agrícola e outro equipamento doméstico ou da
lavoura.
No
começo da década de 1950 vive com a sua companheira na aldeia
vizinha de Alforzemel, na casa que está a concluir e onde tem a sua
oficina. Quando a conhecemos, falou-nos daquela intensa relação e
do interesse de Peralta pela leitura. Daí ela dizer saber de memória
o Amor de Perdição que
o companheiro lhe lia em voz alta. Virão em breve os anos de ruptura
desta ligação, e um progressivo isolamento afasta-o do convívio de
familiares e vizinhos. Estes, aparentemente, não vieram a ter
conhecimento e nada nos podem dizer da sua obra de artista.
Sabemos
que no começo dos anos de 1960 já fazia quadros como os que
mostramos, talvez mesmo alguns dos que aqui podemos ver. E é também
naqueles anos que deixa de aceitar trabalhos de obra grossa como os
que antes fazia.
Peralta
vinha a Lisboa de camioneta, na carreira do Vinagre, e colocava os
seus quadros em estabelecimentos em vários pontos da cidade, sem que
saibamos ainda os motivos ou o puro acaso dessa escolha. Temos
notícia, por exemplo, de lugares na Rua da Palma, Rua Barros
Queirós, Rua Cecílio de Sousa, ou um adelo entre Alfama e St.ª
Apolónia. Ali viriam a despertar o olhar e o fascínio daqueles que,
pelos canais da amizade e de cumplicidades sociais e estéticas,
partilharam essa revelação.
A
pesquisa que conduzimos, inspirada pelas duas exposições antes
feitas nas GaleriasTrem e Arco (Faro, 1996) e na Galeria Novo Século
(Lisboa, 1998), permitiu reunir cerca de uma centena de quadros e
tomar conhecimento de muitos outros que não vieram a ser
contemplados nesta exposição. São um espaço em aberto para
múltiplas interrogações de uma obra cuja leitura não se esgota na
enumeração dos temas, e encontrará muito do seu sentido na própria
exigência formal e na execução material que o autor nelas imprime.
Uma obra que ajuda a colocar questões para uma antropologia da
construção do indivíduo e das formas de interrogar o mundo.
A
exposição tornou-se possível pela disponibilidade, generosidade e
entusiasmo dos coleccionadores da obra de António Peralta que
acrescentaram ao empréstimo dos quadros as preciosas informações
sobre as circunstâncias da sua aquisição e a expressão da emoção
e dos afectos que neles se projectam.
BREVIÁRiO
7
Nós edita Ferdydurke
de Witold Gombrowicz (1904-1969); tradução de Maja Marek e Júlio
do Carmo Gomes. IMAG.236
Gradiva
edita O Grande Inquisidor de
João Magueijo; tradução de Helena Ramos.
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